Caros amigos,
Estou em um processo de mudança para outra cidade, portanto ficarei alguns dias sem postar. Por favor, orem por mim. Espero voltar o mais breve possível com novidades no Blog.
Abraços
Fôlton
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
sábado, 29 de novembro de 2014
Despedidas
Os diversos relatos de despedidas
contidos na Bíblia, por mais pungentes que sejam, são feitos com sobriedade.
Quem de nós não sentiu, entre as linhas do texto, a dor do velho Abraão ao ser
obrigado a despedir Agar e a seu primogênito Ismael? Ou quem não surpreendeu-se
com a pronta decisão de Rebeca em acompanhar Eleazar e despedir-se de sua
família?
De fato, as despedidas são momentos
muito mais ricos do que as chegadas. Nelas, ainda que não percebamos, fazemos
uma espécie de balanço e nos preparamos para prosseguir a vida.
De tão importantes, os discursos
registrados na Bíblia por ocasião dessas despedidas foram catalogados como um
verdadeiro sub-estilo literário, onde se vê 1) a convocação dos fieis, 2)
anúncio da partida, 3) uma rememoração histórica do que Deus fez, 4) exortação
à fidelidade, 5) alertas sobre os perigos por vir, 6) promessas e palavras de
estimulo, 7) renovação de votos, 8) apresentação do sucessor e 9) oração.
Este é o esquema da despedida de
Moisés (Dt 31-33), da despedida de Josué (Js 23-24), da despedida de Samuel
(1Sm 12), da despedida de Davi (1Cr 28-29), da despedida de Paulo aos
presbíteros de Éfeso (At 20)...
Ainda que um pouco fora dessa ordem,
a segunda carta que Paulo escreveu a Timóteo também pode ser vista como um
grande discurso de despedida. Porém, o discurso de despedida por
excelência é o de Jesus conforme o registro de João (13-17).
Pois bem: depois de um período de
onze anos é hora de partir, mas não quero fazer qualquer discurso ou cerimônia
de despedida. Um adeus (onde quem fala recomenda seu ouvinte a Deus) é
suficiente.
Há algum tempo ressoa em meus ouvidos
as palavras de um velho professor: “mais importante do que a hora de chegar é
saber a hora de partir”. Mais cedo ou mais tarde todos nós partiremos. Se não
para ali, sem dúvida, para o além; e a despedida, que poderia ser controlada, e
com a qual se pode crescer, torna-se surpresa da qual dificilmente se extrai
algo de bom.
Que Deus nos poupe de tanto!
Levo a convicção, proveniente de uma
boa consciência, de que conduzi o rebanho do Senhor à pastos verdes e águas
tranquilas, tal como ele ordena a seus pastores.
Levo saudades daqueles com quem
dividi momentos de alegria e de dor, de nascimento e de morte, de admoestação e
de recuperação. Como deixar do lado de fora do coração os que moram nele? Como
esquecer-me dos que são as verdadeiras memórias?
As orações nos acompanharão e a
saudade será nossa testemunha diante de Deus.
Um último pedido: Não coloquem a
Palavra de Deus em segundo plano, pois ela é o único e verdadeiro alimento de
nossas almas e sob seu padrão é que prestaremos contas a Deus.
sábado, 15 de novembro de 2014
Palestinos e Judeus
Desde fúria cega das bombas lançadas por palestinos e por
judeus na guerra de algumas semanas atrás, até os ataques individuais feitos
pelos palestinos, com carros, tratores,
motocicletas, ou com o próprio corpo coberto de explosivos, revelam uma fúria impossível
de ser descritas.
Esse estado de beligerância, em que o ódio parece respingar,
não é novo. A Bíblia atesta sua antiguidade. O primeiro contato entre
palestinos e judeus é do tempo de Abraão. Os dois Abimeleques (provavelmente pai
e filho) relatados em Gênesis capítulo 20 e 26, que foram iludidos por Abraão e
Isaque, respectivamente, eram filisteus.
É bom lembrar que a palavra “palestina” se deriva da palavra
hebraica para invasor, ou divisor (a mesma que deu origem a Pelegue, filho de
Heber (Gn 10.25), que nasceu quando a terra foi repartida). A palavra tem duas
formas: uma com P, originária do hebraico (de onde vem a forma portuguesa “palestinos”)
e outra com F do árabe, que não possui o som P (de onde vem a forma ladina “filistines”
e francesa “Philistins”). Eles invadiram a região que a Bíblia chama de
filístia, vindo de Caftor (Creta). Veja o que diz o profeta Amós (9.7): “Não fiz eu
subir a Israel da terra do Egito, e de Caftor, os filisteus”?
Parece que na época do êxodo já eram belicosos, pois Moisés
registra que Deus não conduziu Israel pelo caminho mais curto, da terra dos
filisteus, para que “o povo não se arrependa, vendo a guerra, e torne ao
Egito” (Ex 13.17).
Certamente naqueles dias eles já habitavam a Faixa de Gaza,
pois o mar daquela região era conhecido como o “mar dos filisteus” (Ex 23.31) e
em Dt 2.23 encontramos: “também os
caftorins que saíram de Caftor destruíram os aveus, que habitavam em vilas até
Gaza, e habitaram no lugar deles”.
Eram descritos como povo valente, forte e alto (Dt 2.20-21)
e, quando Josué estava velho, Deus se referiu ao lugar em que viviam, como
terra “não conquistada” (Js 13.2). Diz também que os cinco príncipes filisteus
– “o de Gaza,
o de Asdode, o de Asquelom, o de Gate e o de Ecrom” (Js 13.3) –
foram deixados pelo SENHOR, para “provar a Israel” (Jz 3.1-3).
Durante os 400 anos dos juízes houve muitos enfrentamentos.
Sangar, um dos juízes, notabilizou-se em luta contra eles (Jz 3.31), mas Israel
chegou a adorar seus deuses (Jz 10.6). Quem mais se destacou na luta contra
eles foi Sansão, que, apesar de casado com uma filisteia (Jz 14.1-4), os
enfrentou: incendiou suas plantações (Jz 15.3-6) e arrancou os portões de Gaza,
a principal cidade deles (Jz 16.1). Traído por Dalila, que estava a serviço
deles, foi preso. Furaram seus olhos e o levaram, como trofeu, para o templo do
principal deus do panteão filisteu, Dagom. Lá conseguiu derribar os pilares do
templo, matando seus príncipes (Jz 16.19-30).
Nos dias de Samuel os filisteus tomaram a Arca da Aliança e
a colocaram no templo de Dagom como despojo. Deus os castigou tanto que a enviaram
de volta. Nos dias de Saul não deram trégua.
Dominavam os arredores com armas
de ferro, o que lhes dava grande vantagem. Cerca de setenta anos depois de
Sansão apareceu o filisteu Golias, que foi morto por Davi. E alguns anos depois,
na luta contra eles, desesperado, o primeiro rei de Israel, Saul, se matou.
O segundo rei de Israel, Davi, além de vitórias sobre eles,
obteve o respeito de alguns ao ponto de serem usados como seus guardas pessoais
(veja 2Sm 8.18, 15.18,
20.7, 20.23 na versão
Almeida Corrigida que fala de Peleteus: uma derivação da palavra filisteus:
provavelmente uma tribo menor dentre eles).
Continuaram inimigos dos demais reis de Israel e de Judá.
Algumas vezes Israel os dominava (2Cr 17.11), outras vezes era vencido (Is
9.12).
O território chamado de filístia (terra dos filisteus) é
também chamado de Faixa de Gaza, tendo a cidade de Gaza por Capital, sendo que
seus limites variaram com o tempo. Gaza, de modo particular, e os filisteus, de
modo geral, foram objeto das profecias de Jeremias (47.1-7), Amós (1.6-7),
Sofonias (2.4) e Zacarias (9.5-6).
