sábado, 31 de dezembro de 2011

O cristão e o tempo

Portanto, vede prudentemente
como andais,
não como néscios,
e sim como sábios,
remindo o tempo,
porque os dias são maus.
(Ef 5.15-16)

Na parte final de sua carta aos Efésios, o Apóstolo Paulo surpreende o leitor atento com uma série de afirmações a respeito do tempo. Como estamos vivendo um período significativo vale a pena meditar nelas.

Primeiro quero destacar que essas afirmações estão ao lado de outras dez, cuja importância dificilmente se questionaria face à quantidade de vezes que as Sagradas Escrituras as repetem direta ou indiretamente. Veja:

1ª) deixando a mentira, fale cada um a verdade... 2ª) Não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo. 3ª) Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe... 3ª) Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. 4ª) Não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. 5ª) Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. 6ª) Sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou. 7ª) Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados. 8ª) Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices (gracejos atrevidos).

E então nosso texto: Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus.

A 9ª) Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor, e finalmente, a 10ª) Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito.

Você observou em que nível de consideração devemos ter o aproveitamento do tempo? Compare com as outras dez obrigações. Especialmente com o texto, tão repetido em nossos dias, “enchei-vos do Espírito Santo”. Eles fazem parte da mesma lista de obrigações.

Porém, considere as outras razões que estão no próprio versículo: Remir o tempo é sinal de sabedoria e não fazê-lo é prova de necedade, ou seja: de comportamento próprio de pessoa néscia. Remir o tempo é uma obrigação face a má qualidade dos dias em que vivemos.

É claro que o sentido de remir obrigatoriamente deve ser limitado ao tempo futuro, pois não podemos recuperar o tempo que desperdiçamos. Não podemos remir o tempo perdido como nos tempos bíblicos se remia (comprava) um escravo. O que podemos fazer é usar melhor o tempo que a cada instante se torna presente de modo a compensar o desperdício do tempo que passou.

Mas, voltando a qualidade... O Apóstolo declara taxativamente que os dias são maus. Porém, há quem diga que cada geração reclama de seus dias como piores do que os dias de seus pais e certamente as gerações futuras dirão o mesmo, por saudade da simplicidade da infância ou receio diante do futuro cada vez mais complexo.

Entretanto, esta não é a cosmovisão cristã. As Sagradas Escrituras declaram que os dias ficarão cada vez piores, por diversos motivos dentre os quais a perversidade do homem. A Igreja é alertada sobre um período que antecede a volta do Senhor chamado de Apostasia e o próprio Senhor a adverte sobre um tempo de tribulação.

Além da situação geral, é necessário considerar a situação pessoal: o Senhor Jesus, ensinando como lidar com os cuidados do amanhã foi claro: “o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6.34). Obviamente, o mal que caracteriza o amanhã a que Jesus se refere são os cuidados lícitos (preocupação com o que comer, beber e com o que vestir) que, no entanto, desviam o discípulo de sua missão principal: O Reino de Deus e sua Justiça.

Porém, o que caracteriza como maus os dias a que Paulo se refere é a fascinação a que o cristão está sujeito: desperdiçar o precioso tempo de que dispõe em coisas que não contribuem para sua santificação.

Estamos entrando em 2012 - como já fizemos em tantos outros anos: tantos quanto vivemos - e virão outros 366 dias carregados de horas e minutos, que poderão ser remidos por nós para glória de nosso Senhor, ou deixadas ao léu.

Cumpramos a ordem de Paulo e prestemos boas contas desse tempo a Deus, pois o tempo que já perdemos não volta mais.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal globalizado

Os efeitos da chamada globalização foram tantos, que, de vez em quando, ainda aparece algum.

Hoje um investidor do mercado de capitais se assusta com um espirro financeiro de qualquer pequeno país que faça parte da rede financeira mundial..

Mas, se esses efeitos são tão claros na economia, por que se fala tão pouco deles na religião? Pra mim eles são mais claros na religião. Veja a Festa de Natal como exemplo: países não cristãos, que usam outro calendário, comemoram o Natal:

Israel recebe turistas com o cumprimento Mo’adim Lesimkha (Feliz Natal) e as comunidades judaicas no mundo tiveram de reavivar a celebração da Chanukah para que seus filhos não ficassem fascinados pela festa cristã.

Na Índia os enfeites das casas dos poucos cristãos se multiplicam nos shoppings, e a maioria das empresas com filiais ou sedes no ocidente dão folga, e até bônus, a seus funcionários, o que engrossa o comércio nas feiras livres.

A China, embora tão fechada ao ocidente, se vê obrigada a trabalhar mais para atender a demanda das “lembrancinhas de natal” aumentando os míseros Yuans dos trabalhadores.

No Japão, xintoísta e budista, porém muito mais ocidentalizado, é praxe se cumprimentar com “Meri Kurisumasu” (equivalente Merry Christmas) e a troca de presentes já é tradicional entre amigos.

