domingo, 30 de outubro de 2011

A verdadeira adoração (parte 2)

Não farás para ti imagens de escultura.

Este é também um aspecto sutilíssimo do pecado com que ofendemos apenas a Deus e, apesar de proibição tão clara, a interpretação dela tem causado muita confusão entre os cristãos. Vejamos primeiro as confusões e depois o pecado em si.

Primeira confusão: Ao pé da letra o que está proibido é fazer qualquer representação em três dimensões. Veja o texto todo: “Não farás para ti imagens de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto” (Ex 20.4-5).

O que é traduzido por “imagens de escultura” levou alguns a pensar que podiam fazer pinturas (bidimensionais). Esta é a origem dos ícones da Igreja Ortodoxa, que são tão venerados e adorados quanto os demais ídolos esculpidos da Igreja de Roma.

Segunda confusão: Outros, em reação oposta, enxergaram proibição até de fotografias para documentos, uma vez que a foto não deixa de ser uma imagem, e buscaram isolamento total em colônias cada vez mais afastadas do modo de vida moderno, como alguns Menonitas radicais (dos quais um grupo mais radical ainda, chamado Amish, ficou famoso retratado em um filme de sucesso).

Na realidade, o que está sendo proibido é a invenção de um culto segundo nosso entender ou nosso gosto.

O que há de mais óbvio no homem é se valer de seus sentidos para aferir como cultuar aquilo que ele imagina ser deus. Ele chega ao ponto de dizer que não gostou do culto, que disse ter dedicado à divindade, como se o culto tivesse sido dedicado a ele mesmo.

Um exame cuidadoso da proibição que estamos estudando revela que o verdadeiro Deus não quer ser cultuado de outra maneira que não seja a que foi estabelecida por ele mesmo. E nesse caso não prevê qualquer suporte sensorial para o adorador. Como Deus soberano ele tem todo direito de exigir.

Não nos enganemos: quando o homem toma para si a autoridade de definir a forma de cultuar a Deus o resultado será algo conforme sua própria imaginação, ou pior: conforme seu coração pecaminoso. Não é isso o que ocorre quando ele cultua os que se dizem deuses?

A substituição do suporte sensorial pela fé é o que há de comum com todas as demais exigências que o verdadeiro Deus faz a respeito de como devemos cultuá-lo, seja na antiguidade, seja depois do sacrifício de Jesus.

Ao abolir nossa possibilidade de ver qualquer forma, de apalpar qualquer objeto ou de associar qualquer ideia de glorificação da criatura, querendo assim atribuir, por extensão, glória ao Criador - o que no fundo é a mais crassa idolatria - o SENHOR está estabelecendo um princípio: sua adoração deve ser espiritual, como Jesus explicitou.

Deus sabe o quanto eu amo a arte na maioria de suas expressões. Não em todas. Mas na maioria delas. Gosto muito da música de Bach, que era um cristão fervorosíssimo. Aprecio a pintura de Rembrandt, que, mesmo não tendo a estatura espiritual de Bach, procurava louvar a Deus com sua destreza. Mas me entristeço com os pecados que são cometidos em nome da arte. Fico mais triste ainda quando vejo irmãos louvarem tais pecados. Por exemplo: os que foram estampados por Michelangelo na Capela Sistina. Além de ter representado o SENHOR, desobedecendo acintosamente esse mandamento, o fez à custa do mercado de indulgências contra as quais os reformadores tanto lutaram.

O pecado é tão sutil que muitas vezes dizemos: Mas é apenas arte!

Sutilíssimo! Os concílios legislaram: Tem funções didáticas.

Mas não deixa de ser pecado.

sábado, 22 de outubro de 2011

A verdadeira adoração (parte 1)

"não terás outros deuses diante de mim"

Quando fiz o mestrado em Teologia Sistemática um de meus professores, o Dr. Fred Klooster, já na glória com o Senhor, contou uma história, que, por abordar as principais formas de se ter outros deuses diante do verdadeiro Deus, vou repeti-la sucintamente.

Ele estava lecionando em um país da Ásia e diariamente um carro o levava do hotel ao seminário. No dia em que o carro atrasou-se ele percebeu que ao lado do hotel havia uma fábrica de ídolos (a maior de todas, ficou sabendo depois, exportadora para todas as ilhas da Polinésia) na qual um grande número de deuses eram industrializados e outros feitos sob encomenda.

