quinta-feira, 26 de outubro de 2006

A Reforma Protestante do Século XVI (atualizado)



Apesar de termos escolhido apenas um dia no ano para comemorar a Reforma Protestante, na verdade ela foi mais um movimento, que durou séculos, do que o acontecimento de um dia.

Sem desprezar a atitude singular de Martinho Lutero ao afixar seu documento na porta da Igreja é conveniente não esquecermos que muitos antes dele contribuíram para que a situação chegasse ao ponto que possibilitou seu gesto. Não esqueçamos, também, dos demais que lhe seguiram complementando a obra que ganhou novo impulso com o que ele fez.

Isso fica claro quando vemos “Muro da Reforma”.

Calvino, avesso a homenagens, determinou expressamente que não se lhe fizesse nenhuma após sua morte. Entretanto, no início do Século 20, a cidade de Genebra, precisando reformar o que restava dos muros da cidade antiga, resolveu, mediante consulta nacional, refazê-los como um monumento à Reforma. Porém, como falar dela sem falar de Calvino? Especialmente quando coincidia com os 400 anos de seu nascimento?

Decidiu-se por um concurso, do qual participaram 71 concorrentes. O projeto escolhido (dos arquitetos Alphonse Laverrière e Jean Taillens e dos escultores Paul Landowski e Maurice Reymond) apresentou a simbologia de um muro em cuja base está gravado o nome do Senhor Jesus - em grego IHS - Em segundo plano, em baixo relevo, a divisa de Genebra “Post Tenebras Lux” (Após Trevas, Luz). Destacando-se do muro 10 estátuas, dos mais principais Reformadores, defronte a 2 estrelas em memória a Zwinglio e a Lutero.

As estátuas estão dispostas em 3 grupos e entre as estátuas dos grupos laterais estão esculpidas, em baixo relevo, cenas de momentos importantes para a Reforma.

No grupo da esquerda: o Almirante Coligny (representando a França), William, o Pensativo, (representando os Paises Baixos) e Frederico-William (representando a Alemanha).

No grupo da direita: Roger Williams (representando a Nova Inglaterra), Oliver Cromwell (representado a Grã Bretanha) e Estêvão Bocskay (representando a Hungria).

No grupo do centro estão os que se afadigaram na Palavra e no Ensino: Farrel, Calvino, Beza e Knox. Todos portam a “Pequena Bíblia do Povo Cristão”, usada então, e estão vestindo mantos genebrinos. Como um destaque sutil Calvino está meio passo à frente dos demais e mostra um texto em sua Bíblia aberta.

Talvez este muro seja a mais completa exposição do “espírito da Reforma Protestante”:
Solidez: representada na figura de um muro de pedras, alicerçado sobre uma pedra principal na qual está esculpida o nome do Senhor Jesus.

Simplicidade: vista também nas linhas simples de um muro, no uso de “baixos relevos”, nas dimensões atípicas para um monumento e no estilo despojado das esculturas.

Coletividade: representação dos diversos lugares em que a Reforma Protestante chegou e nos diversos setores da sociedade (militares, políticos, docentes e comerciais) participantes.

Direção: unidos sob a liderança da Palavra de Deus exposta por quem nela se afadiga, a Reforma Protestante não foi um movimento acéfalo, nem apenas de leigos, mas de leigos que honravam a Palavra de Deus e procuravam entendê-la como ela é, não como fora deturpada pelos interesses pessoais de quem a usou para justificar as próprias tolices afastando-se cada vez mais da simplicidade do Evangelho.

sábado, 21 de outubro de 2006

Que dias!

No ar: Um avião pequeno, em condições ainda não muito claras, chocou-se com um grande e o derrubou causando a morte de muitos.

No mar: Um barco pequeno, em condições ainda não muito claras, chocou-se com um grande e foi afundado resultando na morte da maioria de seus passageiros.

Na terra: A Coréia do Norte, em condições ainda não muito claras, explodiu uma bomba atômica com resultados pequenos mas causando grande sobressalto no mundo.

Em nosso país: Milhões de eleitores, em condições ainda não muito claras, tendem a eleger Presidente da República, o candidato do partido mais acusado de corrupção.

Em nossa cidade: Com quase 750 endereços de Igrejas Evangélicas, 26 Presbiterianas, registra, em condições ainda não muito claras, a médias iguais ou inferiores a dos índices sociais da média do país.

