sábado, 13 de janeiro de 2007

Do deserto ao jardim

Aos 30 anos, antes de iniciar seu ministério público, nosso Senhor foi levado pelo Espírito Santo ao deserto para ser tentado.

Lá, sozinho, após quarenta dias de jejum, sofreu três investidas do Maligno. Todas visavam incutir-lhe dúvidas sobre sua natureza divina propondo satisfações peculiares à sua natureza humana.

Diferentemente de Adão que, saciado, em um jardim, sucumbiu à primeira investida com o oferecimento de uma fruta (que em si era como outra qualquer, mas que representaria muito bem sua obediência implícita às ordens do Criador), o Senhor, no deserto, faminto, venceu a todas investidas com o auxílio das Sagradas Escrituras.

Três anos depois, no Jardim do Getsêmani, apesar de ter levado consigo seus Apóstolos mais íntimos, ele estava novamente sozinho: o sono deles era mais forte. Lá ele ficou em angústia por algumas horas. Lá quem o atacou não foi o inimigo. Foi o pavor.

Esvaziado de alguns de seus atributos divinos, ele temeu a ira do Pai que breve cairia sobre si em toda intensidade. Ele sabia que teria de enfrentá-la sozinho. Afinal seria a ira do único com quem contava, do único cuja vontade lhe era mais agradável do que comida ou bebida.

No deserto, fez o que Adão deixou de fazer: obedeceu. Tornou-se na prática o segundo Adão, no qual todos aqueles que o Pai lhe deu estão representados. No Jardim fez o que homem algum poderia fazer: submeteu-se: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres (Mt 26.9)”. O Pai não o passou. Ele o sorveu até as escórias. Porém, o cálice não era dele. Era meu.

Curiosamente o escritor da Carta aos Hebreus diz que ele foi atendido. O Pai o atendeu, não suprimindo-lhe a cruz, mas dando-lhe vitória sobre ela ao ressuscitá-lo.

No deserto ou no jardim fez a vontade do Pai. No deserto fez o que Adão não conseguiu, no jardim, preparou-se para fazer, na cruz, o que era devido a todos os que o Pai lhe deu.

No deserto, fome, solidão e as três investidas do inimigo. No jardim, após a última ceia, solidão (dos que, no espírito estavam prontos, mas, na carne, eram fracos), dor, medo e pavor de, feito pecado por nós, da horrível coisa que é “cair nas mãos do Deus vivo”.

Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor (Hb 12.28e29).

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Reverendo Folton

Do ponto de vista da soberania de Deus, que Jesus sabia muito mais que nós, qual a explicação possível para o fato de ele ter usado as palavras "... se possível, passa de mim este cálice..."?

Porque ele orou assim, uma vez que ele sabia que não era possível?

Faz sentido, nós orarmos por coisas que sabemos impossíveis?

Como eu explico isto, pela ótica da soberania de Deus?

Um abraço e desde já agradeço

folton disse...

Oliveira;

Há muitas interpretações para estas palavras (Todas exgeticamente possíveis). Prefiro a mais direta, especialmente se nos lembrarmos que o Senhor Jesus esvasiou-se de muito daquilo que lhe era inerente como Deus: inclusive da onisciência.

ab
Fôlton