domingo, 26 de dezembro de 2010

Aperfeiçoado

... tendo sido aperfeiçoado,
tornou-se o autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem... (Hebreus 5.9)

O Senhor não nasceu em 25 de dezembro. Afinal, por lá, essa é uma época de frio e o evangelho fala de pastores e rebanhos em atividades próprias de noites quentes.

Provavelmente ele tenha nascido na primavera.

Estremeço só em pensar que a multidão que o deixou sem hospedagem tenha sido de peregrinos para uma páscoa. O que acontecia na primavera.

Um recenseamento dificilmente atrairia uma multidão a Belém, mas uma páscoa em Jerusalém, que fazia com que sua população subisse de 25 mil para uns 300 mil, certamente afetava as cidades vizinhas, como Belém que ficava a pouco mais de 15 quilômetros ao sul.

Hoje é o dia seguinte ao dia em que convencionamos comemorar seu nascimento. Então aproveito para pensar no que aconteceu no verdadeiro dia seguinte.

A improvisação da noite passada na estrebaria deve ter sido corrigida ou pelo menos aliviada. As faixas que o enrolaram na noite anterior e a manjedoura que lhe serviu de berço devem ter sido substituídas.

Mas, não convém ir pensando em um macaquinho de lã ou em um pagãozinho como os que vemos hoje. Pouco sabemos sobre o corte das roupas dos adultos de então, muito menos das crianças, e menos ainda dos bebês, mas tudo indica que eram pedaços de pano. Não deviam ser trapos ou tiras rasgadas e improvisadas em cueiros.

Como também não convêm ir pensando em um móvel gradeado, como são os berços de hoje. Talvez uma caixa, semelhante à que era usada para medir cereais (o alqueire), que mantinha o bebê protegido dos pequenos animais domésticos que circulavam pela casa.

Se não ficaram abrigados na hospedaria, devem ter achado um parente. De dia é mais fácil de procurar. E como tudo indica que oito dias depois ele foi circuncidado em Belém mesmo, é de se imaginar que pelo menos algum conhecido que contratasse um mohel pra circuncidá-lo.

O que eu quero pintar neste segundo dia de vida de nosso Senhor é que tudo tendia a voltar ao normal. E voltou. O único sobressalto veio depois - quase dois anos depois - quando uma caravana vinda do oriente procurou pelo menino em Jerusalém, na capital, onde pressupunham morasse o Rei dos Judeus, cuja profecia, datada por uma estrela, era conhecida por eles.

Creio que eram descendentes dos discípulos de Daniel, que, cerca de 500 anos antes, foi feito chefe dos magos da babilônia por Nabucodonosor (Dn 5.11) e que previu a vinda do Messias para 490 anos mais tarde (Dn 9.24-26).

Não se esqueça de que os calendários da época eram marcados pela posição das estrelas, e que a “Estrela de Belém” certamente foi uma estrela como outra qualquer, pois Herodes teve de perguntar aos magos quando foi que eles a viram.

Com a caravana vieram também os ciúmes e a ira de Herodes. Ele já havia matado dois filhos e a esposa por suspeitar de complô para tomar-lhe o trono, agora, sabendo que os magos viram a estrela dois anos atrás, resolveu matar as crianças daquela região, menores de 2 anos.

Fugiram para o Egito e lá ficaram por uns 3 a 5 anos.

Até os 12 anos, viveu vida normal, aprendendo a ser um de nós, para poder compadecer-se perfeitamente de nós.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Mais do que pedimos ou pensamos

Ora, àquele que é poderoso
para fazer infinitamente mais
do que tudo quanto
pedimos ou pensamos...
Efésios 3.20

Por dever de ofício tenho de acompanhar algumas pessoas em situações difíceis até de descrever, e algumas vezes tenho de tolerar outras que, para não ficar muito bravo, é necessário pedir a Deus dose extra de paciência.

Ainda me lembro do brilho no rosto de Dona Joselita quando me aproximei de seu leito: “Graças a Deus! O senhor veio me buscar”. Falou com os olhos marejados e fôlego curto.

A dignidade dos seus oitenta anos, estampada na pele vincada e brunida pelo sol, estava sendo abalada de forma mais humilhante do que a tosse e o pigarro nojento dos muitos cigarros de palha faziam, pois num leito duma enfermaria lotada e quente, onde, apesar de dois ventiladores de teto soprarem tudo o que era leve, muitas moscas aborreciam a todos. E ela estava coberta apenas por um lençol, que, de tão vagabundo, permitia ver que vestia apenas uma fralda geriátrica.

Antes de terminar de recitar aos seu ouvido o Salmo 23 ela já repetia com todas as forças que seu fôlego lhe permitia: “Pastor, leva eu! Leva eu, pastor! Leva eu, leva eu, leva eu...”.

Fiz das tripas coração e orei as poucas palavras que consegui. Eu sabia que quem a levaria seria o verdadeiro pastor. Aquele do qual sou apenas o servo. Dois dias depois a levou.

Ainda me lembro de um noivo, que, empolgado com o casamento do príncipe inglês – há muito tempo atrás – insistia em se casar vestido com uma farda semelhante a dele.

Nem reservista ele era. Havia ficado no excesso de contingente, mas seu sonho, que embaraçava a noiva e mostrava sua infantilidade era aquele. Insistiu no sonho e nem a noiva o quis mais.

No versículo transcrito acima, o Apóstolo Paulo se refere a coisas mais profundas do que as necessidades desta vida. Mesmo que seja fôlego.

Leia o texto todo e veja que ele se “colocou de joelhos” para que possamos compreender o amor de Cristo e sermos tomados de toda plenitude de Deus.

Isso se tornou possível a partir da encarnação de nosso Senhor.

No artigo passado eu falei que o Verbo de Deus, assumindo nossa natureza, tornou-se a última Palavra de Deus. Não há outra. Hoje quero enfatizar que ele tornou possível a verdadeira comunicação com Deus. Se tornou a única possibilidade de nos comunicarmos com ele.

Em que sentido então ele faz mais do que pensamos ou pedimos?

A maioria de nossas preocupações são semelhantes às do rapaz que desejava casar-se vestido de príncipe. Quando temos problemas reais, oramos desesperados pedindo fôlego.

Pois bem: Ele faz mais do que isso. Ele nos dá fôlego eterno e “... o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap 22.5).

domingo, 12 de dezembro de 2010

Tristezas e alegrias próprias de dezembro

Dezembro é prenúncio de férias e de festas, bem como certeza de calor e correria.

Com a expectativa das férias o ânimo se renova e aparece novo fôlego para aguentar um pouco mais de um ano que, passou tão rápido, mas pareceu tão comprido e penoso.

Com a expectativa das festas as listas de presentes chegam aos pais, que precisam balancear-lhes o peso com o de seus salários e com o peso da montanha de impostos e despesas que os espreitam na esquina de janeiro.

Você conhece combinação pior do que calor com correria? Geralmente ela se associa à impaciência, que também aparece do nada nas filas, mais comuns e mais lentas, em dezembro.

Para mim, dezembro é um mês difícil. Difícil e triste.

Mas não tire conclusões precipitadas. Não estou reclamando, tampouco maldizendo, e apesar do que me entristece – e que explicarei no final – dezembro também me traz muitas alegrias.

Os diversos relatórios que tenho de examinar, resumir e divulgar, me alegram. Afinal, eles mostram o quanto o rebanho, sobre o qual o Senhor me constituiu pastor, trabalhou durante o ano.

Os próprios relatórios que tenho de fazer também me alegram. Eles mostram o quanto fiz e o quanto deixei de fazer e sugerem estratégias para o próximo ano.

Fico alegre também em presentear. São poucos presentes que posso dar. Especialmente se comparado aos muitos queridos com que Deus me presenteou. E esses poucos são mais utilidades do que regalos. Mas fico alegre em presentear.

Fico alegre em ver minha família reunida. A mesa farta de coisas saborosas, de conversas descontraídas e alegres e especialmente de gratidão a Deus.

Mas, acima de tudo, me alegro por que esse dia foi reservado – dentre muitos – para trazer à memória o fato mais impressionante e incompreendido de toda história: o Verbo se fez carne. A Palavra de Deus – aquela que não lhe volta vazia, mas faz tudo o que lhe apraz – assumiu nossa natureza, e nunca mais se separará dela.

A palavra de Deus, agora, é Jesus. E Paulo nos ensina que nele há o “sim” de Deus.

Reunidos, nos convidemos mutuamente: “Ó vinde fiéis triunfantes e alegres ... Nasceu vosso rei o Messias prometido: ó vinde adoremos a nosso Senhor!” Nada é tão importante.

Mas... E a tristeza de dezembro?

Fico triste em ver que todos – os que acreditam nessa verdade ou não – estão atestando, sem se dar conta, a veracidade desse fato. Em outras palavras: minha alegria vem de tudo o que meu Senhor fez por mim e minha tristeza vem de tudo o que fazem contra ele.

Amontoam sobre si condenação sobre condenação. E pior: transformam o que deveria ser um simples ato de gratidão por ele ter adquirido nossa natureza em uma verdadeira festa pagã e em pretexto para libertinagem e coisas piores.

Entretanto, apesar dessa tristeza, jamais deixarei de me alegrar por tal maravilha. Então canto com alegria: “Nasce Jesus! Eis a mensagem celeste! Raia a luz da salvação, triunfante vem! Salve ó Cristo! Firma teu justo império! Gratos louvores anjos e homens deem!”

sábado, 4 de dezembro de 2010

Sobre o Rio de Janeiro e sobre Tiririca

Embora Nero fosse o Cesar quando o apóstolo Paulo escreveu aos Romanos, ele não evitou o ensino claro que permeia todas as Escrituras Sagradas: O Governo também é ministro de Deus. Paulo chega a dizer que “não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus” (Rm 13.1-2).

