sábado, 6 de março de 2010

Duas festas

Dentre as muitas ceias dadas a Jesus, duas se destacam: em ambas ele foi ungido. A primeira, na casa do fariseu Simão, quando ele voltava para a Galiléia e a segunda, na casa de Lázaro, após ressuscitá-lo.

O fariseu Simão negou acintosamente a Jesus as cortesias normais da hospitalidade. Queria dar exemplo para todos o imitarem. Os irmãos Maria, Marta e Lázaro queriam apenas agradecer o milagre.

Era de se esperar que Simão recebesse a Jesus à porta de sua casa com um beijo, providenciasse água e toalha para ele se refrescar do calor e oferecesse azeite, que, emoliente, faria bem ao rosto ressecado e aos pés doloridos da caminhada. Mas acintosamente Simão negou essas simples cortesias.

Era de se esperar que os três irmãos recebessem a Jesus com a intimidade usual: que Lázaro conversasse com ele, Maria ficasse, como sempre, atenta ao seu lado, e Marta, prestimosa, se desdobrasse em preparar o que tinham de melhor. Todos fizeram assim. Fizeram com amor não por simples cortesia.

Na casa de Simão uma mulher, anônima, vendo o acinte, não se conteve. Supriu, em muito, tudo o que foi negado. Simão poderia beijar-lhe o rosto, ela beijou-lhe os pés. Simão deveria fornecer água, ela lavou-lhe os pés com suas lágrimas (a mais nobre das águas, que brota das mais profundas emoções). Simão deveria fornecer uma simples toalha, ela enxugou-lhe os pés com seus próprios cabelos. Simão deveria oferecer azeite, mas ela ofereceu o conteúdo precioso do frasquinho que mulheres como ela traziam ao pescoço para refrescar o hálito.

Na casa de Lázaro, Maria, que gostava de quedar-se aos pés de Jesus ouvindo suas palavras, trouxe cerca de trezentos gramas de bálsamo de nardo puro e o derramou nos pés do Senhor, perfumando toda a casa.

Quando o fariseu Simão viu o gesto da mulher, embora ela só tivesse tocado os pés de Jesus, pensou consigo mesmo: - Profeta ele não é. Se fosse saberia que esta mulher é uma prostituta. E na outra ceia, quando Judas viu tanto perfume precioso derramado sobre os pés do Senhor, perguntou: “por que não se usou o dinheiro deste perfume para ajudar os pobres?”

Jesus então saiu em defesa das duas. Mostrou a Simão que ela fez muito mais do que ele deveria ter feito, e isso atestava mais consciência do quanto foi perdoada, ao passo que ele, Simão, sequer se julgava devedor. Também mostrou a Judas que Maria se antecipou para seu sepultamento, pois sempre haverá a quem ajudar, mas nem sempre ele estaria ali.

Aquela que colocou sua vida aos pés do Senhor então ouviu dele: “Vai-te em paz. A tua fé te salvou”. E Maria recebeu de Jesus a garantia de que onde fosse pregado o Evangelho, o que ela fez seria lembrado para sua memória.

Não sabemos o que foi servido nas ceias, pois o que importava era registrar quem era Jesus, e quem era o verdadeiro adorador e o falso.

Dois jantares. Dois propósitos. Duas unções. Dois censores: Um em nome da religião outro em nome dos pobres. Duas mulheres muito diferentes, mas com o mesmo sentimento de gratidão e devoção. Uma só atitude do Senhor Jesus.

Hoje o Senhor Jesus não pode estar fisicamente em sua casa nos momentos de festa, mas sua presença deve orientar a alegria. Não se envergonhe dele. Unja seus pés com o que você tiver de melhor.

Um comentário:

Patrícia Vitalino disse...

Folton,
Que texto precioso!
As águas brotaram das mais profundas emoções!
Afetuoso abraço,
Samuel