domingo, 6 de setembro de 2009

Por que a Igreja de vocês não se moderniza?

“Por que a Igreja de vocês não se moderniza?” Foi com esta pergunta que um senhor bem vestido e perfumado encerrou nossa conversa aborrecido por eu não consentir com a apresentação de “seu cantor” no culto de nossa igreja.

Eu já havia argumentado que em um culto cristão não há apresentações e sim louvor, ao que ele respondeu: “Mas é só louvor, ele não vai cantar música do mundo”. Tentei explicar que o louvor em um culto não significa apenas o tipo de música, mas principalmente a intenção com que ela é cantada. “Mas ele vai fazer apenas uma apresentação dos últimos sucessos para que os membros da Igreja possam cantar músicas novas depois”.

Cada argumento meu era rebatido por ele.

Mantive-me dentro dos elementos bíblicos do culto e ele enfatizou o quanto perdíamos não recebendo seu cantor: “ele canta bem, vai limitar seu repertório ao que é usual nas igrejas presbiterianas conservadoras, e ...”. Daí entendi que havia um repertório para outras denominações bem como para as presbiterianas não conservadoras.

E os 15 minutos pedidos por ele me pareciam uma eternidade. Seu último argumento foi: “O rapaz ainda é novo mas canta tão bem que o pastor dele já o ungiu ministro de música: um levita ...”.

Não me contive: “Um levita? Como no templo de Salomão?”

Diante da confirmação me esqueci dos 15 minutos, e do restante da rotina matinal. Tentei mostrar-lhe o anacronismo, - pra não dizer a bobagem - que ele estava falando. Tentei, mas não consegui, pois ele levantou-se furioso e soltou a pergunta que encabeça esta narrativa: “Por que a Igreja de vocês não se moderniza?”

Ele não referia-se a nossas instalações, ou a beleza de nosso templo, muito menos a funcionalidade das salas de aula ou de nosso escritório, do contrário eu teria respondido de pronto: “Por falta de recursos”.

Sua pergunta era retórica. Ele, na verdade, protestava contra uma organização que tinha por superada.

Depois, pensando no acontecido, imaginei que possa haver quem pense assim também. Alguns irmãos confirmaram que existe. Resolvi então tornar público o assunto e responder a tal pergunta.

Em um assunto como esse a Igreja não pode “se modernizar”, pois contrariará a Bíblia. Um exame na história do povo de Deus mostra que ele passou por fases bem determinadas. Houve o tempo dos patriarcas, o tempo dos juízes, o tempo dos reis e hoje o tempo do “sacerdócio universal”.

Nesses primeiros tempos os oficiais representavam os seus diante de Deus. Hoje cada um se representa diante de Deus. Ou seja: cada um é sacerdote de si mesmo, perante o sumo-sacerdote Jesus. Portanto o Povo de Deus presta culto. Não assiste, nem é mediado diante de Deus. Cultua. Cultua em Espírito e em verdade.

No culto cristão os cânticos apesar de importantes, não são essenciais. Na realidade não têm importância alguma diante de uma vida de culto. Mesmo que não se cante coisa alguma, se dois ou três estiverem reunidos em nome do Senhor Jesus ele garante que estará com eles. Entretanto o inverso não é verdadeiro.

Não é o cântico que faz o louvor. É uma vida de louvor que se expressa em cânticos.

O cântico sem respaldo de uma vida consagrada é abominação diante de Deus, e uma vida consagrada não precisa de cânticos, embora na maioria das vezes faz com que os lábios abram-se em cânticos, que, mesmo desafinados, são agradáveis a Deus por que procedem de quem o honra.

Mas, e a apresentação? Essas são apenas shows. Jamais alcançam um status de culto. Seja a mais bela cantata de Bach ou a performance mais leonina da mais conceituada artista. E, show por show, é melhor assistir aos profissionalmente bem feitos.


BH 6/9/2009

2 comentários:

Sala de Adolescentes da EBD disse...

Caro Reverendo. É realmente lamentável o que vemos em nossas igrejas nos dias de hoje. E quando tentamos mostrar a nossos irmãos o quanto a igreja tem se distanciado do verdadeiro cristianismo, na maioria das vezes, somos julgados como não tendo "unção" ou como "frios".
Que a graça do Senhor abunde em nós.
Jorge

Rev. Ageu Magalhães disse...

Caro Rev. Fôlton, me veio à mente o episódio em que Davi, ao invés de levar a arca da aliança por varais, resolveu "modernizar" o transporte com um carro de bois. Tragédia premeditada e consumada! Custou a vida de Uzá. A mesma tragédia promovem estes mercenários que comercializam a fé e ainda torcem o nariz para os que zelam pela pureza do culto ao Senhor. Que Deus tenha misericórdia deles. Abraço, e, continue escrevendo, para o nosso deleite e edificação. Abraço. Ageu