sábado, 8 de abril de 2006

Gestos impensados

Será que houve em toda história da humanidade um gesto mais impensado do que o recebimento festivo de nosso Senhor em Jerusalém?

Alguns dirão que a desobediência de Adão foi mais impensada. Eu discordo. Adão viu o que sua esposa fizera. Sabia da proibição do Senhor. Mesmo assim desobedeceu. Seu pecado foi "de caso pensado".

Outros dirão da morte de Jesus. Porém como podemos chamar de impensado um gesto praticado nas seguintes condições: “E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos” ? (Mt 27.25).

Alguns dirão que Jesus foi recebido por peregrinos que estavam em Jerusalém e foi crucificado pelos habitantes dela. Porém, esse argumento não se sustenta uma vez que, na Páscoa, Jerusalém recebia mais peregrinos do que possuía de habitantes. É possível que a quantidade de peregrinos chegasse a 10 vezes o número de residentes na cidade e Lucas diz: "Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou. Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo. E todas as multidões reunidas para este espetáculo, vendo o que havia acontecido, retiraram-se a lamentar, batendo nos peitos. (Lc 23.46e47).

Jesus foi recebido com ramos, com vestes estendidas a fim de que a montaria onde ele estava sequer pisasse o chão. Porém o que se destaca é a frase “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!” (Mt 21.9).

Você não percebe? Imagine a cena. Jesus aproxima-se de Jerusalém montado em um jumentinho - outra passagem que o descreva montando, só no Apocalipse, e não um jumentinho - seus discípulos, andando a seu lado completavam o quadro: ele vinha em missão de paz.

Você está lembrado que um dos evangelistas disse que ao ver Jerusalém ele chorou lamentando o destino que a esperava? Não chorou pela dor que o esperava. Chorou por Jerusalém que em breve seria sitiada de exércitos.

Ele, como ovelha muda, oferecia-se a seus tosquiadores. Os que viram, imaginando que aquilo era o início de um motim contra os romanos, repetiram o refrão do Salmo 118: “Oh! Salva-nos, SENHOR, nós te pedimos! Oh! SENHOR, concede-nos prosperidade! Bendito o que vem em nome do SENHOR”.

Meus irmãos, eu vejo com freqüência esse mesmo comportamento: O Senhor muitas vezes é tratado por seu povo impensadamente.

Se ele é o Senhor, por que às vezes é tratado como servo que tem de atender as vontades?

Se ele é o Senhor, por que às vezes é tratado com desrespeito, com comportamentos levianos, com gestos impensados?

O dia de hoje deve nos lembrar deste enorme gesto impensado. Não tragamos ramos, não estendamos vestes, não cantemos Salmos, se não quisermos, de fato, fazer isso de todo nosso coração com toda humildade devida ao Senhor, apenas para sua glória, e para sua glória somente.

Não o cultuemos impensadamente.


Domingo de Ramos de 2006

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