Devemos agradecer a Deus pelo que estamos vendo no Rio de Janeiro, pois, no mínimo, começam-se a cumprir as palavras do salmista: “O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniquidade”. Que os governantes de lá continuem com essa missão divina: abater os maus.

Exorto a Igreja a que sirvo como pastor que agradeça a Deus pelo alívio dos moradores de lá e pelo aumento da segurança de nossos filhos que estudam lá. Entretanto, exorto também que peça a Deus pela consolidação do processo, pois alguns amigos que lá residem há muito tempo me informam que ainda há muito o que fazer.

De fato. Se a quantidade de drogas bem como o enorme arsenal apreendido pertencia apenas ao que já foi foi conquistado, imagine o que pode haver nos demais redutos nos quais o governo não se fez presente.

Nos aproximamos do final do ano e não podemos abafar esse clamor por uma sociedade mais justa e ordeira com o fugaz e enganoso clima natalino. Devemos nos lembrar do antigo provérbio latino: ora et labora.

 

Tiririca

Antes de ontem alguém me enviou uma foto do deputado eleito Francisco Everardo Silva, o Tiririca, segurando um cartaz onde estava escrito “paçei!”.

Enquanto ria, me lembrei de Ambrósio.

Na época de seminário eu gostava de ler o historiador Justo Gonzalez. Ele descreveu a eleição de Ambrósio como bispo de Milão assim:

O ano era 373 quando a morte do bispo de Milão veio turbar a paz desta grande cidade. Auxêncio, o bispo falecido, tinha sido posto neste cargo por um imperador ariano, que tinha enviado para o exílio o bispo anterior. Agora a sede estava vaga, e a eleição ameaçava transformar-se em um tumulto que poderia ser sangrento, pois tanto os arianos como os nicenos estavam decididos a fazer com que um dos seus fosse eleito.

Para evitar derramamento de sangue, Ambrósio, o governador da cidade, foi pessoalmente à igreja onde seria realizada a eleição. Seu governo justo e eficiente lhe tinha conquistado as simpatias do povo. Natural de Tréveris, Ambrósio era filho de um alto funcionário do Império, e por isto esperava que sua carreira política o levasse a posições cada vez mais elevadas.

Mas para que sua carreira não fosse arruinada era necessário evitar uma desordem violenta na eleição do novo bispo de Milão.

Com isto em mente Ambrósio foi à igreja, pediu a palavra e começou a exortar o povo com a eloquência que mais tarde o faria famoso. À medida que Ambrósio falava a multidão se acalmava, dando a impressão de que os esforços do governador teriam bom êxito.

De repente um menino gritou: “Ambrósio bispo!” Inesperadamente o povo também começou a gritar: “Ambrósio bispo! Ambrósio bispo! Ambrósio! Ambrósio! Ambrósio!”

Para Ambrósio este grito da multidão podia significar o fim da sua carreira política. Por isto ele abriu passagem entre o povo, foi até o pretório e condenou diversos presos à tortura, na esperança de perder sua popularidade. O populacho, porém, o seguia e não se deixava convencer. Então o jovem governador mandou trazer para sua casa mulheres de má fama, para assim destruir a opinião que o público tinha dele. Mas o povo continuava na frente de sua casa, e continuava gritando que queria que Ambrósio fosse seu bispo. Duas vezes ele tentou fugir da cidade ou se esconder, mas seus esforços fracassaram. Por fim, rendendo-se à insistência do povo e à ordem imperial, ele concordou com ser bispo de Milão.

Ambrósio, todavia, nem sequer tinha sido batizado…

Depois, no transcurso de uma semana, ele foi feito sucessivamente leitor, exorcista, acólito, subdiácono, diácono e presbítero, até que foi consagrado bispo oito dias depois, no dia primeiro de dezembro de 373.

Ambrósio não tinha as qualificações eclesiásticas para ser bispo, e alguns acham que Tiririca não tem as qualificações legais para ser deputado da República do Brasil.

Ambrósio foi exposto ao vexame diante de uma cidade de alguns milhares de habitantes. Tiririca o foi diante de milhões.

Ambrósio não queria ser bispo e acabou sendo um dos melhores. Tiririca ansiou ser deputado Federal. Espero – e peço a Deus - que se torne um dos melhores deputados.

domingo, 28 de novembro de 2010

Chuvas abençoadas

A chuva que caiu à noitinha espantou o calor e trouxe uma aragem fresca do rio, que além de prometer uma noite sem o ruído monótono do ventilador, embalaria o sono com o chiado agradável das corredeiras.

Naquele dia o sol ardido da manhã já havia sido substituído pelo mormaço sufocante da tarde. E, de repente, chuva. Não a que se anuncia com respingos, mas a que cai de uma vez.

Que bom! Apenas uma chuva mudou o dia. As ruas foram lavadas, a grama encharcada, o ar ficou mais leve e a temperatura muito mais baixa.

Agradeci a Deus. E enquanto o sono arredio não chegava, lembrei-me novamente do Estudo Bíblico comparando as duas cartas escritas a Timóteo.

Na primeira, exuberante, Paulo o instrui a respeito de como enfrentar os problemas que viriam sobre a igreja de Éfeso, onde fora deixado. Minuciosamente detalha até como cumprimentar as mulheres idosas e as moças.

Na segunda, vendo o final de sua vida, escreve: “...o tempo da minha partida é chegado” (2Tm 4.6).

Ao contrário do dia, que começou abrasante e terminou fresco, o ministério do apóstolo Paulo, concluído com seu martírio, gradualmente tornou-se pesado e sufocante. Veja:

Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. Somente Lucas está comigo.

Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério. Quanto a Tíquico, mandei-o até Éfeso.

Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos.

Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. ...

Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta! Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém! ...

Apressa-te a vir antes do inverno (2Tm 4.9-21).

Percebeu? Paulo esperava por mudanças maiores do que as que são trazidas por uma chuva: “o Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará a salvo para o seu reino celestial”.

Essa é nossa esperança também. Nisso pomos nossa confiança e por isso vivemos.

Nessa vida, os dias quentes se tornam suportáveis pelas benditas chuvas de verão. Mas, e a vida como um todo, que apesar de ser a maior dádiva de Deus, é uma verdadeira coleção dos desacertos que cometemos e das expectativas frustradas?

Chuva nenhuma resolve. Aragem alguma suaviza, sono nenhum ameniza. Somente a graça do Senhor que a redime da sombra da morte é capaz de torná-la em verdadeira vida. A vida para a qual fomos criados.

domingo, 21 de novembro de 2010

Figuras da proteção divina

As Sagradas Escrituras usam formas humanas para falar de Deus. Em um só lugar o profeta Isaías fala de suas mãos e ouvidos: “Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir” (Is 59.1).

As Sagradas Escrituras também usam sentimentos humanos com o mesmo objetivo: “A zelos me provocaram com aquilo que não é Deus; com seus ídolos me provocaram à ira; portanto, eu os provocarei a zelos com aquele que não é povo; com louca nação os despertarei à ira” (Dt 32.21). Neste texto Deus, através de Moisés, diz sentir zelo - ciúmes - e ira.

E assim, muitos outros textos em que, tanto formas, quanto sentimentos humanos são atribuídos a Deus permeiam as páginas da Bíblia.

E não poderia ser diferente. Afinal como poderíamos entender o que Deus é sem comparar com o que somos? Certamente ele não possui mãos, mas que figura evocaria mais o Senhor abençoando seu povo do que a figura de um pai colocando as mãos sobre seu filho? Como entenderíamos o que ele sente ao ver seu povo em plena idolatria se não compararmos ao que sente um marido ao flagrar sua mulher em pleno adultério?

Além desses textos diretos há outros também, que, embora indiretos, revelam, de forma preciosa e profunda, relacionamentos mais intensos e de difícil descrição.

Você já leu com calma o Salmo 131? Aquele em que Davi diz que fez calar e sossegar sua alma como uma criança desmamada (literalmente, que acabou de mamar) se aquieta nos braços de sua mãe? A figura que está em destaque é a da criança aquietada nos braços maternos depois de ter sido saciada por seu leite. E essa é a lição que o salmista quis nos transmitir: nossa alma deve se aquietar nos braços de Deus.

Entretanto você já reparou que tal figura só se sustenta se admitirmos que Deus é representado pela mãe que agasalha o bebê que recém-alimentou?

De fato. Em muitos lugares, sob muitas formas, o Senhor mostra que alimenta seu povo. E, de fato, o alimentou. No deserto, na multiplicação dos pães, depois de uma noite de pesca infrutífera e especialmente quando tomou o pão e o cálice e o partiu e mandou que isso fosse feito até sua volta.

Não há para o cristão maior consolo do que este: o Senhor o alimenta e o sustenta. Isso deve ser a base de nossa tranqüilidade, do sossego de nossa alma. E, qual crianças saciadas pelo Senhor, devemos descansar em seus braços.

Certamente você há de concordar comigo que esta é uma das maiores necessidade que temos em nossos dias atribulados.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Carta Pastoral à Igreja Presbiteriana da Ilha dos Araújos

Novamente sobre a "Lei da Homofobia"

Irmãos;

No boletim de 6 de junho de 2007, publiquei uma Carta Pastoral (que pode ser lida aqui), sobre o que ocorria então em conseqüência do Projeto de Lei 122.

Nela fiz alusão à carta que do Rev. Roberto Brasileiro, Presidente do Supremo Concílio de nossa Igreja, que foi encartada em nosso Boletim Dominical e postei diversos links: para o referido Projeto de Lei no Senado Federal e para algumas análises dele feitas por autoridades em diversas áreas do saber.

