sábado, 29 de maio de 2010

Cartas

Você já notou que o Novo Testamento é formado basicamente de cartas? Tradicionalmente aprendemos que ele é formado por 4 Evangelhos, 1 livro histórico, 13 cartas de Paulo, 8 cartas gerais e 1 livro profético.

Porém, pense comigo: Lucas e Atos compõem uma carta dirigida a Teófilo. O Evangelho de João, apesar de não estar em forma de carta possui o caráter de uma na medida em que o próprio João declara: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31). Ou seja: ele é escrito como uma carta de convencimento ao leitor.

Não há o que argumentar sobre as cartas. Mas sobre o Apocalipse minha tese aplica-se apenas às 7 cartas ou ao restante do livro? Pessoalmente creio que, à luz de seu final, é possível aplicar ao restante do livro: “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro. Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus seja com todos” (Ap 22.18-21).

Resumindo: Creio que o Novo Testamento é todo composto de cartas com exceção dos Evangelhos de Mateus e Marcos.

Mas, qual a importância disso? É simples e depende de outra observação: Você já notou que nenhum dos livros do Antigo Testamento tem característica de carta?

Embora grande parte dele seja de caráter doutrinário todo o seu pano de fundo é histórico. O que mais se parece com uma carta é o diálogo entre o autor e o leitor que pode ser encontrado em Provérbios e Eclesiastes.

O Antigo Testamento é a revelação feita por Deus “outrora, ... muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais...” (Hb 1.1). Através do Antigo Testamento podemos saber quais são as respostas de Deus sobre questões próprias do cotidiano. Mas, veja bem: tais respostas foram dadas em um ambiente cultural extremamente fechado. Bem diferente do ambiente cultural em que a Igreja vive.

Todo o Novo Testamento, especialmente as cartas, mostra como aplicar as respostas de Deus, dadas naquele ambiente fechado, ao ambiente aberto em que vive a Igreja.

Como aplicar o Não adulterarás diante de um mundo tão permissivo? Paulo nos responde: “Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais” (1Co 5.9-11).

O mesmo com o Não furtarás: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Ef 4.28).

E assim, com a agilidade própria de uma carta, diante de problemas concretos, os princípios estabelecidos por Deus se renovam e são aplicados a Igreja.

O Antigo Testamento, visto através do Novo, adquire a relevância necessária e imprescindível para que se entenda a vontade de Deus. E se ele já apontava pra o Messias que havia de vir, agora seu sentido fecha-se mediante a revelação do Messias que se manifestou. Recebemos então o consolo de estar agradando a Deus em nosso viver.

2 comentários:

Jean Carlos Serra Freitas disse...

Caro Fôlton...
Muito bom seu texto. Você está escrevendo cada vez melhor. Lamento apenas não gostar mais do futebol...rs.

folton disse...

Obrigado Jean. Mantenha-me em tuas orações.
ab
Fôlton