sexta-feira, 29 de novembro de 2013

C. S. Lewis e J. F. Kennedy


No dia 22 de novembro passado a imprensa nos lembrou exaustivamente do quinquagésimo aniversário da morte de J. F. Kennedy, mas não vi sequer menção do aniversário da morte de C. S. Lewis. Ambos morreram no mesmo dia. Praticamente na mesma hora.

Kennedy, presidente dos EUA, destacara-se pela pouca idade e pela apertadíssima margem de votos com que foi eleito. Tinha muitos inimigos e até hoje há quem duvide se ele foi morto por um atirador solitário ou vítima de uma conspiração.

Lewis, ao contrário, teve uma vida totalmente acadêmica. Viveu ensinando e escrevendo. Formou-se em Letras e Literatura em Oxford, e depois em Teologia e em Linguística. Lecionou em Oxford e em Cambridge e foi reconhecido como uma das maiores autoridades em Literatura Medieval e Renascentista. Escreveu mais de 50 livros, que acompanham uma grande quantidade de outros escritos (palestras, sermões, etc.).

Sua obra de formação A alegoria do Amor, é livro de referência no assunto. E, depois de sua conversão, escreveu O Regresso do Peregrino, inspirado no O Progresso do Peregrino de John Bunyan, onde narra sua própria jornada espiritual. Oito anos antes de morrer publicou sua autobiografia: Surpreendido pela Alegria.

Quando falava de sua infância e juventude Lewis se descrevia como ateu. Como um ateu feliz. E, após uma palestra, indagado sobre qual religião traria maior felicidade a seus adeptos, respondeu: “... Enquanto dura, a religião da auto adoração é a melhor. Tenho um velho conhecido, com seus 80 anos, que vive uma vida de inquebrantável egoísmo e auto adoração e é um dos homens mais felizes que conheço. [...] Como vocês sabem, nem sempre fui cristão. Não me tornei religioso à procura da felicidade. Eu sempre soube que uma garrafa de vinho do Porto me daria isso. Se vocês quiserem uma religião para ser mais felizes, não recomendo o cristianismo. Tenho certeza que deve haver no mercado algum produto americano que será mais útil”.

Embora sua visão de alguns pontos teológicos seja questionada por diversos teólogos conservadores, a teologia de Lewis é tida como ortodoxa, pela ênfase que ela dá aos ensinos básicos do Evangelho. E poucos fizeram tanto pela compreensão da cosmovisão cristã. Sua maior preocupação sempre foi mostrar que o cristianismo faz sentido e que a fé cristã alicerça-se sobre verdades totalmente demonstráveis.

Se o sistema solar foi criado por uma colisão estelar acidental, então o aparecimento da vida orgânica neste planeta foi também um acidente, e toda a evolução do Homem foi um acidente também. Se for assim, então todos nossos pensamentos atuais são meros acidentes: subproduto acidental de um movimento de átomos. E isso será verdade para os pensamentos dos materialistas como para os nossos. Porém, se os pensamentos deles forem meros subprodutos acidentais, por que devemos considerá-los verdadeiros? Não vejo razão para acreditarmos que um acidente deva ser capaz de me proporcionar o entendimento sobre todos os outros acidentes. É como esperar que a forma acidental tomada pelo leite derramado no chão, quando você deixa cair uma jarra, possa explicar como a jarra foi feita e porque ela caiu.

Às vésperas da Segunda Guerra mundial ele escreveu O Problema do Sofrimento, onde se lê: "Deus fala-nos na saúde e na prosperidade, mas, sendo maus ouvintes, deixamos de ouvir a voz de Deus. Então ele gira o botão do amplificador por meio do sofrimento e aí ouvimos o ribombar de sua voz".

Na época da guerra, quando ficção científica era verdadeira febre entre os adolescentes e jovens, ele serviu-se deste gênero para fazer uma verdadeira apologia da cosmovisão cristã: Longe do Planeta Silencioso, Perelandra e Uma Força Medonha. E, enquanto Londres estava debaixo de bombardeios e seus habitantes, cada vez mais, submersos em tristeza, a BBC encomendou-lhe palestras de rádio que esclarecessem como Deus permite que um país dito cristão, como a Alemanha, podia ser capaz de submeter outro país cristão a tão grandes atrocidades. Dessas palestras nasceu o livro Cristianismo Puro e Simples, explicando em que o cristão crê e como ele se comporta.

