domingo, 1 de março de 2009

Condoído e indignado

O Evangelista Marcos usou essa expressão para descrever o que nosso Senhor sentiu ao ver um grupo de líderes religiosos ansiosos para saber se ele curaria, no sábado, a mão aleijada de um homem.

Marcos destaca em seu Evangelho os atos de Jesus, e, logo no início, relata como a prisão de João Batista influenciou nosso Senhor a iniciar seu ministério na Galiléia. Veja:

“Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.14).

Chamada de Galiléia dos Gentios, por sua população miscigenada à força desde a invasão dos Assírios, a Galiléia era uma terra desprezada por todos. Para os judeus fazia parte do antigo e rebelde Reino do Norte e para os Romanos era onde regularmente cobravam impostos e esporadicamente sufocavam rebeliões.

Grande baixio ao norte das montanhas de Judá e às margens do lago de Tiberíades, que, de grande, era chamado de Mar da Galliléia. Vivia da agricultura e principalmente da pesca, que chegava a demandar pequenos grupos pesqueiros - como as famílias de Pedro e de João - devido a venda de uma espécie de molho de peixes, muito apreciado pelos romanos. Era lembrada tanto pelo fedor de suas cidades pesqueiras, quanto pelo atraso cultural de seus habitantes.

Lugar proverbial: Nicodemos ouviu de seus colegas “Examina e verás que da Galiléia não se levanta profeta”. E Natanael perguntou a seu irmão Felipe: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”.

Nessa terra desprezada nosso Mestre começou seu ministério terreno. Ele já a conhecia bem. Afinal fora criado em uma de suas cidades: Nazaré. Aquela, da qual se dizia não produzir nada de bom.

Mal tomou a tarefa de João três empecilhos se levantaram. Necessidades materiais, espirituais e perseguição religiosa.

Não eram poucos aqueles a quem as enfermidades falavam mais alto do que o Evangelho; a esses ele curou. Também libertou aos que o inimigo possuía. Mas, tenho a impressão de que, o que mais aborrecia o Senhor era o comportamento vil daqueles que deveriam justamente cuidar de seus interesses.

Quando leio o Novo Testamento sempre tenho a impressão de que os judeus até toleravam certa pluralidade de pensamento - veja o nome das sinagogas que se juntaram contra Estêvão e a alusão a seitas judaicas no livro de Atos - desde que o sábado e a circuncisão fossem observados e as autoridades do templo acatadas. Entretanto, como o Senhor mesmo disse: Coavam mosquitos e engoliam camelos.

A estratégia do Senhor para enfrentar tais obstáculos foi simples: Além dos 12 que chamou para estarem juntos de si, comissionou 70, deu-lhes autoridade sobre doenças e demônios e determinou que fossem à frente preparando cada cidade em que ele ia passar.

Obviamente sua intenção era ter mais tempo para pregar o evangelho e ensinar. Porém, nem os 70, nem os 12, detiveram os líderes religiosos. A dureza de coração deles, e o “desconhecimento das Escrituras e do poder de Deus” não apenas os mantiveram “laborando em grande erro”, mas foram os instrumentos que Deus usou para levaram seu Filho ao último altar da Antiga Aliança: a cruz.

Condoído com a natureza humana e indignado com a incredulidade dos que, devendo conhecê-la, e levá-la aos pés do Redentor se aproveitavam dela para manter seus próprios privilégios: Obreiros da iniqüidade.

Não há muita diferença do que ocorre hoje. Entretanto, como naqueles dias, o evangelho não está amordaçado.

Nenhum comentário: