sábado, 12 de janeiro de 2008

Nos braços de Simeão

Quarentas dias após haver nascido o Senhor foi levado, por seus pais, a Jerusalém. Foi sua primeira visita àquela cidade.

Iam purificar Maria e resgatar seu primogênito. As leis levíticas eram muito claras: A mulher era impura 40 dias após o parto e todos os primogênitos deveriam ser consagrados a Deus a menos que fossem resgatados.

O sacrifício de purificação, usualmente feito com um cordeiro, podia ser feito com dois pombinhos ou duas rolinhas, se a família não tivesse posses. Foi o caso deles.

O resgate do primogênito não precisava ser feito no templo (bastava pagar 5 shekalim a um sacerdote), mas já que eles iam passar por lá ... De Belém à Jerusalém a viagem era pequena - uns 10 quilômetros - e já era o começo da volta à Nazaré, de onde vieram.

Lá encontraram dois anciãos: Simeão e Ana (que são mencionados apenas aqui). Há muitas informações sobre Ana, e poucas sobre Simeão. Talvez, como Ana, ele fosse um velho Judeu, que a idade dispensara da obrigação de ir ao Templo, mas insistia em fazê-lo.

Apesar de outras opiniões, eu prefiro imaginá-lo como um sacerdote ‘jubilado’ que dedicava-se a ajudar a rotina do templo, como permitido. Que encerrara seus dias de ofício, triste com o que via. Mas fora agraciado pelo Espírito Santo com a certeza de que veria o Messias antes de morrer.

O texto diz que o Espírito Santo o levou ao templo na hora certa - talvez, naquele dia, seu encargo fosse receber os resgates dos primogênitos - e deu fim a sua espera. Tomou a criança nos braços e orou: - Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos, luz para revelação aos gentios e para glória do teu povo de Israel.

Simeão viu os mistérios de Deus. E como João veria anos depois e todos os profetas viram no passado, Simeão acabara de ver o Conselho de Deus, sua Vontade, Planos e Decretos. Viu em um bebê. Em um bebê aconchegado em seus braços. Já podia morrer em paz.

Que privilégio inaudito: tomar nos braços o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Que privilégio ver que a luz, que Israel já possuía, se estenderia à todos os povos. Que privilégio ver que aquele bebê manifestaria os pensamentos de muitos corações, seria alvo de contradições e a causa do engrandecimento de alguns e da ruína de outros.

Quantos textos devem ter sido lembrados por Simeão. Ele segurava em seus braços o Descendente da mulher que haveria de esmagar a cabeça da serpente, o Cordeiro de Deus que substituiu Isaque, o Anjo do Senhor que lutou com Jacó na travessia rasa do rio Jaboque, o Leão de Judá, o Profeta infalível referido por Moisés, o Guerreiro do Altíssimo que lutou ao lado de Josué contra Jericó, a Raiz de Davi ... Simeão se dera conta de que estava vendo o início da eternidade, o Reino de Deus entre os homens. O Emanuel.

A partir de então nada seria mais o mesmo. A partir de então aquela pobre família, sem posses até para um sacrifício, seria assolada por dores. Dores tais que a alma da mãe sentir-se-ia traspassada por espada.

A partir de então a luz que dissipa todas as trevas brilharia no coração de quem o Pai dera àquele pequeno que estava em seus braços.

Mas, a partir de então as trevas se levantariam com tal força, que embora não pudessem prevalecer contra luz - pois é da natureza da luz sempre vencer as trevas - obscureceriam ainda mais os corações dos que não pertencessem àquele bebê.

"Veio para os seus, mas os seus não o receberam". Como isso deveria doer em Simeão. Seus sentimentos se misturavam: sentia alegria por ter nos braços o Senhor, e sentia tristeza porque seu povo colocaria o Senhor nos braços de uma cruz.

Benditos braços de Simeão! Quisera eu estar lá!

3 comentários:

Karina Kakai disse...

"a partir de então as trevas se levantariam com tal força, que embora não pudessem prevalecer contra luz - pois é da natureza da luz sempre vencer as trevas - obscureceriam ainda mais os corações dos que não pertencessem àquele bebê"

Ah, Pastor... E como as trevas têm se levantado com força...

Anônimo disse...

Nossa Pastor.... eu nunca havia pensado na responsabildade visualizada por Simeão naquela hora. Com certeza foi agradavél vivenciar aquela hora, mas ao mesmo tempo conflitante por saber que dali pra frente tudo seria diferente e dependeríamos única e exclusivamente da Graça de Deus. E Ele escolhe quem melhor lhe aprouver.

saudações

Roberto

folton disse...

Caros Kaká e Roberto;

Eu tenho pensado muito a respeito desses irmãos que viveram tão perto da linha que separou a Antiga da Nova Aliança. Como nos diz o escritor de Hebreus, eles a saudavam de longe, mas aguardaram pela nova para que eles, conosco, fossem aperfeiçoados.

Ainda vou escrever mais sobre esse assunto. Por enquanto ... não deixem de orar por mim. Estou com saudades de vocês. Mas tenho certeza de que mesmo longe, nada (nem as trevas - ouviu Kaká? - podem nos separar do amor de Deus que está em Cristo nosso Senhor.

ab
Fôlton