sábado, 23 de maio de 2009

“Não vos deixarei órfãos”

Alguns dicionários restringem o sentido da palavra “órfão” a menores de idade ou a incapazes. Àqueles que, pela falta dos pais, carecem de algum amparo ou de quem responda por eles.

Perdi meus pais após 30 anos de idade, e se não houve o que fazer em termos legais, houve a que providenciar por mim mesmo, a fim de mitigar a falta de ambos.

Lembro-me das noites em que eu orava em favor de ambos. Depois que meu pai morreu gastei certo tempo para me acostumar em agradecer pela vida dele e pedir em favor de minha mãe. Anos depois precisei me acostumar de novo: passei a agradecer pela vida dos dois.

Em termos materiais a morte deles não afetou minha vida. Mas em termos afetivos e espirituais sou completamente incapaz de descrever o que aconteceu.

No próximo domingo, dia de pentecostes, relembraremos o cumprimento da promessa de Jesus: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo 14.18).

A palavra grega nesta promessa - que, aliás, deu origem à nossa é “orphanos” - pode ser usada para referir-se a qualquer um que perdeu seus pais, mas seu uso bíblico é muito restrito, pois, além daqui, ocorre apenas na carta de Tiago, quando ele fala da verdadeira religião. E o sentido nos dois textos pressupõe incapacidade, ou necessidade.

Se Jesus promete não deixá-los órfãos, obviamente ele está se colocando na posição de pai, e colocando-os na posição de quem não podem passar sem um.

O Senhor, nos dias de sua carne, desempenhou o papel do Pai ao ponto de dizer a Filipe: “Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (Jo 14.9-10).

Ao reassumir a glória que teve com o Pai desde a fundação do mundo, para que os seus não ficassem órfãos ele os enviou seu Espírito.

Se a segunda implicação era a de que os seus não suportariam a orfandade, segue-se um desdobramento: o Espírito Santo supriria o papel de Pai que ele havia desempenhado. Portanto o remédio para a orfandade do Senhor Jesus era - e ainda é - a presença do Espírito Santo.

Mediante o Espírito Santo os seus não foram apenas capacitados a desempenhar a missão que dele receberam, mas tornaram a desfrutar de sua presença e de sua paternidade.

Capacitados e protegidos, aqueles por quem morreu, desfrutam mediante o Espírito Santo, das mesmas bênçãos que os discípulos e os apóstolos desfrutaram tempos atrás.

Essa é mais uma das grandes bênçãos que o Espírito Santo nos traz. Bênção que quase não é lembrada em nossos dias confusos.

3 comentários:

Sala de Adolescentes da EBD disse...

Caro, Reverendo. Dessa vez, não é minha intenção que isso vire um comentário de seu post. Dessa vez seu post mexeu com algo que há muito tempo está dentro de mim. Muitas vezes me sinto órfão. Há tempos sinto vontade de expressar esses sentimentos que relacionarei agora: sinto-me orfão de alguém que me sirva de exemplo de vida, de ministério; um conselheiro, um discipulador. Desde que fui convertido, assumi responsabilidades na igreja local. Muitas vezes me sinto só, sem capacidade para continuar, necessitando aprender e não ensinar. Querendo buscar uma mentoria de quem conhece a Bíblia como eu não conheço. E não encontro. Isso me desanima. Se puder me ajudar, agradeço. Grande abraço.
Jorge

RONALDO PEDROSA disse...

UM ASPECTO INTERESSANTE DA ORFANDADE, TAMBEM ALEM DESSES ABORDADOS, E A ESPERANÇA QUE EM VIVE O ORFAO DE UMA ADOÇAO, NA IDA SECULAR, QUE PODE SER TRADUZIDA PELO PREÇO PAGO PELO NOSSO SENHOR AO COMPRAR-NOS PARA SAIRMOS DO "ORFANATO" E AGORA SER FILHOS LEGITIMOS DO PAI , COM TODA HONRA E AO MESMO TEMPO , HUMILDADE , POR QUE ELE NOS AMOU PRIMEIRO......

GRANDE ABRAÇO. SAUDADES..

folton disse...

Ronaldo;

Primeiro... Saudades! Você faz muita falta.

Eu preciso pensar um pouco mais sobre este aspecto, mas creio que você tem razão em um posto: "gememos e nos angustiamos para que o mortal seja revestido da imortalidade". Essas palavras de Paulo apontam para essa esperança.

ab
Fôlton