segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Feliz 2008

Ao desejar a você e aos seus queridos um bom ano de 2008, desejo, de todo meu coração, que seja realmente um bom ano. Porém, corro o risco de ser mal entendido, pois, como eu tenho muitos amigos, e boa parte deles têm horror a que se faça distinção entre dia e dia (mesmo que a façamos para o Senhor) especialmente se fizermos a tal distinção como conseqüência de algo arbitrado pela Igreja de Roma.
Mas, só de chamar o próximo ano pelo nome de 2008 já estou concordando com uma decisão de um Papa. Pior: Estou dizendo que estamos há 2 mil e 8 anos do nascimento do Senhor Jesus Cristo, quando na verdade já estamos, pelo menos, há 2013 anos.
Tudo começou em 531, com um monge chamado Dionísio (conhecido como Dionísio Exíguo, talvez, por ser baixinho). Ele observou que todos os documentos eram datados a partir do ano em que o Imperador Diocleciano assumiu o trono – ano que hoje chamaríamos de 284 a.D. Ele Escreveu: “Prefiro contar e indicar os anos a partir da encarnação de nosso Senhor, de forma a fazer a fundação de nossa esperança melhor conhecida e a causa da redenção do homem mais conspícua”.
Seus cálculos - não tão precisos - tiveram a enorme conseqüência de introduzir a idéia de “Antes de Cristo e Depois de Cristo” na datação dos anos. Mas, como ainda não se conhecia o ‘zero’, o primeiro desta nova datação foi chamado de ano 1 da era cristã.
Houve resistências:
1. O calendário dos judeus sempre foi lunar – não diz o Salmo 104 “Fez a lua para marcar o tempo”? – mas, a cada 3 anos, precisavam inserir outro mês antes de Nisan e periodicamente fazer outras correções para que houvesse correspondência com o calendário solar, pois, afinal é por este último que “se regula as estações do ano”.
2. Próximos às tradições dos judeus, os mulçumanos chegaram a fazer da lua crescente seu símbolo, e mantêm até hoje – a despeito de todas as complicações comerciais com o ocidente – um rígido calendário lunar
3. Como o Concílio de Nicéia determinou que a Páscoa sempre seria celebrada no dia seguinte ao equinócio da primavera - que é marcado pelo calendário solar (cujo ano é 11 dias maior do que o ano do calendário lunar) - até hoje a Igreja Grega, para quem a festa da Páscoa é de grande importância, usa também um calendário lunar. De fato: rejeitou novamente a troca pelo gregoriano em 1971.
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Mateus afirma que Jesus nasceu nos dias de Herodes. E sabemos que Herodes morreu no que seria o ano 4 do calendário de Dionísio.
Quando Lucas cita o censo feito por Quirino na Síria fornece-nos indícios de que Jesus nasceu no ano 6 ou 7, pois ele nasceu durante um recenseamento.
Até hoje há discussões. E os anos mais aceitos pelos estudiosos como prováveis para o nascimento de Jesus são 4 ou 5 a.C. Ou seja: não estamos 2.008 anos distantes do nascimento do Senhor Jesus, mas 2012 ou talvez 2015.
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Depois de muitos anos de aperfeiçoamentos os cálculos de Dionísio foram reconhecidos por Roma, o Papa Gregório XIII, que em 1582, decretou seu uso, após remover 10 dias (5 a 14 de outubro de 1582) do calendário então vigente. Entre 1582 e 1584 a maioria das nações ligadas a Roma passaram a adotar o Calendário Gregoriano.
4. Alguns reformadores menores hesitaram em aceitar esse novo calendário - exatamente por proceder de Roma - e a maior reação que se conhece foi de Scaliger (1540-1609), astrônomo calvinista famoso pela elaboração de uma cronologia histórica, que acabou tendo de basear-se no Calendário Gregoriano.
A Alemanha foi o primeiro país protestante a aceitá-lo (1700), mas gastou 75 anos para aceitá-lo em todo seu território.
A Inglaterra (e as colônia americanas) só o aceitaram em 1752. E para isso precisaram eliminar 11 dias. “Foram dormir em 3 de setembro e acordaram em 13 de setembro de 1752”.
Curiosamente o Japão só o aceitou em 1873, a Rússia em 1917, e a China em 1949.
Portanto, no melhor “estilo conciliar” ...
Considerando que:
1. O ano lunar é composto de 12 meses de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 2,9 segundos (mais ou menos 354 dias).
2. O ano solar (a volta completa da terra em torno do sol) é composto de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos (sendo que a cada século essa velocidade diminui em ½ segundo).
3. O ano atômico é igual a 290.091.200.500.000.000 oscilações de um átomo de césio (e padrão oficial da terra desde 1972).
4. Logo após a meia noite de 31 de dezembro de 2007 (sem a correção de 1 segundo que “tivemos” de fazer em nossos relógios na virada de 2005 para 2006) passaremos a nos referir, para todos os efeitos, ao tempo como 1 de janeiro de 2008, diferentemente do que se fazia há cerca de 300 anos, quando essa virada era no começo da primavera do hemisfério norte.
Decido que:
1. Quer você goste ou não, vou desejar que esse período seja todo passado por você, e por mim, na presença de Deus.
2. Quer você goste ou não, receba meus votos de Feliz Ano Novo.

Abraços, ou melhor Sala das Sessões ... ou melhor ainda quarto do computador de minha filha, 31 de dezembro de 2007.
Fôlton

2 comentários:

Anônimo disse...

Rev. Fôlton, muito bom. Continue escrevendo! Abraço, Ageu.

Oliveira disse...

Caro amigo

Uma bela aula.

Desta forma, quem faz questão de dias e sábados, estará infelizmente sempre em pecado contra o cumprimento da lei, pois nunca saberá exatamente quando é sábado realmente.

Com tantas variações, a sequência exata já deve-se ter perdido, a não ser que talvez a pessoa em questão siga o calendário judaico...

Enfim, entendo que são tudo referências a princípios.

Ainda bem que o "justo viverá pela fé" e também que "bem-aventurado o homem que não se condena naquilo que faz" e finalmente o texto que diz "tudo me é lícito, mas nem tudo me convém".

Um grande abraço. Gostei muito.

Uma curiosidade... meio segundo mais rápido a cada 100 anos, então os dias estão mais curtos do que na época de Jesus, não é só uma sensação de correria, é um fenômeno físico também...