sábado, 30 de março de 2013

A cruz de Jesus

À semelhança de Isaque, Jesus percorreu o monte Moriá carregando a madeira de seu sacrifício, pois Jerusalém foi construída sobre o monte Moriá (2Cr 3.1) o mesmo monte que Abraão subiu com Isaque.

Podemos dizer com certeza que Isaque carregou algumas achas de lenha ajuntadas em feixe, pois o Texto Sagrado diz que Abraão “rachou lenha para o holocausto” (Gn 22.3), mas não sabemos exatamente o que Jesus carregou: A cruz inteira? A trave horizontal?

Os evangelistas são unânimes em dizer que ele carregou a stauros, o que transmite a impressão de se referirem à chamada cruz comissa, ou cruz em tau (tau é a letra grega correspondente ao nosso T. Ou seja: Ela teria a forma de um Tê maiúsculo).

A forma atual, se deve mais a interpretação que os artistas fizeram de João 19.19: “Pilatos escreveu também um título e o colocou no cimo da cruz… (Atualizada)”. Concluíram que a placa de Pilatos foi colocada na parte superior da cruz, o que implica no uso da cruz imissa ou no formato de tê minúsculo (†). Entretanto, não pensaram na hipótese de um cartaz hasteado sobre o Tê (maiúsculo), como é perfeitamente aceitável em outra tradução: “E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz (Corrigida)”.

Tenha nosso Senhor levado a cruz inteira ou só a trave horizontal; tenha sido tal trave grande como a de um Tê maiúsculo ou menor como a de um t minúsculo, o certo é que diferentemente de Isaque ele não carregou apenas a madeira. A madeira que ele carregava, estava, por assim dizer, impregnada por todas as desgraças, desde Adão, as quais ele veio remover, a fim de que a criação de Deus voltasse a ser o que devia ter sido desde o começo. Ou melhor: passasse ao estágio de glorificação em que o pecado não mais existisse: fosse glorificada.

Não é à toa que Paulo declara auto e bom tom: “...mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1Co 1.23).

Não é à toa que amamos a mensagem da cruz!

sábado, 23 de março de 2013

A última semana de Jesus (Parte 2)

Iniciei a primeira parte deste assunto mostrando o quanto os Evangelhos dão destaque a última semana do Senhor e concluí, com a narrativa de João, explicando que o Senhor colocou a si mesmo como padrão de amor ao próximo ao dizer: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34). Como essas palavras foram ditas em um contexto de despedida, deram ensejo a que Pedro prometesse dar a vida por Jesus, ao que ele respondeu: “Darás a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo que jamais cantará o galo antes que me negues três vezes” (Jo 13.38).

Jesus já sabia que todos o abandonariam, pois assim profetizara Zacarias (Zc 13.7). Alertou seus discípulos de que eles se escandalizariam quando os acontecimentos profetizados se cumprissem (Mc 14.27-52). E se cumpririam, pois ele – Jesus – não deixaria cair sequer um i ou um til do que seu Espírito levara Zacarias e os demais profetas a registrar.

Porém, se ele era cuidadoso em não desdizer as Escrituras, como entender a participação dos demais na trama abominável que culminou em sua morte? Creio que a melhor resposta ainda é a tradicional: todos fizeram de acordo com os desejos dos próprios corações.

Judas e Pedro se destacam dos demais, que apenas fugiram. Alguns dizem que Judas era um zelote e, como lutava contra Roma para firmar o reino de Israel, ficou ressentido ao perceber que Jesus não tinha a menor intenção de estabelecer um reino material. Outros dizem que ele queria vingar-se de Jesus pela repreensão pública que recebera na casa de Maria (compare João 12.1-8, que identifica Judas como o maior repreendido, com Marcos 14.3-9 que mostra a veemência da repreensão de Jesus). Já outros atribuem seu ato apenas a possessão demoníaca.

Que o diabo sempre agiu na vida de Judas, Jesus deixa isso muito claro. Após proferir um discurso tão pesado que muitos discípulos o abandonaram. Então lhes explicou:ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido” (Jo. 6.65). E perguntou aos Doze se eles queriam ir embora também. Pedro lhe respondeu que não havia pra onde ir, pois ele possuía as palavras de vida eterna, e eles (os Doze) tinham crido e conhecido que “tu és o Santo de Deus”. A conclusão de Jesus é esclarecedora, pois nos permite entender que Judas, foi mantido entre os Doze, com o consentimento do Pai, desde o princípio, mesmo ‘diabo’: Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo. Referia-se ele a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era quem estava para traí-lo, sendo um dos doze” (Jo 6.70-71).

Ora, os motivos externos, dos quais o diabo se servia, eram os mais comezinhos: roubar: “Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava” (Jo 12.6).

