sábado, 12 de julho de 2008

A alma redimida e seu Amado

As Escrituras Sagradas, em muitos lugares, nos exortam a progredir na fé: Jesus nos ordena a frutificar; o escritor da Carta aos Hebreus, igualmente, a que, deixando o leite, busquemos alimento sólido, pois atendendo ao tempo decorrido já deveríamos ser mestres; o Apóstolo Paulo deplora nossa meninice e exorta a que atinjamos a estatura de varão perfeito e em outro lugar a que desenvolvamos a nossa salvação. Progredir na fé não é algo opcional é uma obrigação.

Um belo exemplo de como progredimos na fé aparece no relacionamento entre os cônjuges do Cântico dos Cânticos, nas três declarações semelhantes da esposa:

Em 2.16: “O meu amado é meu, e eu sou dele”.

Em 6.3: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”.

Em 7.10: “Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim”.

Essas afirmações retratam diversos estágios da maturidade do relacionamento conjugal. E, tomando os princípios de interpretação usados pelo Apóstolo Paulo no capítulo dez de sua primeira carta aos coríntios, podemos entendê-las melhor.

No primeiro estágio, com a avidez própria de quem encontra algo muito precioso - como aquela pérola de grande preço da parábola do Senhor - esse bendito relacionamento caracteriza-se por uma espécie de “egocentrismo” da esposa em que se destaca seu afã em afirmar posse sobre seu amado.

A mútua pertença está presente, mas note a ordem: “o meu amado é meu”. Só depois ela afirma “e eu sou dele”. Assim também ocorre ao cristão no início de sua vida.

Os que insistem em permanecer nesse estágio transmitem a impressão de que Deus lhes é propriedade exclusiva. E chegam a tratá-lo como servo, determinando e exigindo dele as coisa mais estapafúrdias e pueris. Se não chegam a negar a fé por palavras o fazem pelas obras.

Os que procedem amadurecendo chegam ao segundo estágio em que as relações de pertença ainda continuam mútuas, mas a ordem se inverte: “Eu sou do meu amado” e depois “o meu amado é meu”.

Pelo conhecimento maior e melhor de quem é o Amado de nossas almas as prioridades também se invertem. Muitas coisas então passam a fazer sentido. Como, por exemplo, as palavras do Amado: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros...”.

E a medida da estatura da plenitude de Cristo é expressa na última declaração: “Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim”.

Para que essa frase fique mais clara optarei por outra tradução, já que “saudades” dilui o significado do verbo hebraico.

A maioria das traduções usa o verbo desejar. E, de fato, a palavra hebraica aqui é a mesma com que Deus amaldiçoou o desejo da mulher logo após o pecado: “... o teu desejo será para o teu marido...” (Gn 3.16).

Neste estágio a Redenção aparece completa. A salvação foi desenvolvida ao limite do que é possível nesta vida. Já não é mais a mulher, que escravizada pelo pecado, tem seu desejo como propriedade do marido (o que ocorre até hoje aos que não foram redimidos por Cristo), mas é o marido que nutre desejos por sua esposa.

Dentro desse contexto é que se pode entender as ordens veementes da Escritura de que o marido deve amar a esposa como Cristo ama a Igreja.

Também, dentro desse contexto é que os redimidos, seguros, amadurecidos e firmes - quais cônjuges amados - desenvolvem sua salvação junto ao Amado de suas almas.

A vida conjugal redimida - de cônjuges redimidos - é um notável paralelo entre a vida cristã, até mesmo em seu desenvolvimento.

Por essa razão Deus detesta tanto o divórcio e a vida conjugal sem compromisso.

2 comentários:

Rev. Alexandre Lessa disse...

Rev. Folton,

Os comentários são poucos, mas a leitura é constante. Gosto muito dos textos do senhor.

Deus o abençoe.

folton disse...

Obrigado Alexandre. Não deixe de se lembrar de mim nas tuas orações.
ab
Fôlton