terça-feira, 26 de setembro de 2006

Tempero do mundo*

Quando o Senhor Jesus quis identificar os súditos de seu Reino chamou-os de sal e luz: "vós sois o sal da terra", "vós sois a luz do mundo".

A respeito da luz lembrou-nos que colocamos as lâmpadas em locais destacados e não debaixo dos móveis, e que é impossível esconder uma cidade edificada sobre um monte. Já a respeito do sal seu destaque foi o sabor.

Certamente todos já ouvimos muitas considerações sobre essas duas metáforas: O sal preserva, realça o sabor, e alguns chegam até a dizer que "dá sede de se beber da água da vida". Sobre luz, já ouvimos que além de dissipar a escuridão, ela dissipa medos e facilita a compreensão.

Porém a melhor compreensão das palavras de nosso Senhor e Mestre ocorre quando juntamos a duas metáforas que, por serem tão diferentes, só possuem um ponto em comum: falam de coisas que influenciam sem serem influenciadas. Nem o sal toma o sabor daquilo que salga, nem a luz é afetada pela escuridão. O Mestre está dizendo que os súditos de seu Reino influenciam aquilo com que têm contato sem serem influenciados.

Pois bem: partindo dessa premissa, a quantidade dos que hoje se declaram súditos do Reino, mas na realidade são influenciados pelo que deveriam influenciar, é enorme.

Recentemente a imprensa divulgou um caso que tenho por exemplar: um parlamentar evangélico, está sendo acusado de usar um carro emprestado por mais de um ano para transportar os integrantes de uma banda musical gospel chamada "Tempero do mundo". O tal empréstimo está sob investigação como parte do "escândalo das sanguessugas", em que outros carros (ambulâncias) eram superfaturadas.

Não deixa de ser uma grande ironia: o nome da banda não é sal, é tempero!

Verdadeira paixão dos portugueses, as especiarias usadas como tempero, não apenas por amor à boa mesa, mas principalmente para tornar saborosos os alimentos já em estado de deterioração - em uma época em que não se dispunha de refrigeração artificial - impulsionaram as navegações do século 16, e, até hoje, habitam profusamente nossos pratos.

Salvo melhor juízo, a banda gospel além de colocar em evidência a bondade e o "interesse evangelístico" do parlamentar, julgando pelo nome, parece que visava também tornar o mundo mais temperado e saboroso, como cheiro verde, coentro, açafrão, ketchup, mostarda (...) deixam mais saborosos (?) o que se come.

Quem deveria sentir o mundo mais saboroso? Dificilmente seria Deus, uma vez que ele mesmo declara que "o mundo jaz no maligno". Provavelmente seja alguém que, alimentando-se do mundo, pensa agradar a Deus, ou, ainda, alguém que precise da aprovação do mundo, como um cozinheiro que tempera bem seus pratos precisa da aprovação de seus fregueses.

Resumindo: Quem é que está influenciando quem? A qual reino o "temperador" está servindo?

Irmãos, é fundamental entendermos isso para não sermos levados "como meninos, pela astúcia daqueles que induzem ao erro". O mundo não se tempera: influencia-se. Se não pudermos influenciá-lo, ele fará isso conosco e perderemos nosso sabor. Então se cumprirá: "se o sal perder o sabor, para nada mais presta, senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens".

Deus nos livre de tal sina.

*Agradeço a idéia do Anamim e os dados da Ana na confecção deste artigo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom.

"... alguém que precise da aprovação do mundo, como um cozinheiro que tempera bem seus pratos precisa da aprovação de seus fregueses."

Esta outra também gostei muito:

"...Quem é que está influenciando quem?... ...O mundo não se tempera: influencia-se..."

Acho que é uma tentação constante.
O tempo todo somos tentados a querer agradar em lugar de influenciar, e quase inconcientemente me pego tentando agradar.

É de se pensar...