sábado, 24 de novembro de 2012

Ser moderno

Se olharmos nosso passado e entendermos como agíamos, aprenderemos viver melhor o presente. O mesmo acontecerá se entendermos melhor o que marcou as várias épocas da história da humanidade. Afinal nosso Senhor falou como é importante discernir a época em que se vive (Lc 12.56).

Hoje há nas diversas correntes de pensamento uma espécie de unanimidade que estamos em uma época posterior à que era chamada de Moderna. Entretanto, não há uma definição clara sobre o que seja Idade Moderna. Aliás, sequer há consenso sobre o nome. A nomenclatura antiga “Idade ou Era Moderna” já é chamada por alguns de “Tempos Modernos” ou simplesmente “Modernidade” para facilitar seu deslocamento no tempo.

Ainda no antigo curso ginasial aprendi que a Idade moderna começou com a queda de Constantinopla em 1453 e me lembro de meu professor dizendo que estávamos vivendo os tempos modernos. Meio assustado eu fazia os cálculos: “Tá demorando! Mais de 500 anos! Moderna deveria ser uma coisa de no máximo um ou dois anos”.

Em minha primeira pós graduação já se falava em pós-modernidade. E novamente pensei sozinho: “O que é isso?”

Hoje noto que, quanto mais influenciado for o historiador pela visão marxista – que vê a história sob a ótica trabalho/capital – mais recentemente ele datará a Idade Moderna. E, para meu espanto, já li autores cristãos (!) que a colocam entre a queda da Bastilha (1879) e a queda do muro de Berlim (1989).

Noto também, pelo muito que li, que uma das principais caraterísticas do Modernismo (a cosmovisão que prevaleceu durante a Idade Moderna) foi a organização. E, perceber isso, foi para mim uma espécie de chave que abriu a compreensão de muitos valores. É claro que há muitíssimas outras formas de classifica-la. Mas, por muitas circunstâncias, terei de me ater a essa.

A Idade Média era muito confusa. A Idade Moderna é (ou será que era?) organizada. Para os historiadores clássicos, que veem como marco a queda de Constantinopla, o Ocidente foi obrigado a procurar novos rumos. Por exemplo: novas rotas marítimas para manter comércio com a Índia e a China. Porém, para fazer isso, e outras coisas eles precisaram se organizar. E a organização, que já orientava o pensamento teológico – ter uma fonte, um método e buscar um fim – passou a ser usado nas outras áreas do conhecimento e nas artes em geral.

A hermenêutica medieval era caótica. De um texto tiravam muitas lições, além da literal (que muitas vezes era a de menor importância): lições alegóricas, lições morais e lições anagógicas (que provocam meditação, enlevo ou êxtase). O pensamento moderno favoreceu em muito a hermenêutica protestante que via apenas o sentido literal e sobre ele construía sua fé. Aliás, é no começo da Idade Moderna que surgem as Confissões Protestantes em que, muito mais do que o indivíduo que diz “creio”, elas dizem “confessamos” e detalham a fé com minudências características de uma nova ciência a “Teologia Sistemática”.

As artes se organizaram. A arquitetura medieval, com suas vielas curvas e assimétricas dá lugar a cidades planejadas, como Paris depois da reconstrução, em que até a altura dos prédios é estipulada (dizem que atinge seu ápice em Brasília, com setores separados para morar, trabalhar e governar).

A pintura passou a se exprimir de tal modo que às vezes parece uma fotografia atual. Tanto é que quando os impressionistas chegaram negando os traços e retratando apenas uma impressão de luz foram mal recebidos. Não tiveram melhor acolhida os cubistas nem os surrealistas. E o adjetivo “modernista” para os escultores sempre soou como ironia.

A música, que era algo meio solto, também organizou-se rigidamente em torno de temas e expressões, que, representavam o que se tinha como belo e ordeiro, chegando-se até mesmo a proibição de dissonâncias.

Ora, se isso era uma reação ao que se supunha ser o mundo desordenado da Idade Média, o Pós-modernismo é exatamente um questionamento disso: “Por que tem de ser assim?” E começa também pela teologia? “Por que: confessamos? Eu acredito diferentemente. Aliás, nem sei se acredito! E se acredito ou não, pouco importa. O que importa é o que eu sinto”. Entretanto, não é uma volta ao tempo das formulações credais, pois não se cogita no que se crê, e sim no que se sente.

