domingo, 9 de dezembro de 2007

Dois convites

Bem cedo um anjo do Senhor removeu a pedra que selava o sepulcro onde jazia seu corpo. Tão fantástica e tão assustadora era seu aspecto que os guardas romanos, apavorados, "ficaram como se estivessem mortos".

O anjo se dirigiu às mulheres, e sua primeira palavra foi "não temais". Depois de afirmar que o Senhor havia ressuscitado, lhes convidou a sanar a dúvida dizendo: "vinde ver o lugar onde ele jazia".

Cerca de trinta e quatro anos antes, um anjo do Senhor apareceu, tarde da noite, a uns pastores, que cuidavam de seus rebanhos nos campos. Sua primeira palavra a eles também foi "não temais". Porém continuou: "eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura".

Mal acabou de falar e uma enorme quantidade de anjos - literalmente: o exército celestial - respondeu em uníssono: "Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem".

Bradaram e desapareceram.

Atônitos os pastores concluíram "Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer".

Na manhã de sua ressurreição o anjo convidou as mulheres a entrar na sepultura em que o corpo do Senhor estivera. Na noite de seu nascimento, após a mensagem dos anjos, os pastores se convidaram mutuamente: “vamos até Belém”.

Esses dois convites ainda são feitos e constituem-se na essência do Evangelho. Tão importante quanto ver o túmulo vazio é ver a manjedoura habitada. É impossível crer em um sem crer na outra. Enquanto a manjedoura nos fala de Deus habitando conosco, o túmulo vazio nos fala de nossa habitação com ele.

Os pastores convidaram-se mutuamente, pois um nascimento é coisa corriqueira, já uma ressurreição é algo tão fantástico que o anjo mesmo insistiu no convite. Eles deveriam procurar pelo menino que estava lá. As mulheres deveriam constatar que aquele mesmo menino, agora crescido, não estava mais lá.

Entretanto os lugares que deveriam ser visitados eram notáveis: uma manjedoura e um sepulcro. No sepulcro ele deixa a vida conforme nós a conhecemos e inaugura um “novo e vivo caminho” para a vida mais plena. A vida da qual esta é apenas sombra. Na manjedoura, esvaziado de si mesmo ele torna-se um de nós. Em outras palavras: ele assume nossa vida em uma manjedoura e assume a vida celestial em um túmulo.

E como dizia o hino de Paulo sobre esse “grande mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” 1Tm 3.16.

Cabe-nos, certos de que o túmulo está vazio, nunca nos esquecer do convite: “vamos até Belém, e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer”. Tais acontecimentos que começaram naquela manjedoura, hoje, também vazia, têm repercussão eterna, pois nos convidam meditar na vida além do túmulo.

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