sábado, 19 de janeiro de 2013

A Bíblia em Português

Você já percebeu como é difícil escolher uma Bíblia com tantas opções de formato e cor? Agora, já procurou uma não “de afinidade” (do executivo, da mulher, do adolescente, de promessas, etc) ou de estudos? Recentemente, tive de encomendar. Porém, por traz disso, há um problema maior: a tradução.

No Brasil encontramos, com facilidade, pelo menos 9 versões protestantes da Bíblia. Almeida Revista e Corrigida, Almeida Revista e Corrigida Fiel, Almeida Revista e Atualizada, Almeida Século XXI, Almeida Edição Contemporânea, Nova Versão Internacional, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Bíblia Viva e A Mensagem (teremos outro tanto se considerarmos as versões Católicas Romanas).

A primeira tradução da Bíblia para o Português é creditada a João Ferreira d’Almeida que publicou o Novo Testamento em 1693 e em 1748 Jacobus op den Akker completou o que ele deixou pronto do Antigo Testamento. Porém, antes dele, há conhecimento de diversas porções da Bíblia (como a Bíblia de D. Dinis (1261-1325), que continha os 20 primeiros capítulos do Gênesis e foi traduzida da Vulgata Latina). Depois de Almeida muitos tentaram fazer o mesmo.

O próprio texto de Almeida contribuiu diretamente com:

1ª - Revista e Corrigida (1940) pela imprensa Bíblica Brasileira que compilou os textos da Edição Revista e Correcta (1873) e Edição Revista (1894). Hoje é editada, com pequenas variações, pela Sociedade Bíblica Brasileira (que a revisou em 1995 e 2009), Imprensa Bíblica Brasileira (que a revisou em 1997) e pelas Sociedade Bíblica de Portugal.

2ª - Revista e Atualizada (1959 e reeditada em 1988 e 1993) pela Sociedade Bíblica do Brasil valendo-se de uma ferramenta crítica da qual falarei depois.

3ª - Corrigida Fiel (1994) pela Sociedade Bíblica Trinitariana, procurando preservar a equivalência formal (palavra por palavra) e as classes gramaticais (verbo por verbo, substantivo por substantivo, etc.) e destacando as palavras adicionadas necessárias a compreensão.

4ª - Contemporânea (1990) pela Editora Vida, a partir da Corrigida para, como declaram: produzir um texto limpo de arcaísmos e ambiguidades e ao mesmo tempo preservar um estilo belo, ungido e admiravelmente soberano...

5ª - Século XXI (2007), feita pela Editora Vida Nova, procurou conciliar, como declaram: exatidão exegética e fluência.

Outros textos:

6ª - NVI (1993) pela Intenational Bible Society, como se depreende da introdução: através de uma equipe multidisciplinar, multinacional e multidenominacional de teólogos e estudiosos inspirados pelo projeto americano similar de 1978 que produzissem um texto que levasse em conta precisão, beleza de estilo, clareza e dignidade.

7ª - Linguagem de Hoje (1988) pela Sociedade Bíblica do Brasil com o objetivo de tornar a leitura mais acessível. Vale-se da equivalência dinâmica. Ou seja: Não tem qualquer compromisso com as palavras, apenas com a ideias (como as entendem).

8ª - Bíblia Viva (1981) pela Editora Mundo Cristão é na realidade uma tradução da Living Bible de Keneth Taylor. Ou seja uma paráfrase de uma paráfrase inglesa.

9ª - A Mensagem (2011) pela Editora Vida é na realidade a tradução do livro The Message, de Eugene Peterson, que é ainda mais livre do que uma paráfrase. Segundo ele disse é o modo como lia a Bíblia em palavras que fossem entendidas por todos que o ouviam durante seus anos de ministério.

Na realidade há mais, que não são estão nas lojas.

Talvez você esteja perguntando: E daí? Isso me afeta em que? Vou dar dois exemplos. O primeiro, qualquer que seja sua tradução, em nada afeta o sentido da história menor, muito menos da história de Israel, menos ainda o sentido da História da Redenção, mas nos mostra o quanto os conceitos afetam até mesmo um tradutor que se orienta pela equivalência formal.

