Embora não saibamos exatamente como definir o que é vida todos nós sabemos a que estamos nos referindo quando usamos esta palavra. Discordo, entretanto de quem diz que viver é a capacidade de existir autonomamente, pois as pedras existem e não estão vivas, e nós, que estamos vivos, dependemos do ar, do sol, dos alimentos. Ou seja: dependemos de tantas outras coisas, que podemos ser tudo, menos autônomos.
Aliás, essa é uma característica da vida: Mais do que dependente, ela é, por assim dizer, extremamente egocêntrica. Qual máquina, ela consome seus combustíveis a qualquer preço: cegamente. Não se pode convencer um ente vivo a gastar menos oxigênio, e o limite mínimo de suas necessidades calóricas é bem definido.
Fazemos parte de uma “cadeia alimentar”. Nos alimentamos e servimos de alimento. Comemos vegetais ou animais, e através deles recebemos os minerais que não podemos comer in natura e alimentaremos a muitos após nossa morte.
Fazemos parte de um tecido social mais ou menos semelhante. Jamais podemos afirmar que não dependemos de ninguém, ou que ninguém depende de nós. Dependemos do seio de nossas mães, da casa de nossos pais e do amparo de nossos filhos. Do seio recebemos o alimento e o conforto. Da casa, o conforto e a orientação para o futuro. Dos filhos a honra e o consolo de uma vida completa. Mas não se esqueça: os papéis se invertem. Começamos a vida como filhos e a terminamos como pais.
Ao adquirir nossa natureza o Senhor Jesus sujeitou-se a essa “roda”. Como qualquer um de nós dependeu de sua mãe e de seu pai e apesar de sua inteligência precoce, atestada pelos doutores de Jerusalém, aprendeu com seus irmãos e amigos também. O escritor da Carta aos Hebreus nos diz que ele aprendeu aquilo que nunca teve de fazer: obedecer. Não teve filhos biológicos, mas deu sua vida pelos filhos espirituais, rompendo assim o círculo em que, no fim da vida, os pais passam a depender dos filhos.
O mais precioso é saber que ele mantém nossa natureza e que nunca se apartará dela. Entretanto ele a corrigiu. Ela voltou a ser o que deveria ter sido se nossos pais não pecassem. A marca do “egocentrismo” de que falei - da vida comportar-se como máquina que devora seu combustível - para ele já é coisa do passado, pois o princípio vital não é mais “carne ou sangue”, mas o poder de Deus.
Os filhos de Jesus, aqueles com os quais ele comparece diante do Pai (Hb 1.13), “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.13).
E serão cumpridas as palavras do Profeta Zacarias:
“Se alguém lhe disser: Que feridas são essas nas tuas mãos? responderá ele: São as feridas com que fui ferido na casa dos meus amigos.
Desperta, ó espada, contra o meu pastor e contra o homem que é o meu companheiro, diz o SENHOR dos Exércitos; fere o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas; mas volverei a mão para os pequeninos. Em toda a terra, diz o SENHOR, dois terços dela serão eliminados e perecerão; mas a terceira parte restará nela. Farei passar a terceira parte pelo fogo, e a purificarei como se purifica a prata, e a provarei como se prova o ouro; ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: é meu povo, e ela dirá: O SENHOR é meu Deus (Zc 13.6-9).
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