domingo, 26 de dezembro de 2010

Aperfeiçoado

... tendo sido aperfeiçoado,
tornou-se o autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem... (Hebreus 5.9)

O Senhor não nasceu em 25 de dezembro. Afinal, por lá, essa é uma época de frio e o evangelho fala de pastores e rebanhos em atividades próprias de noites quentes.

Provavelmente ele tenha nascido na primavera.

Estremeço só em pensar que a multidão que o deixou sem hospedagem tenha sido de peregrinos para uma páscoa. O que acontecia na primavera.

Um recenseamento dificilmente atrairia uma multidão a Belém, mas uma páscoa em Jerusalém, que fazia com que sua população subisse de 25 mil para uns 300 mil, certamente afetava as cidades vizinhas, como Belém que ficava a pouco mais de 15 quilômetros ao sul.

Hoje é o dia seguinte ao dia em que convencionamos comemorar seu nascimento. Então aproveito para pensar no que aconteceu no verdadeiro dia seguinte.

A improvisação da noite passada na estrebaria deve ter sido corrigida ou pelo menos aliviada. As faixas que o enrolaram na noite anterior e a manjedoura que lhe serviu de berço devem ter sido substituídas.

Mas, não convém ir pensando em um macaquinho de lã ou em um pagãozinho como os que vemos hoje. Pouco sabemos sobre o corte das roupas dos adultos de então, muito menos das crianças, e menos ainda dos bebês, mas tudo indica que eram pedaços de pano. Não deviam ser trapos ou tiras rasgadas e improvisadas em cueiros.

Como também não convêm ir pensando em um móvel gradeado, como são os berços de hoje. Talvez uma caixa, semelhante à que era usada para medir cereais (o alqueire), que mantinha o bebê protegido dos pequenos animais domésticos que circulavam pela casa.

Se não ficaram abrigados na hospedaria, devem ter achado um parente. De dia é mais fácil de procurar. E como tudo indica que oito dias depois ele foi circuncidado em Belém mesmo, é de se imaginar que pelo menos algum conhecido que contratasse um mohel pra circuncidá-lo.

O que eu quero pintar neste segundo dia de vida de nosso Senhor é que tudo tendia a voltar ao normal. E voltou. O único sobressalto veio depois - quase dois anos depois - quando uma caravana vinda do oriente procurou pelo menino em Jerusalém, na capital, onde pressupunham morasse o Rei dos Judeus, cuja profecia, datada por uma estrela, era conhecida por eles.

Creio que eram descendentes dos discípulos de Daniel, que, cerca de 500 anos antes, foi feito chefe dos magos da babilônia por Nabucodonosor (Dn 5.11) e que previu a vinda do Messias para 490 anos mais tarde (Dn 9.24-26).

Não se esqueça de que os calendários da época eram marcados pela posição das estrelas, e que a “Estrela de Belém” certamente foi uma estrela como outra qualquer, pois Herodes teve de perguntar aos magos quando foi que eles a viram.

Com a caravana vieram também os ciúmes e a ira de Herodes. Ele já havia matado dois filhos e a esposa por suspeitar de complô para tomar-lhe o trono, agora, sabendo que os magos viram a estrela dois anos atrás, resolveu matar as crianças daquela região, menores de 2 anos.

Fugiram para o Egito e lá ficaram por uns 3 a 5 anos.

Até os 12 anos, viveu vida normal, aprendendo a ser um de nós, para poder compadecer-se perfeitamente de nós.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Mais do que pedimos ou pensamos

Ora, àquele que é poderoso
para fazer infinitamente mais
do que tudo quanto
pedimos ou pensamos...
Efésios 3.20

Por dever de ofício tenho de acompanhar algumas pessoas em situações difíceis até de descrever, e algumas vezes tenho de tolerar outras que, para não ficar muito bravo, é necessário pedir a Deus dose extra de paciência.

Ainda me lembro do brilho no rosto de Dona Joselita quando me aproximei de seu leito: “Graças a Deus! O senhor veio me buscar”. Falou com os olhos marejados e fôlego curto.

A dignidade dos seus oitenta anos, estampada na pele vincada e brunida pelo sol, estava sendo abalada de forma mais humilhante do que a tosse e o pigarro nojento dos muitos cigarros de palha faziam, pois num leito duma enfermaria lotada e quente, onde, apesar de dois ventiladores de teto soprarem tudo o que era leve, muitas moscas aborreciam a todos. E ela estava coberta apenas por um lençol, que, de tão vagabundo, permitia ver que vestia apenas uma fralda geriátrica.

Antes de terminar de recitar aos seu ouvido o Salmo 23 ela já repetia com todas as forças que seu fôlego lhe permitia: “Pastor, leva eu! Leva eu, pastor! Leva eu, leva eu, leva eu...”.