Pois bem. Em 2007, decorrente da carta do Rev. Roberto, a Universidade Mackenzie, também se pronunciou, mutatis mutandi, à semelhança do que fizemos aqui.

Somente agora, em 2010, aproveitando comemorações afins, grupos gays resolveram se servir dessa carta para usar aquela universidade como exemplo. Não houve um dia nesta semana que não se repetisse em algum meio de comunicação de massa algum tipo de notícia difamatória e caluniosa contra aquela instituição e/ou contra seus dirigentes.

A posição da Igreja Presbiteriana do Brasil, conseqüentemente a nossa e a de todas as Igrejas por ela federadas, bem como a de suas instituições ainda é a mesma: somos contra o PL122.

Que seja mais uma vez repetido: o verdadeiro cristão não discrimina, muito menos agride, por quaisquer meios, um homossexual. Mas do mesmo modo que respeita a opção feita por ele e, no máximo se reserva o direito de criticá-la e dizer que é pecado, também demanda que os grupos homossexuais respeitem e não exijam que sigamos seus valores e sua agenda. Podem continuar nos chamado de retrógrados, ultrapassados e até mesmo de errados, mas nos não igualem a assassinos e a espancadores, nem nos imponham seus valores ou cultura, como querem fazer com o PL122.

Exorto, portanto a Igreja à qual sirvo como pastor, que coloque os joelhos no chão em oração a favor dos que estão sendo perseguidos por manterem-se fiéis aos preceitos bíblicos. Orem também para que, os que presos a conceitos e comportamentos homossexuais, recebam de Deus a graça de se livrarem como os crentes de Corinto se livraram (1º Coríntios 1.9-11). Finalmente, orem também pelo grande grupo de simpatizantes, que muitas vezes, por solidariedade e amor genuínos, fazem muito mais mal do que bem, não confrontando algo que é contrário a própria natureza com que Deus criou o ser humano: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gênesis 1.27 - Edição Revista e Corrigida).

sábado, 13 de novembro de 2010

Politicamente correto

Nas últimas semanas acompanhamos o debate sobre a proibição nas escolas públicas de um clássico da literatura infantil, que descreve a Tia Anastácia com termos que foram considerados racistas.

Nem quero entrar no mérito da questão, mas não deixei de rir quando um repórter reclamou que, desse jeito, ele teria de se referir ao Negrinho do Pastoreio como o Afro-descendente do Pastoreio.

Não há dúvida de que o racismo é algo deplorável contra o qual devemos estar alertas. Afinal o racista quebra o nono mandamento. Mas não creio que uma instituição governamental possa extingui-lo, pois ele está intimamente ligado à constituição da personalidade de cada um.

Entretanto há que se fazer diferença entre o racismo, condenável em todos os seus aspectos, e o modismo do politicamente correto, que, em minha opinião, foi o que mais pesou na tal proibição.

Em nossos dias não é politicamente correto chamar um cego de cego. Deve-se dizer que ele é deficiente visual. Como se deve chamar um aleijado de deficiente físico, ou (contra todas as normas de derivação da língua portuguesa) de cadeirante.

Um surdo deve ser chamado de deficiente auditivo e um gordo de obeso (ainda prefiro gordo). Um velho deve ser chamado de idoso ainda que muitos respondam: “idoso é seu avô”.

Estes melindres aparecem, geração após geração. Causam muitas situações embaraçosas, cômicas e, algumas vezes, trágicas. E curiosamente aparecem até na Igreja.

Temos em nosso hinário uma bela composição que exorta os jovens, os homens (no sentido de adultos), e os velhos a trabalhar. Cada uma de suas três estrofes destaca as peculiaridades de cada faixa etária. Dos jovens destaca a força, dos adultos o vigor e aos velhos exorta a considerar que “breve chega o fim”. A última edição que encontrei dedicada aos velhos foi a de 1975 (ainda Salmos e Hinos). Desde então se dirige a “todos”.

Precisamos ser gentis na hora de falar. Precisamos ser polidos e corteses. Porém, há um limite entre a cortesia e o eufemismo. Especialmente o eufemismo que tira a substância da comunicação autêntica. Corremos o perigo de, por não denominar corretamente as coisas, deixarmos de enquadrar os pecados nos respectivos mandamentos que ferem.

Por exemplo: até que ponto “um apropriador indébito” está quebrando o mandamento “não furtarás”? Ou, como cumpriremos a ordem bíblica de nos levantar diante das cãs se elas já não são nominadas, ou, por vergonha, são até escondidas?

Do mesmo modo que pecamos quando dizemos sim ao querermos dizer não, pecamos ao chamar de luz as trevas. Isaías já nos alertou sobre isso: Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! (5.20).

Percebeu? Uma coisa é pecar por racismo ou por falta de cortesia. Outra é arriscar-se a pecar por perverter o significado das palavras.

sábado, 6 de novembro de 2010

O efêmero e o eterno

Após 30 anos, os inventores pararam de fabricar os pequenos walkmans. Gravei muitas coisas neles. Desde minhas aulas de grego e hebraico, que ouvia no ônibus em que ia para o seminário, até o maior número de músicas possíveis a fim de tornar mais confortável uma viagem longa.

Eu vi essa tecnologia nascer e morrer. E essa é uma das características de nossos dias: ver o nascimento e a morte das tecnologias. Nossos pais raramente viam isso.

Quantas gerações conviveram com relógios de sol? A Bíblia faz menção de um nos dias de Ezequias (2Re 20.11). Não se sabe ao certo quando, mas depois vieram os relógios de areia (ampulhetas) e de água (clepsidras) e só na idade média apareceram os relógios mecânicos a corda. Finalmente, no século XX apareceram os relógios automáticos e os digitais. Todos possuíam a mesma função: medir o tempo. Mas faziam isso usando tecnologias diferentes. E apenas nossa geração viu o relógio de corda, o relógio automático e o digital. Os demais relógios sobreviveram muitas gerações.

Após a escrita o homem conseguiu armazenar mais eficientemente o conhecimento, de modo a não precisar passar por todos os erros de seus pais. Ele já encontrava a fórmula pronta. Bastava segui-la.
Quem dominava uma técnica nova, especialmente que garantisse vantagem sobre seus adversários, tentava escondê-la, lucrar com ela, ou impor, através dela, seu domínio.

Observe como dominar a tecnologia do ferro foi importante: “Esteve o SENHOR com Judá, e este despovoou as montanhas; porém não expulsou os moradores do vale, porquanto tinham carros de ferro” (Jz 1.19). E: “Clamaram os filhos de Israel ao SENHOR, porquanto Jabim tinha novecentos carros de ferro e, por vinte anos, oprimia duramente os filhos de Israel” (Jz 4.3).


Assim age o mundo moderno. Os países detentores de tecnologia de ponta impõem sua agenda aos demais, pois o conhecimento de como fazer vale mais do que o material do qual o produto em questão é feito. Entretanto isto não é novo. Veja: “Importava-se, do Egito, um carro por seiscentos siclos de prata ... nas mesmas condições, as caravanas os traziam e os exportavam para todos os reis dos heteus e para os reis da Síria” (1Re 10.29).


Devemos ter, pelo menos, dois cuidados para que isso não envolva nosso modo de viver:

1º Não devemos permitir que nossos valores morais se tornem tão descartáveis quanto nossas tecnologias (note que sequer falei de objetos descartáveis que nos rodeiam como lenços, fraldas, giletes, canetas, etc.), pois infelizmente essa tendência está presente. Veja as estatísticas crescentes de divórcio que mostram como o casamento está ficando descartável.

2º Devemos sempre nos lembrar de que, apesar do possuidor de uma nova tecnologia ter grande poder, isso não o torna onipotente. O inimigo oprimia o povo de Deus com 900 carros de ferro, mas não dominava o clima. Deus atolou seus carros na lama depois de chuva torrencial.

A tecnologia é de grande ajuda. Apenas isso. Ela muda. Passa. Sempre mudou e sempre mudará. Sempre passou e sempre passará. Aliás, “o mundo passa, com tudo o que as pessoas cobiçam; porém aquele que faz a vontade de Deus vive para sempre” (1Jo 2.17 NTLH).

domingo, 31 de outubro de 2010

Reforma hoje

Como filhos que somos não precisamos nos dirigir ao Deus de nossos antepassados, pois ele é o mesmo Deus daquele que nos tornou seus filhos. O mesmo que disse: “...meu Pai e vosso Pai, ... meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17).

Como filhos que somos estamos aprendendo com aquele que “... não se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2.11) a viver os valores da casa de nosso Pai. Aprendendo a nos comportar como o Pai deseja. Aprendendo a conviver com nossos demais irmãos.

Como filhos que somos, embora soframos vicissitudes no presente “somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17).

Por essas verdades básicas, séculos atrás muitos se levantaram. Dizia-se então que estávamos sujeitos a outros pais e devíamos satisfações a intermediários. Mais: nossas culpas diante de Deus poderiam ser minoradas mediante pagamento comum e simples que ajudassem os intermediários a bem viver. Esse foi um das causas da Reforma Protestante do Século XVI.

É claro que houve muitas outras razões para que ela acontecesse. Dela resultaram muitas doutrinas, práticas e toda uma forma diferente de encarar o mundo: uma nova ética.

Porém, correndo o risco de ser reducionista, o âmago da questão foi negar a prerrogativa que os salvos por Cristo Jesus possuem de se aproximarem de Deus e de desfrutarem já, nesta vida, de suas bênçãos.

Entretanto, o que é que estamos vendo hoje?