No período inter-testamentário sabemos que a cidade de Gaza foi
vencida e ocupada sucessivamente por Alexandre, o grande, por Jonatas Macabeu e
por seu irmão Simão. Por Alexandre Janeu, por Pompeu (que a submeteu à
jurisdição romana da Síria) e por Gabínius, que após destruí-la totalmente reedificou-a
em outro lugar.
A palavra filisteu(s) não aparece no Novo Testamento, mas
foi na estrada de Jerusalém a Gaza que Filipe encontrou o Eunuco de que Lucas fala
(At 8.29-40).
Apesar de grandemente danificada pelos judeus em 65 AD, Gaza
chegou a ser, décadas depois, um bispado cristão e em 634 caiu sob o domínio muçulmano.
Não encontramos em toda Bíblia uma só profecia, promessa,
bênção ou boa palavra sobre o futuro dos filisteus. Ao contrário, são muitas as
profecias sobre a ira do SENHOR e sua espada sobre eles. Porém, hoje sabemos
que em Cristo eles também serão tornados filhos de Abrão. Aí entenderemos o
significado da profecia de Isaías: “Uiva, ó porta; grita, ó cidade; tu, ó Filístia toda,
treme; porque do Norte vem fumaça, e ninguém há que se afaste das fileiras. Que
se responderá, pois, aos mensageiros dos gentios? Que o SENHOR fundou a Sião, e
nela encontram refúgio os aflitos do seu povo” (Is 14.31-32).
sábado, 8 de novembro de 2014
Os que vos presidem bem
Depois do dia de Pentecostes alguns
convertidos permaneceram em Jerusalém e muitos voltaram para suas cidades de
origem onde estabeleceram igrejas. Este deve ter sido o início de Igrejas como
a de Roma. Lucas nos informa (At 28.13-14) que encontraram “alguns irmãos” em
Putéoli (próximo a atual Nápoles) e que foram recebidos pelos crentes de Roma
na Praça de Ápio.
Até o fim do primeiro século
temos notícias de pelo menos 50 igrejas em diversas cidades desde Jerusalém a
Roma. Dentre essas, temos detalhes em Atos dos Apóstolos, das igrejas na Galácia,
Filipos, Tessalônica, Corinto e Éfeso e pelas cartas de Paulo sabemos algo das
igrejas em Colossos, Laodicéia e Creta. O Apocalipse fala das 7 igrejas na Ásia
menor.
Portanto, em cerca de 60 anos –
de 40 a
100 AD – podemos catalogar umas cinquenta igrejas diferentes, fundadas em
situações diferentes, em cidades diferentes, falando idiomas diferentes, com poucas
coisas em comum: todas dentro do império romano e todas usando um sistema de
governo semelhante.
Sobre essa primeira
característica comum, veja aqui uma análise que fiz em agosto de 2011. Quanto à segunda
característica, Lucas nos diz que a Igreja de Jerusalém tinha Apóstolos (At
8.1, 11.30, 15.1, etc.) e
presbíteros (At 15.1). Também tinha diáconos, pois os 7 homens (At 6.1-7) foram
eleitos com missão de servir às mesas.
O ofício de Apóstolo foi tão restrito aos Doze chamados por Jesus, quanto o
patriarcado foi restrito aos filhos de Jacó. Além dele temos apenas Matias e
Paulo (que, como os dois filhos de José, foram agregados ao patriarcado
também). Os textos em que outros são chamados apóstolos (Barnabé em At 14.14 e Tiago, o irmão do Senhor, em
Gl 1.19) são claramente lato sensu.
Seria como dizer que Moisés e Josué foram patriarcas de Israel. Só houve uma
substituição entre os doze: Judas. Quando o último apóstolo morreu considerou-se
extinta a época deles e os que ousaram identigicar-se como apóstolos foram
expostos como obreiros fraudulentos, ministros de Satanás (2Co 11.4-15) e mentirosos
(Ap 2.2).
Os presbíteros são explicitamente mencionados nas Igrejas de Listra,
Icônio e Antioquia (At 14.21-23), Éfeso (At 20.17), Creta (Tt 1.5) e nas
diversas igrejas do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1Pe 5.1 em
conjunto com 5.5). A palavra presbítero basicamente significa idade mais velha,
porém seu uso mais comum refere-se à maturidade. A Septuaginta (tradução grega
do Antigo Testamento) usou diversas palavras derivadas da raiz presb: velhos (Sara e Abraão), ou líderes
(os auxiliares de Moisés). No Novo Testamento (NT) refere-se aos membros do
Sinédrio, aos seres celestiais do Apocalipse, e principalmente a certos líderes
cristãos, encarregados de supervisionar e pastorear a Igreja (At 20.28, 1Pe 5.1-3, etc.).
A palavra diácono aparece 34 vezes (5 vezes na Septuaginta) com o sentido
básico de serviço (os servos no Livro de Ester, o maior no reino dos céus, os
serventes na festa de Caná, etc.) Porém, em cinco lugares ela claramente
refere-se a um ofício na Igreja (os que preenchem as qualificações dadas a
Timóteo (1Tm 3.8-10) e aquele a quem a Carta aos Filipenses foi endereçada (Fp
1.1). Os primeiros diáconos foram eleitos na Igreja de Jerusalém (At 6.1-6).
O texto bíblico menciona bispos nas Igrejas de Éfeso e FIlipos e
indiretamente na de Creta (quando Tito recebe instruções). A palavra episkopos e suas correlatas (de onde
veio nossa palavra bispo) era usada desde a Grécia clássica para designar
aquele que supervisiona, superintende, vela ou vigia por algo (Artemis vigiava
pela fidelidade dos contratos). É mais usada na Septuaginta (14 vezes) sempre com
o sentido de ter o encargo de, comandar, superintender, inspecionar, do que no
NT (5 vezes) onde significa basicamente pastorear. De todas as vezes fica a
impressão de um presbítero que tinha uma incumbência específica.
É notável que durante todo esse
tempo, em uma área com quase 5 mil quilômetros de extensão, igrejas de
nacionalidades e idiomas tão díspares,
possuíssem forma de governo tão semelhante. Não pode ter sido apenas
coincidência. Creio que a Doutrina dos Apóstolos incluía também uma alusão ao
sistema de governo do Antigo Testamento em que os presbíteros já estavam
presentes e os diáconos possuíam missão análoga à dos levitas.
Os presbíteros, que
supervisionassem bem, deveriam ser dignos de honra (ou honorários) dobrados,
especialmente os que se dedicassem ao estudo da Palavra de Deus e ao ensino
(1Tm 5.17). Deveriam ser tidos em alta conta, ter sempre um voto de confiança
diante de denúncias isoladas (mas, quando culpados, a disciplina deveria se
pública, diante de todos).
Não podemos esquecer que eles
receberam exortações pungentes sobre como exercer seus ofícios: Paulo diz que
eles deveriam ter vidas tão ilibadas ao ponto de não serem passíveis de
qualquer repreensão. Deveriam ser maridos de uma só mulher e pais de filhos
dóceis. Irrepreensíveis, também, ofício do presbiterato. Afáveis, pacíficos,
generosos, hospitaleiros, sóbrios, apegados à doutrina cristã, dispostos a
defendê-la e a promover sua aplicação. Pedro ordena-lhes atender o rebanho com
dedicação e liberalidade sem segundas intenções, especialmente financeiras. E João
diz que devem ser comprometidos com a verdade.
Todas as qualidades estão
relacionadas a cuidado e nenhuma delas a desempenho. Diferentemente de hoje, os
líderes do povo de Deus, não são executivos dirigindo uma empresa ao sucesso.
