domingo, 10 de maio de 2009

Mostarda: semente e planta

Jesus usou muitas parábolas para descrever os diversos aspectos do Reino de Deus. Em três delas (Mc 4.30, Lc 13.18e20) ele fez uma pergunta do tipo: “A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos?”.

Nosso Mestre procurava as figuras que melhor atendessem a capacidade de seus ouvintes e algumas devem ser “atualizadas” para nossa realidade se quisermos entendê-las bem.

Há alguns dias me perguntaram como as “aves dos céus” podem aninhar-se nos ramos de um pé de mostarda, se ela é apenas uma plantinha de dois palmos de altura?

Ora, a própria descrição do Senhor nos mostra que ele falava de um tipo de planta que chegava a ser “a maior de todas as hortaliças”. Uma pesquisa rápida mostra que nossa mostarda é da família Brassica e a que ele se referia deve ser da família Sinapis, a qual cresce até 2 metros ou mais, pois há textos que falam de plantas mais altas.

Entretanto, o mais importante, para quem estuda o Reino de Deus, é notar os pontos que o Mestre destacou: o contraste entre o pequeno tamanho da semente e o grande tamanho da planta, e a presença das “aves dos céus”.

Do contraste, a lição do Senhor é óbvia: O Reino de Deus tem um início pequeno, mas se torna grande. Da presença das aves, aprendemos sobre sua utilidade.

Sobre os tamanhos, convém lembrar que ambos - tanto o pequeno quanto o grande - são temas recorrentes ao longo das Escrituras. Acaso não nos lembramos do profeta Zacarias (4.10) ordenando-nos a não desprezar os “pequenos começos”? Ou porventura esquecemos que o profeta Isaías fala do dia em que toda a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar?

Assim é o Reino de Deus. Seu início, de tão pequeno, é desprezível. Afinal seu início é a palavra. Entretanto ele se transforma em algo tão grande que é capaz de mudar o cerne do ser humano: seu coração. Muda totalmente: converte. Converte um coração rebelde em um coração dócil ao seu Criador e Redentor.

Sobre as “aves do céu”, que se aninham (literalmente: fazem tenda) nos ramos da “planta Reino de Deus”, a interpretação mais usada é a de que os outros encontram naquele em que o Reino de Deus, de semente tornou-se planta, um lugar de repouso. Porém, levando em conta o sentido das demais vezes em que Jesus falou delas, sou propenso a entender que elas encontram repouso à custa da planta. Ou seja: elas prejudicam a planta. Explico:

A expressão “Aves dos Céus” aparece nos evangelhos apenas em quatro contextos: 1) Quando o Senhor diz não possuir onde “reclinar a cabeça”, mas as aves dos céus têm ninhos, 2) na Parábola do Semeador, quando Jesus diz que as aves dos céus comem as sementes caídas no caminho, 3) na Parábola sobre a qual estou falando, e 4) quando Jesus desafia seus discípulos a terem fé em Deus que sustenta até as aves dos céus que não semeiam, não colhem e nem ajuntam em celeiros.

Ou seja, elas não aparecem em contextos favoráveis à planta. Elas se valem da planta, no mínimo, para pouso. Há textos que falam delas se alimentando das sementes de mostarda.

A experiência comprova. Alguém em cujo coração o Reino de Deus foi plantado mínima semente, e desabrochou planta frondosa, muitas vezes é explorado - humanamente falando - e enganado, ao ponto de nosso Mestre nos advertir que “porque os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz”, ou que nos enviou como cordeiro para o meio de lobos.

Porém, o consolo que temos é sua ordem de sermos misericordiosos como nosso Pai que “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”.

Aquilo, que em nós teve um início pequeno, cresceu. Hoje, mesmo com prejuízo próprio coloca-se à disposição de seu Senhor, pois é súdito do Reino de Deus.

6 comentários:

Unknown disse...

Confesso que nunca pensei em realizar uma análise sobre "as aves do céu", ..., deveras interessante, ..., creio que vou ter que reler novamente e refletir sobre o que disse...

Obrigado pela reflexão!
Paz!

folton disse...

Pois é pensador: Uma senhora que leu a versão em papel, me falou: É pastor, o senhor tem razão: por mais honroso que possa parecer pra planta, servir de poleiro deve ser muito difícil.
ab
Fôlton

Unknown disse...

rs, e como é dificil, ...

Alexander Laranjeira disse...

Ótimo. Que esse Reino dentro de nós seja semeado e, sob o Sol da Justiça, cresça, dê fruto e abrigo.

Ainda não o conheço, Folton, mas por uma feliz busca na internet encontrei este ensinamento.

Deus o abençoe!

folton disse...

Pois é Alexander ... Obrigado.

Lembre-se de mim em suas orações.
ab
Fôlton

Anônimo disse...

bem, eu nao concordo muito com essa visão a respeito das "aves do céu", eu creio que Cristo quis dizer com isso que as pessoas ( aves do ceu) teriam teriam a nos como um recurso de repouso, esperança, descanso, .. realmente usurfruiriam da palavra que há em nos, mas nao vejo isso como um prejuizo. Deus abençõe a todos e nos de cada dia mais discernimento da sua palavra. Geninho