Conheceu o gerente e viu desde o trabalho dos artesãos até o processo industrial. Tentou fazer um censo das divindades lá produzidas - tão grande era o número delas - quem sabe, pensava ele, poderia usar tal informação em suas aulas.

Muitos deuses que eram feitos de barro, de madeira, de pedra, como os da Bíblia, e outros de materiais modernos: mais facilmente industrializáveis como os plásticos, que junto com os de gesso ficavam a cargo de operários menos qualificados cuja maior arte era a pintura de detalhes, pois as máquinas já os pintavam.

Foi autorizado a tirar algumas fotos e ao mostrá-las na sala de aula, obteve de seus alunos explicações sobre “os atributos” de cada um dos deuses. Um se ocupava com o clima, outro com as plantações, outro com a família, outro com a fertilidade, etc.

A última parte do curso era Teologia Contemporânea. Segundo ele, seu interesse pelos deuses locais trouxe a seus alunos uma liberdade para discussões até então não vista no Seminário, e que o tradutor, denunciado por alguns alunos que sabiam um pouco de inglês, insistia em resumir. Envergonhadíssimo o tradutor confessou que os alunos estavam achando semelhanças entre os ídolos locais e o modo como a teologia contemporânea via o Deus da Bíblia. As aulas ganharam novo alento e ele ficou lá mais tempo do que tinha programado ficar.

Voltou-se então para nossa turma e aplicou-nos sua história: As civilizações mais antigas fabricavam seus deuses de barro, madeira e pedra. Os homens que permaneceram nesse tipo de pensamento só mudaram os materiais a fim de industrializar o processo de fabricação. Porém, há um outro tipo de idolatria mais perverso e arraigado e que não se exterioriza na matéria. Os maiores fabricantes de seus deuses são os teólogos e suas oficinas são o seminários. Contra ela vocês devem estar atentos! Disse-nos apontando-nos o dedo no pouquíssimo português que conseguia falar, com os olhos marejados diante de uma turma chocada e convencida do horrível pecado que é abrigar outros deuses no coração.

Lembrei- então de como Deus responde ao idólatra. A esse tipo de idólatra: que abriga ídolos em seu coração: responde-lhe “segundo a multidão de seus ídolos”. Veja Ezequiel 14.1-8.

Particularmente não creio que seja preciso ir a um seminário para se fazer um novo deus. Basta não se amoldar ao Deus revelado nas Escrituras, e já estaremos diante de um Deus criado por nós mesmos.

O apóstolo João já nos diz: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai. Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai” (1Jo 1.22-24). Ou seja: Quem não tem a Deus revelado em Cristo não tem o verdadeiro Deus. Está adorando a um ídolo, por mais bíblico que o deus que ele professa possa parecer!

sábado, 15 de outubro de 2011

Pecados contra Deus

Na série passada, quando comentei os múltiplos aspectos do pecado que cometemos contra nosso próximo, espero ter deixado claro que pecamos mesmo é contra Deus. Dizemos que é contra o próximo porque de alguma maneira ele sofre com nosso ato. Mas o afrontado é Deus que não nos criou para fazer aquilo.

Porém, há outros aspectos do mesmo pecado que atingem apenas a Deus: O primeiro é não tê-lo como Deus, o segundo é degradar sua pessoa, o terceiro é banalizar seu nome e o quarto é menosprezar sua companhia.

É claro que estou simplificando muito, mas preciso nesta abordagem inicial falar sobre todos ao mesmo tempo para mostrar a conexão que os une.

Há quem veja certa gradação neles e dizem: não ter a Deus como Deus é pior do que tê-lo e fazer representações erradas de sua pessoa, ou profanar seu nome, ou ainda menosprezar o tempo estabelecido para desfrutarmos de sua companhia.

Eu discordo. Ter a Deus e depreciá-lo é o mesmo que casar-se e não respeitar o cônjuge. Aliás, é exatamente essa a figura que Deus usa para esse tipo de comportamento: adultério!