São homens santos cuidando de um rebanho que não lhes pertence.
sábado, 1 de novembro de 2014
Davi e os Salmos
No fim de sua adolescência, Davi recebeu de seu pai, a
incumbência de levar alimento para seus irmãos que estavam no campo de batalha.
O capítulo 17 do primeiro livro de Samuel nos conta que os dois exércitos
estavam acampados em lados opostos de um vale, no qual o maior guerreiro dos
filisteus, com quase 3
metros de altura, se apresentava diariamente e insultava
o exército de Israel desafiando a que alguém o enfrentasse. O soldado mais alto
de Israel era exatamente o rei Saul, que, como seus soldados, estava
amedrontado.
Indignado com o medo de seu exército e com os insultos do
guerreiro filisteu, Davi aceitou seu desafio. Era uma verdadeira temeridade: ele
ainda era “um menino ruivo com bochechas rosadas”.
Tomou 5 pedras no riacho e
encarou o filisteu que irado perguntava: “sou acaso algum cão?”. Davi o venceu
com uma pedrada na testa.
Após sua impressionante vitória, Davi passou a morar no
palácio de Saul e tornou-se seu principal comandante. Foi aclamado e cantado
como herói e destacou-se tanto que Saul passou a nutrir-lhe ciúmes e diversas
vezes tentou matá-lo.
A vida de pastor ficou para trás. As guerras tornaram-se sua
principal obrigação. Entre essa infância quase idílica, em que os maiores
perigos eram os animais do campo, e uma juventude de dificuldades e guerras,
Davi encontrava alento na música. Setenta e três, dos cento e cinquenta Salmos,
foram compostos por ele. E, tenho por certo, que a maioria dos que ele compôs,
compôs em sua velhice.
Veja, por exemplo, o Salmo 23. Exala saudades. É como se
Davi, já velho, vendo o que Deus lhe permitiu fazer à Israel, seu segundo
rebanho, relembrasse os cuidados que ele tinha com o rebanho de ovelhas de sua
adolescência: Como nada faltava a meu rebanho, assim as ovelhas do SENHOR de
nada têm falta. Como protegi meu rebanho assim Deus nos protege. Levei minhas
ovelhas às boas águas e aos bons pastos, assim o SENHOR também faz. As veredas
pelas quais conduzi minhas ovelhas foram apenas um vislumbre das “veredas da
justiça” pela qual ele nos conduz. E como eu as protegi, mesmo nos locais em
que a morte fazia sombra, ele nos protegeu também nos momentos mais perigosos.
E assim, Davi, pastor de dois rebanhos, relembrava-se e
fazia de suas lembranças canções de louvor ao SENHOR.
No Salmo 139, além de seus dotes artísticos, aparece também
sua teologia. Observe que é uma teologia profundamente arraigada em sua
experiência com Deus. Ele começa falando do conhecimento de Deus e o expressa com
os verbos sondar, saber, penetrar, esquadrinhar e cercar. Aquilo que ninguém
conhece (a palavra não falada), é inteiramente conhecida por Deus. E, como conclusão,
ele exclama: ”Tal conhecimento é
maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir”.
Seu segundo assunto é a onipresença de Deus e ele a expõe argumentando
hipoteticamente sobre a impossibilidade de esconder-se de Deus: “Para onde me ausentarei de teu Espírito? Para
onde fugirei de tua face?”. E a seguir propõe dois contrastes: O primeiro
entre o mais alto e o mais baixo e o segundo entre o que está mais a leste e o
que está mais a oeste.
Deus é Senhor do mais alto, dos céus (ou da vida), do mesmo
modo que é Senhor do mais baixo, do profundo abismo (ou da morte). Igualmente é
Senhor de qualquer lugar que possamos ir desde o nascente (alvorada) ao por do
sol (noite).
Ele continua olhando a si próprio no terceiro assunto: a
onipotência de Deus. Deus, literalmente, tomou posse de seus rins (lembre-se de
que nesta época os rins eram vistos como hoje vemos o coração: órgão vital) e o
teceu no ventre de sua mãe. Sendo que nesse local secreto, os ossos que ainda
permanecem em segredo para todos nós, estavam claros e acessíveis a Deus. Antes
de seu corpo ter um formato definido, Deus já havia formatado todos os seus
dias, pensando muitíssimas vezes o que há de mais precioso a seu respeito.
Pois bem: como é que um Deus tão impressionante como este
pode ser desdenhado? Como pode haver que seja seu inimigo? O que é que ele deve
fazer a respeito de quem, dentro do povo de Deus, o aborrece?
Lembre-se que Davi era o representante máximo de Deus sobre
Israel.
O ódio que Davi tinha desses ímpios era tão grande que ele
teme pecar. Então ora: “Sonda-me, ó Deus,
e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em
mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”.
sábado, 4 de outubro de 2014
As Sagradas Escrituras sempre foram claras em
falar da natureza heterogênea da Igreja. Por exemplo: "Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do
velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz
para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não
pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita,
escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos. Revesti-vos, pois, como eleitos
de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de
humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3.9-13).
Essas ordens pressupõem
a existência de tensões expressas através de mentiras e de malquerenças entre
pessoas de nacionalidades (gregos, judeus, citas, que eram originários da
Citia, região próxima ao Mar Negro, atual Cazaquistão) e condições sociais
diferentes (escravos ou livres).
Isso era
consequência da vida que eles tinham antes. Agora, a nova vida em Cristo os
possibilita a não mentir e a “vestirem-se” de misericórdia, bondade, humildade,
mansidão e longanimidade.
Dando instruções à
seus discípulos, o Senhor Jesus advertiu contra problemas entre os membros da
Igreja: “Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele
só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda
contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três
testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à
igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e
publicano.” (Mt 18.15-17).
O próprio Senhor
sabia que dentro da Igreja surgiriam desentendimentos. Afinal, apenas nosso
espírito (que está pronto) foi regenerado. A carne (que é fraca) aguarda a
ressurreição. Portanto, na medida em que a carne se sobressai os
desentendimentos (e até brigas) passam a fazer parte da vida dos membros da
Igreja.
E para resolver
tais problemas o Senhor Jesus aponta dois caminhos: arguir o irmão ou
denunciá-lo à Igreja.
Essa arguição,
preconizada pelo Senhor, pressupõe o desejo mútuo de paz. O errado admite seu
erro e o ofendido o perdoa. A frase “ganhaste
teu irmão” indica que o objetivo da arguição deve ser positivo
(restaurar, redimir) e não simplesmente repreender ou confrontar por
confrontar. Certamente o Senhor tinha em mente o mandamento: “Não
guardem ódio contra o seu irmão no coração; antes repreendam com franqueza o
seu próximo para que, por causa dele, não sofram as consequências de um pecado”
(Lv 18.17 NVI).
A recusa do
faltoso leva a solução do problema à uma segunda etapa. Desta vez com uma ou
duas testemunhas. O texto não deixa claro se o papel das testemunhas será observar
e atestar a disposição do ofendido a corrigir o desentendimento ou pressionar o
faltoso a admitir seu erro, ou ainda, as duas coisas. O certo é que algo que
estava sendo tratado privadamente tornou-se público.
A terceira recusa
do faltoso leva o problema a outro foro:
a Igreja. A interpretação imediata é que o faltoso seja denunciado à
congregação, porém eu creio que é possível entender-se também à liderança da
Igreja. Veja 1Co 6.5: “Para vergonha vo-lo digo. Não há,
porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da
irmandade?”. Nas Igrejas Presbiterianas o conselho de presbíteros
recebe a queixa e transforma-se em tribunal para julgar o caso.