A arquitetura pós-moderna passou a espelhar essa confusão ao juntar elementos de estilos diferentes em um só lugar. Apareceram construções com colunas gregas, característica da Idade Clássica, bem anterior à Idade Média, ao lado de arcos góticos, característicos da Idade Média, fechados por painéis de vidro temperado, caraterísticos da Arquitetura Moderna. Para a Arquitetura Pós-moderna pouco importa o que se usa, basta a satisfação de quem está pagando a obra.

Pintura? Quem liga mais pra isso? É melhor se fazer uma colagem sobre uma fotografia desfocada, ou revelada, ou melhor: impressa sobre PVC e obter uma superfície 3D. Assim fica mais perto do artificialismo da realidade.

Música? “Quando vem um barato, eu pego o violão e gravo o que sai. Depois escrevo as posições (sic)”. Então as gravadoras compram espaço na mídia que anuncia o “último sucesso de caipira e sertanejo” e passa a tocá-lo repetidamente e nenhum ouvido bem educado na arte de ouvir o que presta deixa de sofrer, mas as massas o cantam como se fosse uma obra prima, mesmo que seja uma coleção de bobagens.

Mas, o que tem isso a ver com a Igreja? Tudo.

Se na Idade Moderna se prezou pela clareza das formulação confessionais, na Pós-modernidade a última coisa que se quer saber é disso. Cada um que cuide de si. Aliás que não cuide. Como diz o irresponsável: “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído...”.

As doutrinas claramente formuladas se expressam em liturgias claramente definidas, e consequentemente em um culto coerente. Mas se não há definição delas, por que deveria haver definição deste? Aliás, Se não há uma definição clara dos dois qual é a razão de existir da Igreja? O que é uma Igreja? No Pós-modernismo pode ser até mesmo um clube, e, replicando a arquitetura, ter tantos estilos quantos gostos, desde que agradem os muitos fregueses.

A consequência última é a forma de governo. Se porventura houver algum, necessariamente será uma espécie de “democracia totalmente direta” e não será de se espantar que aconteça o que já se vê: Igrejas que se reúnem para determinar que rito seguirão no próximo período: Católico Romano, protestante, misto, ou outro.

Na Idade Pós-moderna ecumenismo é coisa do passado. A figura melhor que me ocorre é: salada! Pastores protestantes que não veem nada de mal em dividir opiniões com padres ou pais de santo ou com quem quer que seja. Cultos meio espetáculos, meio talk shows, meio MMA, meio qualquer coisa.

Há um compromisso então da Igreja com o pensamento moderno? Não. Entretanto, é no modo de pensar moderno que o protestantismo encontrou um terreno mais sólido, e principalmente uma ferramenta chamada “pensamento lógico” (que não nasceu nessa era, mas foi disseminada nela) para pensar sua fé diante dos dilemas mundanos e procurar viver os ensinos bíblicos nos dias atuais.

sábado, 17 de novembro de 2012

Breve relato da resistência à Palavra de Deus

Na História da Redenção os Patriarcas foram os primeiros a transmitir a vontade de Deus aos homens. Como falavam de uma posição privilegiada – eram os chefes de suas famílias – ninguém os questionava, com algumas exceções: José. Que por pouco escapou da morte, mas não de ser vendido como escravo pelos próprios irmãos. Os Patriarcas agiam de modo pessoal e falavam sem rodeios, à família e à amigos, como Jó.

Deixando Moisés de lado, por ser um caso atípico, que merece ser tratado isoladamente, o segundo grupo que aparece nesta linha são os profetas. Quer sigamos a metodologia de Pedro, que fixa Samuel como o primeiro profeta (At 3.24), quer usemos o critério do próprio Samuel e incluamos também os videntes, que já existiam no tempo dos juízes (1Sm 9.9), não há como ver um ministério diferente. Todos eles falavam diretamente e sem rodeios.

Elias e Eliseu, além de não deixarem nada escrito, eram itinerantes. Foi Samuel que conciliou esta necessidade com um endereço fixo (1Sm 7.15-17) e o primeiro a registrar. Todos sofreram perseguições e arriscaram a vida.

Com o crescimento das cidades e especialmente a centralização do culto em Jerusalém, alguns passaram a ser tipicamente urbanos, como Isaías, que vivia na corte, e Jeremias, que morava em Jerusalém apesar de possuir uma propriedade no campo (Jr 37.12). Porém, enquanto alguns moravam em cidades e exerciam algum tipo de trabalho no templo, como Isaías e Habacuque, a maioria morava em vilas e falava diretamente contra o rei, contra as autoridades e contra o povo idólatra. De príncipes como Sofonias (Sf 1.1) a boiadeiros como Amós (Am 7.14-15). Todos foram enviados por Deus “desde a madrugada” (Jr 7.27) e todos foram desprezados. Alguns até mortos (Lc 13.34).