A Igreja contra a qual os Reformadores se voltaram (e tentaram reformar) pouco mudou. Aliás, piorou, pois recrudesceu suas práticas no Concílio de Trento e as disfarçou bem no Concílio Vaticano II, sem mudar sequer um de seus terríveis dogmas.

Nós, os que descendemos da Reforma Protestante, vimos impotentes, surgir em nosso meio, uma verdadeira matilha de lobos vorazes travestidos de ovelhas comerciando tudo o que se pode imaginar. Mais do que aqueles contra os quais nossos pais lutaram, estes inventam óleos, lenços, águas, sais, pretensamente santos. Mas como os do passado estão interessados apenas em dinheiro.

Em síntese: se no século XVI, havia o que reformar, hoje há muito mais. Se século XVI, nossos pais não se detiveram diante do tamanho da tarefa, não nos detenhamos hoje.

sábado, 23 de outubro de 2010

Santificado seja o teu nome

Em nossa época tão materialista, por amor aos propósitos mais vis, desrespeita-se até o próprio Nome do SENHOR. Aquele, que não deve ser tomado em vão (pois ele não terá por inocente quem fizer isto).

A salvação é a maior bênção que recebemos, mas como conseqüência dela recebemos muitas coisas que sequer podemos enumerar. Por exemplo: somos filhos.

Quando Abraão orava, dirigia-se a Deus chamando-o de SENHOR. O damasceno Eleazar, seu servo, orou ao "SENHOR Deus de Abraão e Isaque".

A Isaque, Deus se apresentou como "Eu sou o Deus de Abraão teu pai". E a Jacó, como "Eu sou o Deus de Abraão e Deus de Isaque". A apresentação mais conhecida foi feita a Moisés: "Eu sou o Deus de Abraão, Isaque e Jacó".

Isso afetou o modo como se dirigiam a Deus: "E orou Jacó: Deus de meu pai Abraão e Deus de meu pai Isaque, ó SENHOR" (Gn 32.9).

Durante a época dos reis o tratamento predominante nas orações era sempre ao "SENHOR Deus". Embora, nessa época, os profetas usem "Ó Deus de Israel", "Ó salvador" e até "Ó Deus de meus pais". Ainda nesta mesma época a linguagem poética dos Salmos introduziu muitas expressões como, "Ó Deus de Israel", "Ó Senhor Deus dos exércitos", "Ó Deus de Jacó", "Ó Altíssimo" e outras mais raras.

Um judeu piedoso orava ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

Entretanto, quando seus discípulos pediram a Jesus, que os ensinasse a orar, determinou que se dirigissem a Deus chamando-o de Pai.

Para o Judeu, Deus era pai no sentido de que todas as coisas se originaram nele. As profecias em que ele se chama de Pai, e a Israel de filho, eram, para eles, mais uma expressão de cuidado do que uma realidade concreta.

Certamente os discípulos de Jesus ficaram surpresos quando ele os mandou usar a palavra Abba (que era como uma criança de então se dirigia intimamente a seu pai). Essa surpresa chega até Paulo: "Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo; vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus" (Gl 4.3-7).

Somente em Cristo – somente os cristãos – aqueles que "não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” podem desfrutar dessa bênção impar. Pois: "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome" (Jo 1.13 e 12).

Não desdenhemos nem desonremos tal privilégio.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O resgate dos mineiros chilenos e o meu

Como aqueles mineiros chilenos eu também estava enterrado. Não apenas a 700 metros abaixo da superfície, mas, como disse o salmista, “no mais profundo abismo”.

Como aqueles mineiros chilenos eu não recebi apenas uma proposta de salvação. Fui objeto de uma missão de resgate. Uma missão infalível e determinada a me tirar daquele lugar terrível, custasse o que custasse. E custou a vida de meu Senhor.

Diferentemente daqueles mineiros chilenos, nenhum semelhante meu poderia alcançar-me. Ninguém, a não ser meu Criador, teria poder de achar-me e de resgatar-me.

Diferentemente daqueles mineiros chilenos, eu não tinha como mandar sequer um bilhete avisando que estava vivo, pois na verdade eu estava morto. Nas palavras do apóstolo “morto em meus delitos e pecados”.

Diferentemente daqueles mineiros chilenos, para que eu fosse salvo, Deus, não apenas mandou uma missão de resgate, mas fez-se semelhante a mim e me deu vida compartilhando comigo seu próprio Espírito. Vivificou-me ao ponto de fazer-me ansiar pelo bendito resgate, e me alegrar por hoje estar em uma capsula apertada, subindo por um túnel bem estreito, vivo e em direção à vida real.

Diferentemente daqueles mineiros chilenos, se tivesse como escolher eu jamais escolheria o resgate - ele não faria qualquer sentido - meu prazer seria continuar no mais profundo abismo. Além do mais eu teria ódio mortal de meu resgatador e meu orgulho jamais me permitiria entrar em uma cápsula tão apertada. Eu me debateria ao ponto de precisar ser compelido por um aguilhão.

Fui resgatado, sim! Jamais poderia salvar-me.

sábado, 9 de outubro de 2010

Eleições de Esquerda

E agora? Segundo turno com dois candidatos de esquerda. O que fazer?

Primeiro, um pouquinho de história.

No mesmo ano em que os Inconfidentes mineiros foram presos, 1789, foi instalada na França a Assembléia dos Estados Gerais, e, no mesmo ano em que Tiradentes foi esquartejado, 1892, ela foi dissolvida.

Essa Assembléia era constituída por representantes do chamado Terceiro Estado (camponeses, artesãos e burgueses), tentava diminuir os poderes do Clero (Primeiro Estado) e os da Nobreza (Segundo Estado) e propugnava uma monarquia constitucionalista, semelhante a da Inglaterra. Nos 3 anos em que funcionou, chegaram a produzir a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que é uma das vertentes da nossa atual Declaração dos Direitos Humanos.

Os termos direita e esquerda surgiram nesta assembléia indicando o lado do plenário em que os parlamentares se ajuntavam conforme a posição que defendiam.

Desde então, esses termos foram usados para rotular as mais diversas abordagens políticas, sociais, éticas e econômicas. Porém, rotulando demais, hoje já não significam muito.

Por exemplo: Ouvi alguém classificar o recente aumento da cota de participação do Brasil no controle acionário da Petrobras como “festa da esquerda”. Risível (para não dizer ridículo)! Pois quem tiver um pouquinho mais de memória, se lembrará de que a Petrobras foi criada por um governo de direita . Aliás,todas as demais estatais foram criadas por governos de direita e privatizadas por governos de esquerda. Exatamente ao contrário do que se esperaria.

Eu poderia dar muitos outros exemplos, nas demais áreas citadas, em que tais ideologias sucumbiram diante da vida. Porém, como pastor, além dos erros básicos e monstruosidades perpetradas pela esquerda e já expostos pela história, minha repulsa a ela decorre do que eu chamo de insistência na legalização do pecado. Explico:

Sempre que um governo de esquerda assume o poder, com o discurso de apoio às minorias, insiste na mesma pauta: O Estado deve: 1) Garantir o direito individual de cada um pecar. 2) Cuidar do pecador mesmo quando ele estiver sofrendo as conseqüências de seu pecado. 3) Punir a quem advertir o pecador de seu mal caminho. 4) Apoiar o pecador a convencer às maiorias de que seu modo pecaminoso de viver é o modo correto.

Obviamente nós cristãos devemos socorrer o pecador, mas não podemos avalizar o pecado, muito menos manter - ou ajudar a manter - alguém imerso nele.

Percebeu? Não temos escolha. Se insistirem na ideologia, qualquer um dos dois candidatos já é juízo de Deus. Ou você acha que o atual não é?

Mas parece que eles estão preocupados mesmo é com o poder, e como dependem dos votos de quem se identifica como evangélica, ambos elegeram uma pedra de toque: o aborto (acabo de ler que um dos partidos deve tirar a luta pela legalização do aborto de seu programa de governo para atrair os eleitores dela).

Talvez um neo-evangélico possa resumir todos os seus princípios éticos - são tão poucos - na luta contra o aborto. Porém, isso é apenas uma pequena parte dos valores tradicionais da Reforma Protestante, da qual se dizem herdeiros. O que deve contar de fato é toda uma hierarquia de valores.

Como não espero que nenhum dos dois temam ao Deus revelado nas Escrituras, eu ficaria contente com aquele que tivesse a vida como o primeiro valor, seguido de perto pela verdade.

Bem entendido! Com vida quero me referir a tudo que lhe for relativo: desde a vida de quem ainda está em gestação até a saúde pública, a violência e a ecologia. E com verdade não me refiro apenas ao uso da mentira como ferramenta gerencial, mas a relações políticas, comerciais e internacionais honestas e verdadeiras.

Votarei com a consciência leve no que, pela história, tenha demonstrado mais possibilidade de fazer isso. E pedirei a Deus que tenha misericórdia de nosso país que se diz cristão, mas que não perde uma oportunidade de ofender àquele a quem ele ungiu Cristo e Senhor.

sábado, 2 de outubro de 2010

Inimigos do Povo de Deus

A Bíblia cobre um período de tempo muito grande e os autores de seus diversos livros testemunharam muitas formas de organização social e muitos tipos de governo.

Na pré-história bíblica sabemos dos clãs comandados por seus patriarcas. Sabemos das cidades-estado, como Jericó, e dos grandes estados, como o Egito, comandados por seus poderosos.

Ao longo do Antigo Testamento, o povo de Deus passou da autoridade de Moisés à uma confederação de tribos espalhadas pelo território conquistado por Josué.

Por esse tempo os gregos já contavam com suas cidades-estado autônomas e democráticas. Mas, a democracia deles era emperrada pela necessidade de todos participarem de tudo.

