quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Pecando contra a verdade

A tua palavra sim deve significar sim.
E atua palavra não deve significar não.
Qualquer outro sentido que deres a elas terá origem no maligno.
(Mateus 5.37 - Tradução minha).

Cada vez que começo a escrever sobre os aspectos do pecado tenho ímpetos de dizer “Este é o mais cometido em nossos dias”.

Embora o pecado contra a verdade também seja razoavelmente condenado pelas leis humanas, ele possui uma face socialmente bem aceita e, de certa forma, até requisitada nas relações humanas de cortesia e polidez.

A lei humana coincide com a divina no que concerne a manutenção de contratos, de pesos e medidas corretos, de marcos de propriedade, proibição de propaganda enganosa, divulgação de inverdades, condenação da calúnia, difamação, falsidade ideológica, etc.

Entretanto, aos olhos de Deus, mentir é muito mais do que isso, e Jesus agrava seu entendimento ao interpretar a lei do Pai dizendo que todas as vezes que modulamos o sentido de uma palavra em favor de uma mentira, estamos procedendo de conformidade com o maligno.

Em nossa cultura moderna a mentira é sempre fruto de uma conveniência e são poucos os que ainda a atribuem a falha de caráter.

Nos meios evangélicos ela também é vista mais ou menos assim e dificilmente um evangélico associará uma mentira com o maligno, pois com ele associa outros pecados mais extravagantes. Apenas os protestantes de Fé Reformada confessam a malignidade da mentira.

Jesus foi quem nos ensinou que a mentira origina-se no maligno: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44).

Dentro da cosmovisão cristã a mentira (dita pelo pai da mentira) foi quem induziu nossos primeiros pais a pecar. O tentador serviu-se dela: “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de TODA árvore do jardim?” (Gn 3.1) (destaque meu).

Com a partícula TODA o tentador criou uma nuance de sentido - absolutamente inverídica, pois todas as árvores frutíferas eram comestíveis exceto uma - que induziu nossa mãe a uma resposta falsa e até certo ponto queixosa: “Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele...” (Gn 3.2-3).

Analisando bem você verá que todos os aspectos do pecado se assentam sobre alguma mentira. Pode haver desonra aos pais, adultério, assassinato, furto, ou cobiça (limitando-nos aos pecados que envolvem nosso próximo) sem que também se peque contra a verdade?

Talvez esse pecado seja mais arraigado do que os outros. Tiago nos diz: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo” (Tg 3.2). Porém isso não é desculpa para não lutarmos contra ele e constantemente orarmos: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!” (Sl 19.14).

sábado, 17 de setembro de 2011

Pecando contra mordomia

Se, pois, não vos tornastes fiéis
na aplicação das riquezas de origem injusta,
quem vos confiará a verdadeira riqueza?
Se não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio
quem vos dará o que é vosso?
(Lucas 16.11)

O pecado impregna nossa natureza e desde que nascemos, de algum modo, já o externamos. Alguns são tão óbvios que deixamos passar por “coisas de criança”, outros de tão dissimulados são difíceis de ser vistos.

O aspecto sobre o qual me detenho agora é o desejo de tomar em nossas mãos aquilo que Deus colocou sob as mãos de nosso próximo.

Geralmente dizemos que furtar é um pecado contra a propriedade. Tenho minhas reservas contra essa afirmação, pois não possuímos nada, nem a nós mesmos. O furto - nas suas diversas modalidades - é sempre um pecado contra a mordomia.

Somos mordomos de Deus e a ele daremos conta de tudo o que dele mesmo recebemos, desde os bens que consideramos mais preciosos, até das coisas que temos por imponderáveis: “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo” (Mt 12.36).

Somos mordomos de tudo o que possa ser gerido pela nossa capacidade e o critério com o qual nossa gestão é avaliada por Deus é a fidelidade ao seu querer e o amor ao nosso próximo. Esses dois eixos devem nos orientar na administração de qualquer bem que Deus tenha nos confiado.

