sábado, 19 de maio de 2012

O Antigo Testamento ainda nos obriga?

Qualquer leitor do Antigo Testamento (AT) dirá que algumas coisas que estão lá ainda são importantíssimas, como a proibição de matar ou de roubar. Porém nem todos concordam que a obrigação de honrar os pais, dizer sempre a verdade e não cobiçar sejam tão importantes assim. E pouquíssimos - talvez apenas os protestantes mais tradicionais - concordem com a importância da proibição do adultério, da idolatria, de se observar o Dia do Senhor, e de não se tomar seu Nome em vão.

Entretanto, até mesmo um protestante tradicional fica embaraçado diante de certos textos.

Dia desses me vi no meio de uma discussão sobre chouriço e galinha ao molho pardo. Meu oponente alegava que além do AT proibir carne de porco e sangue, o parecer de Tiago estabeleceu: “...escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (At 15.19-20). O chouriço é feito do sangue de porco e o molho pardo com sangue da galinha que é morta por sufocação.

Que leis nos sujeitam? As leis relativas às vestes? À alimentos? À votos? Não disponho de muito espaço, mas, como exemplo...

1. O AT proíbe o uso de vestes cujo tecido seja produzido com lã e linho (mistura de fibras animais e vegetais), bem como o plantio de sementes híbridas.

2. Quanto a alimentação as coisas são ainda mais complicadas: Só permite comer animais ruminantes de unhas fendidas. Da lista de aves que permite comer deduzo que são vedadas as de rapinas e as que comem carniça. Só é permitido comer peixes que tenham escamas e barbatanas. Surpreendentemente permite comer qualquer inseto da família dos gafanhotos, mas proíbe comer qualquer réptil.

3. Quem toma um voto está proibido não apenas de beber vinho como também de comer uvas e cortar os cabelos.

Será que todas essas leis obrigam os cristãos? Então, que critério se usa para dizer que as outras obrigam e essas não? O parecer de Tiago? É melhor examinar o aspecto geral. E o quadro geral nos mostra as leis sob quatro usos bem delineados:

1º - O uso cerimonial ou cúltico: Destaca-se pelos ritos do culto e pelos costumes cotidianos.

Embora muitos povos possuíssem cultos com sacrifícios, nenhum deles era sujeito à regras minuciosas como as que Deus havia estabelecido, mas conduziam seus cultos pela euforia e pelo êxtase.

E para garantir que o Culto, a Lei e a Linhagem da qual o Messias haveria de nascer, permanecessem intocados pelas práticas dos povos ao redor, Deus estabeleceu as leis dietéticas e comportamentais que garantisse o isolacionamento de seu povo.

A cruz aboliu esse culto juntamente com tudo aquilo que lhe era correlato: sacrifícios e sacrificantes. Por fim o próprio Deus se encarregou de destruir o templo.

Os cristãos entenderam então, que haviam de mudar até o dia da maior celebração: o último dia da semana. E o substituíram pelo primeiro dia deixando bem claro que as sombras acabaram e agora cultuam o verdadeiro.

Com a ordem de Jesus de ir pelo mundo inteiro as leis de segregação estavam também abolidas.

2º - O uso teológico. Mostra o quanto somos pecadores e o quanto precisamos da graça de Deus. Por esta razão que Jesus agravou o sentido da lei ao estabelecer que todo o que intencionar quebrar a lei, de fato já a quebrou.

3º - O uso civil. Devemos sempre nos lembrar de que Israel era um país e como tal precisava de leis. Muito do que Deus prescreveu eram leis civis. Elas não estavam consolidadas em Estatutos e Códigos, mas nelas encontramos o equivalente. Veja exemplos: 1º) Leis referentes a construção: Dt 22.8. 2º) Leis referentes ao comércio: Dt 25.13-16. 3º) - Lei referentes a guerra: Dt 20.5-6 e 10-15, 20.19, 23.9, 24.5. 4º) Leis trabalhistas: Dt 24.14e15 e Lv 19.13: “Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; o pagamento do diarista não ficará contigo até a manhã seguinte”.

Todas essas leis inspiraram as nossas leis atuais, que refletirão mais ou menos os princípios divinos na medida que lhes forem mais ou menos fiéis. Portanto, devemos obediência a um simples Código de Obras Municipal, em último caso, por ele refletir a vontade de Deus, que tempos atrás, já determinou que nossas casas não podem ser feitas sem qualquer cuidado de segurança.

4º - O uso revelador da vontade de Deus: Se o uso cerimonial (como culto e seus derivados) está totalmente abolido, os outros usos estão em vigor. Porém, é necessário deixar bem claro: a maldição que decorria do não cumprimento da lei caiu sobre Jesus. Estamos livres dela! Surge então o quarto uso da lei: Como filhos que amam a seu Pai buscamos entender qual é sua vontade sobre esses assuntos e a cumprimos com prazer.

Concluindo. Para nós agora está mais do que claro o quanto dependíamos e dependemos de Jesus. Como disse o apóstolo Paulo dizemos nós também: “a lei é espiritual”, pois mostra a vontade de Deus, e o que Jesus fez por nós.

Um comentário:

Anônimo disse...

Voce está ensinando que estamos livres para matar, dar falsos testemunhos, desonhar os pais, cubiçar e adulterar com a mulher do proximo, adorar ídolo. Não precisamos mais cumprir estas Leis Morais de Deus, ou seja, como voce escreveu:"Estamos livres dela"?
Favor esclarecer melhor.
Osmar Ferreira-nadanospodemoscontraverdade@bol.com.br