Roma deu o passo seguinte criando uma espécie de democracia representativa: a república, onde cada cidadão delegava poderes a um corpo permanente de governo: o Senado.

Portanto, o povo da antiga aliança viu o autoritarismo dos faraós, a democracia dos gregos, a democracia dos romanos bem como sua transição de república para império quando o Senado acumulou de poderes (Cônsul, Censor e Ditador vitalício) a Júlio, que retribuía com a “Pax Romana” (conquistas, obras públicas, reorganização das finanças e ordem).

A Igreja dos tempos bíblicos conheceu apenas a Roma imperial. Jesus nasceu na época de Augusto, sucessor de Júlio.

Até a morte do último apóstolo a Igreja viveu debaixo dos mandos e desmandos de Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Júlio, Ninfídio, Clódio, Galba, Otão, Vitélio, Vespasiano, Tito, Terêncio, Domiciano, Nerva e Trajano.

Durante este período a ordem bíblica geral foi: Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. (Rm 13.1). Ou ainda: Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito (1Tm 2.1-2).

A Igreja sempre foi perseguida em maior ou menor grau. Chegou a realizar seus cultos em cemitérios e abolir os cânticos para não ser localizada. Mas, ajudada pelo Senhor, permaneceu fiel.

Durante os anos seguintes, até Constantino, a Igreja sobreviveu a mais de 90 césares. Sua derrocada aconteceu não por ser perseguida, mas por ser corrompida.

Tudo indica que teremos no Brasil uma presidenta, que, se não perseguir a Igreja, pois representa um partido político hostil a alguns valores cristãos, já que fechou questão (e mantém fechada) em favor do aborto e do casamento homossexual, dará continuidade a atual política de corrupção com benesses a seus líderes oficiais ou oficiosos.

Lembre-se de que historicamente, para o povo de Deus, a corrupção sempre foi um perigo maior do que a perseguição. E sobre esse perigo tenho escutado poucos alertas e visto muitos flertes.

O juízo de Deus veio sempre sobre a Igreja corrupta e suas bênçãos sempre foram abundantes sobre a Igreja perseguida.

Vote à luz de sua consciência diante de Deus. Se nosso destino for a perseguição, que seja. O Senhor prometeu ajudar a Igreja perseguida, não a corrupta.

sábado, 18 de setembro de 2010

Ansiedade

“...lançando sobre ele
toda a vossa ansiedade,
porque ele tem cuidado de vós”
(1º Pedro 5.7)
Em muitos lugares as Sagradas Escrituras nos advertem sobre a dificuldade de se viver os padrões de Deus. Diferentemente do marketing feito pelos novos evangélicos as Escrituras não prometem nada além de dificuldades. Afinal, se o próprio Jesus disse que estava nos enviando como ovelhas para o meio de lobos, dizer algo diferente é, no mínimo, mentira.
As dificuldades que enfrentamos decorrem do fato de que os nossos padrões e os padrões do mundo em que vivemos estão aquém dos padrões impostos por Deus. Aliás, na grande maioria das vezes são opostos.
Creio que a maior dificuldade é aquela que estamos vivendo no momento, pois é com ela que temos de nos ocupar. Creio também que quando o Senhor Jesus disse que “basta ao dia o seu próprio mal”, nos ensinou que cada dia traz embutido em si algum tipo de dificuldade para aqueles que vivem na dependência do Pai.
Entretanto, não duvido de que, se olharmos para as dificuldades sofridas por nossos antepassados, perceberemos que a soma de todas as dificuldade pelas quais estamos passando é nada perto das que eles sofreram. Ou será que, diante de uma fogueira, ou de instrumentos de tortura, continuaríamos firmes em nossa fé?
Mas, voltando às nossas dificuldades diárias, que não incluem perseguições - pelo menos por enquanto - há um mal que nos persegue implacavelmente, pois está dentro de nós e nos acompanha todos os dias: a ansiedade.
Quem pode controlá-la?
Ela tem duas origens: disfunções de nosso organismo ou a percepção de algum tipo de ameaça futura. As disfunções orgânicas podem ser remediadas. Já temos até um nome para essa classe de remédios: ansiolíticos (de ansiedade mais a palavra grega lytikos, que significa capaz de dissolver).
Mas, e as percepções de ameaças? Fundamentadas ou não elas revelam o quanto cremos que Deus está no controle de tudo. Em síntese: elas demonstram, em maior ou menor grau, verdades sobre nossa fé.
Como Deus é misericordioso para conosco, os remédios que atuam contra a disfunção orgânica também nos ajudam naquilo que deveria ser resolvido pela robustez da fé. É como se Deus, respondendo ao pedido daquele pai citado por Marcos 9.21-27, minorasse o sofrimento que nossa pequena fé nos faz passar.
Porém, necessito fazer uma ressalva. Até aqui vimos o lado negativo da ansiedade. Paulo, em 2Co 11.28, usa a mesma palavra pra falar dos cuidados que pesam sobre ele com relação as igrejas, e bem sabemos que podemos ficar ansiosos face a algo de bom que esperamos acontecer. Não ficam ansiosos os noivos antes do casamento? Não vive ansiosa a Igreja aguardando a volta de seu Senhor?
Hoje estamos diante de presumíveis adversidades, mas também estamos diante de enormes possibilidades. Ambas podem nos deixar ansiosos. Não há o que fazer além de colocar em prática a ordem do Apóstolo Pedro e pedir que Deus tenha misericórdia de todos nós.

sábado, 11 de setembro de 2010

Eleições brasileiras

Ao longo de toda a Bíblia encontramos muitas pessoas chamadas por Deus para servir a governos de povos estranhos aos valores divinos.

Vemos também o Povo de Deus, tanto do Velho quanto no Novo Testamento, sujeitos a bons governantes e aos mais terríveis déspotas.

Entretanto o ensino bíblico não poderia ser mais claro: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas” (Rm 13.11).

O que pesa mais em meu coração - e suponho que no seu também - é que Deus constituirá nossos próximos governantes brasileiros através de nossas mãos. Pra ser mais claro através de nossos votos.

Matematicamente cada um deles não pesa muito na escolha - afinal um em 136 milhões é algo estatisticamente desprezível - mas eticamente tem um peso enorme diante de Deus, pois, com o voto, estaremos dizendo: “em nome de Deus escolho você”.

Há alguns atenuantes que nos permitem confortar um pouco nossa consciência. O principal deles é não podermos votar em quem quisermos. Teremos diante de nós um “cardápio” elaborado pelos muitos partidos políticos, através de coligações, conchavos, negociatas, pressões, e outras coisas menos nobres. Portanto escolheremos dentre o que já está pronto.

Resumindo: votaremos em quem menos nos desagrade. E Deus saberá disso.

Aliás, os candidatos que fazem parte deste “cardápio” estão ali com o consentimento divino e o modo como entraram ali certamente deporá a favor ou contra eles diante do Altíssimo.

O que não podemos é deixar de exercer o dever que o Senhor dos Senhores nos delegou. Temos de escolher alguém.

Obviamente, como pastor, que tem a tendência natural de proteger seu rebanho como um pai protege a seus filhos, eu gostaria de alertar contra um ou contra outro, mas não posso fazê-lo, pois:

Primeiro: por mais bem informado que eu esteja há pessoas mais bem informadas do que eu já que não lido com o meio político partidário.

Segundo: O Deus que envia um governante para o bem de uma nação é o mesmo Deus que levanta outro para punir conforme sua sábia e inquestionável decisão.

Terceiro: Deus não me constituiu consciência de ninguém. Se eu usurpar tal lugar estarei exorbitando da função para a qual fui chamado. Em outras palavras mais diretas: Deus não me chamou para ser cabo eleitoral.

Entretanto é meu dever deixar bem claro que ao votar você estará desempenhando uma missão divina.

Prefira então, não o candidato que discursa valores cristãos ou promete para depois de eleito viver como um cristão, mas aquele que já vive mais perto dos valores que você conhece e pelos quais luta.

sábado, 4 de setembro de 2010

Desertos

Você já se deu conta da freqüência com que a Bíblia fala de desertos? Observou que eles estão ligados tanto a más quanto a boas ocasiões. Tanto a bons quanto a maus significados? Os desertos citados na Bíblia não são apenas dunas de areia, mas também o que hoje chamaríamos, no Brasil, de serrado pedregoso ou até mesmo de caatinga.
Pelo deserto peregrinou Abraão e seus descendentes a procura de Oasis em que pudessem dessedentar seus animais e eventualmente fazer morada durante algum tempo. Para o deserto fugiu Agar, grávida de Ismael, até que o Anjo do Senhor ordenou que voltasse e se humilhasse diante de sua senhora. E anos depois, para outro deserto foi expulsa com Ismael já adolescente, após caçoarem daquele que acolheu as promessas. E ainda em outro deserto Ismael foi criado.
No deserto foi José jogado em uma cisterna e vendido por seus irmãos. Para o deserto, que tinha o monte com a sarça incendiada que não se consumia, saiu, em êxodo, o Povo de Deus e lá recebeu a sua lei e aprenderam a cultuá-lo.
No deserto foram provados e ensinados que nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus e que, até as pedras são capazes de produzir água sob sua ordem.
No deserto morreram todos os que nasceram no Egito, exceto Josué e Calebe. E, ainda no deserto, se prepararam para entrar na terra que lhes havia sido prometida desde os dias de Abraão.
No deserto escondia-se Davi quando perseguido por Saul e do deserto Salomão sonhava vir sua bem amada.
Para o deserto fugiu Elias da ira de Jezabel e Oséias desejava levar sua mulher e falar-lhe ao coração.
Isaías profetizava que a voz do Senhor clamaria no deserto e no deserto cresceu João Batista onde recebeu, com a água, os arrependidos que o buscaram querendo andar por vereda plana.
Para o deserto o Espírito Santo levou Jesus, que mesmo não tendo sequer o maná, perseverou em toda palavra que havia saído da boca de Deus.
Os desertos na Bíblia podem significar provações, mas sempre significaram também a “companhia solitária” de Deus e sua força. Cada geração de seu povo, por assim dizer, nasce e cresce no deserto. No deserto aprendem também que a maior necessidade é da presença do Senhor. Nela repousam. Nela alentam as forças.
Agradeçamos a Deus pelos desertos pelo qual ele nos obriga a passar, pois as pegadas de Deus destilam fartura, destilam sobre as pastagens do deserto, e de júbilo se revestem os outeiros. Os campos cobrem-se de rebanhos, e os vales vestem-se de espigas; exultam de alegria e cantam” (Sl 65.11-13).

sábado, 28 de agosto de 2010

Perdoar

Todos nós sabemos o que é perdoar. Também sabemos o quanto é difícil perdoar verdadeiramente e sabemos que perdoar é muito mais do que simplesmente dizer: eu te perdôo. Mais difícil ainda é ter certeza de que perdoou de fato.

