sábado, 27 de agosto de 2011

Pecado (1ª parte)

Se há uma coisa que todos conhecemos bem é o pecado. Afinal o cometemos todos os dias por pensamentos, palavras e atos.

Porém, se o conhecemos bem na prática, evitamos pensar muito nele. O que é uma perda, pois uma análise crítica de seus múltiplos aspectos nos ajuda a diminuir a frequência com que o praticamos.

A primeira coisa que precisamos encarar é que pecado é uma coisa só: Contrariar a vontade de Deus. E a contrariamos fazendo o que é errado, ou deixando de fazer o que é certo.

Uma das palavras bíblicas para designar pecado, tem como raiz “errar o alvo”. Não fazer aquilo para o qual fomos criados ou fazer aquilo para o que não fomos é pecar.

Dentre os muitos aspectos a que me referi, eles se agrupam em dois principais, pois algumas vezes pecamos também com nosso próximo.

Quando deixamos de honrar nossos pais - o primeiro grande aspecto do pecado que atinge também a nosso próximo, e que cometemos desde cedo e continuamos a cometer até a velhice - estamos pecando contra os que estão mais próximos de nós. Contra quem devemos a vida e jamais deveríamos sequer pensar mal.

Geralmente o filho peca desobedecendo. Quando o filho é criança isso está ligado ao modo como ele está sendo criado, pois às vezes é uma forma inconsciente dele perguntar “até onde pode ir?”. Os pais devem estar atentos e deixar claro esse limite, e punir a ultrapassagem dele ou se tornam cúmplices do pecado de seus filhos, pois, além de criar alguém que desrespeita limites, não estão se fazendo dignos de ser honrados.

Quando o filho é adolescente ele desonra seus pais de diversas formas. As mais comuns além da desobediência, são a falta de respeito, o destrato, o envergonhar-se deles, e o mentir para eles.

Quando o filho é adulto ele desonra seus pais, desconsiderando-os em seus planos de futuro ou explorando-os com tarefas que se buscasse outros para fazê-las teria de pagar. Destratando-os ou tratando-os com menosprezo. Não repartindo com eles a prosperidade que obteve à custa do sacrifício que eles fizeram para que dar-lhe boa formação.

De modo geral é dever do filho não zombar de seus pais (como fez o filho de Noé). Zelar pela honra deles e encobrir suas as faltas (como fez o outro filho de Noé), mas acima de tudo cuidar deles na velhice com o mesmo desvelo com que foi cuidado por eles na infância.

De modo geral é dever dos pais dar motivos para serem honrados: criar seus filhos na admoestação do Senhor e não irritá-los com suas picuinhas pessoais.

É conveniente também nunca esquecer de que através da figura dos pais as Sagradas Escrituras muitas vezes falam de outras pessoas que estão em posição de autoridade e acima de tudo falam do próprio Deus.

sábado, 20 de agosto de 2011

Evangelizar os pobres

O Espírito do Senhor está sobre mim,
pelo que me ungiu
para evangelizar os pobres;
enviou-me para proclamar
libertação aos cativos
e restauração da vista aos cegos,
para pôr em liberdade os oprimidos,
e apregoar o ano aceitável do Senhor.
Lucas 4.18-19

Ao duvidar se Jesus era realmente o Messias esperado João Batista mandou dois de seus discípulos interrogá-lo. Sua resposta foi simples: “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho” (Mt 11.4-5).

Nessa semana recebi a visita de um sindicalista pedindo que nossa igreja participasse da manutenção de um fundo de greve. Argumentava que não devíamos nos furtar ao mando de Jesus de evangelizar os pobres (no contexto suprir o fundo para manter a greve). Como este assunto já foi tocado outras vezes achei que era uma boa oportunidade escrever sobre ele.

Só entenderemos bem por que os Evangelhos mencionam os pobres como destinatários da mensagem evangélica conhecendo o contexto da época: a exploração dos pobres através da religião.

Deus sempre levantou profetas no meio de seu povo, mas a partir da época dos Juízes eles ficam mais evidentes, e foi um Juiz/Profeta, Samuel, quem fez a transição para o período dos Reis, ungindo os dois primeiros reis: Saul e Davi. A partir de então os profetas foram sistematicamente levantados por Deus como uma espécie de consciência de cada rei. O profeta alertava o rei de seus maus caminhos.