O equivalente aconteceu também no Reino do Norte.

Nem na Babilônia foi diferente. Não conseguiam cantar o “Canto do Senhor em terra estranha” (Sl 137.4), mas ouviram os profetas lá também. Embora Daniel não tenha se dirigido diretamente ao povo, descobriu a que se referia as profecias de Jeremias (Dn 9.2) e profetizou as datas do Messias (Dn 9.24-27). Neemias foi quem falou – e até agrediu – diretamente ao povo (Ne 13.25). Deus animou Ezequiel a falar-lhes na cara dando-lhe rosto de pedra (Ez 3.4-11). E pela primeira vez, na volta do cativeiro – tirando Moisés, como já disse, e as reformas de Ezequias e Josias – o Texto Sagrado fala de multidões em busca da Palavra de Deus.

João Batista viveu em uma época mais urbanizada, entretanto imitou em tantos aspectos a vida de Elias que preferiu os desertos. E novamente o Texto Sagrado fala de multidões. Procurava-o e era conclamada ao arrependimento. Fez incursões nas cidades onde igualmente denunciava o pecado e isso lhe custou a vida.

Jesus iniciou seu ministério no ponto onde João parou: “Ouvindo, porém, Jesus que João fora preso, retirou-se para a Galileia; e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, [...] Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.12-17), ou seja: a mesma mensagem de João.

Jesus falou diretamente e em particular. E embora tenha acolhido os pecadores arrependidos, jamais deixou de repreender o pecado nem os pecadores impenitentes. Novamente o Texto Sagrado fala de multidões. Mas quando Jesus percebe que elas têm segundas intenções ele foge delas ou as repreende (Jo 6.26-27). Não preciso dizer que fim ele teve.

A narrativa dos Atos dos Apóstolos nos traz a impressão de que a Igreja era mais “multidão”, embora o relato esteja salpicado de descrições de casas. Os apóstolos confrontavam constantemente o erro e os errados, inclusive com punições físicas, como cegueira (Simão), morte (Ananias e Safira), etc. E não há uma só carta do Novo Testamento que não tenha sido escrita para combater um ou mais erros.

Dois séculos após, já dona do patrimônio pagão, a Igreja se viu com templos enormes; e o que já vinha sendo praticado com certa parcimônia – a imitação das reuniões da sinagoga – passou fazer às claras: a espontaneidade das reuniões nos lares precisou de um ordenamento maior: as liturgias. Quanto maior era o destaque que se dava as mesmas, mais a missão legada desde os profetas – reprovar o erro – era abafada. Exatamente como acontece hoje: “Vamos louvar”. Naqueles dias com cânticos polifônicos, depois gregorianos e finalmente grandes missas de enredos intrincados.

A Reforma Protestante se levantou contra esse tipo de coisas proclamando que a Palavra de Deus deve ter primazia, e, mesmo que não houvesse mais profetas, ainda havia um ministério profético, afinal a Igreja está assentada sobre eles e sobre os apóstolos (Ef 2.20) e a palavra deles devia continuar viva, e, de tal modo exposta e explicada, com o Texto Sagrado nas mãos, que se pudesse dizer como eles diziam “assim diz o Senhor”.

Para que os antigos pudessem ser ouvidos nos grandes edifícios os construtores se valeram de toda sabedoria arquitetônica em favor da acústica. Dosséis passaram a encimar os púlpito e estes, por sua vez, foram colocados o mais alto possível. A Reforma Protestante enfatizou mais ainda e suprimiu do edifício tudo o distraía a atenção de cultuava. Os sermões, antes, quase poéticos – quando existiam – passaram a ser quase preleções ou aulas. Para o protestante, entender a Bíblia era questão de salvar sua alma. Atender ao culto divino era negar-se a si mesmo e ouvir, muitas vezes de pé, a sermões com uma ou duas horas de duração. Não há a menor dúvida que além dos papistas os perseguirem, inclusive com fogueiras, foram mal entendidos e vistos como fanáticos. Mas nos legaram uma herança de temor a Deus.

Spurgeon, que viveu na segunda metade dos anos 1800, reclamava da teatralização das Igrejas inglesas. No texto clássico “Apascentando ovelhas ou entretendo bodes” ele pergunta qual é a verdadeira missão do servo de Deus: Proclamar a vontade do Altíssimo ou promover momentos agradáveis a seu rebanho e aos eventuais visitantes? Foi desprezado até por seus colegas pastores batistas das Igrejas de Londres.