Como explicar? Não sei, mas creio que o choque dos aviões e dos barcos provavelmente será atribuído a falha humana, a bomba coreana, aos últimos esforços de um regime falido que insiste em sobreviver mesmo chantageando o mundo. Já as nossas eleições não tenho a menor idéia de como explicar, como, também, não sei explicar o paradoxo de nossa cidade.

Estamos no mês em que nos lembramos da Reforma Protestante do Século 16. E, a história tem mostrado que onde a Reforma Protestante desenvolveu-se, o analfabetismo, a violência, e outros malefícios, diminuíram, ao passo que a saúde, a educação, a higiene e outros benefícios cresceram.

Desde que cheguei aqui tenho pensado muito nisso. Às vezes penso que é um reflexo da situação caótica de nosso país ou da herança cultural e religiosa que recebemos, ou do “tipo de evangelho” que está sendo pregado. Sinceramente ainda não tenho certeza. Porém continuo estudando e aprendendo.

Por exemplo: Eu sempre achei que as cigarras só cantavam com o sol a pino. Estava errado. Nos dias mais quentes da semana passada, ao entardecer, algumas disputavam quem cantava mais alto. Depois das atividades da noite, acabei dormindo no sofá e acordei às 2 da manhã com uma cigarra quase se espocando de tanto cantar.

Alguém me disse que é a fêmea chamando o macho. Outro me garantiu que é o inverso. Fêmea ou macho, tanto faz, pois, enganada pelo clarão amarelo de uma lâmpada de vapor de sódio, não conseguirá seu objetivo, já que, fora dali, reina a escuridão da noite.

Será que, como as cigarras, a luz amarela está nos enganando? Sou testemunha do enorme esforço dispendido pelas “Igrejas sérias” em levar o Santo Evangelho. Sou testemunha da boa vontade de muitos irmãos que sacrificam-se em prol do trabalho que lhes é proposto. Também sou testemunha da presença da Bíblia em quase tudo o que se vê: Nomes de lojas, de pessoas, de ruas, de bairros, de igrejas... Porém, não tenho visto a Bíblia ser pregada conforme a Fé Reformada. Talvez seja essa a explicação.

Vamos voltar aos Princípios norteadores da Reforma Protestante. Ainda há tempo. Se não para evitar desastres, mas, pelo menos, para criarmos uma sociedade mais sadia, para nossos filhos.

sábado, 14 de outubro de 2006

O Caminhão


Há algum tempo atrás esta fotografia correu o mundo pela internet, e desde que a vi, aprendi a grande lição que ela transmite.

A cena, em si, não é apenas cômica, é, também, ridícula. Afinal, o que é que eles estão fazendo? Transportando uma cabine, ou essa é a forma final da “carroça de passageiros”? Estão rindo de felicidade ou (o que é mais provável), da estranheza que atraiu a atenção do fotógrafo?

A mensagem que ela me traz, traz junto angústia e tristeza pois ilustra bem o “evangelismo” atual. Veja:
1. A Estrutura externa está reconhecível: é a cabine de um caminhão (com alguma pesquisa é possível descobrir até sua marca).
2. O motor, outrora com a potência de muitos cavalos, foi substituído por um boi, que, não fosse a expressão de resignação bovina, eu diria que não está muito feliz com todo esse peso.
3. Os antigos passageiros, acostumados a ganhar o pão carregando e descarregando foram substituídos por dois anônimos. Um dos quais brinca ao volante qual motorista de carrossel.
4. O antigo motorista também foi substituído. Agora um risonho carroceiro, sentado no lugar do motor, toca com as rédeas o vagaroso e coitado boi.

É assim o “novo evangelismo”. As vezes dá para reconhecer nele alguma forma de verdade. Por exemplo: a “cabine” que lhe deu origem. Mas, e o motor? Outrora poderoso, a quem pouco pesava essa cabine, hoje boi sofredor a transporta com dificuldade.

O potente Espírito Santo que movia mentes e corações, foi substituído por um arremedo: mistura de emoções, campanhas, engodos ... Bois!

Veja a felicidade dos passageiros. Um faz de conta que “dirige” o outro aproveita o espaço.

O “carroceiro”, de riso enigmático, diverte-se na notoriedade que vale fotografia. Sorriso da pobreza flagrada em seu aspecto cômico ou riso escarnecedor de quem se delicia na gaiatice? Não sei.