Finalmente, a
quarta recusa do faltoso leva a uma ação drástica. Atualmente há duas interpretações
para a expressão “considera-o
como gentio e publicano”. A primeira defende que a igreja apenas mude seu modo
de tratar com o faltoso: como se ele fosse um descrente. Uma paráfrase bíblica
diz: “se ele também não ouvir a igreja, comece do zero, tratando-o como um
descrente: alerte-o da necessidade de arrependimento e ofereça outra vez o amor
perdoador de Deus” (A Mensagem).
Certamente essa é
uma péssima exegese, pois além de introduzir diversos assuntos estranhos ao
texto original descaracteriza o que o Senhor Jesus estabelece como uma pena
pelas muitas recusas do faltoso.
A segunda
interpretação, ao contrário, vê este tratamento como uma pena imposta ao
ofensor (seja pela congregação, seja pela liderança), que deve ser observada
por toda Igreja.
Ser tratado como
gentio e publicano é o mesmo que excluído da comunhão com o povo de Deus.
A existência de
conflitos na Igreja nos dá, pelo menos, duas lições: 1) É uma organização de
pecadores que procuram viver uma vida cada vez mais santa, e 2) Ela se submete
ao seu Senhor. Tanto para dizer quais coisas estão erradas, quanto para
resolver o erro.
sábado, 27 de setembro de 2014
Caim e o verdadeiro culto
O que Caim esperava ganhar com a morte de seu irmão Abel?
Mais riquezas? Mais respeito diante de seus pais ou de seus outros irmãos? Mais
aceitação diante de Deus? Absolutamente nada. Mas, ele o matou. Por despeito e
por vingança o matou. Vingou-se de que? De seu irmão ter feito um culto que
agradou a Deus.
Os dois irmãos foram criados juntos e o que os distinguia
era apenas a idade e a profissão. Caim, mais velho e mais experiente, lavrava a
terra e dela tirava os frutos. Abel, mais novo, cuidava de ovelhas. Porém ambos
foram criados pelos mesmos pais e certamente conheciam as determinações de Deus
que lhes providenciou vestimentas de peles no lugar dos aventais de folhas que
fizeram.
Certamente ambos se vestiam assim e assim compareciam em
culto diante de Deus.
Como está escrito, “no fim de uns tempos...” eles
foram cultuar a Deus por si mesmos. Sem a presença nem orientação dos pais.
Esse gesto, que deixa qualquer pai moderno feliz, foi o ensejo para a desavença
entre o lavrador e o pastor de ovelhas. Os dois só estavam de acordo na
necessidade de cultuar a Deus: Caim, o lavrador, apresentou o fruto da terra e Abel
apresentou as primícias e o melhor de seu rebanho.
O escritor da Carta aos Hebreus destaca a fé: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício
do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de
Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda
fala” (Hb 11.4).
O Apostolo João destaca o amor: “Porque
a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos
outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por
que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas”
(1Jo 3.11-12).
Creio que a falta de fé levou Caim a um culto errado e a falta
de amor a uma atitude errada.
Se os dois já sabiam que Deus determinara vestirem-se de
peles – o que, sabemos hoje, era o prenúncio dos sacrifícios da Antiga Aliança
e um tipo do sacrifício de nosso Senhor – como Caim poderia cultuar a Deus por
suas forças, ou por qualquer outro modo não ordenado por Ele?
Caim deveria acreditar (ter fé) que era necessário apenas, e
tão somente, o que Deus havia determinado, mas, ao contrário, orgulhosamente (sem
amor) apresentou o que seu braço lhe alcançou: semeou, cultivou, colheu e
transportou (seu irmão sequer precisou carregar a vítima).
O primeiro assassinato aconteceu por razões litúrgicas!
O correto obedeceu a Deus e foi aceito. O errado tentou
fazer conforme sua própria vontade e foi rejeitado. O que seria de se esperar
senão que o errado se arrependesse e passasse a fazer o certo? Entretanto o que
ele fez? Matou quem estava certo!
Não é a toa que Judas nos fala do “caminho de Caim” (Jd 1.11).
Por ele andam muitos. E, até hoje, andam por ele todos aqueles que tentam
cultuar a Deus “segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de
Satanás ... sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não
prescrito nas Santas Escrituras”, como nos resume nossa Confissão de Fé.
Mas, voltando a pergunta inicial: Por que matou seu irmão?
Matou porque seu irmão agradou a Deus com um culto simples. E o dele, tão
trabalhoso, recebeu o desagrado de Deus.
Parece que o pecado “emburrece” o pecador. Você se lembra da
Parábola dos Lavradores Maus? Desde quando matar o herdeiro lhes garantiria a
herança? Desde quando é possível agradar a Deus fazendo o que ele não ordenou
que fosse feito?
Sabemos que, por adorarem a criatura em vez do Criador, Deus
entregou os homens a paixões infames para desonrarem-se mutuamente, homens com
homens, mulheres com mulheres. Pois bem: Caim nos mostra que o culto errado nos
leva à falta do amor verdadeiro.
sábado, 20 de setembro de 2014
A intenção e a prática
No Sermão do Monte o Senhor Jesus nos advertiu para um
aspecto do pecado que geralmente não é levado em conta: a intenção. E, dos
exemplos que ele usa dois se destacam: não matarás e não adulterarás.
No primeiro exemplo o Senhor nos ensina que não é necessário
chegar às vias de fato, e tirar a vida de alguém, para quebrar esse mandamento.
Basta nos irarmos, sem motivo, contra ele. Diante de Deus a intenção de matar é
tão concreta quanto o assassinato em si. É claro que quem passa da intenção e pratica
o assassinato “cristaliza” seu pecado e torna-se réu de pecado maior.
No segundo exemplo o Senhor nos ensina que não é necessário
relacionar-se sexualmente com uma mulher para cometer adultério. Basta “olhar
com intenção impura” e o mandamento terá sido quebrado.
No primeiro o Senhor está condenando o que hoje é chamado de
“crime de ódio”. Entretano, no segundo está condenando algo que hoje é mostrado
como desejável: a sensualidade.
Os que ficam irados com facilidade (os de “pavio curto”)
devem vigiar-se muito mais e, submeter-se às orientações da Palavra de Deus; igualmente
os que ficam abrasados com facilidade. Enquanto o pecado estiver na fase da
intenção o resolveremos com Deus, mas quando ele se materializa, além de
ofendermos a Deus, ofendemos também a nosso irmão.
Condenando também nossas intenções o Senhor nos mostra que ninguém
está isento do pecado. Pecamos não apenas através de nossos atos (palavras ditas
ou ações realizadas), mas também através de nossos pensamentos. É muito
provável que nunca tenhamos tirado a vida de quem quer que seja, mas quem de
nós pode dizer que nunca ficou irado contra alguém? É possível encontrar quem
nunca tenha mantido relações sexuais fora de seu casamento, mas é impossível
encontrar quem nunca tenha olhado para uma mulher “com intenção impura”.
Talvez este último exemplo nos mostre com clareza uma das
grandes diferenças entre os valores do cristianismo e de nossa sociedade. Veja:
1º - No pensamento moderno o que se faz com a própria vida não é da conta de ninguém. E, se houver consentimento mútuo, ninguém tem nada a ver com o que um casal faça. Entretanto não é assim diante de Deus. Para o Senhor, que tem autoridade sobre nós, pois além de nos ter criado, nos redimiu da condenação a que estávamos sujeitos, atentar contra a vida de alguém, mesmo que seja apenas em pensamento, já nos torna réus de um crime contra a vida. Para o Senhor, que nos comprou com seu sangue, manter um relacionamento sexual com quem ainda não nos casamos ou com quem está casada(o) com outra pessoa, mesmo que seja apenas na imaginação, ou fantasia, já nos faz impuros.
2º - O Senhor se referiu a mulheres porque estava falando à homens. O inverso é verdadeiro: olhar para um homem com “intenção impura” já é o suficiente para que uma mulher quebrar o “Não Adulterarás”.
