Se você for convidado para comemorar a Páscoa em casa de judeus - convite raríssimo a um gentio - você verá um cálice diferente dos demais sobrando à mesa.
O jantar obedecerá a uma ordem meticulosa com muitas orações, leituras, cerimônias e que cada comida simbolizará alguma coisa.
Após a quarta rodada de vinho, o dono da casa encherá parcialmente aquele cálice e o passará de mão em mão. Cada participante derramará nele um pouco do vinho de seu próprio cálice até que ele fique cheio. Uma criança então abrirá a porta da casa.
Há muitos outros detalhes de como eles celebram hoje a festa que nosso Senhor cumpriu na cruz e da qual usou apenas o pão e o vinho nos ordenando que os tomássemos em sua memória, mas estes são suficientes para o que me proponho falar.
Os judeus ainda esperam o Messias, e acreditam que ele será precedido por Elias. Aquele cálice especial é o Cálice de Elias, e ele recebe um pouco do cálice de cada um, simbolizando que, cada um, de alguma forma, é responsável pela inauguração da Era Messiânica que ele trará. Exatamente por isso a porta é aberta, para que Elias entre sem embaraços naquele lar.
Para eles a profecia de que Elias precederá o Messias, ainda aguarda seu cumprimento.
Elias lhes é como uma espécie de “segundo Moisés”. Moisés recebeu a Lei de Deus no Sinai, e Elias escutou a voz de Deus no silêncio daquele mesmo monte (que em sua época era chamado também de Horebe). A morte de Moisés não foi testemunhada e Elias não morreu: foi levado aos céus por uma carruagem de fogo. Moisés deixou Josué como seu sucessor e Elias deixou a Eliseu, e ambos evidenciaram a autoridade que receberam dividindo as águas do Rio Jordão.
Essa esperança - da vinda de Elias - era comum nos dias de Jesus: “Mas os discípulos o interrogaram: Por que dizem, pois, os escribas ser necessário que Elias venha primeiro? Então, Jesus respondeu: De fato, Elias virá e restaurará todas as coisas. Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram; antes, fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do Homem há de padecer nas mãos deles. Então, os discípulos entenderam que lhes falara a respeito de João Batista.” (Mt 17.10-13)
O que há de comum então entre Elias e João Batista?
Ambos eram impulsivos: Caniços agitados pelo vento. Ambos “gostavam” dos desertos. Vestiam-se de modo peculiar e ficaram famosos pela alimentação: Elias foi alimentado por corvos e por uma viúva de cuja panela nunca faltou comida nos anos de seca e João alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Ambos enfrentaram situações parecidas: decadência religiosa do povo governado por um rei fraco com uma mulher má.
“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi.” (Mt 17.5). Quando Pedro propôs fazer tendas para cada um deles, como se fossem iguais, esta foi a ordem de Deus. Elias e Moisés estavam então falando com Jesus transfigurado. Portanto, para nós, cristãos, apesar de Elias representar todos os profetas, como Moisés representa a Antiga Aliança, e terem nosso mais alto respeito e consideração, nossa obediência deve ser dada apenas a Jesus: “A ele ouvi”.
As palavras do Senhor sobre João esclarecem que, como Elias, ele lutava para restabelecer o verdadeiro culto em Israel. Elias enfrentou os profetas de Baal e João Batista as “víboras” hipócritas disfarçados de religiosos ao ponto de fingir arrependimento.
João Batista nos dá duas outras lições: 1) Mesmo se tivermos de “clamar no deserto” não desistamos, e 2) nossa posição deve ser sempre expressa pelo que ele disse: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30).
Seja esse nosso desejo sincero.
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