Entretanto, aos abusos dos reis sucumbiram o desejo de riqueza dos próprios profetas e também dos sacerdotes. Veja em Amós 7.10-17 o desdém com que o profeta é tratado pelo rei de Israel que o tinha por um apaniguado e não por um porta-voz de Deus.

Veja também como Jeremias, de modo espantosamente atual, mostra o desgosto do Senhor com ambos: “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo” (Jr 5.30-31).

Foram todos castigados com o cativeiro.

No cativeiro, com o fim de preservar a memória, houve necessidade de apurar-se os registros. Exacerbou-se então o zelo com o escriba, ou doutor da lei (dentre os quais Esdras se destaca como bom exemplo), mas que se tornaram aquilo que Jesus depreca com o refrão “escribas e fariseus hipócritas” e ordena a seus discípulos a guardarem-se deles.

Nos dias de Jesus eles mantinham uma relação espúria com as famílias sacerdotais, que integravam em sua maioria o partido dos saduceus: enquanto os fariseus atentos às minúcias da lei colocavam “fardos pesados nas costas” do homem comum, as famílias sacerdotais lucravam com a exploração dessas obrigações.

Do primeiro se vê a estipulação do dízimo sobre o endro e o cominho criticado por Jesus (Mt 23.23) e a hipocrisia vil na exploração dos desamparados: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo” (Mt 23.14).

O segundo é visto na venda de animais e na presença de cambistas no pátio do templo, expulsos por Jesus debaixo do rótulo de ladrões e salteadores.

Resumindo: eles ficavam cada vez mais ricos dizendo que o povo deveriam fazer mais sacrifícios, com os quais lucravam de muitas maneiras. Jesus veio pregar ao povo a boa nova: vocês não devem mais nada a Deus, pois o verdadeiro sacrifício chegou. Ou seja: ele veio evangelizar os pobres.

Há sentido para hoje? Sem dúvida! Como é que algumas religiões ficam ricas? Não é colocando culpa nas costas de seus fiéis? Culpa que deve ser expiada por meio de indulgências, penitências, sacrifícios, correntes, e votos? É a eles que o Evangelho deve ser pregado. Cristo morreu para que eles fossem livres dessas algemas. Isso é evangelizar aos pobres.

sábado, 13 de agosto de 2011

Plenitude dos tempos (2 de 2)

Em seu início a Igreja esperava a volta de Jesus para o dia seguinte. Eu creio que foi por essa razão que muitos ficaram em Jerusalém. Devem ter pensado: quarenta dias entre a ressureição e a ascensão e dez dias entre a ascensão e o derramamento do Espírito Santo... Ele deve voltar logo!

Não esqueçamos também que o sermão de Pedro identifica o Dia de Pentecostes como o início dos Últimos Dias (inclusive contendo sinais das catástrofes cósmicas que o Senhor profetizara para o Último Dia). A consequência foi colocarem o que tinham à disposição dos apóstolos e aguardarem a volta do Senhor.

Esse processo se repetiu na Igreja de Tessalônica. Paulo, que também esperava a volta do Senhor Jesus para seus dias, os deixou tão eufóricos, que precisou escrever uma segunda carta dando sinais mais precisos de que a volta do Senhor será necessariamente precedida por uma apostasia e pelo “homem da iniquidade”.

Curiosamente, em sua segunda carta o apóstolo Pedro alerta-nos contra escarnecedores que nos questionarão sobre a realidade da volta do Senhor argumentando que está demorando e tudo continua igual.

Hoje, muito mais tempo depois, encontramos quem desacredite totalmente da sua volta e quem busque explicar sua demora.

Ao longo da história da Igreja apareceram diversas explicações para a volta do Senhor, sendo que a maioria delas tenta justificar sua demora.

Há os que dizem que nós é que vamos nos encontrar com ele quando morremos e que sua volta é apenas um modo de falar. Outros já marcaram sua volta com precisão de data e hora, e, frustrados (como vimos recentemente) admitiram o erro, ou escolheram expedientes escusos como dizer que ele voltou, mas viu que não estávamos preparados e resolveu dá-nos uma segunda chance, ou foi para outro lugar, fazer outra coisa.

Há quem pense hoje que ele virá. Entretanto, se achegará às proximidades do planeta, arrebatará sua igreja fiel e reinará com ela por mil anos em algum lugar. Depois dos mil anos, e de uma guerra avassaladora na terra, ele finalmente descerá com os que arrebatou e salvará os que se converteram e sobreviveram à guerra.

