domingo, 6 de abril de 2008

Dia após dia

Alguns dias, pela própria natureza deles, parecem, que são mais "difíceis" do que os demais. Não estou falando daqueles que passamos em uma cama de hospital, mas dos que fazem parte do que chamamos de rotina diária. Outros dias são tão diferentes que parecem nem passar. Como as águas de um rio, eles simplesmente fluem.

Dos primeiros já ouvi dizer - ou talvez eu mesmo já tenha dito: “Ô dia encrencado! Nada deu certo”. Dos outros já ouvi coisa semelhante, porém com o sentido totalmente contrário: “Como produzi! Tudo se encaixou.”

Parece que classificamos os dias como difíceis ou fáceis em função de acontecimentos agradáveis ou não. Mas os acontecimentos inesperados contribuem muito para nossa avaliação.

Ao fim de um dia difícil, nosso humor pode ser drasticamente alterado para melhor, quando, por exemplo, encontramos alguém muito querido, que não víamos há bastante tempo.

O contrário também é verdadeiro.

Certa senhora, que lutava ao lado do marido hospitalizado há meses, me contou, que se esqueceu de tudo durante horas, quando encontrou seu apartamento inundado por um vazamento no banheiro do vizinho de cima. Seu dia piorara! (como se isso fosse possível).

Esses eventos bons ou maus fazem parte do “grande ferramental” de que a Providência Divina usa em nosso próprio benefício. Todos eles trabalham juntos. Ou, como nos ensina o Apóstolo Paulo: cooperam para o bem dos que amam a Deus.

Não sei como isso funciona ou como é administrado, mas nosso Senhor, “todo-providente”, faz com que, das coisas más, nos venham bênçãos. Em outras palavras: as coisas más contribuem para nosso bem.

Porém, a grande dificuldade que existe é aceitarmos com gratidão os eventos da providência divina.

Não há como mudar o que já aconteceu, porém insistimos, em trazer o passado de volta, tornando-o motivo de dor através de lembranças ruins que amarguram o presente.

Curiosamente o passado nunca traz alegrias. No máximo, doces saudades daquilo que aconteceu e que não se repetirá. E, novamente a amargura “atualiza” o único tempo sobre o qual temos alguma espécie de controle: o presente.

Não há como saber o futuro, porém o desejamos com tantos detalhes que o ansiamos. E, de uma forma misteriosa, o futuro - que ainda não existe - traz amargor ao presente, pois nos leva a ficar “pré-ocupados” com aquilo que ainda não aconteceu. E novamente perdemos as alegrias do presente.

O que fazer? Segundo nosso Senhor e Mestre não há muito. Aliás só há uma coisa: confiar naquele que cuida dos pássaros e do lírios e que certamente cuidará de nós também. Ou seja: exercitar a fé. Isso é o verdadeiro “viver pela fé”!

Ele deixou muito claro, que do passado, a única coisa a fazer é nos apropriar do perdão de Deus. E do futuro, recebê-lo dia após dia, com alegria de saber que ele nos é administrado pelo Senhor do tempo.

Ah! Uma última coisa: Todos eles, mesmo os que classificamos de bons, sempre nos trarão alguma espécie de contratempo. Isso lhes é inerente. Afinal nosso Mestre nos ensinou: “basta a cada dia seu próprio mal”.

Sem essa pitada de dificuldade diária, facilmente nos esqueceríamos do Senhor da providência.

6 comentários:

Rev. Alexandre Lessa disse...

Rev. Folton,

Tenho acompanhado seus escristos neste blog. Parabéns!
Estou cursando o terceiro ano noturno no JMC. Mesmo já tendo passado pelas matérias Teologia Sistemática que abordam a teontologia e consequentemente as doutrinas dos decretos e da providência de Deus, ainda tenho me detido no estudo dessa área. Contudo, tenho procurado meditar sobre isso na perspectiva da teologia Bíblica.

Apreciei bastante o texto do senhor, e estou tentando pensar até que ponto "...o passado nunca traz alegrias. No máximo, doces saudades daquilo que aconteceu e que não se repetirá. E, novamente a amargura “atualiza” o único tempo sobre o qual temos alguma espécie de controle: o presente".

Não sei se concordo plenamente com esta tese, pelo menos, até agora. Mais ela está me fazendo pensar...

Deus abençoe.

folton disse...

Alexandre;

Obrigado pelas boas palavras. Seja de Deus toda glória.

Quanto à frase, ela só terá plemo sentido dentro do exato contexto para que a escrevi. Ou seja: não é uma verdade universal.

ab
Fôlton

Oliveira disse...

Caro Folton

Obrigado pela reflexão.
Chegou em boa hora.

Me relembra um dos temas prediletos meus na escritura: "... não andeis ansiosos por coisa alguma...".

Um grande abraço.
Do seu fiel admirador.

folton disse...

Caro Oliviera;

Obrigado. Toda glória seja dada ao Senhor.

Não deixe de orar por mim. Estou saindo de uma dengue que me tirou do ar por alguns dias.

ab
Fôlton

Marcelo disse...

Pastor Fôlton.
A graça e a paz do Senhor Jesus Cristo.

Vendo a observação do Irmão Alexandre Lessa eu reli o seu texto e notei um tom shopenhaueriano nas suas palavras. Mas, como o Espírito Santo, o Consolador, habita aí, no seu coração, o pessimismo de Schopenhauer dá lugar a uma réstia da esperança, que talvez o senhor traga no próximo post. Há um tom de "apesar disso" nas suas palavras. O reconhecimento do mal, da tristeza, da saudade, do sofrimento é a prévia do evangelho. A boa-nova só chega quando a gente está ciente de quão mal estamos. A introdução da boa-nova é "Você está perdido"... É puro Romanos 6.23.

Melhor Schopenhauer do que Rousseau, que cria que o homem é bom em essência. O primeiro vai à casa de luto, o segundo à festa. O primeiro tem sede de Cristo, mas não sabe onde encontrá-lo. O segundo pensa que já o achou, que todos o acharam, mas está tão enganado!

Marcelo Hagah
João Pessoa-PB

folton disse...

Marcelo;

Te asseguro que não pensei e sequer repassei qualquer influencia de Schopenhauer.

O texto nasceu enquanto eu aconselhava, no hospital, uma mãe aflita com sua família e me lembrei das palavras do Senhor: "Basta a cada dia seu próprio mal".

Saí do hospital pensando: será que o inverso é verdadeiro? Há um mal para cada dia?

ab
Fôlton