Após a guerra, escreveu histórias para crianças destacando as virtudes dos guerreiros em uma guerra justa em um país onde Jesus reina supremo, mas que é atacado pelo mal: as Crônicas de Nárnia (O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; O Sobrinho do Mago; O Cavalo e seu menino; Príncipe Caspian; A viagem do peregrino da alvorada; A cadeira de Prata e A última Batalha).

Sua imaginação fértil produziu livros fantásticos. Destaco dois. Primeiro: Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, em que um tentador experiente ensina a outro diabo como obter mais sucesso nas tentações. Nele qualquer cristão pode ver como é possível escapar dos miseráveis enganos do inimigo. E sobre tentações ele escreveu: ”Nenhum homem sabe quão mau é, até que tenha procurado, de toda maneira, ser bom. Uma ideia tola, mas muito atual, é a de que as pessoas boas não conhecem ou não passam por tentações. Isto é uma mentira óbvia. Só aqueles que procuraram resistir a tentação sabem quão forte ela é. Afinal de contas, você descobre a força do exército inimigo lutando contra ele, não cedendo a ele. Você descobre a força de um vento, caminhando contra ele, não se deitando no chão. Um homem que cede à tentação depois de cinco minutos, simplesmente não sabe o que teria acontecido se tivesse esperado uma hora. Esta é a razão pela qual as pessoas ruins, de certa forma, sabem muito pouco sobre a própria maldade. Elas vivem uma vida abrigada porque sempre cederam. Nós nunca descobrimos a força do impulso mal dentro de nós, até que lutemos contra ele. Cristo, porque foi o único homem que nunca se rendeu a tentação, também é o único que conhece completamente o que ela significa.

O segundo: O Grande Abismo, que mostra o céu e o inferno como uma continuidade desta vida, com ou sem Deus: "O céu não é aqui, mas começamos a vivê-lo aqui, aqui é uma espécie de ante-sala, logo sairemos dela e experimentaremos de fato o que realmente nos espera".

Enquanto Kennedy, mortalmente baleado nas ruas de Dallas, agonizava em um hospital, Lewis, em sua própria casa, já havia se encontrado com o Senhor de sua vida, sobre quem dizia: A vida cristã é diferente, mais difícil e mais fácil. Cristo diz: “Dê-me tudo. Eu não quero parte do seu tempo, parte do seu dinheiro, parte do seu trabalho. Quero você. Eu não vim para atormentar o seu ego natural, mas para matá-lo. Meias medidas não trazem nenhum bem. Eu não quero podar um galho aqui e outro ali, mas quero derrubar a árvore inteira. Entregue todo o seu ego natural, todos os desejos que você julga inocentes, bem como os que você julga iníquos. Todo o seu ser. Eu lhe darei um novo eu. Na verdade eu lhe darei o meu próprio eu; a minha vontade se tornará a sua vontade”.

4 comentários:

Josivaldo de França Pereira disse...

Excelente reverendo. Parabéns!

Anônimo disse...

matheus liasch

mt bom pastor, gostei bastante, Deus abençoe.

Marcelo Zaldini Hernandes disse...

Prezado Rev. Folton,
obrigado pelo texto tão expositivo e extraordinário sobre a vida e a obra de C.S. Lewis. Depois de sua conversão, ele parece ter dedicado à verdade do Evangelho sua pena precisa, racional e contundente.
Rogo ao Senhor que fortaleça e capacite a todos que desejem glorificá-lO com uma pena (ou um teclado) nas mãos.
Saudações cordiais cristãs.
Marcelo.

Aluisio Souza disse...

Muito bom!
C.S.Lewis foi uma grande figura.
Através de sua obra consegui compreender algumas partes do cristianismo que até então me pareciam um tanto obscuras.
Obrigado Rev. Folton pelo texto!!!