Porém, o caso de Pedro me parece ser pior, pois Judas sequer era um filho de Deus: “Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura” (Jo 12.12).

Além de ser filho de Deus, Pedro conviveu com o próprio Jesus e por ele foi ensinado, exortado, admoestado e alertado, mas ele agiu como se de nada valesse as palavras do Senhor. Tão xucra era sua opinião. Tão teimosa e obstinada sua vontade.

Pedro foi amedrontado, não pelo que estava acontecendo, mas pelo que poderia acontecer. Pedro acovardou-se, não diante de um soldado armado, mas diante de uma criada faladeira. Pedro, no fundo, tinha mais vergonha do que medo.

Os quatro relatos da negação de Pedro – complementares, como seria de se esperar de narradores independentes – são de uma vivacidade impressionante. Descrevem o acontecimento com imagens vivas e cruas. Todos concordam que aconteceu no pátio da casa do sumo sacerdote, durante o julgamento noturno de Jesus. Todos concordam que a primeira a questionar Pedro foi uma criada. Mas cada um nos dá informações relevantes:

De João (Jo 18.15-27) ficamos sabendo que, por ele ser conhecido do sumo sacerdote, a entrada de Pedro foi facilitada. Então, provavelmente João tenha visto seu pecado. Nos informa também que o último questionador de Pedro era parente do servo do sumo sacerdote a quem Pedro havia cortado a orelha. Aliás, é por ele que sabemos que foi Pedro quem cortou.

Por Mateus (Mt 26.58-74) e Marcos (Mc 14.54-72) ficamos sabendo que Pedro jurou e praguejou para dar mais força a sua negação.

E por Lucas (Lc 22.55-62) sabemos que Jesus, imediatamente antes do galo cantar, fitou os olhos em Pedro e o fez lembrar-se de suas palavras.

Dentre os muitos pecados que cometeu, até chegar a esse ponto, Pedro foi principalmente imprudente. Ele desejava estar com o Senhor, mas também desejava guardar-se. Ele ainda não havia entendido que estar com Cristo, não consiste apenas em desfrutar de seus ensinos, mas também em estar com ele até mesmo no vale da sombra da morte.

Essa atitude de Pedro é muito parecida com a nossa hoje. Desejamos estar com Cristo nas horas boas, mas detestamos, ao ponto de negá-lo, ser apenas confrontados. Exemplo? Como é que acreditamos que Jesus viveu na história e morreu para nos salvar do pecado que Adão nos legou e chegamos ao ponto de dizer que Adão é apenas um símbolo de que Deus criou o homem? Se Adão é símbolo Jesus também o é. Se admitirmos isso estaremos cometendo, em nome do intelectualismo, o mesmo pecado de Pedro: Negando a Jesus.

Que haja sempre um galo a nos despertar!

sábado, 9 de março de 2013

A última semana de Jesus

Certamente a última semana do Senhor recebeu um destaque especial de todos os Evangelistas, que gastaram, em média, 32% das palavras dos evangelhos para falar de apenas 1 das 170 semanas a que se referem na infância, adolescência e por fim, nos três últimos anos do ministério de Jesus.

Numa leitura rápida tem-se a impressão de que João é quem mais se preocupou com ela. Afinal dos 21 capítulos de seu Evangelho, 9 descrevem eventos que aconteceram naquela semana. Mas, na realidade, é Marcos, quem proporcionalmente dedica-lhe mais palavras: 36,9%. Depois João (35,3%). Em terceiro lugar Mateus (34,7%) e finalmente Lucas (22,3%). Calculei usando o texto grego majoritário.

Porém, a intensidade com que João trata esta semana se destaca dos demais ao ponto de causar a impressão de que tudo gira em torno dela. Observe, que, segundo João, após haver ceado, Jesus mandou Judas fazer o que tinha de fazer (e ele aproveitou para buscar a guarda do Templo) e João narra uma longa instrução de Jesus aos onze, inclusive sua conhecida oração sacerdotal.

Essa instrução começa com a celebração da Páscoa, que é transformada pelo Senhor na Ceia em que até hoje rememoramos a sua morte. Porém, João narra um detalhe: Jesus lavou os pés de seus alunos. E lhes ensinou: “Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes” (J0 13.12-17).

João era um dos que viviam discutindo quem seria o maior no reino dos céus. Ele e seu irmão Tiago chegaram até a constranger a sua mãe – provavelmente tia de Jesus – a pedir que se assentassem ao lado de Jesus em glória. Certamente João aprendeu a lição ao ver Jesus lavando seus pés. Embora a respeito de Tiago não haja nada escrito, seu martírio nos autoriza a pensar que aprendeu também.

