quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Do jardim à cidade

E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden,
na direção do Oriente,
e pôs nele o homem que havia formado.
Gênesis 2:8


O homem recebeu de Deus um jardim. Não era um matagal, pois a palavra jardim já indica certa organização das plantas, porém, com certeza carecia de cuidados.

A revolta do homem contra Deus prejudicou o jardim, pois o castigo que Deus impôs sobre ele afetou também tudo aquilo sobre o tinha recebido domínio.

Embora haja muitas definições do que seja cultura, eu ainda prefiro pensar o seguinte: um rio intacto é obra divina, já um mero canal, ou um represamento mínimo é expressão de cultura. Ou seja: produto da cultura humana é qualquer interferência na criação divina. Não limito cultura às artes (como as entendemos hoje), ou às criações intelectuais. Na obra do artesão (quem aplica a arte com os dedos ou com ferramentas que vão da enxó ao bisturi) se vê a presença de conceitos culturais.

O homem interferiu na criação divina antes do pecado ao dar nome aos animais. Porém, a maior parte de suas ações culturais aconteceu após pecar.

Lembre-se de que nos primeiros tempos a interferência humana foi tão danosa, que Deus agiu drasticamente diversas vezes: dilúvio, Babel, etc.

Não posso concordar com quem diz que a cultura é neutra, pois, manchada pelo pecado, tudo o que deriva dela traz essa mancha. Eis a razão porque o jardim confiado ao homem nunca poderá ficar de acordo com o gosto de seu dono: Deus. Porém, essa impossibilidade não exime o homem de sua obrigação: Ele TEM de cuidar do jardim de Deus. Ele TEM de lutar contra os cardos e os abrolhos.

Essa obrigação tem duas razões: a primeira é a obediência a Deus e a segunda é não esquecer que seu melhor, diante de Deus, não passa de “trapos de imundícia”.

A maior prova é que o Filho de Deus, ao assumir nossa natureza, tornou-se também um “agente cultural” como nós o somos. Porém, apesar de agir sobre um meio cultural afetado pelo pecado, ele, de si próprio, não tinha seu agir impregnado pela nossa cultura pecaminosa. Viveu como artesão. Conheceu a matéria prima, as ferramentas, os produtos que eram próprios da época, e atuou com habilidade.

Mas, você já se deu conta de que tudo o que Deus criou, quando for redimido, virá afetado pela cultura? Deus nos deu um jardim, mas no último dia receberemos uma cidade! A cidade é o aperfeiçoamento do jardim, e, como vimos o aperfeiçoamento é feito através da aplicação da cultura.

Entretanto a cidade que receberemos não é a cidade produzida por nossa cultura manchada pelo pecado, mas a produzida pelo supremo artesão. Aquele que prepara-nos lugar!

Não esqueça: é uma cidade – há bons aspectos na cultura – mas não é uma cidade qualquer. Não é feita por nós. Acaso teríamos tal capacidade? Ela não é diferente apenas em seus materiais constitutivos. Difere, acima de tudo, por sua execução. A tal ponto agrada a Deus que é chamada de Noiva.

Recebemos um jardim e não demos conta de cuidar dele, nem daremos. Vivemos na esperança de receber uma cidade. O conceito que transforma o jardim em uma cidade, por assim dizer, é nosso. Porém, não foi executado por qualquer de nós, mas pelo melhor de nós. Aquele cujas mãos jamais fizeram coisa alguma que desagradasse ao Pai. Aquele que manteve a pureza da capacidade cultural delegada ao homem e a usou para glorificar ao supremo autor de todas as coisas.

Bendito seja seu nome.

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