sábado, 8 de junho de 2013

O Povo de Deus (Parte 1)

Provavelmente todos os cristãos concordarão que Israel foi o antigo Povo de Deus. Concordarão que foi, pois nem todos concordam que o atual Israel é a continuidade do Israel da Bíblia (mas esse é outro assunto, para outro artigo).

Tanto Israel teve, quanto a Igreja tem a missão primordial de adorar a Deus sendo para ele “povo peculiar”. Entretanto, Israel teve missões específicas e subjacentes a esta missão principal, que já cessaram, assim como a Igreja possui também e que só cessarão quando estiver diante de seu Senhor. Israel devia manter intocada a Revelação do SENHOR e a linhagem da qual nasceria o Messias (daí seu isolamento). A Igreja tem a obrigação de levar a todos os povos a Revelação do Senhor (daí sua catolicidade).

Abordarei estes aspectos em textos seguidos, mas uma primeira observação já se impõe: sob este ângulo, podemos dizer que Israel foi a “adolescência do Povo de Deus” assim como a Igreja é sua maturidade.

Israel estava sujeito a mandamentos que tinham como único objetivo mantê-lo isolado. Isso fica claro nos mandamentos sobre comidas e vestimentas, semeadura, etc. E isso pose ser visto até nos dias da Igreja Primitiva: “Quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram da circuncisão o arguiram, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles” (At 11.2-3).

Vamos examinar essas missões separadamente: Primeiro consideremos a manutenção da Palavra de Deus.

Até os dias de Abraão a Palavra de Deus foi preservada através da transmissão oral, a partir de então passou a ser grafada, porém poucos sabiam como fazê-lo e quem sabia o fazia em tabletes de argila, que depois de queimados no forno (como fazemos até hoje com os tijolos nas olarias) adquiriam sua maior resistência. Portanto, eram frágeis e pouco eficientes na quantidade de informações que podiam conter. Além de frágeis eram pesados. Imagine o peso do livro do profeta Isaías nessa mídia. Acho que seria necessário um caminhão para carregar toda Bíblia.

Além disso o modo como a linguagem da época era grafada através de caracteres pictográficos ou ideográficos, não permitia o registro da profundidade necessária a um pensamento complexo.

Não estou dizendo que não houvesse este tipo de pensamento. Havia sim. Os discursos dos amigos de Jó atestam a existência dele. Mas, tudo indica que eles foram preservados oralmente.

Acho que é necessário fazer um parêntese em prol da transmissão oral. Não podemos julgá-la à luz da que temos em nossos dias em que ela foi praticamente extinta. Nas sociedades antigas ela era muito importante e muitíssimo mais precisa. Podemos ter uma pequena amostra disso se nos lembrarmos de como nossos avós eram capazes de recitar o nome de seus antepassados com riqueza de detalhes sobres suas vidas.

A providência divina fez com que, não apenas novas mídias, mais portáteis e confiáveis, passassem a ser usadas (o papiro e principalmente o pergaminho). Mas também mudou o modo como os idiomas passaram a ser grafados. Houve um grande avanço com a invenção da sílaba.

A sílaba é basicamente articulação de dois, ou mais caracteres determinados, onde um estabelece o “ataque” (a consoante) e outro o estabelece o “som” (a vogal). As vezes uma sílaba já significa algo, ou seja: já é uma palavra. Porém, a maioria das palavras é constituída de duas ou mais sílabas e expressam tudo o que pode ser dito.

Em pedaços de couro macio (o pergaminho) costurados e enrolados, a revelação foi então escrita para segurança e certeza nossa. Dela se serviu nosso Senhor: “Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor. Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4.16-21). Neste texto, os detalhes (sábado, sinagoga, assistente, etc.) atestam que Jesus estava usando o texto hebraico da segunda parte da Bíblia dos Judeus: os livros proféticos.

Israel teve papel chave na manutenção dessa revelação. Era um povo isolado, sem artes cênicas ou plásticas e com apenas este livro, que era copiado meticulosamente. Tantas eram as precauções para que as cópias fossem fiéis que seria muito extenso relatá-las aqui.

Hoje temos a Revelação da vontade Deus e como ela deve ser vista em profundidade, através das luzes que o Evangelho nos proporcionam para entende-la e aplicá-la em nossa vida. Como Igreja somos obrigados a vive-la de conformidade com o modo que o Novo Testamento a interpreta e isso será nossa adoração a Deus.

Porém, nossa segunda missão, subjacente a essa, é: Indo por todo mundo (por essa razão a Igreja não possui um território), onde encontrar um lugar em que a vontade de Deus não é observada, divulgá-la. Isso é evangelização! Isso será levar as nações a louvar a Deus.

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