quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

E plantou um jardim

Pacientemente o jardineiro cuida do jardim. Apara o gramado, poda as roseiras, limpa os hibiscos, enfim: mantém tudo com aspecto viçoso e cuidado.

Meio jardim, meio pomar, onde as flores das laranjeiras, mangueiras, figueiras e de outras prenunciam frutos saborosos. Em flor ou carregadas de frutos, perfumam, atraem pássaros e alegram a vista.

Ele sabe que não é o primeiro jardineiro a trabalhar ali. Sabe também que o jardim já foi muito mais bonito. Naquela época não havia espinheiros nem ervas daninhas e o primeiro jardineiro só precisava cuidar das plantas. Agora é necessário também, limpar ao redor delas, adubá-las e arrancar os parasitas. A terra também já não é boa como antes.

Tempos atrás outros jardineiros, não conseguiam fazer o que ele faz hoje. Tiravam apenas a subsistência. Mesmo assim a produção mirrada não era suficiente nem para atender as necessidade, nem para alegrar a quem via o jardim.

Nesses dias, o dono do jardim mandou alguns para um lugar fértil. Terra boa. Tanto pasto e tantas flores que parecia até que a própria terra produzia leite e mel.

Apesar de uma preparação de 40 anos no deserto, imposta pelo dono, esperando que valorizassem mais o jardim, eles logo se apaixonaram pela criação de urtigas dos vizinhos. Sentiam saudades dos cactos e não demoraram a cultivar tiriricas e carrapichos.

Não adiantava. Por mais que fossem ensinados a gostar das plantas das quais o dono gostava, eles criam ter o direito, não apenas de ter suas próprias plantações de espinhos, mas de espalhá-las pelo jardim afora. Afinal eram mais fáceis de cuidar: praticamente cresciam sozinhos.

Para recuperar seu jardim, o dono mandou muitos mensageiros que foram odiados e mortos. Por fim, mandou seu filho com objetivo de mudar o pensamento e o gosto desses jardineiros, que, para uma terra tão boa e protegida, traziam o pior que nascia nos desertos e nos locais insalubres.

Porém, quem disse que os jardineiros gostaram da idéia? - Esse local é nosso. Diziam. Vamos plantar aqui o que nossos pais já plantavam e o que nós gostamos de plantar.

Além de não ouvir o filho, resolveram se livrar dele. Afinal, não viam as coisas como o dono via. Não tinham o interesse que o dono tinha. Eram posseiros. Tinham raiva de quem tinha outros planos para aquela terra.

Zangado, o dono chamou os que eram marginalizados pelos posseiros. Mostrou-lhes seu filho. Determinou-lhes que fizessem o que ele faria.

Começaram em umas terrinhas desprezadas: às vezes massapé terrível, às vezes piçarra dura. Mas as plantas preferidas pelo dono vingaram. Cresceram. Floriram. Frutificaram.

É claro que, mesmo entre os que foram mandados pelo dono, havia quem, por costume ou por gosto, levasse sementes ruins, e o jardim que começou tão bem, está hoje cheio de ervas daninhas. Mas as boas plantas estão lá. Só é preciso cuidar delas.


Portanto, pacientemente o novo jardineiro se afadiga com prazer. Ele sabe que não está só. Muitos, como ele também conhecem o gosto do dono e sabem que o jardim não lhes pertence.

Um comentário:

Augustus Nicodemus Lopes disse...

Folton,

Descrição linda do ministério pastoral. Thanks!

Um abraço.