3º - A intenção impura decorre da não existência de casamento. É simples assim: para o cristão a prática sexual só pode realizar-se dentro de um casamento. Fora do casamento a única opção é a abstinência (inclusive de intenções). O casamento santifica a prática sexual inclusive os desejos.
4º - O contexto é heterossexual, pois a homossexualidade em si já é outro pecado.
5º - O casamento resolve de modo santo as tendências heterossexuais e as transformas em glória ao Criador. Porém, a simples consumação das tendências homossexuais ofende ao Criador por ir de encontro ao seu projeto.
Embora todos nós tenhamos tendências homicidas ou adúlteras,
graças a Deus, pouquíssimos de nós as praticam de forma contumaz. A Igreja tem
obrigação de acolher quem luta contra essas tendências, ou quem, chegando a
praticá-las, se arrependeu e quer viver vida nova. A Igreja de Corinto nos dá o
exemplo: ”Não
vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem
sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem
roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos
lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor
Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.9-11).
Mas, além de acolher os arrependidos, salvos pelo Senhor, pela
glória de Deus, pelo bem dos que lutam contra tais dificuldades, e pela pureza
do rebanho, a Igreja tem o dever de manter-se vigilante contra os impenitentes que
agem de forma contumaz.
sábado, 13 de setembro de 2014
Ezequiel, Isaías e Apocalipse
Não é de hoje que alguns estudiosos apontam semelhanças
entre o Apocalipse de João e o Livro do Profeta Ezequiel (Para uma lista
completa veja o artigo de David Chilton,
“Apocalipse, Ezequiel e o Lecionário”, que pode ser achado em www.monergismo.com). Essas semelhanças podem
ser diretas (quando as palavras são praticamente as mesmas) ou indiretas
(quando o texto de João suscita apenas uma lembrança do texto de Ezequiel). A
seguir, listo alguns exemplos, que eu mesmo escolhi, de semelhanças diretas.
1 - O livro selado por dentro e por fora, doce aos
lábios (e, para João, amargo ao estômago),
descrito nos capítulos 5 e 10 de Apocalipse, pode ser visto em Ez 2.8 – 3.3.
2 - O trono de Deus, descrito em
Ap 4, é muito parecido com o que é descrito no capítulo 1 de Ezequiel.
3 - O povo
de Deus é marcado na fronte, tanto em Ap 7.2-8 quanto em Ez 9.1-8.
4 - Em
ambos (Ap 11.1-2 e Ez 40 – 43) o Templo é medido.
5 - Em
ambos um banquete terrível (das carnes dos comandantes e dos príncipes da
terra) é oferecido às aves do céu (e aos animais do campo, em Ezequiel): Ez
39.17-20 e Ap 19.5-21.
6 - Nos
dois há uma “primeira ressurreição”. No apocalipse, são aqueles sobre os quais
a segunda morte não tem poder (Ap 20.4-6) e, em Ezequiel, o vale de ossos secos
do capítulo 37.
7 - Com
exceção das listas genealógicas de Gênesis e de Crônicas, Gogue e Magogue só
são citados em Ezequiel e no Apocalipse. E em ambos como inimigos do povo de
Deus (Ap 20.7-9 e Ez 38 e 39).
8 - Em
ambos há uma descrição muito semelhante do que João denomina de “Nova
Jerusalém” (Ap 21 e Ez 40 – 48).
9 - João descreve
(Ap 22.1-5) o Rio da Vida de modo muito
parecido com o rio descrito por Ezequiel (Ez 47).
Há muito
mais! Entretanto, o que pretendo destacar, além da possibilidade de João ter
usado o livro de Ezequiel, é que ambos tenham descrito as mesmas realidades. Ou
seja: Ambos descrevem a mesma realidade.
Antes dos
dois, Isaías também já havia descrito o trono de Deus, mas ainda não vi quem
dissesse que Ezequiel usou o Livro de Isaías. Observe que, em cada uma dessas
descrições, os detalhes dos arredores do trono são minuciosos, mas as
descrições daquele que ocupa o trono é pouquíssima (ou inexistente) e muito
cuidadosa.
Em Ezequiel
(1.1-14) as figuras são: Vento tempestuoso, grande nuvem com fogo a revolver-se,
com o redor resplandecente e algo brilhante como metal em seu interior. Quatro
seres viventes, que saem da nuvem, tendo a aparência geral de homem, luzindo
como o bronze polido, parecidos com “carvão em brasa à semelhança de tochas”, com os pés parecidos a pés de bezerro e as pernas retas. Cada um
possuía quatro asas e quatro rostos (homem, leão, boi e águia), de modo que não
se viravam, mas estavam sempre andando para frente. Ziguezagueavam como
relâmpagos.
A “aparência da glória
do SENHOR” é descrita (1.26-28) assim: Em uma
espécie de trono de safira “uma figura semelhante a um homem” como metal
brilhante, como fogo resplandecente ao seu redor, como o arco-íris.
A reação de
Ezequiel: “caí com
rosto em terra e ouvia voz de quem falava”.
Em Isaías
as figuras são: trono rodeado de serafins (ardentes) que possuíam seis asas e
voavam ao redor gritando uns para os outros: “santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a
terra está cheia da sua glória”.
O Senhor é
descrito apenas por sua roupa e por sua presença (enchendo o templo de fumaça e
fazendo tremer os alicerces).
A reação de
Isaías foi: “Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de
lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos
viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!”.
No
Apocalipse além dos elementos comuns aos relatos de Ezequiel e de Isaías há
também elementos novos:
1 - Diferentemente
de Ezequiel, João não revela do que o trono é feito (e transmite uma leve
impressão de que foi montado ali para aquela ocasião). Semelhantemente a
Ezequiel, João descreve um arco-íris ao redor do trono, porém com o aspecto de esmeralda.
2 - Além de
Ezequiel e Isaías, João fala de vinte e quatro anciãos, assentados em vinte e
quatro tronos, vestidos de branco portando coroas de ouro. Fala também de sete
tochas de fogo, “que são os sete Espíritos de Deus” e, lembrando Ex 24.10, de um “como que mar de vidro, semelhante ao cristal”.
3 - Semelhantemente
a Ezequiel, João descreve quatro seres viventes. Cada ser vivente tem um rosto
só (de leão, de novilho, de homem e de “águia em voo”). A tarefa
deles é semelhante a dos serafins descritos por Isaías: “... não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo,
Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há
de vir”. E, como os serafins, possuem seis
asas (diferentemente dos querubins Ezequiel, que possuem quatro asas). João acrescenta
nesses seres viventes a existência de olhos, “ao redor e por dentro”.
O que se
assenta no trono, diferentemente da descrição de Ezequiel, tem um aspecto mais
mineral (jaspe e sardônio – pedras avermelhadas) do que metálico.
Na
disposição do texto há outras semelhanças entre Apocalipse e Isaías: Antes da
visão do trono do Senhor, nos capítulos 1 a 5, através de muitas repreensões e
exortações e “ais”, Isaías descreve a pecaminosidade de Judá. No Apocalipse os
capítulos 2 e 3 mostram o estado de 7 Igrejas, com advertências e elogios a
seus “anjos”.
No capítulo
6 de Isaías e no capítulo 4 de Apocalipse temos as fantásticas descrições do
trono de Deus, seguidas de imprecações e castigos sobre Judá (em Isaías) e sobre
o mundo (em Apocalipse).
O clímax do
texto de Isaías está no perdão de seus pecados com a brasa trazida pelo
querubim, no texto de João está na abertura do livro selado por dentro e por
fora. Ou seja: Isaías vê o trono de Deus e se vê perdoado. João vê o trono de
Deus e o Cordeiro abrindo o livro cujos selos correspondem a tragédias castigando
os pecados da humanidade.
