Quem comemora apenas o natal, comemora a possibilidade de gastar um pouco mais. Afinal o tal “espírito natalino de generosidade” é apenas uma faceta a mais do velho e perverso consumismo.
Quem comemora o nascimento do Deus-Homem, comemora o inusitado, o inaudito: Deus fazendo-se semelhante à suas criaturas para, redimindo-as, fazê-las cumprir o propósito original para que foram criadas.
Quem comemora apenas o natal, completa o tal “espírito natalino de generosidade” entregando-se, com dissolução, a uma alegria efêmera vinda da comida e da bebida, ou de coisas piores. E declara, sem dar-se conta do que está confirmando debochadamente, que o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores - diante de quem se dará de toda palavra frívola (Mt 12.36) - nasceu.
Quem comemora o nascimento do “Deus-Conosco” alegra-se na esperança de que a maior festa que possa fazer será nada, comparada com a que celebrará, com ele e com todos os queridos que já estão com ele. Porém não deixa de ser um antegozo, se feita para seu louvor.
Quem comemora apenas o natal, degrada o sacrifício eterno, que não se limitou à cruz, mas começou na manjedoura, exatamente com um comportamento oposto às pompas, luxo, usura e devassidão com que uma mídia insensata e uma multidão supersticiosa a tratam.
Quem comemora o nascimento daquele que é a “expressão exata do Pai” dobra-se ajoelhado diante de tal mistério e de tal pessoa, e, sem saber como, mas crendo na promessa e na misericórdia - essência de seu proceder - oferta o ouro de suas posses, o incenso de seu louvor e a mirra de sua vontade alquebrada, aos pés de seu Senhor, ao dispor de sua vontade.
Quem comemora apenas o natal, faz sua própria vontade, atende seus próprios desejos, gasta para promover-se, presenteia para ser lembrado ou para receber outros em retribuição, ou, ainda, para acalmar uma consciência cheia de cicatrizes de remorso pelo que não fez de bom o ano inteiro.
Quem comemora o nascimento daquele em quem “habita a plenitude da divindade” esvazia-se de si mesmo, como ele fez, e presenteia mais com o coração do que com bolso. Mais com o amor mais do que com o interesse. Mais de si mesmo do que daquilo que o dinheiro pode adquirir.
Quem comemora apenas a natal, entrega-se a símbolos supersticiosos e comerciais de coisas que nunca fizeram parte daquele momento sublime e chega a idolatrá-las e as vezes a impô-las.
Quem comemora o nascimento daquele que “não se envergonha de ser chamado nosso irmão” - apesar de sermos menos do que nada, e muitas vezes desonrarmos sua amizade - tem os motivos certos para alegrar-se, festejar, e depositar tudo aos pés do Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Que neste natal tenhamos a sabedoria de, nos momentos mais efusivos, manter nosso pensamento em seu real significado, e sermos gratos. Gratos, pelo grande amor como que fomos e somos amados.
6 comentários:
Excelente texto. Hoje, mais do que nunca, precisamos fazer a distinção entre o feriado e o verdadeiro sentido da vinda de Cristo ao mundo mediante seu nascimento em Belém da Judéia.
Parabéns pelo Blog.
Um abraço!
Obrigado Charles.
ab
Fôlton
Caro Rev. Fôlton,
Mais uma vez: profundidade, beleza de estilo e piedade. Que Deus continue a lhe usar. Abraço, Ageu.
Obrigado Ageu.
ab
Fôlton
Caro Reverendo
Desejo um Feliz Natal ao nobre colega, no seu verdadeiro sentido, que o seu texto nos faz refletir.
Este foi um ano muito bom.
Aprendi muitas coisas.
E o senhor foi um dos canais que Deus utilizou para me fazer crescer.
Seu blog tem sido um benção para mim.
Um grande abraço.
Caro Oliveira;
Os desejos siceros de Feliz Natal são recíprocos. A ti e aos teus.
Quando ao Blog, é bom saber que ele está atigindo seus objetivos. Por favor, não deixe de criticar e ele ficará melhor.
abraços
Fôlton
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