Há alguns anos aconselho pessoas que não conseguem ter certeza de que perdoaram de fato. Essa dúvida geralmente se expressa por frases do tipo: Eu perdoei! De coração eu perdoei! Mas, quando nos encontramos a primeira coisa de que me lembro é do erro que eu perdoei. Então, como posso ter perdoado se não esqueci?

Primeiro preciso deixar bem claro que perdão não tem nada a ver com memória. Perdão é algo que exige apenas três atitudes: 1) Não levar em conta o erro que perdoou ao tratar com a pessoa que foi perdoada, 2) não basear uma ajuda futura a quem perdoou no fato ocorrido e 3) não divulgar o erro que perdoou, com o intento de difamar o perdoado.

Para ficar mais claro: Eu posso até me lembrar de que Fulano, com quem convivo, fez algo errado comigo. Mas, se o perdoei de fato - e sou obrigado a fazer isso “não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete” - não deve ser tal lembrança, ainda que muito incômoda, que me atrapalhe a convivência diária com ele.

Posso até me lembrar de que Beltrano não me pagou uma dívida. Mas se eu disse, obedecendo ao Senhor, que o perdoava, não posso negar um empréstimo que ele venha a me pedir.

Posso até me lembrar de que Sicrano não cumpriu o que me prometeu. Mas se, na presença do Senhor eu o perdoei por isso, não posso espalhar pra todo mundo que ele não cumpre o que promete.

Nesse último caso, há uma observação: Se alguém está em vias de fazer um acordo com o Sicrano e esse alguém vier me pedir referências sobre ele, mesmo tendo perdoado, não posso me omitir. Ou seja: perdoar não exige que eu minta.

Romanticamente nos obrigamos a confirmar com sentimentos aquilo que afirmamos ter feito. Isso é uma grande dificuldade para quem vive pela fé. Não temos de sentir por quem perdoamos a mesma coisa que sentíamos antes. Se sentirmos, tanto melhor. Mas somos obrigados a manter as três atitudes do perdão.

Fomos perdoados de uma ofensa infinitamente maior do que qualquer coisa que pudermos imaginar. Não podemos prestar culto a Deus, orar como ele quer que oremos, ou participar da mesa de seu Filho se não perdoarmos nosso irmão. O verdadeiro crente é obrigado a perdoar de fato e não a enganar-se com sentimentos forçados.

Tampouco Deus exige que esqueçamos o que sofremos para chegar àquela atitude de perdão. Enquanto a graça de Deus não apagar o ocorrido de nossa memória (o que geralmente faz usando o tempo) todas as vezes que nos lembrarmos do mal, nos lembremos também das atitudes de perdão e coloquemos tudo aos pés da cruz. Um dia esqueceremos. Se não esquecermos, no dia eterno ele “enxugará de nossos olhos toda lágrima”.

sábado, 21 de agosto de 2010

Promessas não cumpridas

Chamado por Deus, Abraão partiu de Ur em direção a uma terra desconhecida. Literalmente: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei” (Gn 12.1). Obedeceu e passou o resto da vida peregrinando. O único pedaço do qual se apossou foi a sepultura de Sara, comprada dos heteus por um preço exorbitante. A promessa de Deus a Abraão não foi cumprida.
Chamado por Deus, Moisés, séculos depois, conduziu o povo pelo deserto em direção à mesma terra. Mas diferentemente de Abraão, que peregrinou nela, apenas a viu de longe. Moisés também não viu cumprida a promessa.
Muitos não viram a concretização da promessa e o escritor da Carta aos Hebreus registrou: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra” (Hb 11.13).
Não é notável que Abraão, o homem através do qual pactuamos com Deus em graça, e Moisés, o homem através de quem recebemos sua Lei, não obtiveram a concretização das promessas que lhe foram feitas?
É Deus injusto ao prometer algo e não cumprir? Ou será que o cumprimento de suas promessas não está vinculado ao nosso tempo? Ou ainda: Será que a verdadeira promessa não é a material, como entendemos, mas a espiritual que vamos receber ao chegarmos diante dele?
Desesperados, e em pranto, muitos já me questionaram: como é que Deus promete certas coisas e não cumpre?
Já ouvi: “pastor, Jesus prometeu se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus (Mt 18.19)? Por que então ele não cura meu marido?” ou “Por que ele não traz de volta meu filho?”
Não respondo com o engodo “você está pedindo sem fé”! Digo apenas “não sei”.
Não sei por que Abraão e Moisés, “homens dos quais o mundo não era digno” não obtiveram o que lhes foi prometido por Deus. Aliás, nem sei por que passaram por problemas difíceis até de descrever. Mas de uma coisa, tenho certeza: Embora eu não mereça o que foi dito deles, meu nome está no mesmo rol, pois também peregrino sobre uma terra que não me foi dada. Vejo e a saúdo de longe uma terra mais desejável, e igualmente anseio possuí-la.
Porém, o tempo em que isso acontecerá está determinado por meu Senhor. E mesmo que nenhuma promessa, que ele tenha feito, se cumpra nesta vida, tenho certeza de que todas serão concretizadas ao seu lado.

sábado, 14 de agosto de 2010

Lutas por fora, temores por dentro.

Embora alguns não a usem com receio de serem tidos por faltos de fé ou fracos, esta frase provavelmente é uma das melhores descrições do que a grande maioria de nós passa. Com ela, o apóstolo que se recomendou à consciência dos fiéis, confessa suas dificuldades à igreja de Corinto.

Na mesma carta confessa que perdeu uma grande oportunidade, concedida pelo Senhor, em Trôade, devido a falta de tranqüilidade (2Co 2.12-13) e que chegou a desesperar-se da vida pelo tamanho das tribulações que enfrentou na Ásia (2Co 2.8).

Eu já passei por momentos assim. Já pedi ao Senhor que me levasse e nem sei contar quantas oportunidades perdi por falta de tranqüilidade. Portanto, conheço, por experiência, o que você está sentindo, se enfrenta lutas por fora e temores por dentro.

Nenhum de nós está livre de lutas. Aliás, elas são tão necessárias à saúde nossa fé como uma atividade física é útil à saúde de nosso corpo. Para ser mais exato, o Senhor Jesus disse que elas fariam parte de nosso caminhar, quando nos mandou tomar, cada dia, a nossa cruz e segui-lo.

As lutas definem o caráter e fortalecem a fé.

Nenhum de nós também está livre de temores. Temores pela saúde, pelo trabalho, pela família, pelo futuro de nosso país, até mesmo pelo que está acontecendo com a igreja. Sempre vejo adolescentes ou jovens temendo um vestibular ou uma entrevista de emprego, pais receando pela companhia de seus filhos e anciãos preocupados com o último dia.

Os temores estimulam o exercício da fé.

Na própria carta Paulo cita duas razões pelas quais um filho de Deus enfrenta coisas assim: aprender amar a Deus sobre todas as coisas e aprender amar ao próximo como a si mesmo.

Ele aprende a amar a Deus quando as lutas e temores lhe mostram que é apenas um vaso de barro e que a excelência do que conseguiu fazer veio de Deus. Nas palavras do próprio Paulo: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2Co 12.9).

Ele aprende a amar seu próximo quando percebe que as lutas e temores passados e superados lhe ensinaram a confortar (cum+fortius=com força) ou consolar (obra primária do Paracletos) a quem enfrenta tal situação: “É ele [Deus] que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2Co 1.4).

Nos dias atuais, além de não ser conveniente confessar tais problemas, considera-se feliz aquele que os supera com os próprios esforços. Isso não é um valor cristão. O verdadeiro cristão entende que a bem-aventurança consiste em ser consolado por Deus e aos pés dele depõe suas lutas e temores.

Hoje prega-se um cristianismo que traz prosperidade, saúde, realizações e vitórias. Desconfie! A principal mensagem do cristianismo é pregada à sombra de uma cruz. Lá está a verdadeira vitória. Lá cessam todas as lutas e dissipam-se todos os temores.

sábado, 7 de agosto de 2010

Aborto e palmadas. Filhos e pais.

Qual será o pensamento que orienta nosso governo?

De algumas leis e projetos de leis defendidos pelo nosso governo deduzo que se poderá matar, sob tortura, uma criança, desde que ela ainda não tenha nascido. Mas, depois de nascida, ela não pode levar sequer uma palmada que lhe seja benéfica.

Só posso entender admitindo que a criança antes de nascer não esteja viva, ou se sua vida for igual a de um vegetal, pois nem a insetos se mata desmembrando como ocorre em alguns processos de aborto.