Um pecador que hoje se aproxima de um púlpito deve ser inquietado por sua vida pecaminosa. Um filho de Deus aflito deve ser consolado pela graça de nosso Senhor. Mas nunca nos enganemos, tais necessidades só podem ser supridas pelas Escrituras. Mas como sempre houve, sempre haverá resistência: “prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e exorta com toda paciência e ensino. Porque chegará o tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, desejando muito ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo seus próprios desejos; e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão para as fábulas” (2Tm 4.2-4 Almeida XXI).

sábado, 10 de novembro de 2012

Olhos

Quem é acostumado a ler a Bíblia já observou que partes do corpo humano são frequentemente usadas metaforicamente. Por exemplo: as mãos. Muitas vezes com o sentido de abençoar, especialmente depois do verbo impor. Porém, se o verbo que as precede for levantar, o sentido quase sempre será oposto.

Os pés podem ser usados como expressão de vitória: “...calcarás aos pés o filho do leão e a serpente” (Sl 91.13); de humilhação: Lançou-se-lhe aos pés e disse: Ah! Senhor meu, caia a culpa sobre mim...” (1Sm 25.24).

Entretanto, há um órgão que se destaca: os olhos. Fisicamente eram tão importantes que se punia quem cegasse, mesmo que fosse a seu escravo: “Se alguém ferir o olho do seu escravo ou escrava, e o cegar, lhe dará a liberdade por causa do olho” (Ex 21.26 A-XXI).

Metaforicamente os olhos podem significar muitas coisas, a começar por entendimento “...ó povo insensato e sem entendimento, que tendes olhos e não vedes...” (Jr 5.21). Revelam até o caráter da pessoa: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!” (Mt 6.22-23).

Neste último texto o Senhor Jesus condensou todo o ensino dos antigos, para o quais os olhos poderiam revelar bondade: “Quem vê com olhos bondosos será abençoado, porque dá do seu pão ao pobre” (Pv.22.9 A - XXI). Ou inveja: “Não comas o pão daquele que tem os olhos malignos, nem cobices os seus manjares gostosos” (Pv 23.6 ARC). Isaías fala da altivez presente no olhar (2.11); e Ezequiel (16.5) fala de olhos não apiedados. Salomão promete literalmente castigo aos “olhos que zombam do pai ou desprezam a obediência da mãe...” (Pv 30.17 – ARC).

Com exceção de Jeremias 32.4 e 34.3, cuja interpretação precisa ser literal, e Gálatas 4.15, onde Paulo está falando da generosidade dos irmãos daquela igreja, a expressão “os próprios olhos” sempre significa, na Almeida XXI, conceito sobre si mesmo. A Almeida Atualizada amplia o significado. Porém, nenhuma das duas se preocupou com a literalidade de Juízes 21.25: “Naqueles dias, não havia rei em Israel e cada um fazia o que parecia reto aos seus próprios olhos”.

Abrir ou fechar os olhos pode significar muito. Em Gênesis 3.5-7, abrir os olhos significou perceber que estavam nus da graça de Deus que servia de roupas a nossos primeiros pais. Já em Isaías 6.10, reforçado por Mateus 13.15, fechar os olhos é parte do processo de não conversão, que, naquele caso, é castigo infligido por Deus.

Os olhos postos nas mãos dos senhores, mais do que atenção às necessidades deles em serviço desvelado, são metáforas das bênçãos que se espera confiadamente na providencia de Deus (Salmo 133).

Quando em Isaías promete que veremos a Deus em sua formosura (33.17), ou, em Ezequiel, o SENHOR promete que se dará a conhecer aos olhos de muitas nações (38.23), ou em outros textos semelhantes fica evidente a promessa da encarnação do Verbo.

Mesmo andando com Deus seu povo não via sua face: “Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra? [...] Então, ele disse: Rogo-te que me mostres a tua glória. Respondeu-lhe: Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do SENHOR; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer. E acrescentou: Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (Ex 33.16-20), pois o finito não compreende o infinito. Daí a necessidade dele assumir nossa natureza: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). Isso também explica todas as aparições do Anjo do Senhor, ou do próprio SENHOR, como manifestações antecipadas do próprio Cristo, seja na sarça que ardia e não se consumia, seja no alto e sublime trono visto por Isaías, ou às margens do rio Quebar conforme Ezequiel.

