quarta-feira, 5 de março de 2014

Na casa do Pai

Nos tempos do Antigo Testamento nossos pais se referiam a Deus como Senhor, Senhor dos Exércitos, Eterno, ou outros tantos nomes. Jesus sempre o chamou de Pai. Fez mais: ordenou a seus discípulos que o chamassem assim em oração. E dentre as palavras que poderia usar escolheu a que uma criança usa para chamar seu pai. Provavelmente a mesma que ele usou, quando criança, para chamar José.

Porém, é digno de nota que ele tenha se referido também à “Casa do Pai”. Duas vezes ele usa essa expressão para referir-se ao templo (aos doze anos e ao purificá-lo), e as demais vezes sempre para ensinar algo.

Ao despedir-se dos seus, ele garantiu que na Casa do Pai havia muitas moradas e que ia adiante deles para preparar-lhes um lugar.

Para o Filho Pródigo a Casa do Pai era o lugar em que os servos tinham pão com fartura. Entretanto, na própria parábola o Senhor Jesus a descreve mais generosamente: era lugar de alegria. Lá o filho era aguardado com festa e com muito mais de tudo aquilo que gastara prodigamente. Mas, repare bem na própria Parábola: na Casa do Pai há certos procedimentos que devem ser observados.

As roupas que ele levou, e as dissipou, na Casa do Pai são necessárias para cobrir a nudez que um mero pano não consegue cobrir. Por isso são providenciadas pelo próprio Pai.

Na Casa do Pai o anel e os calçados certificam reabilitação filial. Com o anel ele está credenciado a assinar pelo pai. Calçado, ele jamais será confundido com um servo (mesmo aqueles que têm pão com fartura) mas fica claro que ele também é Senhor.

Na Casa do Pai vestir-se é mais do que obediência a etiqueta. Sinaliza que o filho assumiu as obrigações decorrentes da filiação, mesmo que aos olhos de muitos tais obrigações pareçam ostentação, elas existem para a glória do Dono da Casa e seus filhos se comprazem, mesmo indignos delas, em recebê-las e usá-las.

Mas na Casa do Pai, não há lugar para picuinhas entre irmãos. O irmão mais velho, que recusa a alegrar-se com a graça e misericórdia do Pai, lhe ofende tanto quanto aquele que o considerou morto e lhe voltou as costas.

Portanto, na Casa do Pai há certas normas de conduta. Há um modo de se viver lá. E esse é o sentido primário de ethos: palavra grega da qual se deriva nossa palavra ética, que poderia ser traduzida por “conforme os costumes da casa”. No caso da família que, tanto no céu quanto na terra toma o nome do Pai Altíssimo, a ética de sua Casa. A ética vivida por seu Filho Unigênito. Ou seja: a Ética Cristã.

Em síntese: Na Casa do Pai, o filho é motivo de alegria e festa, mas não se faz o que se quer. Quem mora na Casa do Pai tem de seguir as normas que foram estabelecidas pelo Pai. Tanto as que regulamentam o comportamento diante do Pai, quanto o comportamento diante dos irmãos que nela também moram.

Na Casa do Pai há muitas moradas, mas todas são regidas pela vontade do Pai.

 

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