Fiz das tripas coração e orei as poucas palavras que consegui. Eu sabia que quem a levaria seria o verdadeiro pastor. Aquele do qual sou apenas o servo. Dois dias depois a levou.

Ainda me lembro de um noivo, que, empolgado com o casamento do príncipe inglês – há muito tempo atrás – insistia em se casar vestido com uma farda semelhante a dele.

Nem reservista ele era. Havia ficado no excesso de contingente, mas seu sonho, que embaraçava a noiva e mostrava sua infantilidade era aquele. Insistiu no sonho e nem a noiva o quis mais.

No versículo transcrito acima, o Apóstolo Paulo se refere a coisas mais profundas do que as necessidades desta vida. Mesmo que seja fôlego.

Leia o texto todo e veja que ele se “colocou de joelhos” para que possamos compreender o amor de Cristo e sermos tomados de toda plenitude de Deus.

Isso se tornou possível a partir da encarnação de nosso Senhor.

No artigo passado eu falei que o Verbo de Deus, assumindo nossa natureza, tornou-se a última Palavra de Deus. Não há outra. Hoje quero enfatizar que ele tornou possível a verdadeira comunicação com Deus. Se tornou a única possibilidade de nos comunicarmos com ele.

Em que sentido então ele faz mais do que pensamos ou pedimos?

A maioria de nossas preocupações são semelhantes às do rapaz que desejava casar-se vestido de príncipe. Quando temos problemas reais, oramos desesperados pedindo fôlego.

Pois bem: Ele faz mais do que isso. Ele nos dá fôlego eterno e “... o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap 22.5).

domingo, 12 de dezembro de 2010

Tristezas e alegrias próprias de dezembro

Dezembro é prenúncio de férias e de festas, bem como certeza de calor e correria.

Com a expectativa das férias o ânimo se renova e aparece novo fôlego para aguentar um pouco mais de um ano que, passou tão rápido, mas pareceu tão comprido e penoso.

Com a expectativa das festas as listas de presentes chegam aos pais, que precisam balancear-lhes o peso com o de seus salários e com o peso da montanha de impostos e despesas que os espreitam na esquina de janeiro.

Você conhece combinação pior do que calor com correria? Geralmente ela se associa à impaciência, que também aparece do nada nas filas, mais comuns e mais lentas, em dezembro.

Para mim, dezembro é um mês difícil. Difícil e triste.

Mas não tire conclusões precipitadas. Não estou reclamando, tampouco maldizendo, e apesar do que me entristece – e que explicarei no final – dezembro também me traz muitas alegrias.

Os diversos relatórios que tenho de examinar, resumir e divulgar, me alegram. Afinal, eles mostram o quanto o rebanho, sobre o qual o Senhor me constituiu pastor, trabalhou durante o ano.

Os próprios relatórios que tenho de fazer também me alegram. Eles mostram o quanto fiz e o quanto deixei de fazer e sugerem estratégias para o próximo ano.

Fico alegre também em presentear. São poucos presentes que posso dar. Especialmente se comparado aos muitos queridos com que Deus me presenteou. E esses poucos são mais utilidades do que regalos. Mas fico alegre em presentear.

Fico alegre em ver minha família reunida. A mesa farta de coisas saborosas, de conversas descontraídas e alegres e especialmente de gratidão a Deus.

Mas, acima de tudo, me alegro por que esse dia foi reservado – dentre muitos – para trazer à memória o fato mais impressionante e incompreendido de toda história: o Verbo se fez carne. A Palavra de Deus – aquela que não lhe volta vazia, mas faz tudo o que lhe apraz – assumiu nossa natureza, e nunca mais se separará dela.

A palavra de Deus, agora, é Jesus. E Paulo nos ensina que nele há o “sim” de Deus.

Reunidos, nos convidemos mutuamente: “Ó vinde fiéis triunfantes e alegres ... Nasceu vosso rei o Messias prometido: ó vinde adoremos a nosso Senhor!” Nada é tão importante.

Mas... E a tristeza de dezembro?

Fico triste em ver que todos – os que acreditam nessa verdade ou não – estão atestando, sem se dar conta, a veracidade desse fato. Em outras palavras: minha alegria vem de tudo o que meu Senhor fez por mim e minha tristeza vem de tudo o que fazem contra ele.

Amontoam sobre si condenação sobre condenação. E pior: transformam o que deveria ser um simples ato de gratidão por ele ter adquirido nossa natureza em uma verdadeira festa pagã e em pretexto para libertinagem e coisas piores.

