Ontem, a lua já estava alta e não se refletia mais nas águas do Rio doce, mas ainda insistia em vencer a claridade das lâmpadas da rua, me lembrou dos dias narrados na Escritura em que o Senhor, depois de ressuscitado, manifestou-se diversas vezes a seus discípulos.
Sempre tive a impressão que ele só fez isso aos domingos: Às mulheres, que foram ao sepulcro com a intenção de embalsamar seu corpo, manifestou-se logo após ressuscitar. Aos dois que viajavam para Emaús, manifestou-se ainda no mesmo dia. E, João nos informa que era o mesmo dia quando ele apareceu aos demais em uma casa com as portas trancadas. Entretanto Tomé teve de esperar uma semana para vê-lo.
João, dá-nos impressão de ter passado um bom tempo até aquela manhã em que eles foram recebidos na praia pelo Senhor. Isso justificaria melhor a desolação de Pedro: “vou pescar”.
Não creio que Pedro, pescador de profissão, naquela noite estivesse interessado nos peixes, ou no lucro que a venda deles lhe daria, mas em aliviar a angústia de ter negado seu Senhor, ter sido lembrado por ele logo que ressuscitou e já tê-lo visto pelo menos duas vezes sem a liberdade de falar-lhe como falava antes.
A lua cheia de ontem me lembrou que talvez aquela noite tivesse sido assim, pois “noite de lua é boa pra pesca”.
Todos foram com Pedro. Até os que não eram pescadores de profissão: também estavam desolados e uma pescaria sempre faz bem. Mas “naquela noite nada apanharam”.
A lua cheia de ontem também me mostrou outros desolados. Não estavam em um barco no Rio Doce. Vagavam pelas ruas vindo de simulacros de igrejas que prometem todo sucesso material, amoroso e espiritual.
Tal qual aqueles pescadores, passavam a noite (ou parte dela) tentando conseguir algo. Algo que nem eles mesmos sabem o que é, mas que estão certos de reconhecer tão logo tenham.
“Mas, ao clarear da madrugada, estava Jesus na praia”. Porém, nenhum peixe no barco e nenhum peixe nas redes.
Apesar de terem ido pescar apenas pela pescaria, seria bom ter pegado algo: o bom da pescaria não é a recompensa da luta com o peixe depois da espera?
Abençoados: encontram Jesus. Não bastasse, receberam dele a informação certa que os conduziu ao sucesso natural de uma pescaria, que mesmo quando é feita “para espairecer”, causa alegria se coroada de êxito.
Pedro entendeu muito bem o respeito que devia ao Senhor e vestiu-se.
Não bastasse, ao chegarem a praia foram recebidos com o calor de um braseiro, peixes sobre as brasas e pão.
O convite de quem sabe o que é passar uma noite em claro, “vinde, comei”, é completado quando o próprio Senhor lhes serviu pão e peixe.
E Pedro?
Afoito, não desfizera de seus irmãos garantindo que, mesmo se eles negassem ao Senhor, jamais o faria? “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros?”
Afoito, não levara o Senhor à parte para repreendê-lo sobre aquela história de ser morto? “Simão, filho de João, tu me amas?”
Medroso, diante de servos, não havia negado seu Senhor três vezes? “Simão, filho de João, tu me amas?”
De nada adiantou chorar amargamente. De nada adiantou, estressado, ir pescar. De nada adiantou vestir-se diante do Senhor (somos transparentes ao seu olhar). “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”.
Não sei se era noite de lua. Talvez fosse. Sei que era época de frio. E naquela noite diversos tipos de frio açoitaram aquele homens. O mais simples deles foi debelado com o braseiro. O outro foi debelado pelo amor e gentileza do Senhor. O pior deles, o que rasgava o coração de Pedro, somente sua Palavra o fez.
Querido irmão: não vague atrás da Palavra do Senhor por esses lugares escusos. Ela não está lá. Tire-a de sua estante. Devore-a com sofreguidão. Encha seu coração com ela. Ela iluminará seus caminhos com claridade maior que a da lua cheia e o aquecerá melhor do que um braseiro.
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2 comentários:
Excelente texto!
Sobre pescaria... acho que sou um péssimo pescador, eu jogo, jogo a linha e nunca vem nada.
Até me ridicularizam dizendo, "viu, achas que pregas a teologia correta... ...mas tua igreja não cresce".
Penso sempre nisto...
Os pescadores passaram a noite e apesar da habilidade que tinham não pescaram nada. A presença do Senhor os possibilitou a fazer tão grande pescaria.
Se eu tomar a sugestão embutida em tuas palavras e chamar de pescaria o crescimento da Igreja, acho que minha tese fica reforçada: Por mais habilidosos que sejamos e por mais eficientes que sejam nossas tecnicas evangelísticas, a Igreja só crescerá (terá boas pescarias) quando o Senhor nos mostrar como fazê-lo.
ab
Fôlton
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