sábado, 29 de abril de 2006

Desabafo de um "neo-evangélico"

No mesmo dia em que Jesus ressuscitou apareceu a algumas pessoas: as mulheres, os dois que iam para Emaús e Pedro. Justamente as pessoas mais erradas para divulgar um evento tão importante como a vitória sobre a morte. As mulheres não eram tidas como fonte segura de informações, os dois discípulos não faziam parte dos doze a quem Jesus designou Apóstolos, e Pedro o havia negado de forma pior do que Judas.

Não seria o caso do Senhor, chamar aqueles guardas romanos assustados, passar-lhes uma reprimenda e mandá-los chamar, o comandante, a Pilatos, a Herodes, os Príncipes e os membros do Sinédrio que o condenaram?

Em vez de aparecer em uma sala com os onze e chamar a Tomé, Jesus devia ter aparecido logo no palácio de Cezar, em Roma, e reivindicar-lhe obediência.

Não estava tudo dominado? Ele mesmo não declarou que todo poder lhe fora dado no céus e na terra?

Afinal que espécie de exemplo ele passou para nós? Nós não somos o exército vitorioso a bater nas portas do inferno? Não saltaremos muralhas? Alguma coisa nos resistirá? Ele não é o nosso comandante? Por que essa discrição toda e apresentar-se ressuscitado apenas para seus seguidores?

Por falar em nós ... Por que ele não deixou para fazer tudo isso hoje? Seu objetivo não era tornar-se conhecido do mundo? Hoje poderíamos promover uma cobertura mundial, ao vivo, por rádio e televisão, de sua ressurreição. Os jornais e as revistas detalhariam o evento. Uma junta médica poderia comprovar o que aconteceu. Poderíamos fazer listas e comunidades na Internet e divulgar a muito mais gente.

Hoje, muito mais gente está se perdendo. Parece até que ele não quer salvar a humanidade! Ressuscita, aparece a algumas mulheres, a alguns medrosos, põe uma carga tremenda nas costas de Paulo, que ainda tem de lutar para ser reconhecido como Apóstolo (pois eles haviam escolhido Matias), e hoje a gente tem de ficar cada dia bolando novas estratégias para reverter esse erro inicial. Será que ele não entendia que um marketing bem sucedido depende do primeiro ato?
Afinal seu objetivo não é dominar o mundo pelas idéias pelas quais morreu?

Já não dá pra agüentar esses conservadores que dizem que ele morreu como sacrifício ao Pai para pagar os pecados apenas daqueles que o Pai lhe deu. Que bobagem: os pais é que se sacrificam pelos filhos. Ele morreu para nós. Para que todos os que quiserem fiquem sob seu comando e formem um grande exército.

Nós, os que já somos seus, devemos nos empenhar para tornar suas idéias mais atrativas ao mundo e conseguir mais seguidores pra ele. Mas assim ta difícil.

“... aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação”. 1Co 1.21

sábado, 22 de abril de 2006

As experiências diárias e a Palavra de Deus

De todos os desafios que nós cristãos enfrentamos nos dias de hoje, certamente o maior é entender e conviver com a constante tensão entre o que Deus nos ensina e o aprendemos pela experiência cotidiana.

Simplificando: Aprendemos da Palavra de Deus algo, entretanto sempre conhecemos alguém que é uma exceção àquilo.

Seria numeroso citar a quantidade de lugares em que somos alertados a esse respeito. Há testos terríveis nos alertando que mesmo que a nossa experiência seja com um “anjo de luz”, ainda assim a Palavra de Deus deve ter primazia. Ou seja: A Bíblia não foi revogada porque uma experiência contrária ao que ela ensina deu certo.

Primeiramente, devemos nos lembrar, que todas as experiências pelas quais passamos, e pelas quais ainda vamos passar, acontecem nessa vida. Na outra vida, na presença de Deus, o que vale é sua Palavra. Os “is” (i) e os “tis” (~) dela são mais estáveis do que o céu e a terra. Estes passam, aquela jamais.

Em segundo lugar devemos nos lembra que nossa vida atual é, em grande parte regida pelos sentidos. Os filósofos já a chamaram de vida sensorial, já que é impossível vivê-la apenas pela razão pura.