Em Juízes 3.24 é narrado como Eúde matou Eglom, Rei dos Moabitas, e fugiu sem ser visto, trancando atrás de si a sala do trono onde deixou o cadáver. Os servos de Eglom sentiram sua demora, mas, pensaram literalmente: ele cobre os pés na sala fresca.

A Corrigida traduziu: está cobrindo seus pés na recâmara da sala de verão.

A Corrigida Fiel traduziu: está cobrindo seus pés na recâmara do cenáculo fresco.

A Atualizada traduziu: está ele aliviando o ventre na privada da sala de verão.

A Século XXI traduziu: está aliviando o ventre no seu quarto de verão.

A Edição Contemporânea traduziu: está aliviando o ventre na privada da sala de verão.

A NVI traduziu: Ele deve estar fazendo suas necessidades em seu cômodo privativo.

A Nova Tradução da Linguagem de Hoje traduziu: Então pensaram que o rei tinha ido ao banheiro.

A Bíblia Viva traduziu: Decerto está dormindo na sala de verão.

A Mensagem traduziu: Provavelmente ele está no banheiro, fazendo suas necessidades.

A expressão “cobrir os pés” é conhecida dos brasileiros. Os gaúchos dizem: “ir aos pés” como sinônimo de fazer necessidades fisiológicas. Portanto a tradução da Bíblia Viva (dormir) está prejudicada.

Banheiro, como lugar de fazer necessidades é algo muito recente. Mais recente do que o “quarto de banhos” onde se usava banheira e depois duchas ou chuveiros. Naqueles dias ou usava-se os matos, ou no caso de uma sala real se construía um jardim adjacente. Como é chamado de “sala fresca” provavelmente fosse um jardim superior, ou uma cobertura. Portanto, embora seja mais simples de se entender, quando se traduz por privada ou banheiro, se atribui à época algo que não existia (anacronismo). As traduções da Mensagem, NVI, Linguagem de Hoje, Contemporânea e Atualizada falharam.

A Corrigida e a Corrigida Fiel insistiram em recâmara onde pode ser apenas um cômodo. Entretanto, foram as mais literais.

Como segundo exemplo veja Mc 15.2 em que a intenção de Jesus precisou ser interpretada por todos:

A Corrigida Fiel, a Corrigida, a Atualizada e a Contemporânea: E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.

A Século XXI: E Pilatos perguntou-lhe: Tu és o rei dos judeus? Jesus lhe respondeu: É como dizes.

A NVI: “Você é o rei dos judeus?” Perguntou Pilatos. “Tu o dizes”. Respondeu-lhe Jesus.

A Bíblia Viva: Pilatos perguntou a Ele: “Você é o Rei dos Judeus”? “Sim”, respondeu Jesus, “é como o senhor está dizendo”.

A Linguagem de Hoje: Pilatos perguntou: - Você é o rei dos judeus? - Quem está dizendo isso é o senhor! - respondeu Jesus.

A Mensagem: Pilatos perguntou: “Você é o ‘Rei dos Judeus’?” Jesus Respondeu: “Se você diz”.

Percebeu?

E eu estou dando exemplos apenas da forma. E chamo sua atenção para a necessidade de acautelar-se das paráfrases.

Não há uma tradução que substitua eficazmente a exposição fiel de um texto bíblico. Ler a Bíblia é algo importantíssimo, porém estudá-la, ou ouvir exposições fiéis (aquilo que a Fé Reformada chama de sermões) é vital para bem compreender seu conteúdo.

O inverso também é verdadeiro. Pesa nos ombros dos Ministros da Palavra de Deus (por essa razão é que as Escrituras ordenam que eles se afadiguem na palavra e no ensino) uma exposição correta do texto de modo que ele mantenha, em nossa língua e cultura, o máximo de sua força: como se um ouvinte original o estivesse ouvindo.