Três visões
do mesmo evento, cada uma de pontos de vista diferentes. As duas primeiras (uma
no templo e outra no exílio, na Babilônia) por profetas que tinham o mesmo ponto
de vista dos que esperavam o Messias. A última no exílio em Patmos, por um
apóstolo do Senhor. As três destacam a glória de Deus e a fragilidade
pecaminosa do homem.
sábado, 6 de setembro de 2014
Leis anticristãs
Desde seus primeiros dias o cristianismo tem sido difamado. A Bíblia
registra que as primeiras perseguições foram iniciadas por boatos ou por
difamações. Por exemplo: Os judeus em Tessalônica “movidos de inveja, trazendo consigo alguns homens maus dentre a
malandragem, ajuntando a turba alvoroçaram a cidade”. Ou ainda, em Éfeso, o
ourives Demétrio promoveu uma manifestação anticristã levando seus colegas
ocuparem a praça, gritando repetidamente, por cerca de duas horas: “grande é Diana dos efésios”.
Justo Gozales registra, em A Era
dos Mártires, que: “O que se dizia acerca dos cristãos pode ser
classificado em duas categorias; os rumores populares e as críticas por parte
da classe culta [...] como se chamavam mutuamente de irmãos, foram se tecendo
rumores cada vez mais exagerados, e muitos chegaram a crer que os cristãos se
reuniam para celebrar uma orgia em que se davam uniões incestuosas”.
Além de difamado o cristianismo chegou a ser perseguido – exatamente como
o Senhor Jesus havia predito – até ser reconhecido como religião oficial. Mas,
deixar de ser perseguido, não significa que não tivesse inimigos ou
difamadores. Sempre houve difamadores. Sempre houve quem lutasse contra o
cristianismo e/ou contra os ideais cristãos. E infelizmente, as convicções de
liberdade trazidas pela Reforma Protestante facilitaram, em muito, a vida dos
difamadores e garantiu-lhes o direito de continuarem difamando.
A lista de difamadores famosos é grande, mas um se destaca até hoje:
Friedrich Nietzshe. Nascido em 1844 numa família de protestantes era neto e
filho de pastores luteranos e foi educado com vistas ao seminário, mas optou
inicialmente pela filologia e depois à filosofia. Morreu louco no pior estágio da
sífilis.
Os muitos livros que escreveu estão cheios de ataques ao cristianismo. No
livro O Anticristo (título que atribuía
a si mesmo) diz que o cristianismo é uma “crença enferma, baixa e vulgar [...]
responsável pelo retrocesso cultural e moral dos homens”. Chegou mesmo a
publicar uma “lei contra o cristianismo”, da qual transcrevo um trecho:
Artigo Primeiro – Qualquer espécie de antinatureza é vício. O tipo de homem mais vicioso é o sacerdote: ele ensina a antinatureza. Contra o sacerdote não há razões: há cadeia.
Artigo Terceiro – O local amaldiçoado onde o cristianismo chocou seus ovos de basilisco deve ser demolido e transformado no lugar mais infame da Terra, constituirá motivo de pavor para a posteridade. Lá devem ser criadas cobras venenosas.
Artigo Quarto – Pregar a castidade é uma incitação pública à antinatureza. Qualquer desprezo à vida sexual, qualquer tentativa de maculá-la através do conceito de “impureza” é o maior pecado contra o Espírito Santo da Vida.
Artigo Sexto – A história “sagrada” será chamada pelo nome que merece: história maldita; as palavras “Deus”, “salvador”, “redentor”, “santo” serão usadas como insultos, como alcunhas para criminosos.
Porém, ele não foi o primeiro a “fazer leis” contra os cristãos. Mesmo
porque seus escritos, no máximo, provocaram reações ou convenceram a alguns a
se voltarem contra o cristianismo. A Igreja, durante seus primeiros anos de
existência, sofreu do império Romano 10 períodos de perseguição e não foram poucas
as leis que surgiram contra ela. Por exemplo, na segunda perseguição, quando
Domiciano era o cesar, o Senado fez a seguinte lei: “Que nenhum cristão, uma
vez trazido ao tribunal, fique isento de castigo, sem que renuncie a sua
religião”.
Não é de se admirar que os governos que veem o cristianismo como inimigo
o persigam, porém, me assusta ver que cristãos fazem o mesmo. Observe: Diversas
leis que foram feitas pelo legislativo brasileiro trazem, no mínimo,
intranquilidade aos cristãos: O Estatuto da Criança e do Adolescente priva os cristãos
de transmitirem a seus filhos valores básicos de disciplina e do trabalho e
atrapalha muito às igrejas que desejam manter um orfanato dentro dos princípios
morais cristãos.
A dita Lei da Palmada nivela os pais que sabem disciplinar seus filhos
conforme a disciplina e sabedoria de Deus a pais espancadores que procuram,
antes de tudo, descontar nos menores seus problemas. As diversas leis de
proteção aos homossexuais acabam acobertando vidas pecaminosas e tentam obrigar
as igrejas a adotarem a agenda de grupos cuja intenção declarada é a extinção da
(como eles mesmo dizem) moral “judaico-cristã”.
E, como estas, outras leis, que, se não lutam abertamente contra o cristianismo,
prejudicam muito a ação dos cristãos.
O que os cristãos podem fazer? Pelo menos divulgar quem são essas pessoas
que lutam disfarçadamente. Repare: o cristianismo sempre terá muitos inimigos,
mas os piores não são os declarados, e sim os que se passam por irmãos.
domingo, 31 de agosto de 2014
As estações de Deus
O calor, aos poucos, vai dominando o
dia e as madrugadas já não exigem cobertor. O ar insiste em permanecer seco, e,
mesmo em uma ilha como a nossa, é possível sentir a umidade baixa. A falta de
chuvas grossas nos afluentes deixa a água do Rio Doce esverdeada, e as chuvas
esparsas, substituídas por chuviscos e pelo sereno da noite, provocam um
mormaço que aumenta a sensação de calor.
O Criador e Mantenedor de todas as coisas está tornando o ambiente propício à germinação das sementes. Tanto das que caíram nas proximidades e adensarão o mato, quanto das que serão levadas pelos ventos, pelos pássaros ou animais, e nascerão distantes, provavelmente em lugares abertos, fechando as clareiras.
O mesmo ocorre com as que foram semeadas pelo agricultor e que, regadas na hora certa, nascerão nas plantações num verdadeiro milagre de multiplicação muito parecido com o da multiplicação dos pães em ritmo lento. É um milagre que ocorre todos os dias sem o qual pouco nos adiantaria adubar, plantar ou mesmo regar. Seja na solidão dos matos ou na roça bem cuidada é o Criador e Mantenedor de tudo que aquece a terra e a transforma em útero fecundo onde as sementes germinam.
Você já notou quantas vezes nosso Mestre comparou esse processo que chamamos de “natural” a verdades espirituais? A mais impressionante – para mim – é a Parábola do Semeador. Um dos evangelistas diz que o Mestre foi explícito: “a semente é a palavra de Deus” (Lc 8.11).
Quais semeadores cegos, que desconhecem o terreno em que estão jogando a semente, mas sabem que alguma cairá em boa terra, nós também semeamos. Umas cairão, nos caminhos, outras cairão nas pedras, outras nos espinheiros. Mas, haverá sempre aquelas que cairão na terra boa. Essas frutificarão abundantemente.
Às vezes esta virada de clima representa bem o que acontece na vida de algumas pessoas. Deus as faz experimentarem a sequidão, o abafamento e o calor das dificuldades para que as “sementes espirituais” germinem. São terra boa. Mas a semente precisa morrer antes de nascer, e morre exatamente nesse processo.