Ao falar dos olhos de Deus é dito que “estão em todo lugar” (Pv 15.3), como também que, “passam por toda terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele” (2Cr 16.9). Entretanto, Noé literalmente encontrou “graça aos olhos do SENHOR” (Gn 6.8) e o homem, de modo geral, pode fazer o que é certo “aos olhos dos SENHOR” (1Re 15.11) ou pode fazer o que é errado (1Re 16.25). Ezequias e Daniel pediram a Deus que abrisse seus olhos e visse o que estava acontecendo com seu povo (2Re 19.16 e Dn 9.18).

Deus declara que os pecados do povo fazem com que ele “esconda os olhos” (Is 1.15). Porém quando Deus olha para o homem o livra e o mantem (Sl 33.18). E tocar no seu povo é o mesmo que tocar “na menina de seu olho” (Zc 2.8).

Mas, o maior consolo para o filho de Deus é saber que os olhos do SENHOR o acompanham desde o ventre materno. Ele o vê e constantemente pensa preciosamente sobre ele: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda. Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles!” (Sl 139.16-17).

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Precisamos de outra Reforma hoje?

Desde que fui ordenado pastor tenho feito esta pergunta a mim mesmo e a outros pastores. Confesso que minhas respostas sempre refletiram as dificuldades do momento. Já as respostas dos pastores mais experientes variaram e a dos pastores mais novos eram quase sempre iguais: começar tudo de novo como os Reformadores no Século 16 fizeram.

No fundo, desejo alguma espécie de aperfeiçoamento ou correção de rumo, que é difícil de expressar. Talvez, se eu falar dos problemas, possa, pelo menos, dizer o que mais me aflige.

Primeiro: A seriedade com os compromissos assumidos: Ainda no Seminário o livro Reformemos a Igreja, escrito pelo Dr. Klass Runia, chamou muito minha atenção sobre a frouxidão da disciplina eclesiástica e ultimamente o livro Subscrição Confessional do Rev. Dr. Ulisses Horta Simões, enfatizando a necessidade de manter os votos confessionais, mostra a desordem que atinge desde ovelhas a pastores (e até concílios) complacentes com o erro. Não há dúvida que isso precisa ser corrigido. Ou se preferirem usar o termo: reformado.

Segundo: Uma limpeza em nossos valores, especialmente no modo de vermos o culto a Deus: É preciso também uma correção (ou reforma) que vá além de usos e costumes. Ela deve atingir os valores Católicos Romanos impregnados em nossa cultura, tão evidentes em algumas cerimônias. Já avisei a minha família que não quero velório, nem culto de corpo presente. Quem quiser se despedir de mim faça enquanto eu estiver vivo (quem sabe, eu o convencerei a ansiar pelo dia em que me encontrará à mesa com o Senhor). E se outro tiver ideia de me fazer alguma homenagem – pois em nossa cultura basta morrer para virar santo – se lembre das palavras de nosso Senhor: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17.10).

Terceiro: É preciso também, ao contrário, lembrar que muitas práticas genuinamente cristãs, não são exclusividade da Igreja de Roma e não podem ser deixadas de lado, por que “parecem católicas”. Por exemplo: Credo Apostólico, o Pai Nosso, etc.

Quarto: Precisamos ser cuidadosos com os extremos: Alguns em nome de cumprir o Princípio Regulador do Culto não oram o Pai Nosso quando o Senhor Jesus disse “Vós orareis assim”. Outros, insistem em cantar apenas os cento e cinquenta Salmos deixando de obedecer a ordem “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Cl 3.16) e preterem ricos ensinos que podem vir do restante da Escritura.

Quinto: Deixar bem claro quem somos nós: Os excessos que vemos hoje começaram quando se deixou, na prática, a doutrina Sola Scriptura (A Bíblia é a única regra de Fé e Prática). Ao aceitar-se revelações contemporâneas, abriu-se a porta para todos os tipos de invenções e chegamos ao absurdo dos sprays contra maridos infiéis ou travesseiros ungidos para provocar sonhos proféticos. Obviamente tudo vendido e bem cobrado.

Ainda dentro desse ponto é bom lembrar que hoje se reproduz com exatidão um aspecto contra o qual a Reforma do Século XVI lutou. Uma das razões para a venda das indulgências era a construção da Capela Sistina (que celebra esses dias seus 500 anos) adornada por artistas como Rafael, Bernini, Botticelli e especialmente por Michelangelo, pintor de seu teto em ousada blasfêmia de representar Deus, mas que, nem por isso, deixa de encantar muito protestantes que se declaram contra a venda de indulgências e contra a quebra do Segundo Mandamento.

Há muitas outras coisas de menor importância, que no entanto merecem vigilância, pois podem crescer e nos afetar. Acima de tudo o que deve nos servir de norte é a Palavra de Deus. Somente ela, mas em sua totalidade.