Entretanto, apesar dessa tristeza, jamais deixarei de me alegrar por tal maravilha. Então canto com alegria: “Nasce Jesus! Eis a mensagem celeste! Raia a luz da salvação, triunfante vem! Salve ó Cristo! Firma teu justo império! Gratos louvores anjos e homens deem!”

sábado, 4 de dezembro de 2010

Sobre o Rio de Janeiro e sobre Tiririca

Embora Nero fosse o Cesar quando o apóstolo Paulo escreveu aos Romanos, ele não evitou o ensino claro que permeia todas as Escrituras Sagradas: O Governo também é ministro de Deus. Paulo chega a dizer que “não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus” (Rm 13.1-2).

Devemos agradecer a Deus pelo que estamos vendo no Rio de Janeiro, pois, no mínimo, começam-se a cumprir as palavras do salmista: “O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniquidade”. Que os governantes de lá continuem com essa missão divina: abater os maus.

Exorto a Igreja a que sirvo como pastor que agradeça a Deus pelo alívio dos moradores de lá e pelo aumento da segurança de nossos filhos que estudam lá. Entretanto, exorto também que peça a Deus pela consolidação do processo, pois alguns amigos que lá residem há muito tempo me informam que ainda há muito o que fazer.

De fato. Se a quantidade de drogas bem como o enorme arsenal apreendido pertencia apenas ao que já foi foi conquistado, imagine o que pode haver nos demais redutos nos quais o governo não se fez presente.

Nos aproximamos do final do ano e não podemos abafar esse clamor por uma sociedade mais justa e ordeira com o fugaz e enganoso clima natalino. Devemos nos lembrar do antigo provérbio latino: ora et labora.

 

Tiririca

Antes de ontem alguém me enviou uma foto do deputado eleito Francisco Everardo Silva, o Tiririca, segurando um cartaz onde estava escrito “paçei!”.

Enquanto ria, me lembrei de Ambrósio.

Na época de seminário eu gostava de ler o historiador Justo Gonzalez. Ele descreveu a eleição de Ambrósio como bispo de Milão assim:

O ano era 373 quando a morte do bispo de Milão veio turbar a paz desta grande cidade. Auxêncio, o bispo falecido, tinha sido posto neste cargo por um imperador ariano, que tinha enviado para o exílio o bispo anterior. Agora a sede estava vaga, e a eleição ameaçava transformar-se em um tumulto que poderia ser sangrento, pois tanto os arianos como os nicenos estavam decididos a fazer com que um dos seus fosse eleito.

Para evitar derramamento de sangue, Ambrósio, o governador da cidade, foi pessoalmente à igreja onde seria realizada a eleição. Seu governo justo e eficiente lhe tinha conquistado as simpatias do povo. Natural de Tréveris, Ambrósio era filho de um alto funcionário do Império, e por isto esperava que sua carreira política o levasse a posições cada vez mais elevadas.

Mas para que sua carreira não fosse arruinada era necessário evitar uma desordem violenta na eleição do novo bispo de Milão.

Com isto em mente Ambrósio foi à igreja, pediu a palavra e começou a exortar o povo com a eloquência que mais tarde o faria famoso. À medida que Ambrósio falava a multidão se acalmava, dando a impressão de que os esforços do governador teriam bom êxito.

De repente um menino gritou: “Ambrósio bispo!” Inesperadamente o povo também começou a gritar: “Ambrósio bispo! Ambrósio bispo! Ambrósio! Ambrósio! Ambrósio!”

Para Ambrósio este grito da multidão podia significar o fim da sua carreira política. Por isto ele abriu passagem entre o povo, foi até o pretório e condenou diversos presos à tortura, na esperança de perder sua popularidade. O populacho, porém, o seguia e não se deixava convencer. Então o jovem governador mandou trazer para sua casa mulheres de má fama, para assim destruir a opinião que o público tinha dele. Mas o povo continuava na frente de sua casa, e continuava gritando que queria que Ambrósio fosse seu bispo. Duas vezes ele tentou fugir da cidade ou se esconder, mas seus esforços fracassaram. Por fim, rendendo-se à insistência do povo e à ordem imperial, ele concordou com ser bispo de Milão.

Ambrósio, todavia, nem sequer tinha sido batizado…

Depois, no transcurso de uma semana, ele foi feito sucessivamente leitor, exorcista, acólito, subdiácono, diácono e presbítero, até que foi consagrado bispo oito dias depois, no dia primeiro de dezembro de 373.

Ambrósio não tinha as qualificações eclesiásticas para ser bispo, e alguns acham que Tiririca não tem as qualificações legais para ser deputado da República do Brasil.

Ambrósio foi exposto ao vexame diante de uma cidade de alguns milhares de habitantes. Tiririca o foi diante de milhões.

Ambrósio não queria ser bispo e acabou sendo um dos melhores. Tiririca ansiou ser deputado Federal. Espero – e peço a Deus - que se torne um dos melhores deputados.