O primeiro erro não é apenas “ter outro deus”, e sim “não ter o verdadeiro Deus”. O Deus que a si mesmo se revelou nas Escrituras Sagradas, e, cumprindo o que prometeu, encarnou-se, e, mediante seu Filho, remiu os seus.

O segundo erro é atribuir-lhe qualquer forma. Seja a mais bela. Mesmo a de Michelangelo na Capela Sistina é pura e simplesmente cometer a maior blasfêmia que se pode cometer contra o Criador.

Ele advertiu nossos pais a se lembrarem de não terem visto forma alguma quando lhes falou do meio do fogo e que por esta razão eles não deveriam ser tentados a fazer qualquer tipo de imagem que o representasse. Leia Deuteronômio 4.15-19.

Leia também a terrível explicação do apóstolo Paulo para a crescente licenciosidade sexual e de como o homem acaba vendo com naturalidade seu pecado, mesmo sendo contrário ao “desenho natural” da anatomia de seu corpo. Leia Romanos capítulo 1, especialmente os versículos 22-27.

A respeito do nome, estou ciente de que o contexto em que, tanto a confecção de imagens, quanto o conhecimento de um nome era o da mais crassa idolatria. Como acontece até hoje em algumas religiões animistas em que se crê que possuindo um boneco se possui a pessoa representada, ou se costurando um papel com o nome de alguém na boca de um sapo a vida daquela pessoa passará a ser um verdadeiro inferno (ou a versão evangélica de queimar papeizinhos com o nome dos pecados escritos livra a pessoa deles).

Porém, não é apenas isso o que está em questão. Envolve-se também o apreço que dedicamos ao tratar o nosso Deus. O tratamos com o respeito que lhe é devido ou já o incorporamos a nossa lista de banalidades? Proclamamos seu Nome com respeito ou o “vendemos como mais um produto de feira”? Anunciamos seu Reino ou fazemos marketing daquilo que chamamos sua igreja?

Para manter esse relacionamento de qualidade conosco ele estabeleceu uma quota de tempo que deve ser gasto em regime de exclusividade: um dia em cada sete. A separação desse tempo é de grande importância para que, não apenas evitemos esses erros, mas cultivemos esses benditos hábitos.

sábado, 8 de outubro de 2011

Engenharia Social


Engenharia é a arte de fazer máquinas, estruturas ou processos. O engenheiro aplica conhecimentos científicos e cria engenhos, trazendo melhor qualidade de vida. A engenharia civil se dedica à construções. A elétrica à geração de eletricidade. A mecânica à fabricação de máquinas e equipamentos. A genética à alteração de genes. Etc.
Porém, há algum tempo se tem falado muito em Engenharia Social. Eu não encontrei um curso sequer com esse nome. Mas há uma definição interessante na Wikipédia: Em Segurança da informação, chama-se Engenharia Social as práticas utilizadas para obter acesso a informações importantes ou sigilosas em organizações ou sistemas por meio da enganação ou exploração da confiança das pessoas.
Em outras palavras: Engenharia Social é a arte de explorar a ingenuidade do próximo. É o golpe (do vigário?) digital.
Exemplo 1: Todos os dias eu recebo, no endereço de nossa Igreja, vários e-mails oferecendo coisas relacionadas às necessidades de uma Igreja qualquer (de móveis até cálices para Santa Ceia). Mas chegam também e-mails anunciando o “Novo Louvor (sic) de Fransciskelvin em 2 Cds pelo preço de um” ou o “Curso de Profecias e Louvor Profético”. Não preciso dizer que sequer abro tais e-mails e qual botão aperto. Junto com eles, insistentemente aparecem e-mails intitulados “Atualize seus dados Junto ao Banco Fulano” (sendo que nem eu, nem a Igreja, somos correntistas desse banco), ou o que é pior: “Pastor, veja o que suas ovelhas aprontaram! Clique nas fotos”.
Anúncio de produtos, seja CDs ou sal grosso (já anunciaram) é o mesmo que aqueles papeizinhos que entulham nossa caixa de correio e nos obrigam a levá-los pro lixo. Já o pedido de atualização de dados, se eu fosse correntista do banco citado, e resolvesse responder, certamente estaria sendo vítima da tal Engenharia Social. O mesmo aconteceria se eu clicasse nas fotos. Os dois casos colocariam meu computador em risco e com ele todos os demais que compartilham a mesma rede.
Exemplo 2: Você está em um pretenso culto evangélico e ouve “Deus está me revelando que alguém aqui está com dor na coluna (ou dor na cabeça, etc.)”. É o mesmo princípio pois estatisticamente em um grupo de 100 pessoas algumas sentirão tais problemas.
Resumindo. O “engenheiro social” é o enganador. É quem se amolda à situação para tirar o maior proveito possível dela (geralmente financeiro). Sobre eles já fomos advertidos em muitos lugares. Veja:
O apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo, disse que chegaria o tempo em que tais pessoas seriam até buscadas: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (2Tm 4.1-5).
E Judas nos alertou sobre a desfaçatez deles: Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre” (Jd 12e13).
A única coisa que nos podemos fazer é ter cautela.