4 comentários:

Unknown disse...

Olá.

Eu já me deparei com um argumento de anacronismo da parte de um espírita que questionou a condenação bíblica de sua prática justamente por conta de algumas traduções que trazem as palavras "médium" e "espírita". Ele alegou que as palavras "médium" e "espírita" são criações recentes ligadas às práticas e doutrinas modernas da mediunidade e espiritismo e, portanto, não podem ser referidas no texto bíblico original de milênios atrás.
Embora, possamos alegar que tais palavras transmitem o conceito pretendido no texto sagrado, precisamos também de cautela, pois uma tradução imprecisa pode dar brecha para o descrédito de quem não queira se submeter ao ensino do Senhor.

Segue o referido texto:

Deuteronômio 18.11:

"Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;"
Almeida Corrigida Fiel

"nem encantador de encantamentos, nem quem consulte um espírito adivinhante, nem mágico, nem quem consulte os mortos,"
Almeida Revista e Corrigida

"nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos;"
Almeida Revista e Atualizada

"nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;"
Almeida Revisada Imprensa Bíblica

"nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;"
Almeida Século XXI

"ou faça encantamentos; que seja MÉDIUM OU ESPÍRITA ou que consulte os mortos."
Nova Versão Internacional

"nem quem faz despachos, nem os que invocam os espíritos dos mortos."
Nova Tradução na Linguagem de Hoje

"Por exemplo: não viverá o israelita que entregar filho ou filha para ser queimado em sacrifício aos deuses. Também nenhum israelita poderá dar-se a nenhuma destas práticas: adivinhar o futuro e coisas secretas; ler a sorte das pessoas - seja por que meio for; invocar espíritos para pedir a ajuda deles; encantar ou hipnotizar bichos e pessoas; fazer trabalho de MÉDIUM; fazer magia ou todo e qualquer tipo de feitiçaria; consultar os mortos."
Bíblia Viva

Abraço,

Emerson.

Unknown disse...

Olá, novamente.

Quanto a questão dos manuscritos usados também podemos nos deparar com certas diferenças.

Essa eu descobri há pouco:

Gênesis 47:21:

As versões baseadas no Texto Massorético trazem assim:

"E, quanto ao povo, fê-lo passar às cidades, desde uma extremidade da terra do Egito até a outra extremidade."
(Almeida Corrigida Fiel)

"E, quanto ao povo, fê-lo passar às cidades, desde uma extremidade da terra do Egito até à outra extremidade."
(Almeida Revista e Corrigida)

As versões baseadas na Septuaginta, se não me engano, ficaram assim:

"Quanto ao povo, ele o escravizou de uma a outra extremidade da terra do Egito."
(Almeida Revista e Atualizada)

"E José tornou o povo escravo, de um extremo ao outro do Egito."
(Almeida Século XXI)

"Quanto ao povo, José o reduziu à servidão, de uma à outra extremidade do Egito."
(Nova Versão Internacional)

"e José fez dos egípcios escravos no país inteiro."
(Nova Tradução na Linguagem de Hoje)

As duas primeiras transmitem a ideia de que depois de José comprar para Faraó as propriedades do povo no campo, as pessoas se mudaram para as cidades.

As demais versões já dizem que após vender para Faraó suas propriedades no campo o povo passou a ser escravo.

De população urbana para escrava há uma certa diferença considerável.

Abraço,

Emerson.

joão disse...

Tenho acompanhado de perto todas as pastorais do reverendo. Me sinto previlegiado porque sou uns dos primeiros a tomar conhecimento de todas elas, mas estas duas últimas me chamou à atenção pelo fato de não saber até então a quantidade de tantas traduções da Bíblia. Eu vejo que o povo de Deus precisa conhecer mais e mais as maravilhas da Palavra dele. Creio que Deus está usando todas as versões com objetivos de chamar atenção do seu povo escolhido.

Um abraço
João Evangelista Valeriano

folton disse...

Se Deus permitir na próxima semana.
ab
Fôlton