Observe: Se alguém perder o sentido da audição, ainda é pode viver com boa qualidade de vida. Mas o que diríamos se esta mesma pessoa perdesse também o sentido da visão? Sem estímulos sonoros e visuais, o coração continuaria batendo, os pulmões continuariam respirando, o sistema digestivo continuaria funcionando. Ou seja: biologicamente ela poderia viver com autonomia. Porém, como seriam suas decisões mais simples? Como seria seu viver em sociedade? E não se esqueça que ela ainda possuiria três outros sentidos.

A maioria de nossas experiências, acontecem através da visão e da audição. Porém, ambas podem ser afetadas. O que são as alucinações? Ou as impressões?

Há experiências de uma vida, que contrárias a Palavra do Senhor, foram abençoadas por ele, tão somente pela sua graça. Ou seja: O ato foi errado, mas, sem ter obrigação nenhuma para com os que o cometeram - já que o fizeram contra o pacto estabelecido por Deus - ele abençoou.

Porém, há experiências efêmeras, de origem completa e totalmente duvidosa - que podem ter origem em nossa imaginação, em um abalo psicológico, ou até no inimigo de nossas almas, que muitas vezes, trazidas ao convívio do Povo de Deus, são impostas como norma para ensino e até para interpretação das Escrituras.

A respeito disso somos advertidos pelo Senhor:

“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.

Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal, e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus”.
Colossenses 2.16a19

sábado, 15 de abril de 2006

A ressureição de Jesus

Quando o Senhor ressuscitou, não aconteceu o mesmo que aconteceu aos que já haviam ressuscitado - como, por exemplo, Lázaro, a filha de Jairo, etc). Todos estes reassumiram a vida que tinham antes. O Senhor Jesus assumiu a vida que Adão teria se não tivesse cometido o pecado de desobedecer a Deus.

Não sabemos muito sobre essa “nova vida”. Porém podemos depreender alguma coisa de diversas informações que encontramos na Bíblia.

Sabemos que uma das conseqüências do pecado de Adão, foi atrair a maldição de Deus sobre a terra que ele deveria cultivar: “maldita é a terra por tua causa”. Sabemos também que houve uma espécie de “alteração biológica”. A Eva, Deus sentenciou: “com dores tu terás filhos”. Pois bem: tudo isso foi revertido com a ressurreição de Cristo - sendo que grande parte ainda aguarda sua volta para se tornar efetivo.

Obviamente houve muitas outras mudanças que atingiram a o ecossistema do primeiro casal. Porém, para o tema deste artigo estas duas serão suficientes.

Jesus - chamado de primeiro desta nova criação - após sua ressurreição apresentou certas características que não se encaixam em nossa biologia atual, nem na que ele ele possuía antes.

Por exemplo: Maria Madalena, e os dois de Emaús, não o reconheceram de pronto. Foi necessário ele “dar-se a conhecer”. Ele desapareceu diante dos dois de Emaús e apareceu em uma sala fechada onde os onze estavam escondidos.

Porém não pensemos que ele perdeu seu corpo. Ele mandou Tomé ver os buracos dos cravos e colocar o dedo na ferida da lança. Comeu, mais de uma vez, com eles. E fez questão de declarar que possuía carne e ossos.

Porém, podemos obter mais informações: Quando, para mostrar que nós ressuscitaremos também, o Apóstolo Paulo, exorta a problemática Igreja de Corinto a não duvidar da ressurreição, pois isso faz parte integrante da fé salvadora. Leia com atenção:

Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm?

Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer; e, quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente. Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado.
... Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual. Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual.

O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos; e, como é o homem celestial, tais também os celestiais.

E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial.

Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. (1Coríntios 15.35-50)

Percebeu? É uma nova criação.

sábado, 8 de abril de 2006

Gestos impensados

Será que houve em toda história da humanidade um gesto mais impensado do que o recebimento festivo de nosso Senhor em Jerusalém?

Alguns dirão que a desobediência de Adão foi mais impensada. Eu discordo. Adão viu o que sua esposa fizera. Sabia da proibição do Senhor. Mesmo assim desobedeceu. Seu pecado foi "de caso pensado".

Outros dirão da morte de Jesus. Porém como podemos chamar de impensado um gesto praticado nas seguintes condições: “E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos” ? (Mt 27.25).