Na verdade, o Senhor Jesus deixou bem claro que sua volta era iminente: “Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem” (Mt 24.27).

Ele chegou a usar figuras desconcertantes para enfatizar essa iminência: “Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Mt 24.43-44).

Porém, tenho visto muitas pessoas imaginando que o texto de Mateus 24.14 (E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.) permite pensar que ainda teremos muito tempo. Já vi até quem falasse isso com um sorriso maroto. Porém não é esse o quadro mais amplo. Veja: “E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam” (Mc 16.20).

Aos olhos de Deus a “grande comissão” já foi cumprida. O mundo inteiro já foi evangelizado pelos apóstolos de Jesus. Cabe-nos somente mantê-la cumprida. Ou seja: Jesus pode voltar agora. Nada o detém!

Vem Senhor Jesus!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Plenitude dos tempos (1/2)

Escrevendo às igrejas da Galácia (uma região que hoje fica na Turquia), o apóstolo Paulo disse que Jesus veio “na plenitude dos tempos”.

Há quem veja nesta expressão (to pleroma tou kronou) apenas uma declaração semelhante a “quando chegou o tempo certo” ou “quando chegou o tempo determinado por Deus”, o que não deixa de ser verdade. Porém, há mais do que isso: A ideia é de que Jesus veio quando o tempo já estava completo. Ou melhor: quando as coisas que se completam com o passar do tempo já tivessem chegadas a sua plenitude. Já estivessem maduras.

Alguns veem uma alusão às profecias de Daniel, especialmente às que se referem ao tempo do fim (...Vai, Daniel, porque estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão” Dn 12.9-10), pois, desde o Pentecostes vivemos no período que a Bíblia chama de “os últimos dias”.

Entretanto, há quem pense em algo “mais concreto”: Os tempos estavam maduros, de muitos modos, para receber o Messias, seu Evangelho se propagasse por todos os povos e o Povo de Deus pudesse assumir a forma de Igreja com maior facilidade.

Quando Jesus nasceu o mundo ocidental estava sob o domínio político e militar dos romanos, porém a cultura dominante era a grega. E hoje, olhando retrospectivamente, vemos que, desde pequenos detalhes até grandes acontecimentos, prepararam o ambiente para a chegada de Jesus e a disseminação do Evangelho.

Dou como exemplo de um “pequeno detalhe” a crucificação. Para ser maldito de Deus Jesus teria de morrer crucificado - pois assim a lei o determinava (Dt 21.22e23) - o que jamais aconteceria entre os judeus, se eles não estivessem ocupados militarmente por romanos e se não o acusassem o Senhor de sedição contra césar, pois a pena de morte entre os judeus era o apedrejamento.

Como exemplo de um grande acontecimento cito a tradução do Antigo Testamento para o Grego, cerca de 200 aC. permitindo a preparação para o Evangelho entre os povos conquistados pelos romanos.

Longe de nos queixarmos do desenvolvimento filosófico grego deveríamos agradecer a Deus por ter preparado esta estrada por onde o pensamento cristão haveria de trilhar. Algo do que seria revelado pela fé já fora cogitado pelos filósofos gregos ao ponto de Agostinho, (Cidade de Deus 8.11), levantar a hipótese de Platão ter conhecido o Antigo Testamento.

Não se pode deixar de lado o fato de que, desde a invasão de Jerusalém pelos babilônios, os judeus tenham se espalhado pelo Egito, costa da África, Ásia Menor (hoje Turquia), Arábia e em cada lugar fundado sinagogas, que permitiram aos primeiros missionários (lembre-se do costume de Paulo) encontrarem em cada cidade pontos de contato para falar do Messias.

Digno de nota também foi a infraestrutura proporcionada pelas estradas romanas que ligavam todos os pontos do império. Embora não saibamos exatamente a extensão delas nos dias de Jesus, sabemos que em 312 aC. a Via Ápia, a primeira construída possuía apenas 300km, mas em seu auge o Império Romano chegou a contar com 150.000Km de estradas pavimentadas com pedras (o Brasil hoje possui 62.oooKm de estradas asfaltadas), com muitos túneis e pontes (alguns ainda em uso).

Era a época certa para a vinda de Jesus e ele veio.