Quanto aos países árabes veja um pedaço de uma matéria da BBC de 2005:

Apesar da profunda ligação do Egito com a história do nascimento de Jesus Cristo – José e Maria fugiram para o país para escapar de Herodes – o Natal não tem raízes profundas num país em que quase 94% da população é muçulmana.

Os cristãos coptas – uma das mais tradicionais denominações do cristianismo – comemoram o Natal, mas com um simbolismo diferente do ocidental e seguindo o antigo calendário ortodoxo, que coloca a festa no dia 7 de janeiro. [...] Em outros países árabes menos abertos ao Ocidente, a comemoração do Natal não é tão ostensiva, mas o Egito costuma ser mais receptivo a estas influências.

Relatos na imprensa internacional indicam que Cristãos estão tendo mais liberdade para comemorar o Natal em diversos países muçulmanos do Golfo, com a exceção da Arábia Saudita, onde “práticas não-islâmicas” podem ser duramente punidas.

Em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o governo relaxou recentemente as regras a respeito de celebrações religiosas que não sejam muçulmanas e autorizou a inédita apresentação, na rua, de uma peça teatral sobre o nascimento de Cristo.

O Líbano também tem comemorações devido a presença de uma grande população cristã.

De modo geral os países árabes são os que mais restringem as comemorações natalinas.

Temos de admitir que o pouco conteúdo religioso desses festejos é fortemente maculado por superstição e mito. Entretanto, você há de concordar comigo, que mais uma vez o mundo está sendo avisado da vinda de Jesus.

A Palavra de Deus diz que os homens são indesculpáveis perante Deus: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.20).

Diz também que a “Grande Comissão” já foi cumprida: 1) “E eles [os apóstolos], tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam” (Mc 16.20). 2) “...não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro” (Cl 1.23).

Cabe-nos mantê-la cumprida!

Pessoalmente creio que não estamos dando conta. Quem sabe, em sua grande misericórdia a festa do Natal, mesmo desvirtuada (como o sermão de Jonas) não seja mais um modo de ainda dizer ao mundo que Jesus se fez um de nós?

sábado, 17 de dezembro de 2011

Vá reclamar com a FIFA

Embora Cesar nunca tenha sido muito cortês comigo, desde pequeno fui instruído a dar a ele o que é dele com a mesma disposição que dou a Deus o que é de Deus.

Depois de chefe de família e com a obrigação de fechar as contas do mês, muitas vezes fui tentado a sonegar, pelo menos um pouquinho, daquilo que Cesar impiedosamente arrancava de meu bolso e da manutenção de minha família.

Duas vezes, de modo muito particular, odiei a Cesar com todas as forças de minha alma. A primeira quando viajava com minha família e, em menos de 100km tive de trocar os quatro pneus do carro que foram rasgados em buracos na rodovia. Isso aconteceu uma semana após eu ter pago o IPVA! A segunda vez não vale a pena contar.

Entretanto, sempre acreditei, e ainda acredito, que não há autoridade que não seja constituída por Deus. Mesmo as más e corruptas. Afinal quando o Apóstolo Paulo escreveu isto o Cæsar Romano era o infame Nero.

Sempre acreditei que todos os governos brasileiros trabalharam visando, de um modo ou de outro, o bem do povo brasileiro. A Constituição outorgada pelos militares começava dizendo: Art. 1 §1º - Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido. A “Constituição Cidadã”, promulgada pelo nosso congresso em 1988, em vigência, diz em seu Art. 1 §único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

É um novo tipo de governo. Não é mais um Cæsar que se impõe, como na Roma antiga, ou um como se vislumbra nas entrelinhas da Constituição de 1969, mas um Cesar que é eleito pelo povo e que até admite a possibilidade do próprio povo, nos termos da Constituição, exercer o governo diretamente. E isso aconteceu nos últimos dias: A Lei da Ficha Limpa.

Não vou entrar no mérito dela (se ela satisfaz as exigências da Constituição ou não), sou incompetente para tanto. Mas sei dizer que ela nasceu do desgosto acumulado com a má qualidade dos Césares eleitos. Antes de elegerem-se prometiam tudo para seus eleitores, depois de eleitos faziam tudo para si próprios. Daí a tal lei popular, prevista na Constituição de 1988. Porém, nem mesmo assim, se conseguiu mudar esse dispositivo legal, apesar da gigantesca mobilização: ela já foi fatiada e a fatia que sobrou está moribunda.

As mudanças de leis em nosso país acontecem historicamente em três casos.

1º - Golpes militares: o de 1964 não foi o único. Houve o de Getúlio e há quem diga que a proclamação da República, se não foi um golpe, foi muito parecido com um.