Deus não ficará mais rico se formos mais fieis, mas será mais glorificado se pela nossa fidelidade à sua vontade, amando o nosso próximo, usarmos aquilo que ele nos confiou para suprir suas necessidades. Dessa forma nos tornamos, pela fidelidade, cooperadores de Deus, como agentes de sua providência.

Mas acima de tudo, somos mordomos do bem mais precioso: o tempo. Como crianças não damos valor a ele e pouco nos importa se o temos de sobra ou não. Quando adolescentes agimos de modo igual, mas já começamos a querer mais dele para gastar conosco mesmo. Quando adultos percebemos que ele é limitado e tentamos aproveitá-lo e às vezes usando a parte que devemos dedicar a nossos queridos mais próximos. Quando chegamos à velhice vemos que ele escorre como água por entre nossos dedos e tentamos remi-lo a todo custo. Mas já é tarde.

Curiosamente podemos e geralmente roubamos o tempo que Deus colocou sob administração de nosso próximo. Isso ocorre quando o enredamos em futilidades ou até mesmo em coisas contrárias a Lei de Deus.

O descanso é uma parte importante do tempo e está intimamente ligado à verdadeira adoração. Quando Deus exige que descansemos um dia em sete, se dá como exemplo: Criou tudo em seis dias e no sétimo descansou. Não podemos querer trabalhar mais do que ele.

Finalmente, o que abrange todos os aspectos do pecado do furto é a infidelidade. Para evitá-lo precisamos ser fiéis de mente, palavras e obras para com Deus e para com nosso próximo. Só assim não furtaremos sequer as coisas mais simples, muito menos as que consideramos mais valiosas.

sábado, 10 de setembro de 2011

Pecando contra a castidade

“Eu, porém, vos digo:
qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura,
no coração, já adulterou com ela”
(Mt 5.28)

Os judeus, que acreditavam piamente nunca pecarem contra a castidade, mesmo possuindo mais de uma mulher, desde que fosse dentro da lei, ouvindo palavras como estas devem ter ficado perplexos. Em outro lugar enquanto Jesus falava sobre o mesmo tema, um de seus discípulos declarou: “Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar” (MT 19.10).

Jesus vê a intenção e o ato cometido como atentados contra a castidade. E desde cedo pecamos contra ela.

Na infância a curiosidade nos impulsiona mais, já na adolescência e na juventude o que nos move mais é o que o apóstolo Paulo chamou genericamente de “paixões de juventude”.

Enquanto adultos, o que mais nos impele mais é a sensação de que a vida está passando e não foi desfrutada, ao passo que na velhice o que mais nos afeta é a saudade do que poderíamos ter feito.

Os antigos diziam que este é o pecado do não realizado, da fugacidade, do “como teria sido bom”!

Não se esqueça: Estou falando de convertidos, pois quem não o é, sequer vê isso como pecado.

Vida casta não é vida sem sexo. É vida com o sexo segundo Deus. À luz dos ensinos bíblicos, casto é quem desfruta, diante de Deus, do estado conjugal que vive. Se solteiro dedica-se à glória de Deus. Se casado dedica-se, à mesma glória de Deus, através do cônjuge: “Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rm 14.7-8).

Peca contra a castidade quem vive sexualmente fora do estado conjugal que Deus o colocou, ou quem atenta contra tal estado em si ou nos demais: homem ou mulher.

O padrão que Jesus mostrou é muito alto, pois mesmo para um mundo caído ele citou a criação anterior ao pecado. Quando perguntado sobre o divórcio ele respondeu “não foi assim desde o princípio. ... quem repudiar sua mulher não sendo por causa de `porneia` e casar com outra comete adultério”(Mt 19.8).

Como Jesus estava se dirigindo a homens, é necessário, por abrangência, estendermos o texto: “repudiar seu marido”.

O termo grego `porneia`, geralmente traduzido por relações sexuais ilícitas, é muito amplo. Aplica-se a homem ou mulher e dele nasce tudo o que hoje chamamos de pornô. Vai da simples sensualidade (tão apreciada na moda) até as aberrações explícitas que a mente mais depravada pode conceber.

