sábado, 20 de abril de 2013

As quatro “Grandes Comissões”

Você já deve ter notado que ultimamente tenho escrito sobre os dias finais de Jesus. Domingo passado analisei rapidamente sua ordem: pastorear. Pois bem: hoje vou falar sobre a Grande Comissão. Aliás, sobre as quatro, pois cada evangelista a narrou de um modo diferente.

Observe que Mateus (28.18-20) faz do “ide” 1) uma consequência de Jesus ter recebido toda autoridade (ou poder) no céu e na terra. 2) Que tal missão consistia em fazer discípulos batizados obedientes aos mesmos ensinamentos que Jesus havia dado a eles, o que pressupõe mais do que um simples anúncio do Evangelho.

Marcos (16.14-20) também usa o termo “ide”, mas faz dele uma prova de fé. A incredulidade grassava entre os onze. Não creram no anúncio da ressurreição feito por Madalena (v9), nem no anúncio feito pelos dois que “estavam de caminho para o campo” (v12). Agora o Senhor lhes aparece em pessoa. Censura-lhes a incredulidade e dureza de coração e lhes ordena pregar o evangelho a toda criatura e promete a companhia de sinais aos que cressem.

A de Lucas (24.44-49) ocorre em um clima dramático, pois narra a surpresa dos apóstolos ao verem o Senhor ressuscitado. Tão surpresos, que, para provar não ser um “espírito” comeu com eles. Lembrou-lhes então do que havia falado e “lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras”. Revelou-lhes então como seria feito a evangelização dos povos: começando em Jerusalém, depois que fossem revestidos de poder.

João (20.19-23) inicia o relato falando da materialização de Jesus em um cômodo trancado e paradoxalmente mostrando suas mãos e seu lado ferido. A missão que Jesus lhes dá recebe então uma analogia com a missão que o próprio Jesus recebeu do Pai. E João é o único a declarar que ele soprou sobre os onze o Espírito Santo. Até hoje há divergências sobre o significado disso: era uma ação profética – uma representação de algo que estava para acontecer (como Aías rasgou a capa de Jeroboão em 12 pedaços (1Re 11.29-32)) – ou eles receberam o Espírito Santo e no Dia de Pentecostes receberam seu poder? A seguir garante-lhes o poder de perdoar pecados ou não.

O que há de comum: 1) Todas elas ocorrem após a ressurreição de Jesus. 2) Todas são unânimes em estabelecer como alvo o mundo. 3) Todas tomam por base a autoridade de Jesus, pois é ele quem envia.

O que há de diferente: 1) Mateus destaca a promessa do Senhor de estar com eles. 2) Marcos destaca (v20) que eles conseguiram. 3) Mateus e Marcos deixam mais claro a necessidade do batismo. 4) Mateus e Marcos usam um tempo verbal muito difícil de traduzir em português. Literalmente seria: “Enquanto vocês estiverem indo”, ou também é possível: “depois que você forem”. Porém, o sentido mais forte é a certeza de que terão de ir. Daí a preferência pela tradução imperativa IDE). 5) Lucas e João deixam mais claro a necessidade da orientação do Espírito Santo. 6) Lucas é específico em dizer que eles seriam testemunhas da morte e ressurreição de Jesus e que deveriam esperar em Jerusalém o momento certo de começar. 7) João é específico em dizer que eles teriam o poder de perdoar ou reter pecados.

Concluindo: O que podemos retirar de ensino para nós? Não há a menor dúvida de que o primeiro ensino é o que pesa sobre nossos ombros: a missão de manter a Grande Comissão cumprida, já que Marcos diz que ela o foi. E Paulo confirma esse ensino (Cl 1.23). Porém, sinceramente creio que já deixamos de fazer isso a muito tempo.

O segundo ensino é que a missão que o Senhor deu aos seus apóstolos, e, por extensão, a nós, é tão rica, quanto foi sua própria missão entre nós: Houve necessidade de quatro evangelistas para descrever ambas.

Tendo como alvo o mundo, como conteúdo o Evangelho puro, nossa missão entre judeus terá um aspecto, entre gentios terá outro. Porém, será tão difícil quanto a vida de uma ovelha no meio de lobos, às vezes só conseguiremos anunciar (como Paulo fez no Areópago), às vezes conseguiremos formar discípulos que, por sua vez formem outros (como Paulo ordenou a Timóteo que fizesse).

Não teremos o mesmo poder que os apóstolos tinham, mas contamos com algo que eles não possuíam (e ansiavam ter): a totalidade da revelação escrita (lembra-se de Paulo pedindo os livros e pergaminho que ficaram na casa de Carpo?), mas certamente estaremos cumprindo uma missão semelhante a de nosso Senhor.

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