sábado, 19 de julho de 2008

Lembranças da adolescência

Quando leio o Salmo 23 sempre me lembro de que Davi estava falando do que conhecia bem. Afinal, quando adolescente, ele cuidava das ovelhas de sua família. Mas, repare bem: quando adolescente.

De fato, depois de ir levar comida a seus irmãos que estavam no campo de batalha contra os filisteus, não há mais indicações históricas de que ele tenha voltado para sua rotina de casa.

Chegando ao campo de batalha viu o pavor que Golias infundia nos soldados de Israel, inclusive em seus irmãos, e decidiu enfrentá-lo. O resto da história sabemos desde a infância.

Vitorioso, foi levado por Saul para seu palácio e lá ficou. Mesmo quando perseguido por Saul e refugiado em cavernas, desertos, ou nações vizinhas, não há relato de que ele tenha voltado à viver na casa de seu pai; muito menos de que voltasse a cuidar de ovelhas.

Para mim este Salmo está calcado sobre as reminiscências de sua adolescência. Aliás prefiro pensar que ele tenha sido escrito em sua velhice, pois sinto nas entrelinhas um cheiro de saudade próprio de quem já viveu bastante.

Aquele que, quando adolescente, fora pastor de ovelhas, agora é o “pastor de Israel”: E lembrando-se do que fazia às suas ovelhas, vê seu dever para com a nação sobre a qual reina. Nesse contexto é que entendo como ele percebe que o Bom Pastor é muito mais atencioso. “Nada me faltará”, portanto, é mais do que uma expressão: é sua constatação diária.

Nos cuidados de alimentar, pastos verdes e águas tranqüilas são retratos da suprema providência do Bom pastor. Providência tão especial que ele não conclui referindo-se simplesmente ao alimento físico, que poderia ser expresso por “sacia-me” ou “dessendenta-me”, mas com “refrigera minha alma” que fala muito mais de satisfação espiritual.

Nos cuidados de levar, fica ainda mais clara a preocupação espiritual. As veredas pelas quais ele é guiado não são descritas como gramadas, sem pedras, ou macias - como aquelas nas quais ele guiava seu rebanho - mas como “veredas de justiça”. E o vale perigoso, no qual a morte faz sombra, é enfrentado sem temor, pois o carinho do cajado que puxa pra perto e a prontidão da vara que afasta o perigo é verdadeiro “consolo”.

Nos cuidados de tratar, a mesa, o óleo e o cálice, as necessidade do espírito esclarecem totalmente que ele não refere-se a simples ovinos. A mesa, apesar de ser defronte, não é afetada pela presença dos adversários. O óleo não é usado para pensar feridas, mas para ungir a cabeça semelhantemente ao que se fazia a um sacerdote. O cálice, de abundante, transborda.

E, nos cuidados finais, ele sequer menciona o carnear ou a tosquia - finalidade primeira de uma ovelha - mas a habitação na casa do Bom Pastor, escoltado por sua bondade e sua misericórdia. Não por alguns dias, nem por uma temporada, mas para todo sempre.

O Salmo 23, por tudo isso, é um Credo em que as reminiscências do passado, falam do que ocorre no presente e apontam para a esperança no futuro. É também uma confissão da dependência divina de todos aqueles que conhecendo suas limitações de ovelhas confiam na graça do Bom Pastor.

Faça dele suas palavras. Eu já o fiz minhas.

3 comentários:

Rev. Ricardo Rios Melo disse...

Caro Folton,

O Salmo 23 é consolo, esperança, certeza. Pena que muitos só pregam nele em velórios.

Muito bom post!

O Nosso Bom Pastor seja louvado!

ps. tomei a liberdade de colocar seu endereço no meu blog

http://arrazoar.blogspot.com/

abs

Rev. Ricardo Rios.

folton disse...

Obrigado Ricardo. Se você me permitir colocarei um link no meu também.

Ab
Fôlton

Rev. Ricardo Rios Melo disse...

Caro Folton,
Será uma honra! Agradeço pela gentileza.

abs,
Ricardo Rios.