Não sei também se a alegria do “novo evangelismo” é puro entretenimento, vazão emocional, ou prazer temporário que precisa ser mantido a todo custo, para que seus membros tenham “certeza” de possuírem o Espírito Santo.

Simulacro de viatura. Triste exemplo do que a miséria pode fazer. Alerta eloqüente sobre a vida espiritual que se tenta cultivar na impropriedade de meios e que só consegue provocar risos.

Risos amargos pois não expressam satisfação. Expressam logro. Expressam o inusitado. Expressam a dor.

Como é triste ver felicidade em quem caminha no erro. Como é triste ver o erro ser imposto como o certo.

Ah, Senhor; tem piedade de teu povo! Não nos deixes trocar as tuas águas vivas por cisternas rotas. Não nos deixes trocar o poder de teu Santo Espírito pela galhofa. Desperta em nós um coração pronto a fazer tua vontade e alegrar-se em ti.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

A Felicidade do Povo de Deus

Feliz és tu, ó Israel!
Quem é como tu?
Povo salvo pelo SENHOR,
escudo que te socorre,
espada que te dá alteza.
Dt 32.29

Quem de nós já não ouviu: “Sou feliz por tenho um bom casamento”, ou “Sou feliz por que realizei tudo com o que sonhei na vida”?

Outros falam da felicidade, mais como um estado momentâneo: “Estou feliz por que consegui uma promoção”, ou, “estou feliz por que hoje deu tudo certo”.

Tenho a impressão de que os primeiros associam a felicidade a um estilo de vida agradável, enquanto os últimos a confundem com alegria. Ambos tem a felicidade como o resultado de acontecimentos.

Esse não é o conceito bíblico de felicidade.

Certamente há muitos exemplos bíblicos de pessoas alegres com um acontecimento: a mulher que achou sua moeda, o pastor, que, mesmo tendo que carregar a ovelha nos ombros, volta contente por tê-la achado, e o pai do filho pródigo. Todos esses e alguns outros são exemplos de alegria pelo fim de um problema.

Entretanto há uma alegria mais perene, derivada de algo superior e demonstrada de modo mais sutil. Mais sutil, porém, não menos forte: aquela alegria que levou os apóstolos a agradecerem a Deus - depois de açoitados - por serem dignos de sofrer pelo nome de Cristo. A mesma que brotava no coração e nos cânticos de Paulo e Silas, presos e após uma seção de tortura. Na verdade é mesma alegria que Paulo receita com tanta insistência aos membros da Igreja de Filipos: “alegrai-vos no Senhor”!

Pedro a chama de "alegria indizível". Ou seja: alegria que não pode ser dita. Que não pode ser expressada. Para a qual não existem palavras.

Tal alegria, parte do Fruto do Espírito, desafia os padrões humanos de ver a vida. Manifesta-se nas ocasiões menos esperadas, de um modo perene e interno. Forma uma base para os sentimentos. Sustenta o Cristão na hora em que tudo conspira contra seu bom humor. Mantém-no em paz: aquela “paz que excede a todo entendimento”.

Alguns a chamam de Alegria da Salvação, outros preferem referir-se a ela como a Segurança do Cristão. Tal alegria é peculiar ao salvo. E própria do povo de Deus.

Mas, atenção: há diferença de outra muito parecida, que pode ser vista em pessoas distantes de Deus. Na maioria das vezes decorrente de enlaces de amor. Afinal, Deus faz nascer seu sol sobre bons e maus e vir chuvas sobre justos e injustos.

Porém, refiro-me ao fato de que o Povo de Deus, desfrutando da paz vinda da certeza da salvação em Cristo Jesus, experimenta o que é inabalável: Deus lhe é favorável. Tão favorável que não mediu esforços para resgatá-los.

Somente quem avalia a situação terrível em que se encontrava antes de Cristo salvá-lo, pode ter uma pálida idéia do quanto Deus o ama, e, como conseqüência, aquilo que era apenas alegria transforma-se em felicidade. Não uma felicidade sujeita a altos e baixos, mas uma felicidade que independe de momentos de tristeza, de mau humor, de perdas, de ameaças, de sofrimentos, ou morte, já que decorre do fato de que, em qualquer situação (perigo, espada, fome, nudez, etc.) Deus está a seu lado e nada poderá separá-lo do amor de Deus que está em Cristo Jesus.