Tão rica essa instrução, dificilmente pode ser esgotada nesses comentários pequenos. Mas a segunda instrução, igualmente corretiva, é fundamental: “...angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá[...] É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa. Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu a que fim lhe dissera isto. Pois, como Judas era quem trazia a bolsa, pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que precisamos para a festa ou lhe ordenara que desse alguma coisa aos pobres. Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite. Quando ele saiu, disse Jesus: Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele” (Jo 13.21-31).

O que estava por vir, as lições que ainda transmitiria aos que continuariam sua obra, não eram para os ouvidos de Judas. Por exemplo, a grande alteração que ele faz na segunda tábua, de modo a acabar com uma possível ambiguidade: Em vez de amar o próximo como amamos a nós mesmos, agora temos de amar nosso próximo como ele (Jesus) o amou: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34).

E as lições tremendas continuaram. Chegaram a nós? Claro que sim! As observamos? Essa é a pergunta que temos de fazer todos os dias a nós mesmos.

sábado, 2 de março de 2013

A Bíblia TEM Razão!

Um dos maiores desserviços prestados ao cristianismo nos últimos tempos foi a publicação do livro “E a Bíblia Tinha Razão”. Apesar de muitos terem este livro quase que como uma Bíblia paralela, que explica o que a outra quer dizer, na realidade ele a desdiz, pois “explica” todos os milagres com eventos naturais.

Seu autor inaugurou uma linha moderna de publicações e “filmes científicos” com o mesmo objetivo: dia desses vi um que explicava as pragas do Egito como uma sequência de acidentes ecológicos em que o primeiro provocou o segundo, o segundo provocou o terceiro... até o último. Ou seja: Tudo! Menos Deus.

Quando me refiro a uma linha moderna faço de propósito, pois sempre houve quem tentasse explicar as intervenções divinas por outros meios. A Bíblia registra alguns. A oração de Jesus é apenas um exemplo: “Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei. A multidão, pois, que ali estava, tendo ouvido a voz, dizia ter havido um trovão. Outros diziam: Foi um anjo que lhe falou” (João 12.28-29).

A ciência deve muito a Johannes Kepler. Foi ele quem descobriu a as leis que regem o movimento dos planetas. Talvez por isso não se conteve em retroceder seus cálculos e datar a aparição da estrela de Belém, em 7 a.C. Saturno e Júpiter estavam em posições, que, para alguém que os olhasse da terra se mostrariam como uma grande estrela, ou pelo menos um estrela mais brilhante do que as demais.

O texto bíblico fala de uma estrela sim, porém era uma estrela de brilho tão discreto que Herodes precisou perguntar quando ela foi vista: 7 Com isto, Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles com precisão quanto ao tempo em que a estrela aparecera. [...] 16 Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos” (Mateus 2.7e16).

Também sempre foram feitas tentativas de se explicar os milagres de Jesus através de processos naturais. Quem nunca ouviu falar de que a multiplicação dos pães foi na realidade um ato de generosidade daquele garoto que contagiou a todos a abrirem suas matulas e compartilharem com os demais? O que a cura de cegos e paralíticos eram apenas o efeito de sugestão? Ou que a própria ressurreição do Senhor foi a volta de um desmaio curado pelo descanso silencioso e pela humidade do túmulo.

Curiosamente, após a queda deste meteorito alguns irmãos me perguntaram se isso poderia ser entendido como cumprimento de profecias que dizem “as estrelas cairão do céus”. Provavelmente sim, pois até hoje, desde os tempos mais remotos – provavelmente desde os próprios tempos bíblicos – chamamos este fenômeno em língua corrente de Estrela Cadente (que cai).

Porém, não foi isso que mais me chamou atenção. Fiquei impressionado com a narrativa unânime de um clarão mais ofuscante do que o sol! Eu sempre tentei saber como um fenômeno assim, muitas vezes mencionado na Bíblia, aconteceria por processos naturais.

Uma vez arisquei olhar para um arco de soldagem elétrica e vi que era mais clara do que o sol, porem era um processo artificial. Mas eu ainda não havia encontrado na natureza nada semelhante. Ouvia falar que era possível ocorrer, mas não havia testemunhado. Pois bem: eis aí um até corriqueira (que acontece centenas de vezes todos os dias). Só que agora foi flagrada pelas câmeras.

Entretanto, não cometamos o mesmo erro, pois a luz do que a Bíblia fala, na transfiguração do Senhor, na conversão de Saulo e em outros lugares, o clarão provém diretamente daquele que criou não só os luminares mas a própria luz em si. Aquela verdadeira luz da qual a que vemos, mesmo a do meteorito, é apenas uma sombra, que apesar de fascinar, e até assustar, é efêmera e jamais se compara à que serve de morada para o Altíssimo “... o Rei dos reis e Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém!” (1Tm 6.15).