Mas falando da criança já nascida, acho que pressupõem que, desde bebê, tenha a capacidade de entender coisas como não colocar a mão no fogo ou não levar à boca o enfeite de mesa - ou coisas piores - e principalmente de obedecer.

Pressupõem que uma criança ativa domine seu espírito desbravador e entenda que os pais têm razão ao impedi-la de entrar debaixo do brinquedo no parquinho, ou de subir nas prateleiras da geladeira para puxar um pudim delicioso, ou de não tomar o brinquedo novo que o coleguinha ganhou.

Parece coisa de quem não teve filhos ou nunca observou os filhos dos outros.

O que falar das crianças maiores ou dos pré-adolescentes que não ficam quietos? Creio que além de não ter filhos, o autor desse projeto, nunca deu aula: nunca “gestou o caráter” de alguém. Ou tem tanta maldade no coração quanto quem não vê problema algum em matar uma criança cujo corpo ainda está sendo gestado.

Uma nova dimensão aparece se compararmos a criança não educada - ou não disciplinada - com o adulto infrator.

O destino mais óbvio para as crianças não educadas por seus pais é o de menores ou adultos infratores e depois o de criminosos. Pois bem: nosso governo diz estar empenhado em políticas que diminuam a população carcerária. Como? Impedindo o uso dos instrumentos de educação à disposição dos pais?

Veja bem: não estou defendendo espancamentos. O que estou dizendo é que a criança deve ser educada. Para tanto é necessário que ela entenda o que os pais querem lhe ensinar e a linguagem que a criança pequena entende não é o discurso verbal.

A criança deixa de por a mão no fogo quando entende a associação entre a chama e a dor da queimadura, ou à dor menor da palmada do pai. Não é um discurso que convencerá uma criança de que não se pode brincar com fogo.

Quanto aos espancamentos já temos leis boas o suficiente para prender pessoas como aquela senhora que espancava a criança que pretendia adotar.

Ao disciplinar, com a pequena dor da palmada o pai evita a dor maior da queimadura ou do cárcere, mas acima de tudo impõe freio ao erro e respeito a autoridade.

Seria melhor se o governo se empenhasse na formação de pais. Da mesma forma que se preocupa com a formação de motoristas deveria se preocupar com a formação de pais e mães responsáveis.

sábado, 31 de julho de 2010

Eleições

Defronte a uma grande extensão de mata atlântica, rodeada por morros, o sol só atingia a casinha no meio da manhã. Levantar cedo e acender o fogão à lenha era comprar briga com o frio, compensada imediatamente pela visão do alto da mata brilhando ao sol, e pela algazarra do bando de passarinhos no terreiro e nas árvores próximas.

Nem telefone nem internet. Só televisão. Porém, as melhores cenas não estavam nela: voavam de árvore em árvore, brilhavam com o reflexo do sol ou contra o fundo escuro da noite. Não sei descrever a beleza daquele céu estrelado ou a placidez da lua cheia.

Antes do sono o frio e o vento cortante conseguiam nos empurrar da varanda para dentro de casa e nos lembrar de que a vida continuava.

Numa dessas noites, vendo o jornal, me dei conta de três acontecimentos notáveis: Três eleições: a do Técnico da Seleção, a do Presidente da República e a dos Oficiais de nossa Igreja.

Pouco sei sobre a escolha do primeiro, mas tenho certeza de que é feita por alguns – talvez por um só – mediante critérios mais técnicos do que políticos. Afeta tanta gente que deveria ser eleição direta nacional. Afinal os brasileiros são mestres em futebol para ver rapidamente quais seriam os melhores candidatos. Com o futebol estão muito mais envolvidos e dele extraem muitas alegrias.

Sobre a eleição do Presidente da República, apesar de só ter votado em um aos 34 anos, sei um pouco mais. Muitos votarão em quem começaram a ouvir falar há pouco tempo, ou em alguém com menos experiência do que um técnico de um time de várzea. Muitos votarão contrariados ou até mesmo obrigados e o critério de outros não será a competência – como fariam se fossem escolher um técnico para a seleção – mas a melhor apresentação.

Na Igreja a escolha são bem diferentes. A competência é desejável, mas não é imprescindível. Os dotes políticos em vez de ajudar, prejudicam. Deve ser eleito aquele que melhor satisfaça as exigências da Palavra de Deus, e quase todas, com exceção de uma ou duas, dizem respeito a vida familiar. Ou seja, os oficiais da Igreja de Deus devem ser antes de tudo bons pais de família, bons maridos, bons filhos, bons irmãos e ter boa instrução na Sã Doutrina.

Deus permitiu que seu povo escolhesse seus pastores. Mas devem fazê-lo conforme os critérios dele. Fazendo assim cada um saberá o que é mais importante para Deus, atestará o que é a verdadeira fé e testificará que Deus é o senhor daquela igreja.

Já estou com saudades dos passarinhos, das manhãs frias e das noites estreladas, mas tenho certeza de que a oportunidade de escolher um diácono para a Igreja do Senhor é mais importante do que aquele deleite, como também é mais importante do que escolher os dois maiores mandatários de nosso país.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Tempo e o modo

Não há inundação sem a primeira gota de chuva. Não há tempestade sem a primeira brisa. Não há discórdia sem a primeira palavra mal dita ou mal entendida. Grandes discussões podem acabar em abraços e pequenos desentendimentos podem acabar em grandes tragédias.

Nenhum de nós, sabendo a que ponto chegaria, jamais teria contado uma determinada piada, falado uma determinada palavra ou feito o gesto que provocou toda aquela dor.

O sábio Salomão chama isso de o “grande mal que pesa sobre o homem” (Ec 8.6): desconhecer o resultado de seus atos.

Ele ensina que, como nenhum de nós conhece o que há de suceder, devemos - no único tempo sobre o qual temos algum controle, que é o momento presente - guardar a Lei de Deus. Ela nos foi dada para nos ensinar a decisão certa, a atitude correta, a palavra adequada e o tempo oportuno. Ou seja: A Lei de Deus nos ensina como viver cada instante de modo que o resultado de cada um desses instantes vividos esteja sempre de conformidade com a vontade de Deus e as conseqüências dos mesmos sejam sempre aquelas que agradem a Deus.

Nesse mesmo texto Salomão nos diz que para todas as coisas há um tempo e um modo, e que o sábio os conhece.

De fato: Às vezes vivemos o tempo certo de se fazer algo, mas não podemos fazê-lo do modo certo. Às vezes podemos fazer do modo certo, mas não estamos no tempo adequado.

Tempo e modo. Estes dois fatores precisam estar em harmonia para que tudo o que fizermos seja bem sucedido. E quem os harmoniza é a Lei de Deus.

Nosso Senhor morreu no tempo certo: Na “plenitude do tempo” como nos disse o apóstolo Paulo (Gl 4.4). Nosso Senhor morreu do modo certo: condenado injustamente, debaixo da pena que era nossa, de modo que Deus, nosso bendito Pai, lhe imputasse todos os nossos pecados.

Estou acostumado a ver quem age do modo correto estragar uma boa iniciativa por desconsiderar o tempo certo de fazer o que queria. Igualmente, já vi quem aguardou o tempo certo, mas todo atabalhoado, desprezou o modo certo e obteve os piores resultados daquilo que fez com tão boa intenção.

Minha alegria é ver alguém sábio o suficiente, que, enquanto espera o tempo certo, se prepara para executar aquilo que seu coração lhe mostra e Deus lhe permite.

Com paciência ele perscruta. Sonda. Ausculta. E realiza o que foi posto sob sua responsabilidade. E assim glorifica a Deus como bom mordomo do tempo e bom executor de seu querer.

Tudo varia. O tempo e o modo também. Mas a Palavra de Deus permanece verdadeira.

sábado, 10 de julho de 2010

O Nome

De modo geral, nos identificamos pelo nome completo, que é composto do nome próprio, sobrenome materno e paterno. A ordem, a obrigatoriedade ou o número de sobrenomes varia. Por exemplo: Os espanhóis usam primeiro o sobrenome paterno e o sobrenome materno por último. Os americanos e ingleses se contentam com o sobrenome paterno. Os húngaros, japoneses e chineses usam o sobrenome antes do nome.

Nos tempos bíblicos a identificação compunha-se geralmente de um nome próprio seguido do nome do pai, e de algum ancestral notável. Nosso Senhor é chamado por Mateus de “Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1.1).

Algumas vezes o nome próprio é seguido por um atributo pessoal: Jesus Cristo (Cristo significa o escolhido), Saulo de Tarso (Nascido em Tarso), José Barnabé (hábil em incentivar), Simão Curtidor (trabalhava com couros).

Nos primeiros anos da Igreja, com tantos, de tantas nacionalidades e culturas aderindo ao cristianismo, encontramos os mais diversos nomes. Mas é nessa época, em Antioquia, que os seguidores de Jesus passaram a ser chamados Cristãos. Talvez um modo pejorativo de designá-los, como, décadas atrás, nos chamavam de “os bíblias”.

Esse tipo de designação é mais precioso do que um sobrenome de família, de local ou de profissão. E embora designe o grupo mais do que o indivíduo, revela o que é mais notável.

Por protestarem contra várias decisões da Igreja de Roma as Igrejas que nasceram da Reforma Religiosa do Século 16, receberam o nome de Protestantes. Entretanto, ao chegarem ao Brasil preferiram se apresentar como Evangélicas. Modernamente algumas que tem muito pouco, ou nada, dessa raiz, adotaram essa mesma designação: em inglês! Gospel.

