segunda-feira, 29 de junho de 2009

Mais uma conseqüência do Pentecostes

A igreja, na verdade,
tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria,
edificando-se e caminhando no temor do Senhor,
e, no conforto do Espírito Santo,
crescia em número.
At 9.31

Como podemos entender esta declaração? Como a Igreja podia ter paz se enfrentava tantos problemas? Veja quantos problemas (Lucas até alterna problemas internos e externos).

  • Pouco tempo depois de Pentecostes, Pedro e João haviam sido presos e só foram soltos após ameaçados pelo mesmo Sinédrio que havia condenado o Senhor Jesus.
  • Não demorou muito tempo para que Ananias e sua esposa Safira expusessem o maior problema que afligia e sempre afligirá todas as igrejas: mentir ao Espírito Santo!
  • Logo em seguida todos os apóstolos foram presos e açoitados por anunciarem o nome de Jesus.
  • Com o crescimento numérico apareceram os necessitados. Isso os levou à escolha dos primeiros diáconos.
  • Um desses diáconos que foi apedrejado, com o consentimento do fariseu Saulo, foi o estopim para uma grande perseguição que espalhou a Igreja de Jerusalém pelas cidades da Judéia e de Samaria. Enquanto isso Saulo literalmente “assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” (At 8.3).
  • Como acontece hoje com os mercadores da fé, Simão, o mago, tentou comprar o poder de conceder o Espírito Santo mediante a imposição de mãos.

Como uma igreja, sujeita a todas essas circunstâncias - e provavelmente outras que não foram relatadas por Lucas - em cerca de 5 ou 6 anos, podia ter paz?

O próprio versículo nos dá a resposta: o conforto do Espírito Santo.

Quando Jesus prometeu o Espírito Santo aos seus discípulos ele o chamou de Consolador (em grego: Paracletos). Agora Lucas se serve da mesma palavra para descrever o que em português lemos “conforto”. Ou seja: A igreja tinha paz, ao ponto de crescer em número, mediante a “paraclesis” do Espírito Santo.

Nossa tradução por “conforto” não é ruim. Talvez a dificuldade de se entender esteja na mudança de significado que esta palavra sofreu.

Hoje, para muito de nós, o significado de conforto está entre aconchego e comodidade. Dizemos que cadeiras, casas e outras coisas, ou situações, são confortáveis, quando elas nos proporcionam sensação de bem-estar. Entretanto o primeiro significado desta palavra deriva do latin “cum+fortius” (com força).

Eles tinham paz mediante a força que o Espírito Santo lhes concedia, ao ponto de, com tantos, e tão grandes problemas, não comprometerem o viver na presença de Deus.

O mesmo Espírito, que os capacitou a falar nos idiomas das nações para as quais iriam, os capacitou também a viver em paz, apesar dos problemas pelos quais passavam.

Mas não esqueça: Essa paz não era desperdiçada. Eles a aproveitavam para edificarem-se caminhando no temor do Senhor e nessa “paraclesis” do Espírito Santo.

Não há melhor descrição dessa paz do que a que, anos depois seria feita por quem antes lutava contra ela: “... a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus (Fp 4.7).

terça-feira, 23 de junho de 2009

Outras conseqüências do Pentecostes

Ao formar o povo da Antiga Aliança Deus seguiu determinada ordem: 1) os libertou do cativeiro egípcio pelo sangue do cordeiro aspergido nos umbrais das casas, 2) em meio a fogo e vento outorgou-lhes, em tábuas de pedra, suas leis, transformando-os em um povo com identidade nacional, 3) conduziu-os pelo deserto até a terra prometida a seus pais, e 4) os assentou nela com ordens expressas de não fazerem contato com nenhum povo vizinho.