2º - Pressões religiosas da Igreja de Roma: Dentre muitas destaco apenas duas. A construção do monumento do Cristo Redentor, contra o qual protestamos através de nosso Supremo Concílio, e o estabelecimento do Feriado de Nossa Senhora Aparecida pelo Presidente João Figueiredo, que provocou protesto de toda comunidade evangélica de então. Desse poder religioso sobre o estado, que se define como laico, foi que nasceu a expressão “vá reclamar com o bispo”.

3º - Pressões econômicas (parece ser a mais corriqueira): Além das que não aparecem, estamos debaixo de uma verdadeiramente acintosa: As leis brasileiras proíbem os torcedores de entrarem com bebidas alcoólicas nos estádios. Entretanto a FIFA - organização internacional - que organiza a Copa do Mundo, e é patrocinada por fabricantes de bebidas alcoólicas, está pressionando nosso congresso para que mude esta lei.

Se nosso congresso mudá-la por pressão da FIFA - não tendo mudado o ingresso de políticos com “ficha suja”, mesmo sabendo qual é a opinião dos brasileiros - não seria o caso de criarmos novo ditado: Vá reclamar com a FIFA?

Ou será que a FIFA é um novo modo de sensibilizarmos nossos Césares? Dia desses um que está lutando a favor dela declarou: “o álcool não é o problema, cada um é que deve ser responsável.” Não é esse o argumento que nós, os protestantes, usamos?

Nunca vi um jogo de futebol em um estádio, mas sei que a multidão se descontrola até mesmo sem álcool. Entretanto, o álcool potencializa em muito.

Portanto, sou a favor da proibição brasileira e deploro que uma organização estrangeira consiga fazer o que milhões de brasileiros não conseguiram: alterar a vontade de nossos césares.

Que Deus nos dê forças para tolerar esse tipo de césar (com minúsculas mesmo) que não são melhores do que aquele que levou o Apóstolo Paulo à morte.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Pingando os Is

Todos sabemos que as palavras sofrem alterações de sentido no decorrer do tempo e não adianta querer consertar.

Até alguns anos atrás formidável era principalmente algo que inspirava temor por sua forma grande ou terrível. Hoje dizemos que alguma coisa é formidável se a considerarmos boa. Até um sorvete, pode ser formidável. A palavra sofreu uma alteração de significação ou alteração semântica.

Mas há outros tipos de alterações: os sentidos amplos ou simplesmente o uso inadequado.

Vulgarmente chama-se milagre a qualquer acontecimento que não se possa explicar por “meios naturais”.

Um amigo que chegou atrasado no aeroporto e perdeu o avião, me disse ter sido salvo por um milagre, pois aquela aeronave caiu. Outro também chamou de milagre ter entrado na sala no momento em que seu filho estava para enfiar a chave na tomada. E ainda outro me disse o mesmo, quando soube que o médico que estava de plantão na noite em que sua esposa foi internada na emergência era especialista no mal que ela sofria.

Nada disso deveria ser chamado de milagre e sim atos da providência divina. Estes casos são exemplos más aplicações do termo.

Um milagre é algo que decorre de uma ordem de um enviado de Deus e visa estabelecer claramente que Deus é Senhor, ou credenciar sua mensagem ou seu mensageiro, e é algo tão extraordinário que não deixa dúvidas sobre seu acontecimento, nem é feito pela metade.

Só pode ser chamado de milagre se for ordenado em nome do SENHOR, acontecer em sua totalidade.

Pra ser mais explícito: Um dente precisa voltar a ser dente e não virar “dente dourado”. Um cego de nascença deve passar a ver sem óculos. Um surdo mudo deve começar a ouvir e falar perfeitamente (sem passar por uma clínica de fonoaudiologia). Um aleijado tem de começar a andar sem reabilitação fisioterápica. Etc.

Se acontecem milagres hoje, discorrerei outro dia.

Outro i que deve ser pingado é a diferença entre inspiração e iluminação.

Hoje costumamos dizer que fulano estava inspirado quando escreveu uma música, pintou um quadro, e até quando um sermão fala ao coração.

Entretanto, a teologia reserva o termo Inspiração para descrever o que o Espírito Santo fez quando transmitiu sua Palavra aos escritores da Bíblia, e chama de Iluminação tudo o que se produz debaixo da orientação das Sagradas Escrituras.

Picuinha! Diria alguém. De forma alguma. Dizer que determinado hino ou cântico foi inspirado e dizer que a Bíblia é inspirada, é, no mínimo, semear confusão. E, creia-me: Há que pense que alguns hinos, cânticos ou sermões, complementam os ensinos bíblicos.

Devemos usar as palavras com mais cuidado. Quando precisarmos explicar o que queríamos dizer com determinada palavra é melhor não usá-la.

Não precisamos ter vocabulário erudito, mas não devemos cair na vala comum de repetir as palavras que servem pra tudo e não dizem nada. Pois é. Né? Falou! Falou e disse! Massa!