sábado, 12 de junho de 2010

Falsidade

Quando as Escrituras Sagradas nos advertem repetidas vezes contra os falsos profetas, falsos mestres, falsos apóstolos, e pastores que a si mesmo se apascentam, deixam claro que eles sempre existiram dentro do Povo de Deus e enganam muito bem, pois os mesmos alertas do passado se repetem para o futuro.

Quem professa conscientemente a Fé Reformada está isento de ser enganado por falsos profetas ou falsos apóstolos, pois uma de suas características é crer que tanto apóstolos quanto profetas, em seu sentido mais estrito, pertencem a um determinado período da história que não se repete mais; e em seu sentido mais amplo não obrigam a qualquer tipo de obediência.

Todos eles possuem como característica básica a falsidade, afirmando ser o que não são. Pecado muito condenado. Como suavizamos a hediondez desse pecado devo destacar alguns de seus aspectos mais perniciosos.

Não há dúvida de que o primeiro aspecto a ser destacado, do qual tudo se origina, é a falta de temor a Deus.
Falar ou agir em nome de outra pessoa é algo que reprovamos até nas coisas mais simples, e quando envolve negócios exigimos um instrumento legal: a procuração. Falar em nome de Deus deveria causar temor no falante e desconfiança no ouvinte. Entretanto, parece que isso não acontece.

Um homem, muito bem casado, foi procurado por uma moça, dizendo ter recebido uma revelação de que ele deveria separar-se e casar-se com ela. Percebeu? Ela não temeu quebrar uma proibição expressa de Deus, sequer mentir em seu nome.

A segunda característica nefanda é a ganância. Tito foi alertado a esse respeito: “... existem muitos insubordinados, faladores frívolos e enganadores ... é preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.10-11). Os gananciosos estão desqualificados para a liderança da Igreja: 1Tm 3.8.

Há uma frase emblemática que traduz muito bem essa característica, sobre a qual já escrevi (1) e (2): “movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” (2Pe 2.3).

O que mais me assusta, por ser tanto visível quanto tolerada, é a irresponsabilidade. Ainda adolescente conheci uma “profetiza” que revelou a quatorze casais que eles tinham se casado na carne e os convenceu a consertar o erro. Na primeira igreja que pastoreei conheci, vendendo molduras de retratos, um ex-empresário que, atendendo a uma revelação, entregou tudo o que possuía. Há poucos meses ouvi de uma senhora que, quando moça, foi convencida a romper o noivado e atendendo uma revelação casou-se com outro. Seu “casamento espiritual” durou cerca de doze anos e três filhos. Acabou-se em traição e hematomas.

Atendendo ao pedido de um moribundo, tive que exortar sua esposa a parar de trazer “irmãos e irmãs de oração forte”. Eles o lambuzavam de óleo e, quais pajés, entre grunhidos e gritos de “sai!”, raspavam a doença com mão em concha.

Mandar alguém parar uma quimioterapia alegando ter recebido uma revelação de sua cura é, no mínimo, irresponsabilidade. Quem faz isso não é um santo é um criminoso.

As únicas obrigações que recebemos de Deus estão na Bíblia, e, para entendermos algumas, precisamos de uma exegese consistente e sadia, amparada pela analogia da fé.

Tenho aconselhado ao rebanho sobre o qual o Senhor Jesus me constituiu pastor a se afastar de qualquer um que ousar a apresentar-se com uma revelação de Deus. Reafirmo o conselho.

Peço a Deus que nos livre desses que, imitando os profetas dos dias de Jeremias, dizem “paz, paz, quando não há paz”.

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