Ao formar o povo da Nova Aliança Deus seguiu ordem semelhante: 1) os libertou do cativeiro espiritual mediante o verdadeiro sangue derramado na cruz, 2) em meio a fogo e vento escreveu sua lei no coração de cada um, transformando-os num povo independente de barreiras nacionais 3) e até hoje os conduz por caminhos mais perigosos do que os do deserto, com ordens de contatarem as nações divulgando estes acontecimentos, antes de entrarem na verdadeira terra tipificada pela anterior.

Observe que o esquema é o mesmo, mas cada evento é mais profundo, pois na Antiga Aliança se trabalhava com as sombras do que de fato aconteceria na Nova.

- * -

A Igreja não foi libertada de um cativeiro comum, mas do “império das trevas”, da “potestade de Satanás”, das “forças espirituais do mal”.

Os acontecimentos do Sinai, selados com sangue de cordeiros, repetiram-se no dia de pentecostes (curiosamente, ainda hoje, os judeus, neste dia comemoram a entrega da Lei por Moisés). O vento e o fogo no cenáculo não foram tão terríveis quanto no Sinai, mas estavam lá também. E lá ao contrário do Sinai, eles apontavam para o mundo. O isolacionismo determinado no Sinai, que tinha por objetivo preservar a semente da qual nasceria o Redentor, foi completamente abolido. Isso fica claro quando o novo povo de Deus recebe a capacidade de falarem pelo menos 14 idiomas.

Há muito nas comparações entre o período no deserto e o período em que vivemos. O Apóstolo Paulo, destaca seis semelhanças do que acontece conosco com o que aconteceu no deserto: 1) todos foram batizados, 2) “todos comeram de um só pão” e todos “beberam da mesma fonte espiritual”. Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, pois, como acontece hoje, eles foram: 3) idólatras, 4) imorais, 5) murmuradores e 6) lhe desrespeitaram.

No deserto, pessoas que há quatrocentos anos eram escravos, cujo maior conhecimento tecnológico era fazer tijolos de terra arenosa, foram ordenados a erigir um Tabernáculo, onde o SENHOR seria cultuado, que demandava trabalhos em tecidos, perfumes, pedras preciosas, marcenaria, fundição de metais, desenhos, e outros trabalhos de artífices especializados. O que fazer?

Nesse contexto foi que o Santo Espírito capacitou a Bezalel e a Oliabe a fazerem tudo isso e a ensinar seus auxiliares. Observe a descrição no Livro do Êxodo em seus capítulos 31 a 38.

Na Nova Aliança, não precisam mais de um Tabernáculo, pois Deus fez morada no coração de seu povo, mas possuem necessidades materiais: saúde, socorro financeiro, capacidade de anunciar a Boa Nova a estrangeiros, etc. Quantas eram as necessidades não resolvidas normalmente, tantos eram os dons concedidos pelo Espírito Santo. Semelhantemente ao que fez a Bezalel.

E como aconteceu quando Jesus multiplicou os pães, não houve sementeira nem colheita; muito menos preparo. O Senhor “queimou etapas” e com pães já prontos, fez o que faz todos os dias, quando semeamos a terra: multiplicou o grão em espiga.

À uma multidão de peregrinos, sem recursos para permanecer mais tempo em Jerusalém, ele levantou homens como Barnabé que vendiam tudo o que possuíam e depositavam o valor aos pés dos Apóstolos. Ou credenciou o novo anúncio das grandezas de Deus mediante milagres, inclusive de curas.

E, quando a barreira era a língua, quem trazia as boas notícias era capacitado a falar das grandezas de Deus no idioma de quem deveria ouvi-las.

O Espírito Santo sempre acompanhará seu povo e suprirá suas necessidades. Entretanto não lhe imaginemos ingênuo ao ponto de levar alguém a falar coisas sem sentido a pessoas que usam o mesmo idioma que nós.

“Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos” (1Co 14.20).

sábado, 13 de junho de 2009

Marcas da verdadeira Igreja

Não há dúvidas de que o dia de Pentecostes marcou uma nova era para o Povo de Deus. Alguns chegam a dizer que foi o nascimento da Igreja. Prefiro ver como um novo arranjo; reflexo da nova Aliança, em que as leis de Deus passaram das tábuas ao coração de seu povo, pois Estêvão em seu discurso, falando do êxodo, menciona a Ekklesia (Igreja) peregrinando no deserto (At 7.38).

Esse arranjo gerou novos valores e novas práticas no meio do povo. Algumas dessas práticas lembram o que aconteceu quando a primeira aliança foi firmada com Moisés por mediador. Por exemplo: O despreendimento dos bens materiais lembra muito o acontecido por ocasião da construção do Tabernáculo, em que Moisés mandou que parassem de trazer ofertas, pois já tinham o suficiente.

O som como de um vento impetuoso e o fogo em forma de labaredas (línguas) lembra-nos também os eventos terríveis que ocorreram no Monte Sinai.

Porém, mais importante do que as aparentes semelhanças são as diferenças. Primeiro: não houve sangue, pois o último e verdadeiro sangue - do qual todos os demais eram sombras - já havia sido derramado na cruz. Segundo: houve um sinal claro de que com esse novo arranjo o Povo de Deus deveria atingir as nações (ao contrário do Sinai em que eles deveriam abster-se de qualquer contato com os povos vizinhos): os idiomas.

A fala imediata proporcionada pelo Espírito Santo os capacitou cumprir o que Marcos registrou: “E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam” (Mc 16.20).

De todas essas práticas, algumas perduraram, e perduram até hoje, como marcas distintivas da Igreja. Não os sinais miraculosos iniciais, pois, credenciadores dos eventos que estavam acontecendo, cessaram tanto no Sinai quanto no Cenáculo.

Nem o despreendimento de bens materiais, pois tanto no deserto tal prática cessou ao ponto de terem de receber o Maná das próprias mãos divinas, como também a Igreja Primitiva, de tão despatrimonializada, precisou receber ajuda.

Só por intermédio do Apóstolo Paulo a Igreja de Jerusalém recebeu, pelo menos, duas grandes ofertas levantadas entre as igrejas gentias.

Além das alegorias, como a que o Apóstolo Paulo faz entre o peregrinar no deserto e a vida da Igreja (não deixe de ler 1Co 10), permaneceram três marcas que não se encontram - juntas - em nenhum outro lugar além da Igreja de Cristo: 1) A doutrina dos Apóstolos, 2) a administração correta dos sacramentos e 3) a disciplina.

As duas primeiras estão em At 2.42, onde a doutrina dos apóstolos está explícita. A administração correta dos sacramentos está implícita em “comunhão” (koinonia: paz com os irmãos), “partir do pão” e “orações” (paz com Deus).

A terceira marca, a disciplina, fica explícita em At 5. O caso de Ananias e Safira.

Esta doutrina (as marcas distintivas da Igreja) é de vital importância tanto para as diretrizes de um ecumenismo sadio e bíblico, quanto para qualquer um de nós que chegue a um lugar estranho e procure uma Igreja para cultuar a Deus.

Ao se perguntar: esta é uma igreja de Cristo, ou se degenerou em “sinagoga de Satanás” (Ap 2.9), ou finge ser igreja de Cristo? A resposta está na observação judiciosa desses três pontos:

1º - Essa igreja permanece na doutrina dos apóstolos (tem as Escrituras, de fato, como a única regra de fé e prática), ou também é dirigida por outras fontes de doutrina?

2º - Essa igreja administra fielmente os sacramentos, ou faz deles meios de fomentar a superstição ou engano?

3º - Essa Igreja preocupa-se em viver de acordo com a ética das Escrituras ou a ética do mundo impera em seu meio?

A manutenção dessas marcas depende de nós. Entretanto só podemos fazê-lo mediante a força que o Espírito Santo nos concede.

sábado, 6 de junho de 2009

Presbíteros e diáconos

As primeiras capacitações concedidas à Igreja a partir do Pentecostes foram anunciar as grandezas de Deus em outros idiomas e a intrepidez para fazê-lo.