Alguns dirão que Jesus foi recebido por peregrinos que estavam em Jerusalém e foi crucificado pelos habitantes dela. Porém, esse argumento não se sustenta uma vez que, na Páscoa, Jerusalém recebia mais peregrinos do que possuía de habitantes. É possível que a quantidade de peregrinos chegasse a 10 vezes o número de residentes na cidade e Lucas diz: "Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou. Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo. E todas as multidões reunidas para este espetáculo, vendo o que havia acontecido, retiraram-se a lamentar, batendo nos peitos. (Lc 23.46e47).

Jesus foi recebido com ramos, com vestes estendidas a fim de que a montaria onde ele estava sequer pisasse o chão. Porém o que se destaca é a frase “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!” (Mt 21.9).

Você não percebe? Imagine a cena. Jesus aproxima-se de Jerusalém montado em um jumentinho - outra passagem que o descreva montando, só no Apocalipse, e não um jumentinho - seus discípulos, andando a seu lado completavam o quadro: ele vinha em missão de paz.

Você está lembrado que um dos evangelistas disse que ao ver Jerusalém ele chorou lamentando o destino que a esperava? Não chorou pela dor que o esperava. Chorou por Jerusalém que em breve seria sitiada de exércitos.

Ele, como ovelha muda, oferecia-se a seus tosquiadores. Os que viram, imaginando que aquilo era o início de um motim contra os romanos, repetiram o refrão do Salmo 118: “Oh! Salva-nos, SENHOR, nós te pedimos! Oh! SENHOR, concede-nos prosperidade! Bendito o que vem em nome do SENHOR”.

Meus irmãos, eu vejo com freqüência esse mesmo comportamento: O Senhor muitas vezes é tratado por seu povo impensadamente.

Se ele é o Senhor, por que às vezes é tratado como servo que tem de atender as vontades?

Se ele é o Senhor, por que às vezes é tratado com desrespeito, com comportamentos levianos, com gestos impensados?

O dia de hoje deve nos lembrar deste enorme gesto impensado. Não tragamos ramos, não estendamos vestes, não cantemos Salmos, se não quisermos, de fato, fazer isso de todo nosso coração com toda humildade devida ao Senhor, apenas para sua glória, e para sua glória somente.

Não o cultuemos impensadamente.


Domingo de Ramos de 2006

sábado, 1 de abril de 2006

Falsificações

Há algum tempo atrás ficamos perplexos com descobertas de remédios adulterados. Ainda não sei bem se posso chamar de adulterados, pois muitos eram totalmente constituídos apenas de farinha.

Pode haver crime mais hediondo? O doente na expectativa de livrar-se de seu mal, ingeria uma substância completamente inócua.

Se quem substituiu determinada substância terapêutica por farinha já merece castigo tão grande, qual o castigo que deve merecer aquele que a substitui por veneno?

Adulterar remédios que visam combater uma doença, que, no máximo, pode matar o corpo, é considerado uma suprema covardia, um crime inominável. Imaginem como deveríamos considerar quem adultera o único remédio para o que há de eterno no homem?

Meus irmãos, isto é um alerta a todos nós. O Evangelho é o único remédio para os males da alma. Entretanto estamos vendo, impassíveis, ele ser diluído, completamente adulterado ou substituído por venenos.

Eu não me preocupo tanto com aqueles que, sabendo dos males a que estão sujeitos, fazem uso de substâncias prejudiciais à saúde. É claro que fico condoído de alguém preso à nicotina, ao álcool e à coisas mais pesadas. Porém, ele sabendo das conseqüências, sabe que pode encontrar no Santo Evangelho a solução: Desde que ele o receba puro.

Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. (1Co 15.1-2).

Aqui reside minha principal obrigação diante de Deus como o pastor que se “afadiga na palavra e no ensino”.

Parece loucura ao homem moderno que Deus exija dele que pense de determinado modo. Mas uma das características do Evangelho é ser “loucura para as gentes”. E, curiosamente, Deus resolveu salvar seus eleitos através da “loucura da pregação”.

Modificar um “i” ou um “~” da lei conduz a um outro Evangelho. Inócuo como farinha ou venenoso como estricnina. Porém outro evangelho.

Vivemos nos tempos em que remédios são falsificados em farmácias e o Evangelho em Igrejas. São tempos perigosos.