Sentimos o calor próprio da estação
que chega, mas sentimos também o calor próprio das dificuldades da vida. Será
que o Criador, Mantenedor e Salvador, à semelhança do que faz com as outras
sementes, está tornando nossas vidas mais propícias a germinar a Palavra nelas
semeada até que frutifique?
sábado, 23 de agosto de 2014
A propósito do Templo de Salomão
A primeira menção bíblica a um lugar de adoração está em Gênesis (8.20-21) e relata como Noé levantou um altar sobre o qual ofereceu holocausto. É certo que as ofertas de Caim e Abel já pressupõem um lugar determinado e esse lugar seria lato sensu um altar, mas a primeira menção formal a um altar é esta de Noé.
Na terra que lhe fora prometida, mesmo sem tomar posse dela, Abraão sempre levantava um altar no lugar em que Deus lhe aparecia, mas, o último foi levantado em lugar determinado por Deus, três dias de distância de onde morava: o Monte Moriá. Neste altar Isaque, seu filho, seria a vítima.
Os descendentes de Abraão também seguiram o costume e os altares levantados por eles eram verdadeiros marcos (com significado religioso).
Todos esses altares não passavam de montões de pedras, ajuntadas do próprio local, sobre as quais um animal (na maioria das vezes um cordeiro) era morto e queimado. Somente na época de Moisés, após instrução divina, o altar recebeu outros complementos e significados: era o Tabernáculo. Sua construção foi determinada por Deus que o detalhou e capacitou a seus construtores.
Os altares não desapareceram, nem ficaram restritos ao Tabernáculo. Josué e alguns Juízes levantaram altares também. Até mesmo Davi fez um no mesmo lugar em que, séculos antes, Abraão tinha oferecido seu filho. E, nesse mesmo lugar, anos mais tarde Salomão edificará o Templo.
As demais nações sempre tiveram altares. Na verdade, não se conhece um só povo, que não os tenha, pelo menos, uma vaga noção de um deus que recebe ofertas. Tais ofertas, sangrentos ou não, são oferecidas em lugares simples ou em complexos impressionantes, que podemos perfeitamente chamar de altares: zigurates, pirâmides egípcias, astecas, maias ou sudanesas, etc.
Mas, voltando ao Tabernáculo é necessário destacar que ele era um complexo cercado por uma estrutura de postes e panos esticados com cerca de 50m de comprimento e 25 de largura, a qual só era adentrada pelos sacerdotes e pelos respectivos ofertantes com suas vítimas.
Dentro dela ficava um braseiro de bronze (o altar propriamente dito, também chamado de altar de bronze) sobre o qual as vítimas, depois de carneadas, eram queimadas. Havia também uma bacia de bronze na qual os sacerdotes deveriam se purificar e uma tenda de peles com quase 15m de comprimento por 5 de largura (a única parte coberta). Essa tenda era dividida em seu terço por uma cortina espessa. O terço maior era chamado de Lugar Santo e o menor de Santíssimo (ou Santo dos Santos).
No Lugar Santo ficava o candelabro de ouro (menorah), uma mesa folheada a ouro, sobre a qual se colocava pães, e um altar menor também folheado a ouro, onde se queimava incenso. Neste lugar os sacerdotes entravam, conforme a exigência da cerimônia, para apresentar a Deus o sangue de determinadas vítimas.
No Santo dos Santos, abrigo da Arca da Aliança, apenas o sumo sacerdote podia entrar. E apenas em um dia do ano!
Na verdade o Tabernáculo era uma estrutura portátil que deveria acompanhar o povo em sua peregrinação. Entretanto, depois de entrarem na Terra Prometida, permaneceu em Siló durante os quatro séculos dos Juízes e depois em Nobe e em Gibeom até sua substituição pelo Templo.
Davi, morando numa “casa de cedro” lembrou-se, com algum remorso, de que a Arca da Aliança ainda estava em uma tenda (o Tabernáculo), e decidiu preparar-lhe um lugar adequado. Deus o proibiu deixando claro que nenhuma casa seria adequada à sua presença, porém, permitiu que Salomão, seu filho, a edificasse.
E, apesar de Salomão ter dirigido a obra, lemos no Livro das Crônicas que até a planta das diversas construções que compunham o Templo foi dada por Davi. De fato, o lugar, os recursos, os materiais, os oficiantes, bem como as músicas e os instrumentos musicais foram todos preparados por Davi.
O Livro dos Reis registra: “Edificava-se a casa com pedras já preparadas nas pedreiras, de maneira que nem martelo, nem machado, nem instrumento algum de ferro se ouviu na casa quando a edificavam” (1Re 6.7).
Salomão mandou aterrar a depressão entre os montes Moriá e Sião para criar uma grande esplanada no meio da qual edificou o Templo com dimensões iguais ao dobro das dimensões do Tabernáculo. A única parte coberta (onde ficavam o Santo e o Santo dos Santos) possuía 30m de comprimento por 10 de largura e era rodeado por depósitos para o que fosse necessário às cerimônias e ao cotidiano dos sacerdotes.
Durante quase 400 anos (de 973 a 586 a.C.) o Templo de Salomão centralizou a vida de Israel, especialmente a de Judá, até sua destruição pelos babilônios, quando levaram cativos grande parte dos judeus.
Os babilônios foram dominados pelos persas que autorizaram a volta dos judeus. E, nos dias de Neemias e Esdras, o Templo foi reedificado. Não era tão impressionante quanto o outro (Ag 2.1-4) e foi levantado com grandes dificuldades, mas era muito semelhante ao de Salomão. Em decreto, Ciro, rei dos persas, determinou as dimensões da obra (30 metros de largura e de altura), a devolução dos utensílios que Nabucodonozor havia tirado de lá, o pagamento dos construtores e dos oficiais do culto, bem como das vítimas e víveres necessários aos sacrifícios. Tudo isso com seu dinheiro. Ou seja: o culto estava sendo mantido por estrangeiros.
Quando Salomão inaugurou o primeiro Templo, orou repetidamente: “se o teu povo, que se chama pelo teu nome...” Agora as orações do Templo deviam incluir Ciro e seus filhos!
Quando Salomão inaugurou o primeiro Templo, o equipou com utensílios maiores e mais caros do que os utensílios do Tabernáculo (mesas, candelabros, etc.), mas a Arca da Aliança era a mesma que Moisés fizera no deserto. Agora no segundo Templo, a maioria das peças foi devolvida, menos a Arca da Aliança. O Santo dos Santos ficou vazio.
Quando Salomão inaugurou o primeiro Templo, repetiu-se o que aconteceu nos dias do Tabernáculo: fogo dos céus consumiu tudo o que estava sobre o altar. Agora no segundo Templo não há registro algum dessa manifestação da aceitação divina.
No ano 168 a.C., 384 anos depois da consagração deste Templo, Antíoco, descendente de um dos generais com quem Alexandre estabeleceu seu império, o profanou: construiu um altar a Zeus em seu interior e sacrificou um porca sobre ele. Três anos depois o rededicaram e até hoje esta data é comemorada com o nome de Hanukah (a festa das luzes).
O Evangelho de João (2.20) registra os judeus afirmando a Jesus que foi gasto 46 anos para edificar o Templo. Os sinóticos são unânimes no registro de que, poucos dias antes da crucificação de Jesus, seus discípulos chamaram sua atenção para as pedras do Templo. Herodes resolvera embelezá-lo.
Aumentou o tamanho dos átrios, ampliou a esplanada (que chegou a ser 4 vezes maior do que a da Acrópolis de Atenas) e a circundou por alpendres. Elevou frontispício do lugar santo para 50 metros de altura e construiu a Torre Antônia no canto noroeste da esplanada com ótimas acomodações e com um quartel que possibilitava aos soldados saírem direto no átrio dos gentios. Era o que chamamos de Templo de Herodes.