Geralmente me perguntam por que Deus é tão fechado? Se há consenso entre os que praticam, que mal pode haver?

É a ordem da criação a que Jesus se referiu. Fomos feitos para extrair um deleite mútuo, que talvez nem nossos primeiros pais tenham provado, porém isto era - e é ainda é - protegido por um pacto, que remanesce no casamento.

Tudo é uma questão de se obedecer a Deus. Do mesmo modo que ele quer que honremos nossos pais, e nos proíbe de menosprezar o próximo, ele também odeia que pequemos contra a castidade.

Vilipendiamos sua imagem em nós quando fazemos isso: “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz (porne)? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta (porne) forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele” (1Co 6.15-17).

sábado, 3 de setembro de 2011

Pecando contra a vida

Todo aquele que
sem motivo se irar contra seu irmão
estará sujeito a julgamento;
e quem proferir um insulto a seu irmão
estará sujeito a julgamento do tribunal;
e quem lhe chamar: Tolo,
estará sujeito ao inferno de fogo
(Mt 5.22).

Nascemos em pecado e não demoramos muito a externá-lo. Externamo-lo já em nossos primeiros dias, tão logo exigimos de nossa mãe cuidados que só as mães suportam. Ferimos seus seios enquanto ela nos nutre com seu leite e berramos quando ela demora em atender nossas necessidades.

Nosso Senhor e Mestre - a quem hoje se diz ser apenas amor e muito diferente do Deus iracundo do Velho Testamento - interpretando a proibição de matar nos ensinou, nas palavras em epígrafe, que não precisamos chegar ao ponto de tirar uma vida, basta que menosprezemos nosso próximo e já teremos cometido esse aspecto do pecado. Não há próximo mais próximo que nossa mãe.

Em nossa defesa diremos: Éramos bebê e não sabíamos que estávamos ferindo os seios de nossa mãe ao mamar com avidez. Ou: Não fizemos por maldade. Não tínhamos intenção. Se tivéssemos consciência jamais faríamos isso!

Todas as alegações acima são verdadeiras e todas procedem! É importante sabermos que a imensa maioria dos pecados não é cometida intencionalmente. Raramente atentamos contra a vida de alguém - na forma como Jesus interpretou - premeditada e friamente. Afinal, quem de nós decide perder a cabeça e ficar irado?

Mas o que pode ser visto no bebê, pode ser visto na criança, no adolescente e até no adulto. Ou você nunca viu uma criança irada com seus pais? Ou um adolescente que os xinga e deseja a morte deles? Ou um adulto que sonha em se livrar do fardo que seus velhos? Nesses casos dois pecados se somaram: contra os pais e contra a vida.

Mas, não pecamos apenas contra a vida de quem está mais próximo de nós. Podemos pecar também contra a vida do próximo que sequer vemos. Não é isso que acontece quando alguém polui o ambiente? Ou quando contamina alimentos, seja no plantio, na confecção deles, ou ainda ao servi-los.

Na verdade quando se atenta contra a saúde, de qualquer forma, através de qualquer meio, intencionalmente ou não, à luz das palavras de Jesus, se comete um atentado contra a vida.

Pecamos também contra nossa própria vida quando trabalhamos em excesso, corremos riscos desnecessários ou nos alimentamos errada ou exageradamente. Quando nos entregamos ao ócio, ou abusamos de medicamentos bem como negligenciamos os cuidados médicos.

Quando não estamos prontos a perdoar, a resolver conflitos a buscar a paz também matamos. Quando fazemos intrigas, acirramos discussões, “botamos lenha em fogueiras”, disseminamos discórdias e inimizados também matamos.

Quando não nos empenhamos pela vida em todos os seus aspectos seja no mundo, seja no lugar que vivemos ou no lar em que nos aconchegamos, pecamos contra Deus e contra a vida criada por ele.

Evitemos esses erros.