sábado, 1 de outubro de 2011

Pecando contra a soberania de Deus

O aspecto mais sutil do pecado é visto na cobiça.

Sem o desejo de progredir estagnamos até mesmo na vida cristã. Em diversos textos os crentes são exortados a progredirem na fé, e a desejarem coisas superiores. Porem, tal desejo nunca pode ter a forma de cobiça.

Um exame rápido no dicionário nos ensina que cobiça é o “desejo sôfrego, veemente, de possuir algo”. Entretanto a análise da palavra bíblica original que proíbe-nos cobiçar simplesmente nos manda “não desejar”, porém adiciona moduladores: a casa, a mulher, o servo, a serva, o boi, o jumento, “nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”.

Para a Bíblia o que está em jogo não é o desejo de progredir, mas de ter aquilo que o Senhor confiou ao próximo. Em síntese: Se furtar é um pecado contra a mordomia, a cobiça é um pecado contra a soberania de Deus, que distribuiu o que quis a quem lhe aprouve.

Cobiçar é não estar contente com a própria situação. Cobiçar é querer o que o próximo tem. Cobiçar é atribuir a Deus o erro de ter confiado ao próximo aquilo que, na opinião do cobiçoso, deveria estar debaixo de seus cuidados.

Conforme a definição de nosso dicionário há uma diferença clara entre cobiça (desejo sôfrego de possuir algo) e a inveja (desejo violento de possuir o bem alheio). Porém, conforme a palavra bíblica, cobiça é irmã gêmea da inveja (se houver diferença entre elas).

Ora, a inveja (e biblicamente a cobiça) é acima de tudo o pecado que não se realiza externamente, pois todos os demais trazem algum tipo de prazer externo, ainda que maligno e efêmero, como o da desforra, do êxtase, da vingança ou da usurpação. Mas o invejoso ou cobiçoso devora-se e nutre-se do próprio desejo - se dele tirar qualquer proveito - pois, talvez nem disso se possa dizer que teve os “prazeres transitórios do pecado” (Hb.11.25).

Quando o apóstolo Paulo escreve: “Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Rm 13.9) traduz a palavra a que me referi pela por outra grega que significa basicamente desejo (podendo ter até conotações sexuais), mostrando com isso que cobiça nada mais é que um tipo de desejo.

Você já deve ter notado que o que tenho chamado de aspectos do pecado nada mais é do que a aplicação dos 10 mandamentos e que me ative à segunda tábua (a que fala dos pecados contra o próximo).

Agora, veja mais uma de minhas razões para acreditar que se trata de um pecado só (contra Deus) em múltiplos aspectos: Naqueles dias, quando sequer se sabia pensar direito (estou falando dos israelitas e não dos filósofos gregos) Deus já os ordenou a não cobiçar!

Entendeu? Faz algum sentido proibir a um bando de peregrinos que não se matem uns aos outros. Também faz sentido proibir-lhes que não tomem as mulheres uns dos outros, ou que não roubem o pouco que carregam deserto afora. Mas, que sentido faz proibir cobiçar os animais que facilitam a jornada de uma família vizinha?

Somente o Senhor Deus é capaz de chegar a tal nível de exigência de seus filhos, como no Novo Testamento ele chega a determinar aquilo em que não devemos pensar, como acontece na Carta aos Filipenses!

Não foi sem razão que o apóstolo Paulo disse: “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7.14).