Foi destruído pelo general romano Tito no ano 70 em uma luta tão angustiosa que a Igreja a comparou ao “fim dos tempos”.
Resumindo: Primeiro, o Tabernáculo (com 25m de largura por 50m de comprimento), feito de madeira e peles, que acompanhou Israel por cerca de 530 anos e foi montado em diversos lugares. Depois, o Templo de Salomão com o dobro das medidas (50 por 100m), feito dos melhores materiais da época, e edificado no lugar mais significativo para a história do Povo de Deus, ficou de pé cerca de 380 anos. Em terceiro lugar, após o exílio, o Templo de Zorobabel (com 30 por 60m), totalmente custeado pelo rei da Pérsia, e reformado 490 anos depois por Herodes. Finalmente o Templo de Herodes, que fez mais do que uma reforma (com cerca de 50 por 60m, mas com quase 300m por 600m de esplanada), que durou apenas 96 anos, grande parte deles em obras.
Observe que, com o passar do tempo, o tamanho aumenta, o significado para o povo também aumenta, mas o Santo dos Santos vazio aponta para o esvaziamento do significado real.
O Templo de Herodes ainda estava de pé e no dia de pentecostes e celebrava-se lá uma das mais elaboradas e caras cerimônias de então. Nesse mesmo instante, em um simples terraço, a “presença de Deus”, que havia se manifestado no Tabernáculo e no Templo de Salomão, se manifestou sobre cada um dos discípulos de Jesus. Um Templo novo estava sendo inaugurado pelo próprio Deus. Não de peles de animais, como o Tabernáculo, nem de pedras, como o Templo de Salomão, mas de pessoas consagradas pelo Senhor.
Desde então este é o verdadeiro Templo. Nele o Espírito do Senhor faz morada: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Co 3.16).
No mesmo texto em que os judeus falam do tempo da reforma Jesus deixa clara a identificação do templo com seu corpo. De fato, essa relação é a chave do significado do templo: ele era um tipo de Jesus. E, assim como no passado o tabernáculo, e seus sucessores, eram tipologicamente o corpo do Senhor, hoje, todos nós, somos membros desse corpo.
O Templo feito por Herodes já havia sido honrado por Jesus, que se referiu a ele como “a casa de meu Pai”, e o purificou. O Cordeiro de Deus não foi morto em seu altar, como as vítimas que o simbolizavam, mas, julgado e condenado em suas instalações, foi imolado no mais ignominioso altar que se possa conceber: a cruz.
Assim que Jesus expirou, o véu do santuário (a cortina que separava o Santo Lugar do Santíssimo) foi rasgado. O templo estava sendo definitivamente preterido e, para que a Igreja – acostumada a reunir-se no alpendre de Salomão – o esquecesse de vez, Deus o destruiu completamente a ponto de não ficar pedra sobre pedra.
Continuar sacrificando, mesmo que simbolicamente como faz a Igreja Católica é desprezar o sacrifício de Jesus. Levantar outro templo, seja em Jerusalém, seja em São Paulo é zombar daquilo que foi finalizado pelas benditas palavras “está consumado”.
sábado, 9 de agosto de 2014
Como Jesus nos via
Nos dois artigos passados, espero ter mostrado como os incrédulos inventaram todos os tipos de dúvidas sobre a pessoa de Jesus, a partir de seus próprios pressupostos, como ele foi descrito por João no Apocalipse e principalmente como ele falou de si mesmo nas parábolas que contou. Para completar o quadro mostrarei como, nas mesmas parábolas, ele fala de nós.
A figura que ele mais usou para nos descrever foi a de um servo. Desconsiderando aquelas é que isso é implícito, temos 7 parábolas nas quais somos textualmente chamados assim: Na parábola dos talentos (Mt 25.14-30), das minas (Lc 19.12-27), do senhor ausente (Mc 13.34-37 e Lc 12.35-48), das bodas (Mt 22.1-14), dos trabalhadores na lavoura (Lc 17.7-10) e do mordomo fiel (Lc 12.42). Apenas 2 parábolas nos mostram como assalariados (empregados): a dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1-16), e a do administrador infiel (Lc 16.1-13).
É certo que ele nos apresenta também como filhos. Na parábola dos dois filhos (Mt 21.28-31) e na parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32) somos convidados a nos identificar com o filho mais novo (que, em ambas, arrepende-se), ou com o filho mais velho (que, em ambas afronta o pai). Porém, a segunda figura mais usada é a da ovelha: veja a parábola do Bom Pastor (Jo 10.1-18), a da ovelha perdida (Lc 15.3-7 e Mt 18.12-13), a da ovelha que caiu em uma cova (Mt 12.10-12) e a parábola da separação das ovelhas dos bodes (Mt 25.31-46).
Outras parábolas também exigem que escolhamos qual dos personagens seremos: um rico ou um mendigo, na parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-31); um fariseu que se tem em alto conceito ou um cobrador de impostos que comparece diante de Deus com temor (Lc 18.9-14); um homem que edificou sua casa sobre a areia ou outro homem que edificou sua casa sobre a rocha (Mt 7.24-29 e Lc 6.46-49); um solo compactado pelos caminhantes, um solo pedregoso, um solo cheio de espinheiros ou ainda um solo bom e fértil na parábola do semeador (Mt 13.3-23, Mc 4.3-20 e Lc 8.5-15), e surpreendentemente a noivas prudentes ou néscias (Mt 25.1-13).
Ele nos compara também a um pai de família (Mt 13.52), a um construtor de uma torre (Lc 14.28-30), a um rei que vai à guerra (Lc 14.31-32) e a peixes selecionados pelos pescadores (Mt 13.47-50).
Somos mostrados pejorativamente também. Somos inadimplentes na parábola dos dois devedores (Lc 7.40-47) e devedores nas parábolas do credor incompassivo (Mt 18.23-35) e do adversário (Mt 5.25-26 e Lc 12.58-59). Somos cegos na parábola dos guias cegos (Mt 15.14) e aquele semeador (Mt 13.3-23) parece que é cego também. Somos como posseiros assassinos (Mt 21.33-46, Mc 12.1-12 e Lc 20.9-16), como um fazendeiro louco (Lc 12.16-21). Estamos perdidos como uma moeda cuja dona tem de varrer a casa para achá-la (Lc 15.8-10). E somos comparados a uma figueira que por seis anos permanece infrutífera (Lc 13.6-9).
Tanto na parábola das bodas (Mt 22.1-14) quanto na parábola da grande ceia (Lc 14.16-24) o sentido exige que nos vejamos como convidados, mas na parábola do bom samaritano (Lc 10.30-37) o sentido exige que nos vejamos como um viajante que, nem por isso, deixa de parar e fazer o bem.
Em outros lugares as comparações são tão fortes que possuem a forma de predicados: somos ramos de uma videira (Jo 15.1-8), o sal da terra (Mt 5.13) a luz do mundo (Mt 5.14), a cidade edificada sobre um monte (Mt 5.14) e a candeia que deve ser colocada no velador (Mt 5.15, Mc 4.21 e Lc 8.16).
Assim o Senhor Jesus nos vê. Não somos seus iguais: ele é Senhor, nós somos servos; ele é o credor, nós somos os devedores inadimplentes; ele é pai, nós somos filhos; ele é o médico, nós somos os doentes; ele é o pastor e nós somos as ovelhas. Seus apóstolos foram explícitos: João nos ensinou: “... todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12). Anos depois, Paulo lhe fará coro: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8.16-17).
Mas, foi na última noite, entre a ceia e o Getsêmani, que o Senhor resumiu este assunto: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (Jo 15.13-15).
Somos criaturas. Ele é o Criador. Somos servos. Ele é o Senhor. Entretanto, por amor ele assumiu o que nós somos e nos transformou em filhos, em amigos.
A ele toda glória!
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