sábado, 27 de agosto de 2005

Desistir?

Quando o Senhor assumiu nossa natureza, encontrou um ambiente social convulsionado. Muitos alegavam ser o Messias tão esperado - você, certamente, se lembra da lista feita por Gamaliel - e atraíam discípulos. A credulidade e a superstição eram coisas comuns. Os demônios eram culpados pelos acontecimentos ruins e a religião era fonte de grande lucro. Na verdade, eu poderia dizer, sem medo de errar, que, guardadas as diferenças intrínsecas, o ambiente social era muito parecido com o de hoje.

Hoje, como os discípulos do Senhor fizeram, pregamos o santo Evangelho e muitos gritam que eles é que são os enviados de Deus. E, como os discípulos de Jesus fizeram, muitas vezes sentimos vontade de proibi-los de pregar. Mas as palavras do Mestre, ditas aos discípulos de então, ecoam em nossos ouvidos: "não proibais".

Hoje a indignação que às vezes nos toma, leva-nos, como levou aos boanerges, a pedir autorização do Senhor para descer fogo do céu sobre os malfeitores. Mas a repreensão de Jesus volta novamente a falar mais alto.

Como pastor, vejo ovelhas que, rejeitando admoestações particulares e do púlpito, se enrolam em práticas estranhas: correntes, simpatias e coisas semelhantes. Preocupam-se apenas em resolver seus próprios problemas, aqui e agora, sem se darem conta de que, quando oram, pedem a Deus que venha o seu Reino e seja feita sua vontade.

Outras pessoas, como os atenienses evangelizados pelo Apóstolo Paulo, carecem quase que desesperadamente de novidades. Se há algo novo é isso que receberá atenção deles. Como se o Evangelho fosse fastidioso. É o doente recusando o pão saudável e gostoso. Não é o evangelho “gerado” por Deus, mas sim um “evangelho clonado”, sintetizado no laboratório das idéias sociais ou no laboratório do “eu acho”. Nunca passaram da mera letra da Bíblia - se é que já a leram - e se arrogam possuir “novas revelações”.

O que fazer? Desistir de tudo? Confesso que as vezes dá vontade. Mas novamente a palavra do Senhor fala mais alto: fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. Participa dos sofrimentos em favor do Evangelho. Permanece naquilo que aprendeste desde criança. Prega, insta (seja oportuno ou não). Corrija. Repreenda. Pois nos últimos dias a sã doutrina não será suportada, e os mestres que ensinam apenas o que os alunos querem ouvir é que serão bem-vindos e queridos.

...

Você quer participar desta luta inglória diante dos homens? Se quiser não abandone sua congregação. Não abandone a Palavra de Deus. Não lute contra o mundo com as armas do mundo. Cumpra cabalmente seu ministério. E, finalmente, ouça o que o Espírito diz às Igrejas: “sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida”.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

A fé cristã e o ensino

As Sagradas Escrituras falam muito pouco sobre a infância de Jesus. Falam de sua circuncisão aos 8 dias de vida, sua ida para Egito aos 2 anos, sua volta de lá aos 4 ou 5 anos, quando seus pais decidiram morar em Nazaré. Depois só falam dele quando já tinha 12 anos.

Falam menos ainda sobre sua pessoa. Bem criança, falam que ele crescia em estatura e graça diante de Deus e dos homens. Porém, o destaque maior fica para sua capacidade de, pré-adolescente, já debater com os doutores da lei causando-lhes admiração.

Falam que ele era carpinteiro. Como tal deve ter construído muitas portas, vergas, esteios, coberturas, e, quem sabe, até móveis. Entretanto não foi por suas habilidades como construtor - apesar de, também, haver construído o universo - que hoje ele é lembrado.

Como carpinteiro, deve, também, ter recebido pedidos de desconto, parcelamento, atrasos de pagamento e até calotes - que foram nada se comparamos ao "calote" dado por Judas, por Pedro e pelos outros Apóstolos e por nós que lhe sobrecarregamos com nossos pecados. Embora isso seja muito destacado em sua biografia, se você examinar com calma verá que, também, não é disso que mais nos lembramos.

Ele fez muitos milagres. Não "milagres" que se expliquem pela sugestão, mas milagres reais: cegos, paralíticos e diversos deficientes de nascença voltaram a ver, a andar, às suas atividades normais. Até mortos voltaram a viver. Entretanto não há qualquer registro de alguém ter se dirigido a ele chamando-o de milagreiro.

Ele chamou a cada um dos 12 apóstolos. Chamou-os para longe de suas famílias. Chamou-os para andar, para dormir ao relento, para satisfazerem a fome com grão de trigo cru debulhado do pé. Ninguém recusou seu chamado. Entretanto ele não passou à história como líder carismático.

Ele fez muitos sermões. Sermões que hoje cada dia ganham mais relevo ao mostrarem nossas mazelas mais íntimas e ao mesmo tempo a situação do mundo. E, embora, ele não tenha passado a história como orador eloqüente, não há a menor dúvida que o título de Mestre é dele, e dele apenas. Há outros mestres. Alguns viveram antes dele e alguns, naqueles dias, já haviam descoberto coisas que só agora a humanidade compreendeu, mas nenhum ensinou o mais precioso: a vontade do pai.

Não conseguimos ler uma página inteira dos Evangelhos, sem encontrarmos alguém chamando-o: - Mestre ... Seus íntimos, identificaram-se como seus discípulos (alunos). João, que era seu primo, refere-se a si mesmo como o discípulo amado.

E, um dia, após haver lavado-lhes os pés – coisa que naqueles dias só se exigia de um servo – ele diz: “vocês me chamam de senhor e mestre. Fazem bem, por que eu o sou. Se eu, o Senhor e o Mestre ...”


Observou? Jesus não recusou esse título. Aliás, ao se despedir ele ordenou: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações ... ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.

Os primeiros sabiam disso tão bem, que deles é dito que “perseveravam no ensino (doutrina) dos Apóstolos”, e não são poucas as vezes que encontramos o ensino como o ponto vital para a santidade da fé.

Todos os que, na história da Igreja, honraram ao Senhor, ficaram conhecidos primeiramente pelo que ensinaram. Porém, até isso, nossos dias perversos se encarregaram de inverter. Valorizamos os comunicadores de massa como nossos pais valorizaram os oradores eloqüentes. Valorizamos os bons administradores, e os que conseguem encher mais malas de dinheiro.

Pobres de nós: abandonamos os mananciais da Palavra de Deus, e cavamos cisternas rotas que não podem reter as águas. A cada dia, é necessário uma música nova. A cada show um número novo. A cada pronunciamento uma bobagem ou heresia nova. A cada pecado uma perversão nova.


Voltemos ao verdadeiro Mestre! Arrazoemos! Aprendamos dele! Acharemos descanso para nossas almas.