Não custa repetir, apesar de ser óbvio, que eles necessitariam falar outros idiomas, quando saíssem mundo afora, cumprindo a Grande Comissão recebida do Senhor Jesus. Isso foi suprido.

Também, não custa repetir o quando era difícil para alguém nascido na Galiléia, sequer pensar em ir a outros países, e, pior, anunciar uma mensagem completamente descontextualizada.

Talvez isso explique a razão de muitos se aferrarem ao ambiente judaico ao ponto de terem por necessário primeiro tornar-se judeu para depois tornar-se cristão. Eram os judaizantes, que tantos problemas causaram à Igreja a ponto de obrigarem-na a deixar de lado, por algum tempo, sua missão natural e reunir-se em Concílio.

Entre esses dois momentos - o Dia de Pentecostes, e o Concílio de Jerusalém - vemos, no relato de Lucas, que surgiram os oficiais que até hoje são objeto dos cuidados da Igreja de Cristo.

A princípio havia apenas apóstolos. Parece que contavam com alguns auxiliares. Por exemplo: o sepultamento de Ananias e de Safira foi feito por quem Lucas chama de apenas de “moços”. Entretanto, quando houve necessidade de uma assistência mais consistente, promoveram a escolha de 7 homens: os diáconos.

A primeira menção do termo presbítero - tecnicamente falando, pois essa palavra pode também ser traduzida por ancião - acontece em Atos 11.30 quando a igreja de Antioquia resolve “enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia; o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo”.

Em sua primeira viagem missionária, Paulo, não obstante tenha deixado igrejas em diversas cidades, foi maltratado em quase todas, e na última foi apedrejado e arrastado para fora da cidade, dado como morto. Entretanto recuperou-se. E, apesar de estar próximo de onde começara sua viagem, voltou passando pelas cidades hostis e em cada uma promoveu a eleição de presbíteros.

No Concílio de Jerusalém as igrejas dos diversos lugares foram representadas por presbíteros, os quais foram recebidos pelos presbíteros da igreja de Jerusalém e ambos participaram dos debates e da decisão do concílio em pé de igualdade com os Apóstolos.

Os presbíteros de Éfeso receberam a ordem de pastorearem o rebanho de Deus, e a instrução de que Deus os colocou por bispos.

Timóteo é instruído sobre os presbíteros que se “afadigam na palavra e no ensino”.

Tito é enviado por Paulo às igrejas de Creta com o objetivo de por as coisas em ordem e em cada cidade constituir presbíteros.

Tiago encarrega os presbíteros de visitarem os doentes. Orarem por eles e os medicarem.

Pedro e João, reconhecidamente apóstolos, identificavam-se em cartas como presbíteros.

No dia de Pentecostes o Espírito Santo já encontrou os apóstolos escolhidos pelo Senhor Jesus e os capacitou a desempenharem suas respectivas missões. Mas, à medida que a Igreja se estruturava, espalhando-se mundo afora, sem contar com a presença dos apóstolos todo o tempo em todos os lugares, o mesmo Espírito suscitou homens que a pastoreasse: diáconos e presbíteros.

Os diáconos sempre aparecem mais relacionados com as necessidades materiais e com suas respectivas igrejas. À exceção de Estêvão e Felipe.

Os presbíteros recebem o encargo de visitação de enfermos, de afadigar-se na palavra e no ensino, e de supervisionarem (episcopado). Portanto, contextos mais abrangentes.

Sobre ambos pesa a responsabilidade enorme dada pelo Senhor da Igreja: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (1Pe 5.1-3).

Sobre ambos pesa, muitas vezes, o desânimo que vem com a desconfiança e a rebeldia natural de corações pecaminosos que se esquecem das ordens do Senhor da Igreja: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hb 13.7).