Preferimos o nome Presbiteriano, por indicar nossa forma de governo, entretanto sempre mantivemos a identificação evangélica.

Hoje, presbiterianos como eu têm uma dificuldade muito grande em se identificar. Somos Protestantes? Contra o que protestamos, se não temos qualquer vínculo com a Igreja de Roma? Somos Evangélicos? Está cada vez mais difícil agüentar as besteira que esse nome evoca. ‘Góspeis’? Deus nos livre! Além das besteiras, evoca o pernicioso comércio da fé.

Nossa sina é pertencer ao crucificado. Nele fomos predestinados e crucificados para o mundo. Portanto não há como fugir: somos cristãos. Para o bem ou para o mal somos cristãos.

Não concordamos com muitas coisas que outros cristãos fazem, mas somos cristãos. E como Pedro nos ensinou devemos honrar esse nome: "Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem mas se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome" (1Pe 4.14-16).

sábado, 3 de julho de 2010

A seleção brasileira, nós e Adão

Quando a bola aproximou-se da área do gol do Brasil o comentarista interrompeu de chofre a notícia que seu colega dava sobre um acontecimento nos vestiários. A torcida no campo levantou-se de uma só vez e a torcida em casa contorceu-se. De tão absorto, houve quem derramasse a bebida que já estava nos lábios.

- Sai, sai, sai...

- Tira ela daí! Tira, tira, tira!

Pelo jeito não havia nenhum ateu na frente da TV, pois o fervor com que o nome de Deus era invocado diante do perigo de um gol superava em muito o fervor das reuniões de oração de algumas igrejas modernas especialistas na arte de expulsar demônios ou fazer curas.

Quando a bola aproximou-se da área do gol do adversário, as reações eram semelhantes. Porém, em sentido diferente. E o gol era seguido por gritos e pulos de uma alegria desenfreada em que o barulho alongado das buzinas era entrecortado pelas explosões dos mais diversos tipos de bombas e fogos de artifício. Barulho desenfreado! A última coisa em que se pensava era Deus.

Já vi o Brasil vencer e perder. Lembro-me da copa de setenta (pra mim a mais bonita). Lembro-me da decepção geral na copa de setenta e oito, quando o Peru perdeu de seis a zero para a Argentina eliminando a possibilidade de o Brasil disputar o primeiro lugar.

Percebeu?

Tanto na possibilidade ou não de um gol, quanto na lembrança de copas passadas ou na descrição da presente, é perfeitamente aceitável nos referirmos à seleção brasileira apenas como Brasil. Afinal, se ganhar foi o Brasil que ganhou. Se perder, foi o Brasil que perdeu. O gol seria do Brasil ou contra o Brasil. O Brasil está lá! A representação do Brasil é, para todos os efeitos, o Brasil.

A alegria da copa de setenta, e das demais copas vencidas, foi a alegria do Brasil. A tristeza de setenta e oito e das demais copas perdidas (dizem que não houve igual a de cincoenta, quando o Uruguai ganhou do Brasil em pleno Maracanã), foi a tristeza do Brasil.

Será que isso não dá para se ter um vislumbre de como estávamos em Adão quando ele pecou? Apenas um vislumbre, pois o que aconteceu foi um pouco mais complicado.

Ao longo de sua história a Igreja tentou explicar o que aconteceu e houve quem dissesse que “nós estávamos seminalmente em Adão”, como houve quem dissesse que Adão apenas nos representava (como a seleção brasileira representa o Brasil), e há quem diga que Deus imputou o erro de Adão a toda humanidade da mesma forma que imputou os méritos de Cristo aos seus.

Embora a analogia não seja total, de uma coisa, porém tenhamos certeza: Quando a seleção perde dizemos, com propriedade, que todos nós também perdemos. Quando a seleção ganha, podemos dizer, com a mesma propriedade, que todos nós ganhamos. Não costumamos nos gloriar de que somos penta-campeões?

Pois bem: mais certos do que isso é termos morrido em Adão e ressuscitados em Cristo.

 

Nota: Este texto foi escrito na quinta feira passada. Antes da derrota da seleção.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O coral e a vuvuzela


Provavelmente de origem zulu (fazer barulho) a vuvuzela é uma espécie de trombeta. Talvez seja versão moderna dos instrumentos que os antigos tocavam para convocar reuniões (como os shofarim do Antigo Testamento). A diferença é que enquanto aqueles eram tocados sozinhos, esta é tocada em uníssono, pela multidão, fazendo um barulho tão medonho, que me faz duvidar da física de que os ruídos não se somam.
Os repórteres usam microfones de baixo ganho, colados aos lábios, e mesmo assim parece que o aparelho de televisão está com defeito com um ronco constante e atormentador. Já ouvi alguém dizer que o inferno ganhou um novo tipo de tormento.
O contraste estabelecido por elas, a que me referi no título, me ajudou a compreender a resistência de tantos jurássicos como eu a determinados tipos de música na Igreja.
As vuvuzelas são tocadas mais para alegria de quem toca do que para o deleite de quem escuta. Expressam uma alegria irresponsável e amolecada que não liga para o que se produz, nem para os efeitos produzidos no próximo. Aliás, parece que são tocadas exatamente para produzir tais efeitos danosos.
O contraste maior que posso imaginar é com a música coral. Enquanto a vuvuzela tem um só timbre e uma só expressão musical - como o bronze que soa ou como címbalo que retine - a música coral usa palavras escandidas, bem pronunciadas e enfatizadas pelo som que lhes dá suporte.
Dentre as muitas possibilidades, podem refletir o som vocálico ou consonantal, macio ou áspero, suave ou brusco das palavras faladas, e o próprio sentido delas: fica pesado e triste quando se fala de morte e dor. Clara e leve quando se fala de alegria e paz. A vuvuzela se repete.
Sempre rico de sons, como um arco-íris é rico em cores, ou um jardim de aromas, uma voz reforça, com determinada nota musical, o significado de uma palavra e outras vozes, com notas correspondentemente harmônicas, confirmam o que foi dito conforme o texto cantado. A vuvuzela não afirma nem nega. Apenas se repete.
Enobrece o discurso. Não fala do sangue precioso de Cristo e de seu sacrifício com o pouco caso do discurso evangelical moderno, nem enaltece sua vitória com o barulho de uma torcida violenta e furiosa.
Quando se canta Um só Rebanho, as diferentes vozes transmitem a impressão de estarem juntas, tamanha é a harmonia que as envolvem. Quando se canta a Bênção Aarônica, parece que sucessivas pancadas de chuva estão caindo em uma sucessão ritmada e coordenada pela frase “Que Deus...”.
A música coral é tão dirigida ao ouvinte (daí o perigo de virar espetáculo) que muitas vezes quem canta em um, embora goste de fazê-lo, não consegue apreciar a totalidade da música produzida.
Os protestantes históricos, tão acostumados a pensar que o culto a Deus além de lógico demanda empenho e trabalho, vêem com naturalidade consagrar a Deus o melhor de seu coração, de suas almas, de suas forças e também de seu entendimento. Nada mais natural, portanto do que a aversão a simploriedade carnal e amolecada das vuvuzelas em detrimento de uma música rica em conteúdo e de expressão trabalhada.

sábado, 19 de junho de 2010

A questão homossexual

Todos nós possuímos impulsos sexuais que devem ser atendidos de conformidade com o que nosso Criador estabeleceu: no casamento. A esse respeito o apóstolo Paulo nos instruiu claramente: “Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado” (1Co 7.9).

O modo estabelecido pelo Criador para o atendimento dos impulsos sexuais é o casamento. O que foi estabelecido pelo próprio Criador: o heterossexual: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24).

O Criador não deixou espaço para o casamento homossexual. Portanto, não há como atender a impulsos homossexuais de uma forma que não seja contrária a vontade do Criador.

Os impulsos tanto do heterossexual quanto do homossexual, enquanto contidos, são pecados diante de Deus apenas. E tão somente a Deus, tanto um quanto o outro, responderão. Como o próprio Jesus nos ensinou são cometidos no coração: “qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt 5.28).

Mesmo que o objetivo da “comunidade homossexual” seja apenas o de se casarem - e sabemos que não é, pois as paradas nos mostram que a intenção é impor à maioria heterossexual toda uma cultura - é um objetivo pecaminoso, pois vai contra o objetivo primeiro da criação, dado ainda antes do pecado: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a” (Gn 1.27). Como um casal homossexual pode ser fecundo?

Esta é a base para se entender a posição do cristianismo conservador para com a homossexualidade: A expressão dela é sempre pecaminosa!

Daí, e sobre esta raiz, cresce uma verdadeira árvore, que possui tantos ramos quantas são os pecados decorrentes da prática homossexual, que já é condenável desde sua raiz e não produz nada que não seja pecado.

Obviamente há também inúmeros pecados relacionados a heterossexualidade, porém há a provisão divina para que ela se expresse de forma sadia e santa: no casamento. A esse respeito as Escrituras nos ensinam: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros” (Hb 13.4).

Antes mesmo de ordenar a reprodução, o Criador viu o quanto a solidão era má. E, não encontrando dentre o que já fora criado nada que pudesse mitigá-la, criou alguém sob medida para tanto: “Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selvagens. Para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gn 2.20-23).

O casamento heterossexual foi estabelecido por Deus tanto para companhia e conforto de suas criaturas, quanto para a multiplicação.

Peca contra os primeiros desígnios do Criador quem busca companhia e conforto na homossexualidade, da mesma forma que nela não há a possibilidade de reprodução.

A imagem de Deus, apesar de deteriorada pelo pecado, ainda pode ser vista naquilo que ele criou, do modo como ele criou. Afastar-se de seus planos originais é o mesmo que afastar-se cada vez mais de sua imagem.