sábado, 3 de julho de 2010

A seleção brasileira, nós e Adão

Quando a bola aproximou-se da área do gol do Brasil o comentarista interrompeu de chofre a notícia que seu colega dava sobre um acontecimento nos vestiários. A torcida no campo levantou-se de uma só vez e a torcida em casa contorceu-se. De tão absorto, houve quem derramasse a bebida que já estava nos lábios.

- Sai, sai, sai...

- Tira ela daí! Tira, tira, tira!

Pelo jeito não havia nenhum ateu na frente da TV, pois o fervor com que o nome de Deus era invocado diante do perigo de um gol superava em muito o fervor das reuniões de oração de algumas igrejas modernas especialistas na arte de expulsar demônios ou fazer curas.

Quando a bola aproximou-se da área do gol do adversário, as reações eram semelhantes. Porém, em sentido diferente. E o gol era seguido por gritos e pulos de uma alegria desenfreada em que o barulho alongado das buzinas era entrecortado pelas explosões dos mais diversos tipos de bombas e fogos de artifício. Barulho desenfreado! A última coisa em que se pensava era Deus.

Já vi o Brasil vencer e perder. Lembro-me da copa de setenta (pra mim a mais bonita). Lembro-me da decepção geral na copa de setenta e oito, quando o Peru perdeu de seis a zero para a Argentina eliminando a possibilidade de o Brasil disputar o primeiro lugar.

Percebeu?

Tanto na possibilidade ou não de um gol, quanto na lembrança de copas passadas ou na descrição da presente, é perfeitamente aceitável nos referirmos à seleção brasileira apenas como Brasil. Afinal, se ganhar foi o Brasil que ganhou. Se perder, foi o Brasil que perdeu. O gol seria do Brasil ou contra o Brasil. O Brasil está lá! A representação do Brasil é, para todos os efeitos, o Brasil.

A alegria da copa de setenta, e das demais copas vencidas, foi a alegria do Brasil. A tristeza de setenta e oito e das demais copas perdidas (dizem que não houve igual a de cincoenta, quando o Uruguai ganhou do Brasil em pleno Maracanã), foi a tristeza do Brasil.

Será que isso não dá para se ter um vislumbre de como estávamos em Adão quando ele pecou? Apenas um vislumbre, pois o que aconteceu foi um pouco mais complicado.

Ao longo de sua história a Igreja tentou explicar o que aconteceu e houve quem dissesse que “nós estávamos seminalmente em Adão”, como houve quem dissesse que Adão apenas nos representava (como a seleção brasileira representa o Brasil), e há quem diga que Deus imputou o erro de Adão a toda humanidade da mesma forma que imputou os méritos de Cristo aos seus.

Embora a analogia não seja total, de uma coisa, porém tenhamos certeza: Quando a seleção perde dizemos, com propriedade, que todos nós também perdemos. Quando a seleção ganha, podemos dizer, com a mesma propriedade, que todos nós ganhamos. Não costumamos nos gloriar de que somos penta-campeões?

Pois bem: mais certos do que isso é termos morrido em Adão e ressuscitados em Cristo.

 

Nota: Este texto foi escrito na quinta feira passada. Antes da derrota da seleção.

2 comentários:

Cristão Reformado disse...

Caro irmão Folton,

Perfeita sua analogia.

Em Cristo,

Ednaldo.

Milton Jr. disse...

Fôlton,
Como sempre, muito bom! A comparação foi joia.

grande abraço,

Milton Jr.