sábado, 9 de março de 2013

A última semana de Jesus

Certamente a última semana do Senhor recebeu um destaque especial de todos os Evangelistas, que gastaram, em média, 32% das palavras dos evangelhos para falar de apenas 1 das 170 semanas a que se referem na infância, adolescência e por fim, nos três últimos anos do ministério de Jesus.

Numa leitura rápida tem-se a impressão de que João é quem mais se preocupou com ela. Afinal dos 21 capítulos de seu Evangelho, 9 descrevem eventos que aconteceram naquela semana. Mas, na realidade, é Marcos, quem proporcionalmente dedica-lhe mais palavras: 36,9%. Depois João (35,3%). Em terceiro lugar Mateus (34,7%) e finalmente Lucas (22,3%). Calculei usando o texto grego majoritário.

Porém, a intensidade com que João trata esta semana se destaca dos demais ao ponto de causar a impressão de que tudo gira em torno dela. Observe, que, segundo João, após haver ceado, Jesus mandou Judas fazer o que tinha de fazer (e ele aproveitou para buscar a guarda do Templo) e João narra uma longa instrução de Jesus aos onze, inclusive sua conhecida oração sacerdotal.

Essa instrução começa com a celebração da Páscoa, que é transformada pelo Senhor na Ceia em que até hoje rememoramos a sua morte. Porém, João narra um detalhe: Jesus lavou os pés de seus alunos. E lhes ensinou: “Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes” (J0 13.12-17).

João era um dos que viviam discutindo quem seria o maior no reino dos céus. Ele e seu irmão Tiago chegaram até a constranger a sua mãe – provavelmente tia de Jesus – a pedir que se assentassem ao lado de Jesus em glória. Certamente João aprendeu a lição ao ver Jesus lavando seus pés. Embora a respeito de Tiago não haja nada escrito, seu martírio nos autoriza a pensar que aprendeu também.

Tão rica essa instrução, dificilmente pode ser esgotada nesses comentários pequenos. Mas a segunda instrução, igualmente corretiva, é fundamental: “...angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá[...] É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa. Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu a que fim lhe dissera isto. Pois, como Judas era quem trazia a bolsa, pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que precisamos para a festa ou lhe ordenara que desse alguma coisa aos pobres. Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite. Quando ele saiu, disse Jesus: Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele” (Jo 13.21-31).

O que estava por vir, as lições que ainda transmitiria aos que continuariam sua obra, não eram para os ouvidos de Judas. Por exemplo, a grande alteração que ele faz na segunda tábua, de modo a acabar com uma possível ambiguidade: Em vez de amar o próximo como amamos a nós mesmos, agora temos de amar nosso próximo como ele (Jesus) o amou: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34).

E as lições tremendas continuaram. Chegaram a nós? Claro que sim! As observamos? Essa é a pergunta que temos de fazer todos os dias a nós mesmos.

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